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4.6 Dos embargos para efeitos de prequestionamento

4.6.1 O prequestionamento

A necessidade de prequestionamento para a interposição dos recursos extraordinário e especial está nas disposições finais dos arts. 102, III e 105, III, da Constituição Federal de 1988.

Reforçando o texto constitucional, consta da Súmula do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça referência expressa a essa exigência.351

351 Verbete n° 282 da Súmula do Supremo Tribunal Federal: “É inadmissível o recurso extraordinário quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada”.

Verbete n° 356 da Súmula do Supremo Tribunal Federal: “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito de prequestionamento”.

Verbete n° 211 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça: “Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal

Mas, o que se entende por prequestionamento? “Prequestionar é questionar antes”, e “como requisito de admissibilidade para fins de interposição de recurso aos tribunais superiores é a existência, no processo, do exame prévio da questão federal ou constitucional que se submete à apreciação desses tribunais”.352

São três as correntes que buscam delimitar o alcance de seu significado, como expõe Luís Eduardo Simardi Fernandes:

Muitos doutrinadores discutem a real significação da expressão “prequestionamento”, e três correntes se formaram. Para alguns, consiste o prequestionamento na necessidade de que a matéria federal ou constitucional tenha sido suscitada pelas partes antes do julgamento da decisão recorrida. Outros sustentam que a sua presença depende não apenas da matéria ter sido suscitada pelas partes, mas também do fato de ter sido efetivamente decidida pelo aresto recorrido. Finalmente, segundo o entendimento defendido por uma terceira corrente, para que a matéria seja considerada prequestionada suficiente que tenha sido ela decidida, independentemente de ter sido previamente levantada ou debatida pelas partes.353

Contudo, os principais doutrinadores354 e a jurisprudência majoritária têm

entendido como prequestionamento o fato de ter sido a questão – federal ou constitucional – abordada na decisão recorrida, mesmo que não tenha sido provocada pelas partes.355

É desnecessário, também, que a decisão recorrida indique o dispositivo que foi violado da lei federal ou da Constituição.356

Há dois tipos de prequestionamentos, de acordo com a doutrina: o implícito e o explícito.

352 MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito; MACHADO, Raquel Cavalcanti Ramos. O prequestionamento necessário ao cabimento de recurso especial ou extraordinário e os embargos de declaração. Revista Dialética de Direito Processual, São Paulo, n. 1, p. 54-73, abr. 2003. p. 55.

353 FERNANDES, Luís Eduardo Simardi, 2003, p. 193

354 Entre eles, Nelson Nery Júnior (2004, p. 286) e Eduardo Arruda Alvim (Curso de Direito Processual Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. v. 2).

355 FERNANDES, Luís Eduardo Simardi, 2003, p. 198-199.

356 Idem ibidem, p. 208. Nesse sentido, é o seguinte acórdão da lavra do ministro Marco Aurélio, do

STF:

“RECURSO - PREQUESTIONAMENTO. Diz-se preqüestionada determinada matéria quando o Órgão julgador haja adotado entendimento explícito a respeito, incumbindo à parte sequiosa de ver o processo guindado à sede extraordinária instá-lo a tanto. Persistindo o vício de procedimento, de nada adianta articular no extraordinário a matéria de fundo, em relação a qual não houve adoção de enfoque. Cumpre veicular no recurso não o vício de julgamento, mas o de procedimento, ressaltando- se não haver ocorrido a entrega completa da prestação jurisdicional - inegavelmente matéria pertinente à Carta. A razão de ser do preqüestionamento está na necessidade de proceder-se a cotejo para, somente então, dizer-se do enquadramento do recurso no permissivo constitucional”. (BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Segunda Turma. Agravo Regimental no Agravo de Instrumento 136015/AL. Relator Ministro Marco Aurélio. Brasília, 07 de maio de 1991. Diário de Justiça da União de 07 de junho de 1991, p. 7711; EMENT v. 1623-01, p. 162; RTJ v. 136-02, p. 856).

O prequestionamento é explícito quando o aresto decide efetivamente a questão constitucional ou de lei federal, e implícito quando, embora a questão tenha sido posta em discussão em primeiro grau, deixou de ser mencionada no acórdão.357

Nelson Nery Junior afirma que, enquanto o Supremo Tribunal Federal exige que o prequestionamento seja explícito, o Superior Tribunal de Justiça vem se posicionando no sentido de, em sede de admissibilidade do recurso especial, aceitar o prequestionamento implícito.358

Luís Fernando Balieiro Lodi entende que não devem existir restrições quanto ao tema para a aceitação do mesmo, “desde que a matéria exista nos autos e tenha vindo abordada no decisum, ainda que não tenha servido para fundamentação do mesmo, estará a matéria prequestionada, não dependendo da interposição de embargos declaratórios”.359

Em relação às questões de ordem pública, em virtude das disposições constantes do §3° do art. 267, do CPC, e do §4° do art. 301, do mesmo diploma processual,360 entende-se que mesmo essas questões precisam estar

357 NERY JUNIOR, Nelson, 2004, p. 287.

358 Idem ibidem, p. 287. O Superior Tribunal de Justiça admite o prequestionamento implícito nos

casos das questões que podem ser conhecidas, por expressa disposição legal, em qualquer tempo e grau de jurisdição. Nesse sentido, cf.:

PROCESSUAL CIVIL – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – FALTA DE PREQUESTIONAMENTO (SÚMULA 282/STF).

1. Configura-se o prequestionamento quando a causa tenha sido decidida à luz da legislação federal indicada, com emissão de juízo de valor acerca dos respectivos dispositivos legais, interpretando-se sua aplicação ou não ao caso concreto.

2. Admite-se o prequestionamento implícito para conhecimento do recurso especial, desde que demonstrada, inequivocamente, a apreciação da tese à luz da legislação federal indicada, o que não ocorreu na hipótese dos autos.

3. Surgindo violação à norma federal durante o julgamento pelo Tribunal ou não tendo este se manifestado sobre as questões suscitadas, é imprescindível o prequestionamento da matéria, através de embargos de declaração, que não serão considerados protelatórios, conforme Súmula 98/STJ. 4. Recusando-se o Tribunal a emitir juízo de valor sobre os dispositivos apontados nos embargos de declaração, a orientação desta Corte é no sentido de que o recurso especial deve indicar como violado o art. 535 do CPC, sob pena de aplicação da Súmula 211/STJ.

5. Embargos de declaração rejeitados.

(BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Segunda Turma. Embargos de Declaração no Recurso Especial 717.922/PR. Relatora Ministra Eliana Calmon. Brasília, 03 de maio de 2005. Diário da Justiça da União de 06 de junho de 2005, p. 294.).

359 LODI, Luís Fernando Balieiro. Embargos declaratórios prequestionadores. In WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; NERY JUNIOR, Nelson (coord). Aspectos Polêmicos e Atuais dos Recursos Cíveis de Acordo com a Lei 9.756/98. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. p. 450.

360 Código de Processo Civil - art. 267. §3°. “O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e VI; todavia, o réu que a não alegar, na primeira oportunidade em que lhe caiba falar nos autos, responderá pelas custas do retardamento”.

prequestionadas para que sejam apreciadas em recurso especial e extraordinário,361

ainda que haja divergência doutrinária.362