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O princípio democrático e o sistema eleitoral

CAPÍTULO II – Democraticidade, participação e eleição

2. Da génese do sistema democrático às teorias de democraticidade

2.3. O princípio democrático e o direito de sufrágio na democracia

2.3.1. O princípio democrático e o sistema eleitoral

Atendendo a que o cerne desta investigação se prende com a eleição do diretor da escola agrupada ou não agrupada pelo conselho geral é também relevante a abordagem à aplicação do princípio democrático através do sistema eleitoral, tal como se processa nos moldes atuais. Tendo já abordado a constituição deste órgão, convém agora observar a forma como se elegem os seus elementos, representantes últimos dos corpos que os elegeram e elementos decisivos na escolha do diretor.

Relativamente ao sistema eleitoral, debatem-se, não raras vezes, as vantagens e desvantagens dos dois grandes sistemas: o sistema maioritário e o sistema de representação proporcional, associados, muitas vezes, a diferentes conceções de democracia: o primeiro andaria ligado ao tipo de democracia representativa (ou “modelo Westminster”) e o segundo ao tipo de democracia participativa (ou “modelo

discriminação baseada no sexo, raça, rendimento, instrução, ideologia ou outra; (ii) imediaticidade, significando que o voto direto ou manifesto tem de resultar “imediatamente” da manifestação da vontade do eleitor, isto é, garante-se ao cidadão ativo a possibilidade de dar o seu voto diretamente aos cidadãos (incluídos ou não em listas), cuja eleição constitui o propósito último de todo o procedimento eleitoral, no que se configura como um modelo distinto do sufrágio indireto ou mediato, através do qual os eleitores se limitam a eleger um colégio de delegados eleitorais (“grandes eleitores”) que, por sua vez, escolherão os candidatos para os diversos órgãos do poder político; (iii) liberdade, devendo o eleitor decidir sem qualquer coação física ou psicológica exterior de entidades públicas ou privadas; (iv) secretismo, pressupondo não só a pessoalidade do voto (pese embora o direito do voto por procuração ou correspondência), mas também a generalização de procedimentos, excluindo-se, desta forma, qualquer tipo de sinalização (listas diferentes, papel, urnas) que comprometesse o voto secreto, princípio que não se configura como incompatível com a exigência de assinaturas individualmente reconhecidas e legalmente exigidas para a propositura de listas, cenário congruente com um quorum de proponentes; (v) igualdade, garantindo que todos os votos se revestem do mesmo grau de eficácia jurídica concretizado no mesmo peso ou valor de resultado, isto é, equivalente a uma igual consideração para a distribuição de mandatos; (vi) periodicidade, consagrada pela renovação periódica dos cargos políticos, pretendendo-se, desta forma, impedir o caráter vitalício dos mandatos, pese embora o facto de existirem situações sem limites temporais, que, cada vez mais, se tentam conter, como é o caso do limite máximo de três mandatos consecutivos para presidentes de câmara, legislado apenas em 2005 (Canotilho, 1993).

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consensual”). O sistema eleitoral proporcional é o sistema adotado formalmente pela Constituição Portuguesa, enquanto o sistema maioritário vigora, por exemplo, no Reino Unido. O sistema de representação proporcional caracteriza-se, basicamente, pelo facto de o número de eleitos por cada candidatura concorrente a uma determinada eleição ser proporcional ao número de eleitores que escolheram votar nessa mesma candidatura. Associados a este sistema existem diversas fórmulas ou modelos matemáticos que podem ser utilizados para transformar votos em mandatos, como o método de Thomas Hare, o método de Sainte-Laguë, o método dinamarquês, o método Huntigton, o método Imperiali ou o método de Hondt, divergindo nos diferentes divisores que apresentam para realizar a conversão.

Em Portugal, as leis eleitorais da Assembleia da República, Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas, Autarquias Locais e Parlamento Europeu seguem o sistema de representação proporcional e utilizam o método de Hondt43, muito embora este apenas encontre consagração constitucional quando à primeira eleição. Efetivamente, apesar de a CRP vincular todas as eleições ao sistema proporcional, considerado um elemento constitutivo do princípio democrático, confere

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O método de Hondt, também conhecido como método dos quocientes ou método da média mais alta de Hondt, consiste num modelo matemático capaz de converter votos em mandatos, visando a composição de órgãos de natureza colegial. O método garante que a proporcionalidade entre os votos recebidos pelas listas seja reproduzida, tanto quanto possível, na composição do órgão eleito, introduzindo um fator de discriminação positiva em relação às minorias, permitindo-lhes uma representação que a simples divisão aritmética dos votos lhes negaria. Assim, contrariamente ao que acontece em órgãos colegiais compostos por simples maioria, nos compostos utilizando este método, as minorias, em geral, conseguem uma representação razoável. O método foi, originalmente, criado pelo advogado belga Victor de Hondt (1841-1901) e integra a categoria dos métodos de divisores - por contraposição à categoria dos métodos de maiores restos - pois a operação matemática consiste precisamente na divisão do número total de votos obtidos por cada candidatura por divisores previamente fixados, no caso 1, 2, 3, 4, 5, e assim sucessivamente e pela atribuição dos mandatos em disputa por ordem decrescente aos quocientes mais altos que resultarem das divisões operadas. O processo de divisão prossegue até se esgotarem todos os mandatos e todas as possibilidades de aparecerem quocientes iguais aos quais ainda caiba um mandato. Em Portugal, encontra-se legalmente prevista uma correção ao método de Hondt puro, na medida em que, caso falte atribuir o último mandato e se verifique igualdade do quociente em duas listas diferentes, tal mandato será atribuído à lista que em termos de resultados totais tenha obtido menor número de votos. As vantagens mais frequentemente utilizadas para justificar a preferência pelo método de Hondt prendem-se com o facto de assegurar uma boa proporcionalidade na relação votos/mandatos ou com a facilidade de aplicação, comparativamente a outros, já que com apenas uma operação se atribuem todos os mandatos, motivos que possivelmente justificarão a sua ampla implementação em inúmeros países democráticos, como Espanha, Holanda, Áustria, Finlândia, Bélgica, Dinamarca, Israel, Brasil, Argentina ou, claro, Portugal. A principal desvantagem apontada ao método de Hondt pelos seus críticos é o facto de, tendencialmente, favorecer os maiores partidos ou coligações. Por outro lado, os analistas consideram que os efeitos da sua utilização dependem de outros elementos determinantes do sistema eleitoral, dos quais se destacam os círculos eleitorais, quer em termos de dimensão territorial, quer em termos de magnitude, isto é, do número de representantes a eleger.

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liberdade de escolha do método a utilizar para a conversão de votos em mandatos na eleição de outros órgãos colegiais.