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1 AS NOTÍCIAS: CONSTRUÇÃO E VEICULAÇÃO

3.4 DE LITTLE BOY BLUE AND THE BLUE BOYS

3.4.2 O primeiro disco

Dia 10 de maio de 1963, os Rolling Stones entraram nos estúdios Olympic Sounds para gravar seu primeiro single. A banda teve problemas em decidir quais canções gravaria. Eles pesquisaram em suas coleções de discos até que alguém trouxe a idéia de gravar Come on, de Chuck Berry. Para o lado B, escolheram uma das canções que haviam registrado meses antes, I want to be loved, de Muddy Waters. “No mesmo dia (das gravações) em que o Record Mirror abria suas páginas para uma matéria sobre os Stones – com direito a fotos – cavada semanas antes pelo agora descartado Gomelsky” (RONDEAU, 2008, p. 49).

Talvez você nunca tenha ouvido falar deles, mas por Deus, vai ouvir. Eles estão destinados a ser provavelmente o maior grupo da cena R&B. Ao contrário dos demais grupos de R&B, os Stones têm um claro apelo visual. Eles tocam e cantam de um jeito que você esperaria de um grupo de R&B americano e de cor. (Os integrantes) são loucos por Bo Didley. E conseguiram fazer um som americano melhor do que qualquer outro grupo aqui (Record Mirror, 10/05/1963, apud RONDEAU, 2008, p. 49).

Acostumado a trabalhar com a imagem dos Beatles, Oldham acreditou que a mesma lógica serviria aos Stones. Preocupado em refinar o visual do grupo, Andrew carregou os cinco músicos até as lojas mais sofisticadas de Carnaby Street e tentou iniciar uma mudança total nos figurinos:

(...) saiu de lá com sacolas de jeans pretas – e apertadas –, blusas de gola rulê pretas e botas de salto alto Annello & Davide (as mesmas depois conhecidas por “botinhas Beatle”) igualmente pretas. O guarda-roupa recém adquirido deveria ser o novo uniforme de palco da banda. Mas logo Andrew descobriria que domar os Stones era rigorosamente impossível. No primeiro show para a banda agendado por ele, um evento de gala com fins beneficentes, somente Bill Wyman tocou com a nova indumentária (Ibid.).

Come On vendeu mais de 100 mil exemplares e chegou à vigésima posição nas

paradas. Satisfeita com o resultado dos estreantes, a Decca encomendou mais um compacto aos Stones. Inseguros com o resultado de mais uma gravação de covers, “os Stones sabiam que precisavam de um compacto melhor que o anterior para manter o atual nível de sucesso. E enrolaram a gravadora, enquanto buscavam uma alternativa. Felizmente, Andrew esbarrou em John Lennon e Paul McCartney” (Ibid., 53). Oldham explicou a situação aos Beatles, que prontamente ofereceram I wanna be your man, já gravada pelo grupo na voz de Ringo Starr.

Há uma considerável dose de ironia no fato do segundo compacto dos Rolling Stones ser uma composição de Lennon e McCartney. Os Stones estavam preocupados em projetar uma imagem mais autêntica de músicos de R&B, e planejavam fazê-lo com seu segundo compacto. Andrew, entretanto, pressionava por algo mais pop, mais comercial. E ele sabia que sair com uma música escrita pela dupla pop mais famosa do Reino Unido operaria milagres na já crescente popularidade dos seus contratados. Venceu Andrew, e os Stones lançaram “I wanna be your man” (RONDEAU, 2008, p. 53).

O single alcançou o 12º lugar nas paradas e ficou no Top 100 35 semanas. O

grupo já havia alcançado um patamar de astros da música britânica, resultado que reúne a grande visibilidade dada pela cobertura da imprensa, através das aparições na TV, espaço nas rádios e nas revistas especializadas “mas principalmente de uma sequência de shows quase diários: cerca de 8600 quilômetros percorridos em dois meses para realizar um total de 58 apresentações” (Ibid., p. 55). Os Stones já provocavam nas platéias por qual passavam o mesmo furor provocado pelos amigos de Liverpool; nessa mesma época, Richards e Jagger começaram a dar seus primeiros passos como compositores. Aumentando o alvoroço em torno do grupo, Oldham seguia alimentando a imprensa com as mais bizarras notícias:

O sucesso crescente enfurecia ainda mais os britânicos mais velhos, e Andrew só precisava dar um empurrãozinho para transformar essa rejeição numa bola de neve perfeita para badalar a imagem rebelde e “selvagem” dos Rolling Stones. Ciente de que enfatizar a oposição dos adultos aos Stones só ajudaria a tornar a banda mais atraente para os jovens, Andrew jogava mais lenha na fogueira, divulgando insanidades hilariantes que a imprensa, sem por um segundo questionar o que ele dizia, se alegrava em espalhar. Coisas do tipo: “Eles não tomam banho direito e não ligam muito para roupas. Não tocam música comportadinha, o som deles é cru e masculino”. É claro que o truque deu certo (Ibid., p. 59).

O primeiro LP do grupo não surpreendeu somente os pais conservadores da Grã- Bretanha, mas também disparou “ondas de choque no mundo pop e na indústria fonográfica” (Ibid., p. 60).

A criatividade de Andrew Loog Oldham alcançou as alturas com o primeiro álbum da banda, alturas que ele nunca mais alcançou. Sua fé em si mesmo e na banda o levou a criar uma capa de disco sem nome, somente uma foto, algo inédito na época. Ele provavelmente teria retirado a logo da Decca se eles o tivessem deixado ir adiante com aquilo78 (WYMAN, 2002, p. 111).

78 Andrew Loog Oldham’s creativity reached new heights with the band’s first album, heights he was never to scale again. His belief in himself and the band prompted the bold stroke of creating a cover with no name, just a photograph. It was unheard of. He would have probably removed the Decca logo if they had let him get away with it.

The Rolling Stones estreou em primeiro lugar nas paradas e manteve a mesma

posição por 12 semanas, seguindo no Top 100 por todo o ano de 1964. O disco atingiu a marca de 100 mil cópias no dia de seu lançamento, número equivalente a marcas dos Beatles. Em junho do mesmo ano, o Stones fizeram sua primeira viagem aos EUA, quatro meses depois da chegada dos Beatles à América, também completando o time da Invasão Britânica. Sempre causando impacto por onde passavam, a Associated Press divulgou entre a imprensa norte-americana, o seguinte release sobre o grupo:

Americanos, se preparem. Na trilha dos Beatles, uma segunda onda de britânicos com cara de cão pastor, de atos raivosos e tocando guitarras está a caminho. Eles se chamam Rolling Stones e chegam a Nova York na terça- feira. Um detrator dos Rolling Stones diz sobre eles: “são mais sujos e mais desarrumados que os Beatles – e em alguns lugares são mais populares que os Beatles”. Diz Mick Jagger: “odeio acordar cedo. Também não gosto de sentir fome”. De Keith Richards: “as pessoas nos acham selvagens e desobedientes. Mas não é verdade. Eu diria que o mais importante sobre nós é que somos nossos melhores amigos”. Talvez mais que os outros, Brian Jones gosta de roupas. Assim ele descreve sua filosofia: “depende de como estou me sentindo. Às vezes visto roupas bastante extravagantes, como essa camisa cheia de babados. Outras, visto roupas bem despojadas. Gasto muito do meu tempo livre fazendo compras. Não há muito mais o que fazer” (RONDEAU, 2008, p. 65).

A turnê de 15 dias resultou em uma enorme divulgação através da televisão, participando do programa de Ed Sullivan, em apresentações ao vivo em diversas cidades, a uma visita à gravadora Chess em Chicago, empresa que lançara diversos dos discos favoritos dos Stones, além de gravarem nos estúdios da RCA em Los Angeles. Durante 1964 e 1965, os Stones se apresentaram em diversos países, assim como os Beatles, ampliando seu mercado consumidor para além do Reino Unido, suas colônias e os EUA.

Apesar do grande sucesso de público e crítica e de terem estimulado até certo ponto a construção de uma imagem agressiva, os incidentes que se iniciaram em 1965 não eram nada agradáveis aos músicos: “Em 1965, hotéis se recusavam a hospedar os Rolling Stones, restaurantes barravam o quinteto por causa de seus cabelos e da falta de paletós, leitores indignados superlotavam as seção de cartas de jornais e revistas com sua repulsa” (Ibid., p. 72).

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