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O plano inicial de Maringá: análise da concepção

CAPÍTULO 2. O plano inicial de Maringá: concepções e transformações

3. O plano inicial de Maringá: análise da concepção

Autores diversos já identificaram as ressonâncias de teorias e práticas da vanguarda da urbanística moderna vigente na Europa e na América no plano elaborado por Vieira (Andrade, 1998; Steinke, 2002; Bonfato, 2008; Andrade e Cordovil, 2008a e 2008b). Na ideia de planejamento regional adotada pela Companhia de Terras Norte do Paraná, consideram-se influências do town and country planning (Andrade, 1998).

As concepções do “town and country planning” inglês na configuração territorial da rede de cidades da CTNP, por esta ter adquirido uma forma linearizada em função da ferrovia – ao menos em uma primeira etapa da ocupação regional – de um certo modo se fundiram com as propostas de cidades lineares que eram difundidas desde o fim do século XIX por Soria y Mata e que tinham adquirido forte ressonância

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nas propostas soviéticas de fins dos anos 1920, com Miliutin e outros (Andrade, 1998, p.366, aspas do autor).

A historiadora Rosana Zanete Steinke (2002) assegura que a ideia de cidade-jardim de Ebenezer Howard no plano de Maringá é evidente pelas características observadas no desenho formulado para a cidade, que considera efetivamente aspectos como o solo, as nascentes e o relevo; a hierarquização viária a partir da distribuição de avenidas estruturais em três larguras diferentes com refúgios centrais e outras ruas de dimensões distintas para as principais, secundárias e de caráter residencial; zoneamentos diferenciados, englobando a zona central, que comportaria o centro cívico, a zona comercial principal, a zona industrial e a zona de armazéns, as zonas residenciais e as zonas verdes; a ideia de subúrbio verde autossuficiente voltado à vida comunitária; os bosques e as florestas naturais mantendo o aspecto paisagístico; o cinturão verde formado pelas chácaras ao redor limitando a zona rural da zona urbana e criando um anel com intuito de integrá-las; os arruamentos evitando as altas declividades, facilitando a conservação das ruas e reduzindo o custo da sua manutenção.

Segundo Andrade e Cordovil (2008a), se observarmos a planta da cidade de Maringá, nos daremos conta de que, à maneira de Goiânia, suas áreas centrais são concebidas de modo clássico, sempre articulando, a partir de um eixo principal, a estação ferroviária com o centro cívico propriamente, junto ao qual se implantariam os edifícios administrativos. Por outro lado, nesses projetos de Vieira, apesar de levar em conta a movimentação do relevo, o traçado das ruas é feito conforme um desenho acentuadamente geométrico, que estabelece cuidadosa concordância entre vias retas e vias curvas.

O depoimento dado pelo Eng. Vieira a respeito de seu plano para a cidade de Maringá é esclarecedor de suas intenções.

Eu pretendi, não sei se consegui, projetar uma cidade moderna. Uma cidade em que o traçado das ruas não obedecia ao xadrez que os portugueses nos ensinaram aqui, que nos deixaram aqui na colônia. Eu segui um processo moderno que era de acompanhar o terreno o mais possível. E a cidade já pré-traçada, o zoneamento estudado, com os seus parques, os seus lugares de lazer, os seus verdes todos caracterizados (...) uma cidade completa com todos os predicados de uma cidade moderna (Vieira, 1971).

Andrade e Cordovil (2008b) analisam que Vieira criou uma cidade moderna no sentido substantivo do termo, isto é, com uma forma diversa daquela das cidades tradicionais.

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A não adoção do traçado em xadrez e a adequação à topografia do sítio foram associados a um zoneamento funcional rigoroso, que definia com precisão as áreas residenciais e industriais, bem como delimitava o centro cívico e de comércio e serviços.

3.1. Os planos

O plano de Jorge de Macedo Vieira para Maringá desenvolve-se em três momentos. Analisamos seis plantas distintas para encontrar semelhanças e diferenças e, a partir disso, destacar elementos do processo de elaboração do plano da cidade. A sexta planta, do final da década de 1950, apresenta como a cidade efetivamente implantou- se naquele momento.

Basicamente, são apresentadas duas propostas por Jorge de Macedo Vieira. Na segunda proposta, as diretrizes gerais da concepção inicial são mantidas, mas verifica-se que houve maiores cuidados no que se refere à preservação da vegetação natural nos parques. Há a diminuição do número de vias, o aumento da densidade e a implantação de maior número de equipamentos, entre eles “escola”, que era um dos elementos principais da unidade de vizinhança proposta por Clarence Perry (1929). As três primeiras plantas que apresentamos (plantas 1, 2 e 3) fazem parte da primeira proposta. A planta 1 constitui a primeira proposta apresentada e as plantas 2 e 3 mostram rabiscos, croquis, medidas, raios e circunferências das curvas. Nessas plantas, percebemos as diretrizes que levaram às alterações verificadas no plano final. É provável que a autoria de tais rabiscos tenha sido dos engenheiros e técnicos da Companhia. A planta 1 deve ter sido o primeiro estudo elaborado por Jorge de Macedo Vieira.

As plantas 4 e 5 constituem a proposta final elaborada por Jorge de Macedo Vieira. A planta 4 é a versão colorida do plano inicial de Maringá. A planta 5 é a proposta que se divulgou com mais frequência em diversos meios. A diferença entre as plantas 4 e 5 é basicamente a apresentação, a primeira em cores e a segunda em preto e branco. A planta 6 é um mapa da cidade, editado em 1957 pela Sociedade Comercial e Representações Gráficas Ltda., de Curitiba, formulado a partir de original fornecido pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná. O mapa é repleto de propagandas de estabelecimentos comerciais da cidade e região. Para o estudo que apresentamos neste capítulo, retiramos tais reclames para proporcionar mais clareza à análise da implantação do projeto de Vieira até aquele ano.

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Como já nos referimos, o plano de Maringá foi concebido a partir da definitiva demarcação da linha ferroviária no sentido nordeste-noroeste (Luz, 1997) e do avanço da linha férrea, que determinou a formação da rede regional. O núcleo inicial do Maringá Velho implantou-se na rua que se formaria paralela à estrada de ferro. Luz (1997) assegura que as linhas mestras do projeto foram dadas previamente a Jorge de Macedo Vieira, bem como a escolha do terreno. Esse fato vai ao encontro da asserção do próprio Vieira, que diz ter-se baseado na planta topográfica fornecida por Cássio Vidigal. Vieira chega a manifestar que “o terreno foi esplendidamente escolhido” (Vieira, 1971). Portanto, acreditamos que as linhas mestras dadas a Vieira para que delas partisse para formular o plano foram a linha férrea, que se conforma na parte mais alta e plana do sítio e, a partir dela, configuram-se as vias paralelas; e o eixo central transversal à via férrea, que segue a mesma lógica do eixo da ferrovia, situando-se no espigão que divide os dois córregos, Moscados e Cleópatra, e corta transversalmente o eixo da ferrovia.

Jorge de Macedo Vieira elaborou o projeto que foi modificado a partir das intervenções feitas, provavelmente, por Cássio Vidigal e/ou por técnicos da Companhia.

Segundo Luz (1997), a área urbana do plano inicial possuía 600 alqueires, com 5 km de comprimento e 3 km de largura. Os dois bosques possuíam área de 22 alqueires cada um, cortados pelos córregos Moscados e Cleópatra. Projetada para abrigar 200.000 habitantes em 50 anos, em 1991, Maringá abrigava 234.079 habitantes na área urbana (IBGE, 1991). Para comportar essa população, foram necessárias expansões significativas do plano inicial.

A planta 1 apresenta o que consideramos a primeira proposta elaborada por Jorge de Macedo Vieira. Nela observamos as rotatórias no centro dos parques, as quais foram suprimidas na proposta final. O traçado circular da parte superior do projeto, em cujo centro se localiza um complexo esportivo, também se modifica e amplia-se posteriormente. Notamos nessa proposta o ajardinamento dos cantos das quadras. Essa prática é uma característica comum nos projetos de Vieira. Segundo Bonfato (2008), a solução foi adotada por Richard Barry Parker no projeto do bairro de Bela Aliança, em 1918. A função dos cantos ajardinados era estética e visava melhorar a visibilidade (Bonfato, 2008). Todavia, observamos que na segunda proposta os pequenos jardins foram significativamente eliminados e na execução do projeto deixaram de existir. Comprovamos, também, que na planta 1 a praça em frente à estação ferroviária não se define. A praça definida na segunda proposta leva diretamente ao centro cívico pelo eixo central transversal à via férrea.

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A segunda planta apresentada em nossa análise, que denominamos planta 2, mostra o processo de alteração da proposta anterior. Parece tratar-se de um estudo geométrico no qual há medidas e raios das circunferências, com bissetrizes e ângulos indicados. Pode ter sido elaborada antes mesmo da planta 1 ou em concomitância, já que não apresenta os equipamentos urbanos existentes na planta 1. Entretanto, alguns equipamentos estão indicados com desenhos ou simplesmente manuscritos. Destacamos os croquis do centro cívico, desenhados isoladamente, ou seja, fora da área do projeto, no alto à esquerda, e em um deles há a reprodução das curvas de nível, indicando a preocupação com a adaptação ao relevo. Os croquis do centro cívico resultaram no desenho da proposta final.

Na planta 3, percebemos a indicação do aumento da área verde dos parques e, principalmente, do zoneamento que levará à definição na planta posterior. Há as medidas de algumas quadras e ruas, indicando a sua alteração, bem como estudo geométrico. Há indicações de graus, raios, polegadas etc. No alto da planta e à direita mostra-se a mudança de traçado da zona industrial, passando as vias a se conformarem diagonalmente. A planta aponta, também, um novo centro secundário na via que se constitui no espigão que divide os dois parques, a Avenida Cerro Azul.

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A quarta planta é a proposta final de Vieira e apresenta a definição a partir das alterações anteriores, bem como diversas complementações. Fica-nos evidente a maior densificação, através do aumento do número de quadras. Há um número maior de centros secundários e a demarcação de equipamentos urbanos, entre os quais “escolas, hospitais, igrejas e asilos”, conforme a legenda da planta e a indicação em vermelho. O zoneamento foi determinado e as zonas ficaram divididas em comercial, industrial e residenciais principal, popular e operária. A praça principal defronte à estação ferroviária foi resolvida e a mudança do centro cívico do primeiro estudo completou-se. O núcleo inicial do Maringá Velho demarcou-se à esquerda. O traçado das ruas que partem do complexo esportivo, no alto da proposta e ao seu centro, assumiu uma configuração mais retilínea e sua área dilatou-se para a esquerda.

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A quinta planta é a reprodução da anterior, porém sem as cores, e alguns nomes de ruas já se encontram indicados, manuscritos ou normografados. Há diversas anotações que se assemelham a um estudo de abastecimento de água por conter uma legenda intitulada “Convenções” na qual se definem os seguintes elementos: “registro de parada”, “registro a conserva fechado”, “registro para discarga (sic)”, “hidrante”, “mudança de diâmetro” e “peça de extremidade”. Essas convenções são marcadas em planta, juntamente com indicações de “D1” a “D17”, que são distribuídas espacialmente e, ao que tudo indica, abrangem determinada área. Porém há dificuldade em entender a lógica das indicações em planta, apesar da legenda.

Em todas as quadras há anotações em polegadas, que sugerem diâmetros de tubos ou canais. No entanto, há situações incoerentes. Exemplificamos com a situação que ocorre na Avenida Euclides da Cunha. Três quadras que fazem frente à avenida têm três indicações sequentes de 28 polegadas (28”). Todavia, as quadras exatamente em frente a essas têm indicações de duas polegadas (2”). A situação é recorrente em várias áreas do projeto. Considerando que o estudo foi elaborado pelos técnicos da CMNP e que a rede de abastecimento de água Maringá começou a ser implantada somente a partir da década de 1960, não nos foi possível entender o que o estudo aponta, devido à sua incongruência.

Quanto aos equipamentos urbanos, destacamos a distribuição de “escolas, hospitais, igrejas, asilos, etc.”, que são definidos espacialmente de forma a atender uma determinada área, de acordo com o zoneamento e raio de abrangência. O cemitério aparece no extremo sul do plano, no final da via que marca o divisor de águas entre os dois parques. Ainda não se percebe a localização do aeroporto.

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A sexta planta que apresentamos foi confeccionada a partir de um original fornecido pela Companhia e executado pelo Departamento de Topografia, sob responsabilidade de Wladimir Babkov. Impressa por uma gráfica de Curitiba, a edição que analisamos foi revista e melhorada por Paulo Novaes Silveira em 1957.

A planta apresenta o plano que efetivamente se implantara naquele momento e as indicações para equipamentos que não se executaram necessariamente. A área à extrema esquerda do plano, a Zona Cinco, não havia sido loteada em 1960 e verificamos áreas anexando-se ao plano inicial, principalmente ao norte, como a Vila Morangueira. A partir da década de 1960, a expansão para o norte tomou impulso com a implantação do Jardim Alvorada. Percebemos a indicação do aeroporto à direita. A partir dessa planta, podemos constatar que nem todas as propostas de Vieira para implantação de equipamentos urbanos se efetivaram.

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Planta 6.

A efetivação

do plano de

Maringá até 1957. Acervo da Biblioteca Cent

ral da UEM. Planta ela

borada a partir do orig

inal

fornecido

pela CMNP

, p

or Paulo Novaes Silve

ira , em 1957. A autora su primiu todas as pro pa ga ndas existe

ntes na versão de Silveir

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Na planta original, confeccionada na escala 1:7.000, é possível verificar a diferença em relação ao tamanho dos lotes. France Luz (1997) analisa as vendas efetuadas pela Companhia no período entre 1946 e 1952 e menciona as dimensões dos lotes em relação à zona onde se inserem. Segundo a autora,

A área dos lotes vendidos oscila, na maioria dos casos, entre 500 e 650m2 (1.853 datas, ou 43,9% do total). Nas zonas 1 e 5 (na área correspondente ao “Maringá Velho”) os lotes são menores: 16% do total na primeira e 50,7% na segunda têm área inferior a 500m2. Nas zonas 3, 7 e 8 predominam os lotes com área entre 550 e 600m2. Já nas zonas 2 e 4 são mais numerosos os terrenos com extensão acima desse limite; são tipicamente residenciais e não estão muito afastados do centro comercial da cidade. No cômputo geral, são poucos os lotes com área superior a 700m2; apenas 131, que representam 3,1% do total vendido no período (Luz, 1997, p. 80).

A análise de Luz (1997) pode ser corroborada com a tabela das áreas originais do plano urbanístico de Maringá apresentada pelo Plano Diretor de Maringá de 2002 (ver tabela 4).

ZONA LOTES QUADRAS ÁREA (ha) %

1 1.327 62 128,44 8,11 2 1.375 63 211,72 13,37 3 1.434 72 168,30 10,63 4 1.462 76 190,79 12,05 5 1.867 122 219,86 13,88 6 1.013 64 87,80 5,54 7 3.090 134 307,39 19,41 8 1.043 53 172,88 10,92 9 332 24 88,81 5,61 10 72 7 7,67 0,48 TOTAL 13.015 677 1583,66 100,00

Tabela 4. Áreas originais do plano urbanístico de Maringá. Fonte: Secretaria de Desenvolvimento Urbano, Planejamento e Habitação - SEDUH. Plano Diretor de Desenvolvimento de Maringá, 2002b.

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Parte 1 – Capítulo 2. O plano inicial de Maringá: concepções e transformações 3.2. Zoneamento

O zoneamento do plano de Maringá, além de delimitar as áreas de uso e ocupação que foram adotados nos primeiros Códigos de Posturas, estabelece a distinção segundo as condições econômicas dos habitantes. Quanto ao uso, o zoneamento distingue principalmente as áreas residenciais, as comerciais mistas, as de armazéns e as industriais. Porém, nas áreas residenciais, há três tipos de ocupação: a principal, a popular e a operária.

A segmentação entre as classes sociais está presente nos projetos de Vieira. Em diversos loteamentos, como no de Vila Isabel, de 1931, “... O projeto se dividia em três partes. Uma via de acesso ao Jaguaribe, uma vila operária e um grande residencial destinado às classes altas paulistanas”. Também no de Vila Santista, de 1950, em Atibaia, SP, “O projeto estava ligado a um clube de campo voltado às classes média alta e alta da região” (Bonfato, 2008, p. 88 e 98).

No zoneamento de Pontal do Sul, cujo projeto foi elaborado em 1951, as zonas são divididas em litorânea, comercial, popular, suburbana e rural. Essa divisão não se constitui apenas em um zoneamento de usos, mas de classificação quanto ao padrão econômico. Na zona litorânea, as edificações e os equipamentos voltar-se-iam para a “elite da cidade”, já que seriam ocupadas por “veranistas ou banhistas”, ou seja, a “população flutuante periódica” (Viera, ca. 1956).

Outro fator de diferenciação evidencia-se na distinção das larguras das vias e das frentes dos lotes. Nos manuscritos sobre o projeto, a largura do lote, por exemplo, dependeria da zona na qual estivesse inserido e da rua para a qual fizesse frente. Nas zonas residenciais de luxo, os lotes com frente para a Avenida Beira-Mar teriam 720m2, enquanto que na zona popular os lotes lindeiros à avenida principal seriam de

560m2, sendo o máximo para essa zona. Na zona popular, Vieira localizou “colônia de

pescadores, bairros de trabalhadores, também com previsão para o seu comércio, escolas, campo de atletismo, etc.” (Vieira, ca. 1956).

A hierarquização viária também está presente no projeto. De acordo com os desenhos existentes no manuscrito do memorial de Pontal do Sul, a Avenida Beira-Mar foi projetada com 50 metros; a Avenida Central com 40 metros; as avenidas de ligação com 35 metros; as ruas principais com 20 ou 24 metros, se fossem comerciais; e as ruas secundárias com 9 metros. Além disso, as avenidas de contorno norte e sul teriam larguras de 55 e 40 metros respectivamente.

Apesar de não ter sido implantado completamente, observamos a minudência com que Vieira definiu as diretrizes da conformação espacial para o projeto de Pontal do

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Sul. Há documentos digitados a máquina de escrever, croquis, detalhamentos e manuscritos que se encontram no acervo do engenheiro, atestando a competência com que formulava os pormenores de um plano global.

Embora não tenhamos encontrado documentos semelhantes sobre o projeto de Maringá, o rigor e a elegância do traçado atestam que os mesmos cuidados foram tomados na sua concepção. Provavelmente, o detalhamento do projeto tenha sido elaborado pelos técnicos da Companhia, já que a estrutura técnica era composta por topógrafos, agrimensores e engenheiros, cuja atuação foi essencial. Pois “o sistema de colonização adotado com tanto êxito pela Companhia teve como base o cuidadoso levantamento topográfico da região, que desceu a pormenores e assim pôde dirimir qualquer dúvida na locação de lotes rurais e datas urbanas” (CMNP, 1977, p. 128). O “engenheiro topógrafo”, segundo o intitula a publicação da CMNP (1977), Wladimir Babkov, que chefiou equipes técnicas, além de elaborar o Plano Diretor de Umuarama, sob a direção do engenheiro Manoel Mendes Mesquita, lembra o nome de topógrafos que “enfrentaram a mata virgem para abrir as primeiras estradas: Carlos Rottman, Alexandre Rasgulaeff e Dr. Diment” (CMNP, 1977, p. 128).

A Companhia fundava escritórios para comandar desde a abertura de vias até a demarcação e venda dos lotes e gerenciamento das terras. Para isso, era necessário manter um quadro técnico que comandasse a estratégia lançada, do levantamento topográfico à corretagem dos imóveis.

O projeto de Pontal do Sul e o de Maringá têm aproximações no que se refere à concepção, como as influências do tipo cidade-jardim, entre outras referências. Apesar de a primeira ser uma cidade balneária e a segunda uma cidade de colonização, determinada pela presença da ferrovia, a hierarquização viária e o zoneamento seguem diretrizes semelhantes.

Em Maringá, a diferenciação por classes é feita no zoneamento e, como em Pontal do Sul, a partir da localização e do tamanho dos terrenos. Segundo France Luz,

Conforme as zonas iam sendo colocadas à disposição dos compradores, os seus lotes tendiam a ser valorizados em relação aos vendidos anteriormente. A localização em zonas residenciais previamente destinadas à população de mais posses levava também à elevação dos preços dos terrenos. Dessa maneira, o planejamento e o tipo de ocupação do espaço do núcleo urbano refletiram a filosofia da colonizadora, voltada para obtenção de lucros e implantação de uma cidade de modo empresarial, na qual se fazia notar a divisão de classes da sociedade capitalista. (Luz, 1997, p. 138).

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A estratégia de vendas refletia a valorização das terras e, portanto, negociavam-se os terrenos de acordo com a sua localização, que evidenciava, também, o maior ou o menor tamanho da área do lote. A estratégia foi concebida juntamente com o traçado