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O processo de inclusão na rede municipal em estudo

CAPÍTULO II CONTEXTO ESCOLAR

2.1 O processo de inclusão na rede municipal em estudo

Um dos compromissos da Secretaria Municipal de Educação (SME) - foco desta pesquisa - é a inclusão de alunos com deficiência na rede regular de ensino. Nesse sentido, ela vem realizando ações para a efetivação dessa proposta, tendo como princípio norteador a atual Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Com o apoio e a orientação do MEC, essa Secretaria é pólo para a capacitação de profissionais na implementação do processo de inclusão nas escolas da região, realizando o curso de formação Educação Inclusiva de Direito à Diversidade, que atende 21 Secretarias de municípios vizinhos. Anualmente, essas secretarias enviam dois profissionais para a formação, os quais retornam como multiplicadores para seus municípios.

Por meio de um setor responsável pela educação especial, o Centro de Apoio, Pesquisas e Tecnologias para a Aprendizagem (CAPTA), as escolas recebem apoio e

acompanhamento no atendimento aos alunos com deficiência que frequentam as aulas do ensino regular e, quando necessário, dispõem de atendimento especializado em salas de recursos.

Essas salas são espaços especiais dentro da escola regular, as quais devem servir como instrumentos para a inclusão, atendendo, em turno inverso ao das aulas regulares os alunos com deficiência de diferentes escolas do município. No atual contexto dessa rede de ensino, apenas 17 escolas possuem salas de recursos e são organizadas como polo em suas regiões de abrangência, atendendo aos alunos encaminhados pelas escolas de seu entorno. A primeira sala foi implantada no ano de 2000 e, paulatinamente, conforme verbas disponibilizadas pelo MEC e pelo poder público local, vêm sendo abertas novas salas.

O trabalho desenvolvido nesse espaço tem o objetivo de atender as especificidades de cada aluno, de forma a oferecer subsídios pedagógicos aos professores e especialistas, e contribuir para a aprendizagem dos conteúdos da classe regular. Porém, não deve ser confundido com aulas de apoio escolar, pois o atendimento nas salas de recursos utiliza metodologias e estratégias diferenciadas de acordo com as especificidades dos alunos.

Para ser encaminhado a esse atendimento, o aluno deve passar por uma avaliação onde é atribuído um código a sua deficiência, relativo à Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID) ou, então, deve passar pela avaliação de profissionais do setor responsável da SME.

O atendimento nas salas é feito por professoras do município que possuem curso de especialização em Psicopedagogia e formação para o Atendimento Educacional Especializado (AEE), o qual é oferecido pela plataforma do MEC. O curso em AEE é realizado por meio do ensino a distância, mas possui encontros presenciais organizados pelo setor da educação especial da SME. Este curso é oferecido também a profissionais de municípios da região.

O profissional responsável pela sala prepara um plano semestral de AEE para cada aluno e faz um acompanhamento de sua evolução durante o período trabalhado. Ao final do ano letivo, deve ser elaborado um parecer descritivo referente a cada aluno, observando, basicamente, áreas de desenvolvimento cognitivo, motor, social, afetivo e emocional. Essa avaliação será fundamental para a continuidade do trabalho com o aluno, pois se este necessitar continuar no atendimento e ainda não estiver classificado de acordo com o CID, deverá ser encaminhado para uma avaliação na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) ou no Centro de Atendimento à Saúde Escolar (CASE), que são instituições do município capacitadas para avaliar e fornecer essa classificação. Esse

documento da avaliação é importante para a permanência do aluno com deficiência no AEE, visto que determinará a distribuição de verba do MEC para tal atendimento.

O processo de inclusão pressupõe uma inovação educacional, relacionada a métodos de trabalho, conteúdos, avaliação e suporte especializado. A participação do aluno com deficiência na classe regular implicou repensar as práticas de avaliação no sistema de ensino. As escolas estão recebendo orientações para novos procedimentos de avaliação, conforme indicação do Conselho Municipal da Educação. Aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, serão avaliados sob a terminalidade específica2, a qual, segundo as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica:

É uma certificação de conclusão de escolaridade - fundamentada em avaliação pedagógica – com histórico escolar que apresente, de forma descritiva, as habilidades e competências atingidas pelos educandos com grave deficiência mental ou múltipla. É o caso dos alunos cujas necessidades educacionais especiais não lhes possibilitam alcançar o nível de conhecimento exigido para a conclusão do ensino fundamental, respeitada a legislação existente, e de acordo com o regimento e o projeto pedagógico da escola.

O teor da referida certificação de escolaridade de possibilitar novas alternativas educacionais, tais como o encaminhamento para cursos de educação de jovens e adultos e de educação profissional, bem como a inserção no mundo do trabalho, seja ele competitivo ou protegido (BRASIL 2001, p.59).

Muitos são os desafios das inovações propostas nas políticas que direcionam o sistema educacional, todas na tentativa de criar estratégias para superar as práticas discriminatórias. A política de inclusão constitui-se fazendo menção a uma mudança estrutural e cultural da escola para que as especificidades dos alunos sejam atendidas, acompanhando os avanços e as lutas sociais, visando promover uma educação de qualidade.

Concomitantes a isso outras diretrizes vêm estabelecendo-se na educação brasileira, como é o caso do ensino de nove anos, que também lança desafios que reafirmam a necessidade da construção de uma educação inclusiva, cidadã e de qualidade social para todos os alunos. Da mesma forma que a política inclusiva, as modificações do ensino de nove anos pressupõem o dever de oferecer e garantir a permanência dos alunos na escola, levando-se em conta a faixa etária, como também os aspectos relativos à situação de inclusão.