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As noções de produção de riqueza pela força de trabalho na sociedade capitalista, nas concepções de Smith e Marx, serão expostas nesse subitem. De acordo com a leitura de Hunt (2005, p. 47), “Smith não apregoara que ao capital incorporava-se somente a quantidade de trabalho comumente empregada para a aquisição do lucro (do capital), seria necessário,

38 além dessa “quantidade comumente empregada”, a “[...] quantidade adicional de trabalho como necessária para, normalmente, comprar, ter ou trocar a mercadoria”.

Smith apud Hunt (2005), afirma que no surgimento da propriedade privada, os proprietários vão querer colher o que nunca plantaram e o trabalhador, por outro lado, tem que desistir de uma parcela produzida pelo seu próprio trabalho ou colhê-la para entregá-lo ao proprietário de terra. Será “[...] o preço dessa parcela que constituirá o aluguel da terra, tornando-se uma terceira parte componente do preço da maior parte das mercadorias” (HUNT, 2005, p. 47).

É importante ressaltar que essa concepção de riqueza, ao longo do pensamento econômico, a partir do contexto mercantil dos séculos XVI e XVII, apregoava que o país, para ser rico, deveria ter como predomínio a atividade mercantil, desta forma, o país precisava acumular riquezas. Foi um momento histórico de grandes “descobertas”, quando procuraram as colônias, as quais estavam encharcadas com produtos manufaturados e poderiam, desta forma, constituírem-se como parte do crescimento da produção industrial, sob o controle do Estado, diferença fundamental da sociedade feudal, que sustentou a concepção de riqueza baseada na quantidade de terras apropriadas pelos senhores feudais.

Nesse sentido, Smith (1986) afirmara que “[...] cada homem é rico ou pobre, segundo o grau em que pode adquirir as necessidades, conveniências e diversões da vida humana” (SMITH, 1986, p. 31), e somente adquiridas por uma parte bem menor da sociedade, com a implementação da divisão do trabalho, que, de acordo com a quantidade de trabalho que pode comandar, ou que esse trabalho possa adquirir, dará a condição de riqueza ou pobreza do homem. Nas palavras do autor

[...] O valor de qualquer mercadoria, portanto, para a pessoa que a possui, e que não pretende usá-la, ou consumi-la, mas trocá-la por outras mercadorias, é igual à quantidade de trabalho que o capacita a comprar ou comandar. O trabalho, portanto, é a medida real do valor de troca de todas as mercadorias [...] é uma noção abstrata, que, se bem que possa ser tornada suficientemente inteligível, não é tão natural e óbvia. É a medida real do valor de troca de todas as mercadorias, embora seu valor não seja usualmente avaliado por ele mesmo (SMITH, 1986, p. 31-32).

Dessa forma, Smith (1986) definiu o trabalho como uma noção abstrata, que não se pode determinar certa quantidade de trabalho para a compra de mercadorias, embora se mensure maior ou menor quantidade de trabalho para a produção da mercadoria, que diferente do trabalho, é objeto simples e palpável. O autor assegura, ainda, em sua obra Riqueza das

Nações (1986) que, para o trabalhador, iguais quantidades de trabalho são sempre do mesmo

39 bens, ora com menor quantidade, o preço do trabalho.

O autor utiliza duas categorias para diferenciar o preço do trabalho, quais sejam, o preço real e o preço nominal; o primeiro que trata da quantidade das necessidades e conveniências da vida que são dadas pelo trabalho; e o segundo da quantidade de dinheiro. O trabalhador é rico ou pobre, “[...] é bem ou mal recompensado em proporção ao preço real, e não ao nominal, de seu labor”. O preço real do trabalho, enfatizamos, “[...] é a quantidade de necessidades e conveniências adquiridas por ele, o trabalho” (SMITH, 1986, p. 34).

Portanto, o indivíduo que possui mercadoria não para seu uso próprio, mas para trocá-la ou vendê-la por outras mercadorias, torna-se capaz de comandar ou comprar o trabalho alheio, tendo, dessa forma, a possibilidade de ser rico. O homem, nessa concepção, será rico ou pobre conforme a quantidade de trabalho que possa comandar ou adquirir, o que, por sua vez, também reverbera no grau com que pode adquirir as necessidades, conveniências e diversões da vida humana, e que somente depois da divisão do trabalho, uma parte bem menor pode adquirir essas necessidades e conveniências, sempre em proporção ao preço real e não nominal do trabalho. Essas aquisições são permitidas pelo poder da riqueza herdada ou adquirida, que permite a posse imediata, e diretamente do poder de compra, embora esse poder não permita necessariamente a posse do poder político, civil ou militar.

Ter riqueza, nessa perspectiva de Smith (1986), é ter posse imediata e diretamente do poder de compra, pois se há como comprar, se é rico, o que não indica necessariamente ter o poder político, civil ou militar. Conforme o autor em tela, o único valor a ser considerado no produto do trabalho são os valores mercadorias.

Nesse sentido, arriscamo-nos a dizer que o pensamento de Smith e Marx se encontram aqui também, ao afirmarem que o “único valor a ser considerado na relação do trabalho, é o valor que aparece nas mercadorias” (MARX, 2008, p. 60). Para Marx, não se considera nessa relação o dispêndio de força de trabalho humana, nem a forma como esta força foi dispendida para a realização do trabalho, assim como o “trabalho humano que neles se armazenou” (idem). Tudo o que foi considerado, ao produzir valor-de-uso, é colocado de lado para a obtenção do valor-de-troca.

Este “trabalho humano homogêneo”, definido por Marx (2008) como a “[...] substância criadora de valor” produz o bem, ou valor-de-uso que só possui valor porque há

40 nele trabalho humano abstrato materializado, corporificado, sendo sua grandeza de valor medida por meio da quantidade de trabalho, e este sendo medido pelo tempo de sua duração. Marx adverte, entretanto, que, se a mercadoria tem o valor determinado pelo tempo de trabalho gasto para sua produção, poder-se-ia um preguiçoso levar mais tempo para acabar sua mercadoria, e esta ter aumento de valor por isso.

Nesse sentido, afirma o autor, é pela força de trabalho social que a produção será determinada, pelo tempo de trabalho socialmente necessário. Este é “o tempo de trabalho requerido para produzir-se um valor-de-uso qualquer, nas condições de produção socialmente existentes e com o grau social médio de destreza e intensidade do trabalho” (MARX, 2008, p. 61). Entende-se assim, que o valor das mercadorias produzidas com o mesmo tempo de trabalho social é o mesmo, pois, “como valores, as mercadorias são apenas dimensões definidas no tempo de trabalho que nelas se cristaliza” (idem, ibid.).

Não é demais ressaltar que, de acordo com Marx (2008), encontrar diamantes custa mais tempo de trabalho. Nesse sentido, o trabalho tem menor valor quando maior é a produtividade, com menor tempo empregado à produção, o que terá uma menor quantidade de trabalho cristalizado na mercadoria. Ao contrário, o valor da mercadoria no capital aumenta quando sua produtividade é menor, tendo maior tempo de trabalho necessário para produzi-la. Trata-se de uma relação inversa.

Marx (2008) ressalta que a força produtiva muda constantemente, alterando a grandeza de valor da mercadoria, assim como a produtividade do trabalho, implicando na destreza média dos trabalhadores, no desenvolvimento da ciência e sua aplicação tecnológica, na organização social do processo de produção, no volume e eficácia dos meios de produção e nas condições materiais. O autor define a atividade como “o ato de transformar os elementos naturais em objetos úteis”, que ao se revelar como mercadoria “transforma-se em algo ao mesmo tempo perceptível e impalpável” (MARX, 2008, p. 93).

Realizar essa atividade na sociedade capitalista é como se a mercadoria por si só, e independentemente, possuísse características materiais e propriedades sociais; é como se os produtos produzidos pelo trabalho humano assumissem vida própria, ou, como nas palavras de Marx (2008, p. 95), forjasse uma aparente realização das “[...] relações sociais entre coisas e relações materiais entre as pessoas”.

41 Nesse sentido, a mercadoria encobre as características sociais do próprio trabalho dos homens, apresentando-as como características materiais e propriedades sociais inerentes aos produtos do trabalho. A expressão utilizada por Marx, nessa relação, é o fetichismo da mercadoria, o qual decorre do caráter social próprio do trabalho que produz mercadorias, atribuindo um poder ao objeto que não é dele, mas do homem, entretanto, no mundo das mercadorias, há um mascaramento do real, por isso, mascara-se o poder do trabalho humano concreto, só aparecendo o produto dessa ação como o mais valioso. Marx (2008) afirma ainda que a totalidade do trabalho social é formada pelo conjunto dos trabalhos privados, que transformam objetos úteis em mercadoria.

O trabalho é, em Marx (2008), a ação de transformação das formas da matéria, isto é, apropriação do substrato material que a natureza oferece na produção dos valores-de- uso para convertê-lo em produção de mercadorias. O autor discorre sobre os tipos de trabalho para a produção de mercadorias na sociedade capitalista, “se fornece uma porção dada de trabalho humano”, de ofícios diferentes são “expressões objetivas de trabalhos qualitativamente diferentes”, nas quais em estágios sociais diferentes são “[...] apenas modalidades de trabalho do mesmo indivíduo”. Mas embora sejam “[...] atividades produtivas qualitativamente diferentes, são ambos dispêndio humano produtivo de cérebro, músculos, nervos, mãos etc., são ambos trabalho humano” (MARX, 2008, p. 65-68).

Marx (2008, p. 66) ainda ressalta que,

[…] sem dúvida, a própria força humana de trabalho tem de atingir um certo grau de desenvolvimento para ser empregada em múltiplas formas. O valor da mercadoria, porém, representa trabalho humano simplesmente, dispêndio de trabalho humano em geral. Com o trabalho humano ocorre algo análogo ao que se passa na sociedade burguesa, onde em geral um banqueiro desempenha um papel importante e fica reservado ao simples ser humano uma função inferior. Trabalho humano mede-se pelo dispêndio da força de trabalho simples, a qual, em média, todo homem comum, sem educação especial, possui em seu organismo.

Percebemos, nessa análise que Marx faz aos tipos de trabalho nas sociedades anteriores ao capitalismo, a necessidade de qualificação exigida nesta sociedade capitalista, no que o autor se refere à “educação especial”, no sentido da necessidade de apropriação de uma educação sistematizada, por parte do trabalhador, o homem entendido enquanto força humana que precisa atingir um certo grau de desenvolvimento para ser empregada, para além do homem comum, sem esse tipo de educação, que possui o dispêndio da força de trabalho simples.

42 O trabalho, para Marx (2008, p. 65-66), “[...] é necessário em qualquer forma de sociedade porque é uma necessidade natural e eterna de efetivar o intercâmbio material entre o homem e a natureza e, portanto, de manter a vida humana”.

Lukács (2013), numa análise sobre a categoria trabalho, irá defini-lo, bem de acordo com as análises de Marx, como “uma condição de existência do homem” (2013, p. 44), e como criador de valor-de-uso, este não pode ser considerado somente “no sentido puramente econômico, posto que sua gênese designa o produto do trabalho, que o homem pode usar de maneira útil para a reprodução de sua existência” (LUKÁCS, 2013, p. 44).

De acordo com Lukács (2013, p. 44), “[...] no trabalho estão contidas in nuce todas as determinações que (…) constituem a essência do novo no ser social. Desse modo, o trabalho pode ser considerado o fenômeno originário, o modelo do ser social”.

O autor destina a Engels o mérito por colocar o trabalho como centro de humanização do homem, como um “salto de dentro da esfera da vida orgânica, mas em uma superação de princípio, qualitativa, ontológica” (2013, p. 45). Quando o autor se refere à diferença do homem com o macaco nas suas funções vitais:

O número das articulações e dos músculos e a sua disposição geral são os mesmos nos dois casos, mas a mão do selvagem mais atrasado pode realizar centenas de operações que nenhum macaco pode imitar. Nenhuma mão de macaco jamais produziu a mais rústica faca de pedra (LUKÁCS, 2013, p. 45).

Nesse sentido, é pelo trabalho que se realiza uma nova objetivação, de um “pôr teleológico” de ordem material, tornando-se o trabalho o modelo de toda práxis (LUKÁCS, 2013, p. 47). Marx (1985), conforme Lukács (2013), nega qualquer teleologia fora do trabalho, da práxis humana, sendo o conhecimento da teleologia do trabalho, o conhecimento correto da realidade, que lança luz, em termos ontológicos, sobre um conjunto de questões.

De acordo com Lukács (2013), o fato de Marx limitar a teleologia ao trabalho, à práxis humana, não restringe seu significado, por eliminá-la de todos os modos de ser, ao contrário,

[…] ele aumenta, já que é preciso entender que o mais alto grau do ser que conhecemos, o social, se constitui como grau específico, se eleva a partir do grau em que está baseada a sua existência, o da vida orgânica, e se torna um novo tipo autônomo de ser, somente porque há nele esse operar real do ato teleológico. Só podemos falar racionalmente do ser social quando concebemos que a sua gênese, o

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seu distinguir-se da sua própria base, seu tornar-se autônomo baseiam-se no trabalho, isto é, na contínua realização de pores teleológicos. (LUKÁCS, 2013, p. 52)

Em defesa da categoria trabalho enquanto protoforma do ser social, Lukács (2013, p. 53) discorre sobre a insuperável ligação de duas categorias, a causalidade e teleologia, ou seja, “[...] o pôr dos fins e a investigação dos meios, é da máxima importância para compreender o processo do trabalho, especialmente quanto ao seu significado na ontologia do ser social”. O autor esclarece que a “realidade natural é um sistema de complexos cuja legalidade continua a operar com total indiferença no que diz respeito a todas as aspirações e ideias do homem” (LUKÁCS, 2013, p. 54).

Para Lukács (2013), no “[...] ser-em-si das coisas não existe nenhum indício de possibilidade do ser, mesmo tendo presente as propriedades objetivas existentes em si somente”, mas, somente quando forem “[...] adequadas pelo homem para entrar numa combinação tal que torne isso possível, transformando, como diria Hegel, a ‘ação cega’ para uma ação determinada por um fim” (LUKÁCS, 2013, p. 54).

Lukács (2013) afirma que as categorias naturais tornam-se postas ao se subordinar ao pôr teleológico determinante11. Dessa forma, a atividade posta tem papel decisivo da causalidade no processo do trabalho, que se realiza no surgimento de objetos. Nesse sentido, “[…] natureza e trabalho, meio e fim, chegam, desse modo, a algo que é em si homogêneo: o processo do trabalho e, ao final, o produto do trabalho” (LUKÁCS, 2013, p. 55).

Nesse sentido, Lessa (2012), na trilha de Marx, afirma que o objeto do trabalho é a natureza, visto que o trabalho é a ação dos homens sobre a natureza. O intercâmbio com a natureza, conforme explicitado por Marx, “[...] só pode ser realizado por meio do trabalho dos braços e pernas, cabeça e mão, por meio do trabalho manual” (LESSA, 2012, p. 32).

Portanto, além de transformar o mundo objetivo, o trabalho transforma o indivíduo, por ser consequência necessária e fundamental no processo de objetivação, que cria

11 Lukács afirma que a diferenciação que entre a ontologia e a gnosiologia é extremamente importante para compreendermos a ontologia, que Marx desenvolve em sua obra “O Capital”, no processo de investigação dos nexos causais, que conforme compreendemos, assume nesse processo a consciência. Afirma o autor “Não nos referimos, porém, àquela situação óbvia, já esclarecida, na qual a homogeneização pressupõe o reconhecimento correto dos nexos causais não homogêneos da realidade. Se houver erro a respeito deles no processo de investigação, nem sequer podem chegar a ser – em sentido ontológico – postos; continuam a operar de modo natural e o pôr teleológico se suprime por si mesmo, uma vez que, não sendo realizável, se reduz a um fato de consciência que se tornou impotente diante da natureza. Aqui se torna palpável a diferença entre pôr, em sentido ontológico, e em sentido gnosiológico”. (LUKÁCS, 2013, p. 55)

44 novas situações e novas possibilidades, sem fazer desaparecer a natureza que já existia antes da operação da objetivação. É importante destacar que, esse processo de criação de uma nova situação pelo trabalho, possui uma ineliminável dimensão social, coletiva, pois o objeto criado tem por base a história passada e faz parte da vida em sociedade (LESSA, 2012). Ainda de acordo com Lessa (2012), em última análise, ele faz parte da história dos homens de um modo geral, história que jamais se repete.

Ao produzir o novo objeto, o indivíduo não tem controle sobre sua criação, que poderá evoluir no sentido diferente daquele desejado, porque existe uma independência da realidade frente à consciência, pois todos os atos de trabalho constroem objetos, que são distintos de nós e de nossas consciências (Lessa, 2012). Nas palavras de Lessa (2012, p. 35):

[...] esta distinção fundamental entre a consciência que opera a teleologia e o mundo objetivo puramente casual é o fundamento para que a história, em seu movimento global, resulte em consequências muito distintas – por vezes, mesmo opostas – ao almejado pelos indivíduos.

Sendo a mercadoria produzida por essas duas conjunções: a natureza e o trabalho, o que resta da extração da totalidade dos diferentes trabalhos úteis incorporados na produção, no caso exemplificado por Marx, o casaco e o linho, é um substrato material, que a natureza sem interferência do homem, oferece. Marx se refere aos fenômenos do universo que transformam-se, seja pela provocação do homem, seja pelas leis gerais da física, que mudam a matéria, mas não se refere à produção do novo, de criações novas. É importante ressaltar que a produção do novo só se realiza com o trabalho, na ação do homem sobre a natureza. Marx afirma que “[...] o homem, ao produzir, só pode atuar como a própria natureza, isto é, mudando as formas da matéria” (MARX, 2008, p. 65).

Marx (2008, p. 66) caracteriza o trabalho humano dividindo-o em grupos, quais sejam:

O trabalho humano simples, que, em média é o que o homem comum possui em seu organismo, sem uma educação especial. O trabalho simples médio muda de caráter com os países e estágios de civilização, mas é dado numa determinada sociedade; Já o trabalho humano complexo ou qualificado se equipara em valor ao produto maior de trabalho simples, representa, assim, uma quantidade maior de trabalho simples.

45 no sentido fisiológico, e, nessa qualidade de trabalho humano igual ou abstrato, cria o valor das mercadorias” (MARX, 2008, p. 68), conforme mencionamos anteriormente. Por outro lado, “é esse dispêndio de força humana, sob forma especial para um determinado fim, e, nessa qualidade de trabalho útil e concreto, que se produz valores-de-uso” (idem).

Até aqui, Marx partiu da aparência para descobrir a essência, voltando à aparência, compreendendo as mediações do fenômeno, e desta forma, fazendo o caminho inverso dos economistas clássicos, afirmando que o valor não se manifesta imediatamente,

embora já esteja na aparência.

É importante ressaltar que a mercadoria é o produto que passa a ser objeto útil e veículo de valor quando somente assume essa dupla forma. Nas palavras de Marx “[...] as mercadorias, recordemos, só encarnam valor na medida em que expressam uma mesma substância social, o trabalho humano; seu valor é, portanto, uma realidade apenas social, em que uma mercadoria se troca por outra” (MARX, 2008, p. 69).

O valor salta e se manifesta no valor de troca. O valor fica escondido, porque a mercadoria só pode expressar sua forma relativa de valor, quando expressada em outra mercadoria (MARX, 2008). Uma equivale à outra em valor, sendo mercadorias diferentes para que possam ser equiparadas, pois, sendo iguais, não há como expressar a relação de valor entre elas.

Para compreendermos a forma do valor e o valor, recorremos novamente a Marx (2008), que assegura que a força de trabalho cria valor, mas só se torna valor quando se cristaliza na forma do objeto, e este objeto é a expressão do tempo gasto, o tempo de trabalho humano. Nele se acumula valor, porque é “depositário de valor”, num acúmulo de trabalho humano. Marx utiliza o exemplo do casaco, que é equivalente ao linho, sendo o casaco a materialização do valor, e a expressão da outra mercadoria, o linho. Marx afirma que essa é a linguagem das mercadorias, ou seja, uma mercadoria expressa a outra, constituídas por “trabalho idêntico”, que cria valor, que se apresenta sob formas diferentes, pois é a figura física de outra mercadoria, que fará surgir sua própria forma de valor e esta não se confronta com ela mesma, não se relaciona consigo mesma, necessitando de outra para isso.

O trabalho idêntico é criado pelo trabalho humano abstrato que, de acordo com Marx (2008), é aquele que cria valor, que cria mercadorias equivalentes e está relacionado ao

46 tempo gasto para a produção de mercadorias. É, portanto, o trabalho abstrato que cria o valor das mercadorias e representa o dispêndio de trabalho humano. O valor é, assim, expressado pela quantidade de objeto útil - o produto do trabalho - que tem substância de valor, tem