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O PRELAC e as recomendações do Programa de Educação para Todos: breve

3 A CRISE ESTRUTURAL DO CAPITAL E A GESTÃO DA POBREZA: AS “LEIS DE

4.1 O PRELAC e as recomendações do Programa de Educação para Todos: breve

O PRELAC é um projeto que se caracteriza como regional e que tem a pretensa validade de 15 anos, estando em vigor desde 2002, como continuidade do Projeto Principal de Educação que vigorou entre os anos de 1980-2000, e que constitui um apoio aos planos de ação da Educação para Todos adotado no Fórum Mundial de Dakar (2000) e na reunião preparatória de Santo Domingo69 (2001). Conforme o documento, o antecedente imediato do PRELAC é a Reunião de Ministros da Educação realizada em Cochabamba (2001), a qual encarrega a UNESCO da preparação de um novo projeto Regional para orientar o salto qualitativo requerido pela região em termos educacionais (PRELAC, 2004, p. 7).

O Projeto Principal de Educação (PPE) surgiu no final dos anos 1970, entre as décadas de 1980-2000, antes da Conferência Mundial de Educação realizada em 1990.

69 A Reunião de representantes da América Latina, Caribe e América do Norte em Santo Domingo foi realizada de 10 a 12 de fevereiro de 2000, o Marco de Ação Regional para avaliar os progressos realizados na Região para a consecução dos objetivos e metas formulados no Congresso Mundial de Educação para Todos (Jomtien, Tailândia) e renovação dos compromissos de Educação para Todos para os quinze anos seguintes (Educação para Todos: o compromisso de Dakar. Brasília: UNESCO, CONSED. Ação Educativa, 2001)

178 Portanto, foi um projeto que orientou as políticas educacionais da América Latina e Caribe durante 20 anos, denominado Projeto Principal de Educação para a América Latina e Caribe (PROMEDLAC)70, foi um projeto, aprovado na 21ª Reunião da Conferência Geral da UNESCO, em 1980, e surgiu do consenso dos países da região diante da necessidade de realizar um esforço coletivo para alcançar, antes do ano 2000, os seguintes objetivos:

[…] alcançar a escolarização básica à crianças em idade escolar, oferecendo-lhes um tempo mínimo de 8 a 10 anos de estudos; superar o analfabetismo, desenvolver e ampliar os serviços educativos para jovens e adultos com escolaridade insuficiente ou sem escolaridade; e, melhorar a qualidade e eficiência dos sistemas educativos e o ensino em geral, através das reformas necessárias e o projeto de sistemas eficazes de mensuração de aprendizagem. (PROMEDELAC V, 1993, p. 11)

O PROMEDLAC foi avaliado na VI Reunião dos Ministros de Educação da América Latina e Caribe, sendo apresentada somente na VII Reunião dos mesmos envolvidos em março de 2001, em Cochabamba, na Bolívia, junto com as análises das perspectivas da região em matéria de educação. O resultado foi o pedido dos países à Unesco em dar continuidade ao Projeto de “salvação” para melhorar a qualidade da educação.

O PRELAC marca uma linha de continuidade com projetos anteriores a nível regional e mundial, não se apresentando como uma nova entidade, sendo concebido e desenvolvido como suporte e em estreita articulação com o movimento de Educação para Todos, enquanto meta de uma educação de qualidade para todos ao longo da vida. Representa, dessa forma, um fórum, no qual se reflete como alcançar as metas de EPT, analisando criativamente as opções de política educacional mais adequadas para os diferentes contextos da região (REVISTA PRELAC, 2004).

O PRELAC se converte assim num conjunto de estratégias regionais para apoiar a construção efetiva de uma educação de qualidade para a América Latina e Caribe, destacando três qualidades, que apontam como especiais no Projeto, quais sejam:

[…] seu enfoque é crítico, mas também faz propostas diante dos níveis de sucesso alcançado em educação; a incorporação de elementos particulares da América Latina e Caribe (em alfabetização, diversidade cultural, desigualdade etc.); e a terceira, de caráter estratégico, refere-se a sua contribuição com respeito ao 'como' avançar em direção às metas de EPT (REVISTA PRELAC, 2004, p. 11).

70

Disponível:http://portal.unesco.org/geography/es/ev.phpURL_ID=8588&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTI ON=201.html Acesso em 14 de julho de 2015.

179 Desta forma, no documento “Declaração de Havana71”, fruto de uma Reunião Intergovernamental do Projeto Regional de Educação para a América Latina e Caribe, realizado em 2002, há o reconhecimento de que, apesar dos esforços envidados durante os últimos 20 anos até aquela data, para melhorar a qualidade da educação na região, as informações recém-chegadas até então, mostravam que existem importantes aspectos pendentes e necessidades que afetam a educação. De acordo com a Declaração:

Los estudios comparados realizados en la región, como los del Laboratorio Latinoamericano de Evaluación de la Calidad de la Educación (1999), y los de las reformas y experiencias de los cambios educativos en nuestros países, nos revelan que el desarrollo y el aprendizaje de los estudiantes están estrechamente determinados tanto por sus propias potencialidades, como por los contextos en los que interaccionan con sus iguales y con los adultos, en los que se desarrollan y aprenden (DECLARACIÓN DE HABANA, 2000, p. 1)72

Aconteceu a Primeira Reunião para o reconhecimento e compromisso com o PRELAC, em Havana, 2002, e atrelou-se as seis metas de Educação para Todos estabelecidas no Fórum Mundial de Dakar realizado em 2000, com a sugestão de que os ministros trabalhem com a sociedade civil para acordar políticas, estratégias e ações necessárias ao cumprimento das seis metas. Após análises e debates dos informes e propostas apresentados, os ministros se comprometeram com o PRELAC, Projeto considerado a lâmina do itinerário a ser perseguido para o cumprimento das metas de EPT para o ano de 2015. Os ministros apresentaram sua declaração em 13 itens, os quais se referem à periódica avaliação das ações e prestação de contas que permitam a sua sustentabilidade até seu cumprimento final, dentre outros compromissos (DECLARAÇÃO DE HAVANA, 2002).

Naquela ocasião da Primeira Reunião dos Ministros de Educação da América Latina e Caribe para o compromisso com o PRELAC, assinalaram que as propostas poderiam

71 O evento que foi convocado pela Unesco reuniu Ministros da Educação da América Latina e Caribe na cidade de Havana, na primeira Reunião Intergovernamental do Projeto Regional de Educação para a América Latina e Caribe, nos dias 14 a 16 de novembro de 2002, para o reconhecimento da execução do Prelac durante 15 anos. Assumir esse Projeto constituiu-se no mais importante desafio dos países para que a educação seja a figura central que permita a nossos povos o alcance dos mais altos níveis de desenvolvimento humano e de dignidade a todos que tenham direito às portas do século XXI (DECLARAÇÃO DE HAVANA, 2002, p. 1).

72 Os estudos comparativos realizados na região, como os do Laboratório Latino-americano de Avaliação da Qualidade da Educação (1999), e os das reformas e experiências das mudanças educacionais em nossos países, nos revelam que o desenvolvimento e o aprendizado dos estudantes estão estritamente determinados tanto por suas próprias potencialidades, como pelos contextos em que interagem com seus pares e com os adultos, em que se desenvolvem e aprendem (DECLARAÇÃO DE HAVANA, 2000, p.1).

180 ajudar no cumprimento das metas de Educação para Todos e os mecanismos e programas de ação prioritários do modelo de acompanhamento do Projeto seriam prioridades básicas e compromissos para os países da região, identificando cinco focos estratégicos para intervenção, assim como “[...] demandan la adopción por los gobiernos de las medidas

legislativas y acuerdos educativos nacionales que garanticen su sustentabilidad y mantenimiento en los tránsitos y cambios de gobierno”73. (DECLARACIÓN DE HABANA, 2002, p. 2). De acordo com a Declaração de Havana, os focos são assim definidos:

O foco 1 trata dos “Contenidos y prácticas de la educación para construir sentidos acerca de nosotros mismos, los demás y el mundo em el que vivimos. O foco 2: Docentes y fortalecimiento de su protagonismo para que respondan a las necesidades de aprendizaje de los alumnos. O foco 3: Cultura de las escuelas para que se conviertan em comunidades de aprendizaje y participación. O foco 4: Gestión y flexibilización de los sistemas educativos para ofrecer oportunidades de aprendizaje efectivo a lo largo de la vida.E o foco 5: Responsabilidad social por la educación para generar compromisos com su desarrollo y resultados74.” (DECLARACIÓN DE HABANA, 2002, p. 2).

Além disso, o apoio efetivo das agências e organismos internacionais, bem como com a força das capacidades e recursos humanos e materiais disponíveis, no qual deve estar dirigido principalmente na direção dos focos estratégicos do Projeto, deverão promover mecanismos que permitam a cooperação horizontal para o fortalecimento da melhoria na educação da região (DECLARAÇÃO DE HAVANA, 2002).

O fator considerado chave e urgente nestes países, tem sido a prioridade da formação docente e sua profissionalização, elevando paulatinamente a formação docente inicial até alcançar o nível superior para o ensino básico, com a devida qualificação. A alfabetização é colocada como uma das prioridades, com um médio enriquecimento cultural, que deve envolver todos os fatores sociais. Apontam para os métodos de alfabetização, a partir do uso de recursos como rádio, televisão e outros, de acordo com o alcance das economias próprias dos países referidos, que devem ser aproveitados para reduzir o índice de analfabetismo em cinco anos e erradicá-lo em dez anos (DECLARAÇÃO DE HAVANA,

73 “[...] demandam a adoção pelos governos das medidas legais e acordos educativos nacionais, que garantissem sua sustentabilidade e manutenção nos trânsitos e mudanças de governo”.

74 O foco 1 trata dos “Conteúdos e práticas da educação para construir sentidos acerca dos nós mesmos, dos demais e o mundo em que vivemos. O foco 2: Docentes e fortalecimento de seu protagonismo para que respondam às necessidades de aprendizagem dos alunos. O foco 3: Cultura das escolas para que se convertam em comunidades de aprendizagem e participação. O foco 4: Gestão e flexibilização dos sistemas educativos para oferecer oportunidades de aprendizagem efetiva ao longo da vida. E o foco 5: Responsabilidade social pela educação para gerar compromissos com seu desenvolvimento e resultados. ” (Declaração de Havana, 2002, p. 2)

181 2002).

Aqui percebemos a visibilidade dos pontos 1 e 7 apontados na declaração (DECLARAÇÃO DE HAVANA, 2002), em assumir a educação infantil como nível incorporado à educação básica, que, independente das mudanças de governo, deve ser cumprido, pois trata-se de uma meta de EPT relacionada ao desenvolvimento integral da criança na primeira infância. Não estamos aqui afirmando que o desenvolvimento da criança, muito menos, na sua forma “integral” esteja sendo realizado nas escolas, mas é fato que essa etapa da educação fora incorporada à educação básica, passando a ser responsabilidade dos municípios brasileiros em financiá-lo e monitorá-lo.

Em todos os níveis da educação, temos apresentado no documento, a importância que a escola deve dar e priorizar: a convivência familiar, comunitária, como instituição aberta, flexível, com alta capacidade de resposta, e preparada para que possa executar seus próprios projetos educativos respondendo às necessidades e diversidades da comunidade que atendem, construídos de maneira coletiva. Ademais, o documento afirma que a escola precisa aumentar o orçamento para a defesa do meio ambiente e para o alívio da pobreza e da Aids (DECLARAÇÃO DE HAVANA, 2002).

O Projeto foi criado com base nos dados reais de pobreza na América Latina, os quais demonstraram os níveis alarmantes das desigualdades sociais mais altos do mundo e um grau elevado de vulnerabilidade das instituições mais importantes (REVISTA PRELAC, 2004), reconhecendo que a região da América Latina e Caribe é a mais desigual do planeta. A Revista Prelac assinala que os prognósticos otimistas sobre a situação econômica não se realizaram. Ao final da década de 90, eram 211 milhões de pessoas na linha de pobreza e 80 milhões de indigentes na apresentação de um rosto mais desumano da pobreza e da desigualdade na distribuição da riqueza. No ano de 214 divulgou-se na Suiça, através do Relatório em Davos, que 85 pessoas mais ricas do mundo têm um patrimônio de U$$ 1,7 trilhão de dólares, o que equivale ao patrimônio de 3,5 bilhões de pessoas, as mais pobres do mundo75. Assume-se que as políticas sociais não cumpriram o papel redistribuidor que se esperava delas (REVISTA PRELAC, 2004).

A expressão mais visível do quadro de pobreza e desigualdade, conforme atesta a

75 Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/01/140120_riqueza_relatorio_oxfam_fn Acesso em 31 de julho de 20115.

182 Revista Prelac (2004), é o desemprego, ou o subemprego, apontando para o saldo negativo dessa realidade, a seguir: redução do emprego de massa, diminuição da qualidade do trabalho, subutilização da população qualificada, incremento do trabalho informal, precariedade das remunerações, instabilidade no trabalho. Indicam que são as mulheres, os jovens, a população indígena e de baixa renda os mais afetados por isso, em meio a conflitos sociais e de degeneração da vida e do meio ambiente, indicando situações e condições que ultrapassam o espaço regional, que estão relacionadas com a

[…] vertiginosa evolução do conhecimento, a ruptura de espaços e tempos com as novas comunicações, as mudanças em padrões de conduta e de valores, e os movimentos migratórios, entre outros, que oferecem à sociedade, e portanto, à educação novas interpretações, novos desafios […] um mundo cheio de conquistas, mas também de inquietudes transcendentes exige re-significações para o próprio sentido da educação. Um mundo em permanente transformação e consciente da riqueza de sua diversidade demanda esforços inegáveis para encontrar respostas criativas e integradas à educação (REVISTA PRELAC, 2004, p. 8).

No Prelac, vemos o reconhecimento dos problemas regionais, tais como o analfabetismo, a necessidade de universalização da educação básica, dentre outros denominados como 'conjunto de carências', pendências, que são preocupantes, embora haja avanços empreendidos por projetos anteriores que investiram esforços para a reforma e melhoria da qualidade da educação. É curioso a atenção dada ao aspecto da desigualdade na distribuição das oportunidades educacionais e o impacto dessa desigualdade a grupos excluídos, como as pessoas de zonas urbanas marginais, dentre outras.

O documento aponta como causadores desse estado, no qual se insere a educação na América Latina, a ausência de políticas integrais para formação e carreira docente, as carências com relação ao tempo efetivo para a aprendizagem, a formação científica e papel das tecnologias, adicionados de limitações na gestão educacional, financiamento e alocação de recursos, além da ampliação do fosso entre a escola privada e a escola pública. A Educação para Todos, nesse ínterim, surge como um compromisso de todos os países com a educação, a partir dessas metas a serem alcançadas em 2015.

O Prelac tem ainda como objetivo “promover mudanças nas políticas e práticas educacionais, a partir da transformação dos paradigmas educacionais vigentes para assegurar aprendizagens de qualidade, voltadas para o desenvolvimento humano, para todos ao longo da vida” (REVISTA PRELAC, 2004, p. 09). Cabe então às políticas educacionais assegurarem o

183 direito à educação e à igualdade de oportunidades à toda a população, eliminando as barreiras que possam impedir esse acesso, que acabam por limitar a participação e a aprendizagem das pessoas. Como meio de propiciar o sucesso no alcance dos objetivos de Dakar (2000), o Prelac (REVISTA PRELAC, 2004) pretende alimentar políticas educacionais inovadoras que diminuam as desigualdades na região e tornem realidade uma educação de qualidade para todos e todas.

Apresenta-se como um plano de metas, um projeto, que assegura sua originalidade nos princípios de desenvolvimento de motivações a pessoas que façam o uso correto dos insumos destinados ao financiamento da educação, comprometidas com a mudança educacional e seus resultados, sentirem-se como sujeitos, numa visão não de atores, mas de autores dos processos educativos; formar o estudante nas suas múltiplas dimensões, que permita sua inserção na sociedade e que nela possa fluir, superando a aprendizagem focada somente nos conhecimentos em forma de competências e habilidades, e partir para uma educação que prime pelos aspectos afetivos, relações, capacidades de inserção e atuação social, desenvolvimento ético e estético; proporcione uma cultura comum, considerando ao mesmo tempo as diferenças culturais, sociais e individuais e estimule o salto em direção a uma sociedade educadora.

São os princípios a seguir, que, conforme os autores dão originalidade ao Projeto, quais sejam: desenvolver as pessoas para que se sintam motivadas e capazes de utilizar adequadamente os insumos, ou seja, os elementos ou conjunto de elementos que entram na produção de bens ou serviços. O desenvolvimento de seres comprometidos, enquanto atores dos processos educativos, também se constitui um elemento de originalidade do Projeto, segundo seus defensores, pois, ao desenvolver seres comprometidos, desloca-os das decisões individuais à cooperação entre sujeitos.

O Prelac, e também a EPT, tem como foco agregar à educação atual, no contexto de incerteza e mudança, “abordagens para o exercício da cidadania e para a construção da cultura de paz; tendo como guia o 'Informe Delors', com os quatro pilares de aprendizagem, acrescentando ao ideário do 'Aprender a Aprender', o 'aprender a empreender” (REVISTA PRELAC, 2004, p. 10). Os outros quatro focos do Prelac estão relacionados ao apoio de políticas públicas que valorizem o professor, reconhecendo sua função social.

184 formação em aptidões novas da docência como forma de encarar os desafios do século XXI. Esses desafios estão relacionados ao compromisso com a aprendizagem dos alunos, como se este compromisso não fosse assumido pelos docentes e, de certa forma, aponta de forma velada a culpa aos professores pelo insucesso da aprendizagem dos alunos.

O documento também sugere que a responsabilidade social pela educação e pelo sistema educacional em prol de uma aprendizagem efetiva, basta vontade política e trabalhar para que a gestão esteja a serviço da aprendizagem dos alunos, bem como “prestar conta da cidadania em todos os níveis, e construir relações marcadas pela vivência dos valores éticos e democráticos” (REVISTA PRELAC, 2004, p. 11-12).

Conforme explicitado no documento contido no primeiro número da Revista Prelac (2014), anteriormente aos anos 1990, o desemprego era o principal fator determinante da pobreza, que estava associado ao não oferecimento de uma adequada inserção daqueles que possuíam uma certa qualificação em nível técnico ou profissional no mercado de trabalho da América Latina. De acordo com as análises do diretor da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL), Rolando Franco, em pronunciamento inicial da Revista Prelac, da situação social, econômica e política latino-americana e caribenha, fez um balanço do crescimento econômico anterior aos anos 1990, que, segundo o diretor, traduzia-se na geração de postos de trabalho que permitiam às pessoas obter um salário e assim satisfazer as suas necessidades e de suas famílias.

Na década de 1990, o crescimento e a geração de emprego se dissociaram e o emprego, que é o elemento que articula o econômico com o social, tornou-se o exemplo de deterioração desses tempos, configurando-se num balanço negativo, pois das 32 milhões de pessoas que incorporavam à população economicamente ativa, somente 9,1 milhões delas conseguiam empregos formais, enquanto quase 20 milhões partiram para o setor informal. Os mais afetados pelo desemprego foram as mulheres, pessoas de baixa renda e os jovens.

Os aspectos vinculados à educação, conforme afirma Rolando Franco, também foram negativos, pois as mulheres qualificaram-se mais que outros segmentos sociais, sendo considerado uma “melhoria” importante na formação de recursos qualificados. O fenômeno da qualificação das mulheres exigiu das sociedades latino-americanas e caribenhas um notável esforço, mas não permitiu sequer acompanhar o crescimento na educação secundária e superior (universitária) se comparados aos países desenvolvidos, membros da Organização

185 para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e aos países industrializados da Ásia (REVISTA PRELAC, 2004).

O diretor da CEPAL afirma ainda que a América Latina também não consegue oferecer uma inserção adequada no mercado de trabalho aos que alcançaram o nível de formação técnica e profissional na região, e somente “um quarto dos que se incorporaram ao mercado de trabalho tinham certa qualificação 4,3 milhões de tipo técnico e 3,6 milhões, profissional” (REVISTA PRELAC, 2004, p. 16). Houve, na verdade, uma subutilização da população qualificada, reconhecendo que o desemprego de muitas pessoas qualificadas justifica-se pela incapacidade das economias da região para fazer um uso cabal do acervo de conhecimentos e aptidões da população. Há, ainda, uma grande incapacidade das sociedades latino-americanas para utilizar adequadamente sua população dotada de conhecimentos e aptidões (REVISTA PRELAC, 2004).

De acordo com o diretor, há três fontes principais da subutilização da população qualificada, quais sejam: o desemprego aberto, “cujas taxas elevadas por períodos prolongados refletem a economia da região” em absorver a massa qualificada; ou seja, “[...] não fazem uso cabal do acervo de conhecimentos e aptidões da população, impedindo que essas pessoas qualificadas sejam inseridas no mercado de trabalho” (REVISTA PRELAC, 2004, p. 17).

Outra fonte apontada por Rolando Franco, ainda em entrevista concedida, é o posto inadequado de trabalho, ou seja, não é compatível com a formação do profissional em estágio inicial de trabalho que o ocupa, quando consegue emprego, não lhe é permitindo “pôr em prática os conhecimentos que adquiriram em sua etapa formativa”, sem contar a baixa remuneração que é inferior à que corresponderia à sua qualificação (REVISTA PRELAC, 2004, p. 17). Há, nesses casos, o desânimo e o abandono da busca de trabalho, “[...] são, definitivamente, 'desempregados desanimados', quando saem da população economicamente ativa”, desembocando na “inatividade involuntária” (Idem, ibid). Esta afeta, principalmente,

[…] as mulheres que carecem de redes de apoio suficientes para compatibilizar o cumprimento de atividades assalariadas e as tarefas domésticas, que continuam sob a sua responsabilidade, apesar das mudanças culturais que se produziram nessas