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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

42 Revisão bibliográfica A construção da cidade

Sobre o desenvolvimento da cidade de Maringá, destacamos algumas publicações que se relacionam com a nossa pesquisa. Referimo-nos diretamente aos seguintes autores: Mendes (1992; 1999), a socióloga Ana Lúcia Rodrigues (2004), os arquitetos Aníbal Verri Júnior (2001), Yvaldyne Maria Neves de Couto Melo (2001), Gislaine Elizete Beloto (2004) e Boeira (2001; 2005), os geógrafos Ariovaldo Gustavo da Costa (1991), Vanderlei Grzegorczyk (2000) e Gerson da Silva (2002), e o historiador Reginaldo Benedito Dias (2008). Utilizamos também os trabalhos de France Luz (1980; 1997) e a narrativa publicada pela CMNP em comemoração aos seus 50 anos de fundação (1977). Os estudos do geógrafo Edson Santos Dias (1997) forneceram informações, embora de forma indireta.

Ao discorrer sobre a segregação social existente em Maringá, Rodrigues (2004) analisa o processo de ocupação urbana desde o plano inicial até 2004, demonstrando que a desigualdade de acesso à cidade constitui-se em característica constante no direcionamento das políticas municipais, fortemente vinculadas aos interesses do mercado imobiliário. A pesquisadora corrobora sua tese com a realização de mapeamento da composição sócio-ocupacional da população de Maringá entre 1991 e 2000. Rodrigues (2004, p. 228-229) conclui que

A constituição da atual estrutura urbana maringaense se apresenta como uma ocupação destituída de favelas. Isso demonstra que o processo de desfavelização perpetrado na década de 1980 mostrou- se suficientemente eficaz e incorporou-se às ações do poder público através das políticas urbanas adotadas para conservá-lo (...)

A região maringaense se insere, portanto, no processo mais abrangente de polarização riqueza-pobreza que caracteriza a urbanização no Brasil, reproduzindo o tradicional modelo de ocupação do espaço urbano centro-periferia e, neste sentido, apresentando uma ocupação socialmente hierarquizada, distinguindo- se do modo fractal que vem caracterizando, atualmente, a urbanização nas grandes metrópoles, com o espraiamento da riqueza por todo o território.

Ratificando o caráter eminentemente excludente da ocupação urbana maringaense, Beloto (2004), em sua dissertação de mestrado, aborda o tema da legislação urbanística em Maringá como instrumento de regulação da produção do espaço urbano. Em seu trabalho, a autora

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...visou entender a produção do espaço pelo viés da legislação urbanística, reconhecendo esta última como resultado ideológico da equipe técnica e política que compõe o poder público, e ao mesmo tempo como instrumento de manipulação dos interesses de setores e classes sociais na busca pela renda do solo (Beloto, 2004, p. 180) Beloto (2004) faz a leitura das diversas leis que incidiram sobre o espaço urbano de Maringá e da sua planta genérica de valores, com mapeamentos e tabelas sobre zoneamentos e índices urbanísticos, no período de 1959 a 2000. Em pesquisa recente sobre a paisagem de Maringá, a arquiteta Karin Schwabe Meneguetti (2009) analisa a estrutura ecológica urbana e a cidade.

Mendes (1992; 1999), em estudo sobre o processo de verticalização de Maringá, periodiza a construção de edifícios em quatro etapas: a implantação e consolidação do plano inicial (1947 a 1959), a acumulação cafeeira e comercial (1960-1969), a modernização da agricultura (1970-1979), a agroindústria (1980 a 1989), e a maturidade da verticalização (1990 a 1996). Na opinião do autor, verificou-se em Maringá “uma crescente tentativa de se consolidar a urbanização da formação de uma nova metrópole” (Mendes, 1999, p. 403).

No que se refere à implantação do plano e à construção da cidade, consideramos os estudos do geógrafo Edson Santos Dias, de 1997, que, ao analisar o caso de Cianorte, discute também o papel da CMNP enquanto agente imobiliário. Na década de 1990, o trabalho de vendas de lotes da Companhia estava quase todo completo em Maringá e a empresa estava em processo de mudança para a cidade de Jussara, onde se encontra até os dias atuais. Acreditamos que houve semelhanças entre o processo empreendido pela Companhia em Cianorte, analisado por Dias (1997), em relação a Maringá, principalmente no que se refere à elaboração do plano e às suas características, bem como à implantação da cidade. Porém uma das diferenças a se considerar são as primeiras eleições para a liderança do executivo municipal. Em Cianorte, o candidato apoiado pela CMNP venceu o primeiro pleito municipal, o que não ocorreu em Maringá.

Além da concessão de prazos, a CMNP também se encarregava de facilitar o transporte e prestar assistência para a instalação inicial do colono, o que muito favoreceu a implantação da cidade de Maringá (CMNP, 1977), mas não garantiu a infraestrutura para o seu desenvolvimento posterior. Portanto, se havia sucesso com relação à venda de lotes rurais, as áreas urbanas apresentavam situação semelhante. Os diretores da Companhia pensavam que a cidade em formação seria um excelente ponto de venda de terras. Inicialmente Maringá era como outras cidades mais antigas

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(Londrina, Mandaguari, entre outras), com ruas de terra, como pode ser notado no depoimento de Alfredo Nyffeller:

Nos primeiros anos a cidade não diferia das demais que abrimos no norte do Paraná. Ruas de terras mal definidas e com terrenos de um lado e de outro onde se viam raízes e troncos semicarbonizados. Muita poeira em dia de sol e lama até o tornozelo em dias de chuva. Era uma beleza ver a mata pertinho; altas perobas, figueiras, paus- d’alho, tudo ao alcance dos olhos, bastando chegar até a janela. Havia muitos veículos de tração animal: charretes e carroças. E muita gente andava a cavalo. Era mesmo sertão, que abríamos a machado para oferecer novas oportunidades ao agricultor brasileiro. (CMNP, 1977, 141).

Para a venda dos lotes urbanos, a CMNP também tinha uma estratégia que chamavam de “plano da casa própria” e que se destinava em primeira instância aos funcionários da Companhia. Havia, com isso, a possibilidade de adquirir um lote urbano com 50% de desconto e pagar o restante da dívida em prestações mensais. Havia também o financiamento da construção da casa, sendo que as prestações mensais nunca passavam de 25% do salário do funcionário (CMNP, 1977, p. 143). No “Maringá Velho”, a Companhia autorizava a construção mediante apenas uma carta dada pelo seu diretor, Sr. Alfredo Werner Nyffeller. A condição estabelecida era a de que haveria a dedicação a um dos ramos de atividade que o povoamento inicial requeria (comércio, secos e molhados, residências, bancos, entre outros) (CMNP, 1977; Luz, 1997). Porém a empresa não provia os núcleos com a infraestrutura básica necessária ao seu desenvolvimento, como pavimentação, abastecimento de água, energia elétrica, esgotamento sanitário e equipamentos públicos diversos. Caberia à municipalidade a tarefa de construir propriamente as condições iniciais para o uso público, que, em Maringá, foi dificultada pela própria CMNP ao se recusar a pagar os impostos sobre os lotes urbanos de sua propriedade (Duque Estrada, 1961; Dias, 2008).

Boeira (2000) analisa a evolução urbana de Maringá desde a sua fundação até os anos 1990. Inicialmente, realiza um estudo sobre as influências do plano inicial, referindo-se a trabalhos que até então se publicaram. No segundo momento, tece uma crítica sobre o modelo de planejamento adotado contrapondo com o plano original, concluindo que, “...na prática de planejamento atual, em Maringá pelo menos, há claros indícios da necessidade de se assumir novos valores, modelos e condutas” (Boeira, 2000, p. 172). Em 2005, Boeira pesquisa o papel do poder público municipal

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na institucionalização do planejamento urbano, destacando que, “...mesmo com a onipresença de processo de planejamento, [Maringá] apresenta fortes contrastes e grandes desníveis nos padrões de urbanização, que refletem de alguma forma as muitas nuances do processo social de produção de uma cidade (...) e revelam o caráter da atividade que se denomina planejamento urbano” (Boeira, 2005, p. 15). O autor divide a trajetória do planejamento e controle na produção de Maringá em quatro períodos: de 1939 a 1947; de 1947 a 1979; de 1979 a 1992; e de 1993 a 2004. Em seguida, estuda a legislação urbanística, especialmente no que se refere aos instrumentos de controle da produção, uso e ocupação do espaço da cidade. Em sua tese de doutorado, Boeira (2005, p. 292) conclui que,

Por fim, sobre a longa trajetória administrativa, de que se ousou tratar de forma muito resumida, são inúmeros os exemplos do que se queria demonstrar e que são, basicamente, a importância que teve o Estado local, através de sua estrutura de planejamento, para a produção da cidade de Maringá, que se, por um lado apresenta alguns problemas comuns a outras cidades brasileiras, por outro é considerada um dos melhores exemplares de cidade, espacial, ambiental e socialmente bem sucedidas do país; e, também, demonstrar os alcances e limites da atividade de Planejamento Urbano, que da mesma forma que o próprio aparelho de Estado, necessariamente reflete as relações que se estabeleceram para a sua própria constituição.

O autor realizou o mapeamento das principais ações dos prefeitos no período que abrange da emancipação do município até o ano de 2004. Boeira (2005) fornece um panorama geral sobre as gestões municipais, não se propondo a analisar aprofundadamente as realizações de cada chefe do executivo municipal. O autor tampouco se detém nos aspectos da construção de equipamentos públicos e da infraestrutura, como fazemos em nosso trabalho.

Abrangendo o mesmo período, do primeiro pleito municipal até 2004, o historiador Reginaldo Benedito Dias (2008) analisa a política local em 13 eleições municipais. O autor sintetiza a biografia dos prefeitos de Maringá e os acontecimentos principais que marcaram a história que levou cada chefe do executivo municipal à sua vitória. Dividido em três períodos, o estudo contempla os processos eleitorais de 1953 a 1964, de 1968 a 1982 e de 1988 a 2004. Ao tratar dos personagens, Dias (2008) proporciona o panorama indispensável para o leitor entender o cenário político no qual se iniciava cada mandato municipal, das sete gestões que investigamos neste trabalho.

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Em relação à primeira grande transformação na estrutura do plano inicial, o geógrafo Vanderlei Grzegorczyk (2000) trata dos interesses políticos e econômicos envolvidos na reformulação do pátio de manobras da ferrovia e da estação ferroviária, localizados na área central, conforme a proposta de Vieira. Analisando o Projeto Ágora, de 1985, e as alterações posteriores, de 1991 e 1993, quando se passou a chamar aquele espaço de Novo Centro, o autor realiza estudo sobre as estratégias e os conflitos promovidos pela CMNP na formação e produção da cidade. Grzegorczyk (2000) investiga as primeiras iniciativas realizadas pelo poder público para resolver o problema de circulação causado pela expansão para o norte do plano inicial. Conforme o autor,

O objetivo central envolveu o projeto da área do antigo pátio e da estação ferroviária. Ao levantar as causas dos problemas de transposição da linha férrea, da degradação física da área próxima e da divisão da cidade em duas partes, entre outros, constatamos que tais problemas decorreram dos conflitos de interesses entre segmentos sociais que assumiram o poder quando da primeira eleição realizada em Maringá, quando da criação deste município, os quais opunham aos interesses da companhia que projetou a cidade. Essa instabilidade política refletiu-se na organização espacial da cidade, favorecendo a ação de práticas altamente especulativas por parte destes grupos sociais (Grzegorczyk, 2000, p. 202).

A implantação dos conjuntos habitacionais e sua relação com a produção e organização da cidade são abordadas pelo geógrafo Ariovaldo Gustavo da Costa (1991), sendo um dos poucos trabalhos existentes sobre o assunto. Em sua monografia de especialização, Costa (1991) trata os conjuntos como determinantes para a expansão urbana. Após contextualizar a cidade no processo de ocupação do norte paranaense, o autor discute a ação dos setores públicos e privados na definição de políticas habitacionais e o papel dos agentes imobiliários no processo. Costa (1991) realiza o mapeamento dos conjuntos habitacionais inaugurados em Maringá no período de 1963 a 1987 e conclui:

...percebe-se claramente que entre os conjuntos mais afastados e a área central há lotes totalmente vazios, sem nenhuma ocupação predial, caracterizando aí todo o processo de especulação imobiliária gerenciado pelos proprietários fundiários. Essa ação indica a manobra política do poder econômico, pois os lotes, embora vazios, estão muito bem servidos por toda a infraestrutura urbana implantada nos distantes conjuntos, e financiada pelo dinheiro público (Costa, 1991, p. 71).

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Ainda sobre o tema conjuntos habitacionais em Maringá, o geógrafo Gerson de Silva (2002) discorre, em sua dissertação de mestrado, sobre a formação e a distribuição dos conjuntos multifamiliares, de 1976 a 1994, analisando-os como agentes responsáveis pela produção e organização do espaço urbano. O autor aborda os interesses sociais e políticos do processo de implantação dos conjuntos, resgatando a ação federal no problema da habitação e, especialmente, das cooperativas habitacionais diante de sua destacada atuação em Maringá. Por fim, considera que “... a população de menor renda acaba sendo cada vez mais empurrada para a periferia, por não ter condições de arcar com o caro ônus de morar num espaço urbano mais central servido por redes e sistemas de infraestruturas...” (Silva, 2002, p. 132).

Sobre as obras pontuais, destacamos os trabalhos dos arquitetos Aníbal Verri Júnior (2001) e Yvaldyne Melo (2001). Verri (2001) estuda a atuação do arquiteto José Augusto Bellucci em Maringá, evidenciando diversos projetos que tiveram importância na construção da cidade. Já Melo (2001) analisa especificamente a implantação do câmpus da Universidade Estadual de Maringá desde a sua formação.

Além dos pesquisadores acadêmicos, os trabalhos de escritores e memoralistas locais também serviram de subsídio para analisarmos diversos fatos e acontecimentos da cidade. Em nosso trabalho utilizamos publicações de autores como Jorge Ferreira Duque Estrada (1961), Arthur Andrade (1979), Osvaldo Reis (1996, 2004), J.A Corrêa Júnior (1988, 1991), Edgar Werner Osterroth (1997), Ademar Schiavone (2000), José Rodrigues do Nascimento (2007), Túlio Vargas (1980, 2003) e Rogério Recco (2005, 2007).