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CAPÍTULO 1. A colonização do Norte do Paraná

5. O plano inicial de Maringá

A discussão sobre o plano inicial de Maringá está prevista para o capítulo 2, no qual serão abordados as referências, o traçado e as peculiaridades do projeto elaborado por Jorge de Macedo Vieira. No entanto, é necessário enfocar determinados aspectos para explicar a importância do projeto urbanístico na formação da cidade, analisando sua relação com a propaganda planejada empreendida pela CMNP.

Neste capítulo, analisamos o contexto no qual se estabeleceu a cidade de Maringá, que emergiu rapidamente em meio à mata e orientada por um “projeto moderno”. Inúmeras cidades formaram-se na região conhecida como “Norte do Paraná”, principalmente a partir do início do século XX, e várias delas com plantas predeterminadas por agrimensores e engenheiros. As cidades implantaram–se em uma área considerada por muitos como “território vazio”6 e no contexto de uma rede

urbana concebida sob a noção de modernidade e de planificação.

Maringá foi criada em 10 de maio de 1947 pertencente à circunscrição municipal de Apucarana. Posteriormente, com a fundadação do município de Mandaguari, em 10 de outubro de 1947, incorporou-se como distrito, sendo elevada a município em 14 de novembro de 1951. France Luz (1997) aponta Maringá como um dos mais importantes centros urbanos do Norte do Paraná, propulsor do desenvolvimento regional, e com

6 TOMAZI, Nelson. “Construções e silêncios sobre a (re)ocupação da região Norte do Estado do Paraná”. In: DIAS, Reginaldo B.; GONÇALVES, José H. R. Maringá e o Norte do Paraná: estudos de história regional. Maringá: EDUEM, 1999. Tomazi, ao pretender demonstrar a falácia existente no processo de (re)ocupação da região norte do Paraná, discute o discurso dominante que trata o território como “vazio demográfico e mata virgem”, que desqualifica e omite a presença indígena na região. Mostra que só se considera a efetivação da ocupação do território com a chegada da “cultura ocidental cristã”. Os índios não são considerados humanos nas narrativas. O autor destaca anacronismo ao considerar que o “Norte do Paraná” já estava constituído no século XVII.

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um desenho urbano traçado a partir da definitiva demarcação da linha ferroviária no sentido nordeste-noroeste.

Em linhas gerais, o plano urbanístico de Maringá possui, como principais diretrizes de implantação, o eixo da ferrovia e o eixo central que o corta transversalmente. No plano formulado, verifica-se uma concepção fortemente permeada pela ideia de cidade- jardim de Ebenezer Howard, entre outras influências europeias e estadunidenses7.

O eixo da ferrovia foi traçado no sentido leste-oeste, conforma-se na parte mais alta e plana do sítio, e, a partir dela, configuram-se as vias paralelas. O eixo central transversal à via férrea segue a mesma lógica do eixo da ferrovia, situando-se no espigão que divide os dois córregos, Moscados e Cleópatra. Estes têm a vegetação nativa preservada e abrigam dois parques (ver figura 08).

Embora tenha sido projetada para abrigar 200.000 habitantes em 50 anos, após 49 anos de sua fundação, ou seja, em 1996, já se estimava em Maringá uma população de 270.000 habitantes (Maringá, 1996). Em 2000, a população foi de 288.653 habitantes (IBGE, 2000). No ano de 2009, a população estimada passou para 335.511 habitantes (IBGE, 2010). O crescimento verificado e sua progressiva importância como cidade polarizadora de uma próspera região agrícola e industrial, atuando também como centro de comércio e serviços, estimulam a modificação e a ampliação da estrutura da cidade no intuito de consolidar sua função.

7 O plano inicial será abordado com maior profundidade no capítulo 2, “O plano inicial de Maringá: concepções e transformações”.

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Assim, Maringá desponta como exemplo de padrão urbanístico, vinculando-se ao ideário de cidade-jardim. Não foi sem propósito, portanto, que tal desenho foi traçado por Jorge de Macedo Vieira, que projetava, na época, vários bairros na cidade de São Paulo, além de outros no interior daquele estado e na cidade do Rio de Janeiro.

O engenheiro Vieira estagiou na City of San Paulo Improvements and Freehold Land Company Limited, que, nesse mesmo período, contratou os serviços do escritório dos arquitetos Raymond Unwin e Barry Parker, expoentes do movimento cidade-jardim na Inglaterra e que propagavam a obra de Ebenezer Howard (Andrade; Steinke, 2002). Difundiu-se a relação do plano à teoria e à prática howardiana em diversas fontes, enaltecendo sua concepção, como no seguinte trecho do livro O fenômeno urbano numa zona pioneira, de France Luz: “[...] Com os dados indispensáveis sobre a topografia, o clima e a vegetação da região, que lhe foram fornecidos pela Companhia, o referido urbanista [Jorge de Macedo Vieira] planejou Maringá de acordo com a mais avançada concepção de cidade existente na época” (Luz, 1997, p.72, grifo nosso). Embora reconhecendo o expressivo trabalho realizado por France Luz, salientamos que o clichê criado pela CTNP/CMNP foi repetido, inclusive, entre pesquisadores cujos estudos se tornaram referência em diversos trabalhos sobre a região. No trecho acima, a observação da autora, longe de ser uma avaliação urbanística rigorosa, constitui um fortalecimento da imagem urbana. A afirmação leva a reconhecer que um dos propósitos para que tais princípios nascessem incorporados ao plano para a cidade seria evidenciá-lo como um dos mais modernos e importantes exemplos de planos urbanísticos realizados no país, com o objetivo de alardeá-lo e, assim, inseri-lo no discurso recorrente da CTNP/CMNP, de acordo com a sua estratégia publicitária. O plano urbano de Maringá foi utilizado como recurso para o destaque de um núcleo regional que se criava no centro geográfico de uma extensa área planificada e com acessibilidade eficiente. Relacionado a isso, além de toda uma rede viária que garantia o escoamento das safras e a integração dos diversos núcleos, o planejamento das ações da Companhia voltou-se, também, para a facilidade de aquisição dos lotes por parte dos colonos (Luz, 1997; Gonçalves, 1999). A atração dava-se, sobretudo, pela expansão da fronteira agrícola.