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4 MATERIAIS E MÉTODOS

4.5 O processamento e a análise dos dados

Foi feita a análise por conteúdo temático das entrevistas mediante trajetória subsequentemente ideográfica e nomotética apoiada no referencial teórico da clínica do sujeito e na integralidade do cuidado.

A análise do conteúdo temático é um método que permite organizar os achados no sentido de oportunizar a interpretação coletiva dos discursos individuais e se dá, genericamente, por descrição analítica dos temas abordados pelos entrevistados em suas falas, inferência e interpretação dessas falas (BARDIN, 2011).

Por meio dessa estratégia é possível identificar núcleos de sentido que constituem uma comunicação do coletivo de sujeitos, acreditando que sua presença reflete algo em relação ao objeto de estudo em questão. Na prática, a análise temática apresenta três etapas: pré-análise, organização dos achados segundo categorias temáticas e interpretação (MINAYO, 2010).

Na fase de pré-análise a pesquisadora se dedicou à leitura flutuante, à constituição do universo estudado em sua integralidade, na tentativa de identificar os temas abordados pelos entrevistados, os quais constituiram as categorias temáticas que foram identificadas e analisadas (MINAYO, 2010).

Turato (2003) sugere que na etapa de organizar os achados segundo categorias temáticas dois critérios devem nortear a categorização: a recorrência dos temas e sua relevância. Pelo critério de relevância são consideradas colocações (que não necessariamente precisam se repetir) que, do ponto de vista do pesquisador representam falas importantes por refutar ou corroborar as hipóteses do estudo ou por atenderem os objetivos do estudo.

Turato (2003) propõe como estratégia metodológica a subcategorização que é caracterizada por destacar (dentro de uma categoria) outros pontos específicos que merecem discussão em relevo, porém, que carregam certa dependência com o tema da categoria elencada.

Assim, a etapa de categorização consistiu em decodificar o material bruto individual, transformando-o em um corpus coletivo de dados organizados por categorias temáticas. Isso produziu um sistema de categorias e subcategorias. Tais categorias e subcategorias tradicionalmente não são fornecidas previamente em pesquisas clínico- qualitativas, e sim definidas no decorrer do processo de análise, à luz dos temas abordados pelos sujeitos ao longo das entrevistas (TURATO, 2003).

De posse da categorização iniciou-se à etapa de interpretação (ou hermenêutica) na qual a habilidade e a fundamentação teórica usada pelo pesquisadora ganharam

espaço. Nessa etapa o pesquisador deve realizar suas inferências e produzir suas contribuições frente ao objeto de estudo, à luz do referencial teórico escolhido (TURATO, 2003). Todo esse movimento é o que define a trajetória do ideográfico ao nomotético, por meio da qual parte-se dos discursos individuais para construir-se um discurso coletivo (nomotético) que represente as ideias dos indivíduos (ideográfico) (GARNICA, 1997).

Por meio dessa estratégia foi possível apreender a compreensão dos ACS sobre uso e usuários de drogas e identificar os significados que os profissionais atribuem a esses elementos, de modo ampliado por contemplar olhares multifocais conforme propõe a clínica do sujeito.

Por outro lado, o uso de métodos clínicos para a escuta do entrevistado e a interpretação de suas falas em pesquisas qualitativas fundamenta-se no entendimento de que o conhecimento sobre os indivíduos tem privilegiada possibilidade por meio da descrição de sua experiência da forma como o próprio sujeito a descreve. Esse método se desenvolveu para interpretar dados de experiências pessoais, buscando compreender o sujeito de forma integral, em suas dimensões histórica, biológica e sociocultural (TURATO, 2003).

Segundo Bleger (1998, p. 1) a entrevista é um instrumento inerente ao método clínico e representa um canal de encontro entre a ciência e as necessidades práticas:

(...) a entrevista alcança a aplicação de conhecimentos científicos e, ao mesmo tempo, obtém ou possibilita levar a vida diária do ser humano ao nível do conhecimento e da elaboração científica. E tudo isso em um processo ininterrupto de interação (BLEGER, 1998, p. 1).

Entendendo a entrevista no sentido de encontro há espaço para o entrevistado imprimir as variáveis de sua personalidade, portanto, a entrevista assume um caráter de relação interpessoal flexível e sensível a tudo que nela acontece e é o entrevistado quem assume o papel de dirigir a entrevista (BLEGER, 1998).

Assim, esta pesquisa desenvolveu-se por meio de seis etapas: delimitação; desconstrução; apreensão; redução; reconstrução e contextualização do fenômeno estudado (DENZIN apud, POLES; BOUSSO, 2014, p. 2; GARNICA, 1997; TURATO, 2003).

Desse modo foi possível reconhecer os conteúdos objetivos e subjetivos das falas dos participantes, considerando os conteúdos explícitos e implícitos (conteúdo evidente

e conteúdo velado das falas) articulando simbologia, fenomenologia e hermenêutica. Alguns autores nomeiam esse movimento epistemológico em pesquisa qualitativa como interacionismo interpretativo. “Interacionismo” porque parte da premissa que toda ação do ser humano ocorre em um processo de constante interação com o outro, para o outro e a partir do outro e “Interpretativo” por atribuir significados, interpretar e consequentemente compreender os fenômenos (ANDRADE; TANAKA, 2001).

Por esta via, o presente estudo focalizou as experiências que foram marcantes para as pessoas, no sentido de afetarem o significado que os indivíduos atribuem às suas próprias vidas. Como esse método funciona como um intérprete das experiências vividas, foram considerados os conhecimentos, significados, emoções, sentimentos e intenções dos indivíduos relacionados com o objeto de estudo tomados como essenciais para a compreensão e desvelamento dos fenômenos (ANDRADE; TANAKA, 2001).

No que diz respeito à Clínica do Sujeito e a Integralidade do Cuidado como referencial teórico, este foi aplicado em duas etapas do estudo, conforme o seguinte: 1. Na hora de entrevistar os ACS a pesquisadora valorizou a escuta dos mesmos, respeitando a autonomia dos participantes em se posicionar livremente diante das questões abordadas e garantindo espaço para a expressão da subjetividade dos participantes (risos, choros, pausas, expressões faciais);

2. No momento de analisar os dados a pesquisadora verificou a apreensão de práticas afeitas à clínica do sujeito por parte dos ACS entrevistados no trato com pessoas que fazem uso nocivo ou abusivo de drogas; bem como a apreensão (ou não) de práticas de um cuidado integral dos usuários.

O produto desse movimento metodológico é o que se apresenta a seguir.