• Nenhum resultado encontrado

O processo histórico de monopolização do poder político

3. O MONOPÓLIO ESTATAL DA JURISDIÇÃO

3.1. O processo histórico de monopolização do poder político

A a n á l i s e que iremos r e a l i z a r não tem a intençã o de o b te r um c o n c e it o p e s s o a l de E s t a d o . E l a c o n s i s t e , sumamente,

34 t fundanental ressalvar desde já que por Estado eoderno pretendeaos designar os ordenanentos estatais

que se verificara« entre os séculos XVI a XIX (priaeiraiente na fona de Estado ábsoloto e posteriorsente

c o d o Estado Liberal). Não se confunde c o b o o Estado Contesporâneo, que é usa realidade, ou una idéia,

32

num resumo d a s n o ç e e s mai s d i f u n d i d a s , e s p e c ia lm e n te no que d i z r e s p e i t o a o s " s e u s " t ip o s h i s t ó r i c o s .

P a r a term os uma i d é i a r azo a v e lm en te c l a r a e o b j é t i v a do q u e , d esd e um p o n to de v i s t a b a s t a n t e c o n c r e t o , s e pode com preender po r " E s t a d o " , é de m u ita p e r t i n ê n c i a i n t r o d u z i r e s t a s c o n s id e r a ç õ e s r e c o r d a n d o a in t e r e s s a n t e o p in iã o de KRADER, p a r a quem e s s a e n t id a d e c o n s i s t e , em s í n t e s e , numa

i n s t i t u i ç ã o de g o v e r n e i . Em o u t r a s p a l a v r a s , tra ta - s e fundam entalm ente de um m eio de g o v e r n a r as s o c i e d a d e s hum anas. Não é , porém , " a ú n ic a i n s t i t u i ç ã o p o l í t i c a , p o i s há o u t r a s m a n e ir a s de g o v e r n a r uma s o c ie d a d e que não - o E s t a d o " ; e s t e "é a p en a s uma d e n t r e as v á r i a s m a n e ir a s p e l a s q u a i s a hum anidade d e s e n v o lv e u um s is t e m a de governar g ra n d es g ru p o s de p e s s o a s " ^ .

Lenbre-se o que, no início do presente trabalho, referisos a respeito das organizações sociais, as quais, segundo a interpretação lá resusida, não prescindes de noa direção ou controle que discipline as relações entre seus sesbros, isto é, o poder político.

Cf. Lavrence Irader, A fonação do Estado, p. 7 e p. 166. Por ora, cabe a explicação de que para

Erader o Estado é us seio de governo típico das sociedades coeplexas: "As sociedades ses Estado cuidas de

suas questões internas, defendes seus territórios e desenvolves e expressas a soa unidade interna, tudo de saneira desintegrada. 0 Estado, no entanto, realiza essas funções coso órgão das sociedades cosplexas que é especializado nesses serviços* (op. cit., p. 168/69). Erader vê, por isso, "sodos alternativos de governo" (es relação ao Estado), coso bes ilustra a sociedade dos esquiiós, cuja rudisentariedade da forsa governamental não persite que, nessa cospreensão, seja ela considerada us Estado (cf. op. cit. p. 54/55). Sua conclusão: ‘As confederações tribais, os reinos ... desespenharas a sessa função. Dos séculos recentes, todos, exceto o Estado, ficaras pelo casinho’ (op. cit., p. 166). A propósito, afirsou Antônio Carlos Wolkser: "... no asplo espaço das sociedades, existes diversos tipos de organizaçOes constituídas pela reunião de indivíduos, fasilias, tribos, clãs, reinos, territórios, etc. De todos os tipos de organização, a sais coeplexa e a lelhor estruturada politicamente é a organização estatal' (Eleeentos para usa critica do estado, p. 11).

0 que se e n tre v ê de im e d iato n e s t a s p a l a v r a s é a i d é i a de que a c o n s t a n t e n a s s o c ie d a d e s é o "g o v e r n o “ (o po der p o l í t i c o , meio de a s s e g u r a r a ordem in t e r n a e a d e f e s a

07

e x t e r n a do grupo) e nao o "E s t a d o " propriam ente . Tome-se a noção de g overno , a í , num s i g n i f i c a d o extremamente a b r a n g e n te e não m uito u s u a l : a u t o r id a d e de c o n d u z ir os i n t e r e s s e s hum anos, de c o n tr o la r e d i r i g i r a v i d a d as p e s so a s numa dada s o c ie d a d e 3®. 0 s e n t id o d e s t a p r o p o siç ã o - embora c o n s t i t u a j á

um truísm o - pode s e r melhor com preendido se a

complementarmos com a s e g u in t e fr a s e de D A L L A R I: "A o b servaçã o de q u a lq u er s o c ie d a d e humana r e v e la sem pre, mesmo n a s form as m ais r u d im e n t a r e s , a p r e se n ç a de uma ordem j u r í d i c a e de um p o d e r "3**.

0 pensamento acim a c o lo ca d o é b a s t a n t e c o n v e n ie n t e , ao no sso v e r - e f o i po r e s t a razã o que o mencionamos - p a ra o e f e i t o de r e co rd a r a s t r ê s t e o r i a s b á s ic a s a r e s p e i t o do E s t a d o , a s q u a i s , não o b s ta n t e e s te ja m d ire tam en te r e l a c i o n a d a s com as e s p e c u la ç õ e s em torno da sua o rig em , bem re tr a ta m a s id é i a s fu n d a m e n ta is que d e le se fazem .

3? 'Alguns aspectos da cultura 8lo universais, c o b o o governo; outros, c o b o 0 Estado, não 0 810"

(Lawrence Krader, op. cit., p. 27).

33 Cf., a respeito, Lawrence Krader, op. cit., p. 13.

39 Daluo de Abreu Dallari, Slesentos de teoria geral do estado, p. 96. No eesuo sentido, 0 próprio

Lawrence Krader: ’Todas as sociedades, cos ou ses Estado, possues algusa forna de Governo' (op. cit., p. 163).

34

A p r im e ir a d e s s a s t e o r i a s s u s t e n t a que o E s t a d o sempre e x i s t i u , na m edida em que o homem ja m a is d e ix o u de c o n v iv e r em alguma forma de a gregação s o c i a l e , sim u lta n ea m en te, sob p re se n ç a de uma a u t o r id a d e com p o d er de d eterm in a r o comportamento do g r u p o . D e st e modo, onde quer que se v e r i f i q u e alguma "form a de g o v e r n o ", i s t o é , uma forma dom inante de c o n t r o le do grupo s o c i a l (p o r m ais p r im i t i v o que e s t e s e j a - um c h e f e , um c o n s e l h o ), independentem ente do seu n í v e l de co m p lexidade e a b r a n g ê n c ia , há um E stad o ( e s t e , p o r t a n t o , é a í s in o n im iz a d o com o p o d e r p o l í t i c o , ou g o v e r n o ,

no s e n t id o dado por Krader*®). Já a se g u n d a t e o r i a a fir m a que num determ inado perío do as s o c ie d a d e s humanas e x is t i r a m sem o E s t a d o . E s t e t e r i a se formado p o s t e r io r m e n t e , p a ra a t e n d e r às n e c e s s id a d e s dos grupos s o c i a i s . D erivam d aí as t e s e s que procuram e x p l i c a r as ca u sa s d e te r m in a n te s da form ação dos Estados**. F in a lm e n te , a t e r c e i r a t e o r i a propõe que o E s t a d o é vim fenômeno p o l í t i c o a in d a m ais r e c e n t e , tendo n a s c id o a p e n a s a p a r t i r da d is s o lu ç ã o da s o c ie d a d e m ed ie v al (o u s e j a , a p a r t i r da Id a d e M o d e r n a ), juntam ente com a i d é i a e a p r á t i c a

40 *0 terno governo pode ser substituído por Estado no vocabulário dos universalistas" (Lavrence Krader,

op. cit., p. 168).

41 A saber: teorias sobre a formçSo originária dos Estados - fomação natural, foraaçâo contratual,

origeB faailial ou patriarcal, origes es atos de força ou conquista, origee ea causas econônicas ou patrifioniais, e origea no desenvolviBento interno da sociedade; e teorias sobre a fortação derivada dos

da S o b e r a n ia , e dotado p o rta n to de c a r a c t e r í s t i c a s p r ó p r i a s e bem d e f i n i d a s ^ .

0 que temos em q u e s tã o , uma v e z p o s t o o problem a n e s t e s term os, é s a b e r , em s í n t e s e , se o E s t a d o sempre e x i s t i u ou se é uma r e a l i d a d e t í p i c a de uma c e r t a f a s e da evolução da h um anidade; em o u tr a s p a l a v r a s : se onde quer que tenha h a v id o um "g o v e r n o ", um "p o d e r p ú b l i c o “ em in t e r a ç ã o com os i n d iv í d u o s , houve também um " E s t a d o " , ou s e , ao c o n t r á r io , e s t e p ressup O e n e c e s s a r ia m e n te a noção de "m o d e r n id a d e "43. T ra ta - se , segundo o m a g is t é r io de B O B B IO , de ind ag ar da c o n t in u id a d e ou d e s c o n t in u id a d e da o r g a n iz a ç ã o p o l í t i c a da s o c ie d a d e , tomando-se por r e f e r ê n c i a os ordenam entos da a n t ig u id a d e ou da Id a d e I n t e r m e d i á r i a , e os ordenam entos da Id a d e M o d e r n a ^ . Não h á , e n t r e t a n t o , uma r e s p o s t a d e f i n i t i v a p a r a i s s o . A liç ã o é , a i n d a , de B O B B IO :

42 A respeito destas três posições fundasentais quanto ao apareciaento dos Estados, ver Daluo de Abreu Dallari, op. cit., p. 43/45. Esbora não caiba, no presente texto, discutir a validade de tais teorias, vale transcrever a advertência de Jellinek: 'Acerca da foraação priaária dos Estados, sonente são possíveis hipóteses... Todo ensaio por deterainar de que iodo se têa transforsado as hordas, raças e fasílias es Estado haverá de fracassar, porque o eesso resultado pode ser alcançado por iiuitos caainhos distintos, e é auito pouco provável que haja sido seepre u b neseo o processo de fonação dos Estados*

(Teoria general dei estado, p. 217/18; no cesso sentido, Giorgio Del Vecchio, Teoria do estado, p. 41).

43 'Modernidade* no sentido de pós-eedieval. ’Há que notar, poréa, que seaelhante idéia se refere

ba8icaaente à história européia. Esta é que se teria tornado 'aoderna' a partir do Eenasciaento; e a

história das outras partes do irando, que nSo a Europa (ou o Ocidente), passaras a ser entendidas - na

historiografia ocidental - a partir desta isagea* (’europocentrisao*) (cf. Helson Saldanha, 0 estado Boderno e a separação de poderes, p. 3/4).

44 Cf. Horberto Bobbio, Sstado, governo, sociedade, p. 65 e ss. Disse, a propósito, üarcy Azasbuja, ’0

Estado é una sociedade política - quanto a isto estio de acordo todos os politicólogos ou politicistas. Onde surges divergências é quanto a saber se ele é a sociedade política ou apenas usa delas...*

3 6

cuida- se de uma q uestã o " c u j a so lu ç ã o d epende u n ica m en te da d e f i n i ç ã o de Estado da q u a l se p a r t a : se de uma d e f i n i ç ã o m ais ampla ou m ais e s t r e i t a . A e s c o l h a de uma d e f i n i ç ã o depende de c r i t é r i o s de o p o r t u n id a d e e não de v e r d a d e " ^ .

Não vem ao c a s o tomarmos p a r t i d o de uma ou o u tr a p o s iç ã o , ou nos d e f in ir m o s po r c r i t é r i o s que se mostrem m ais c o n v e n ie n t e s ao no sso r a c i o c í n i o . 0 que realm en te im p o rta, n is s o t u d o , é t e r c i ê n c i a d e s s a s co n ce p çõ e s b á s ic a s por sua im p o rtâ n c ia na compreensão do que s e j a o m onopólio e s t a t a l da J u r i s d i ç ã o , p o is vamos c o n s t a t a r q u e , n a h ip ó t e s e por exemplo de se tomar o Estado p o r um fenôm eno c o n tín u o na h i s t ó r i a dos ordenam entos p o l í t i c o s , o mesmo não se poderá d i z e r do m onopólio j u r i s d i c i o n a l : p a r a e s t e o p r e s s u p o s t o - no que d i z r e s p e it o à sua origem - não s e r á então o E s ta d o ( p o i s h a v erá c a so s de "E s t a d o s " com d u a l i d a d e e mesmo p l u r a l i d a d e de p o d er es p o l í t i c o s , i n c l u s i v e o j u r i s d i c i o n a l ) , mas a u n id a d e e sup rem acia do poder e s t a t a l , o m onopólio da c o a çã o , o poder

de dom inação, numa p a l a v r a : a Soberania*®.

O aspecto da co n c e n tra ç ã o ou d is p e r s ã o do poder p o l í t i c o (p o der de mando e x e r c id o por uma a u t o r id a d e sob re os membros de um grupo s o c i a l ) p a r e c e s e r , com e f e i t o , o ponto de r e f e r ê n c i a ou c r i t é r i o b á s ic o u su alm e n te c o n s id e r a d o

45 Norberto Bobbio, op. cit., p. 69.

quando se b u s c a e s t a b e le c e r um c o n c e it o de E s t a d o . A g rand e m a io r ia dos a u to re s in s c re v e mesmo o po der p o l í t i c o s o b e ra n o

como um componente e s s e n c ia l da i d é i a de E s t a d o . Assim é , por exem p lo, com G R O P A LLI, DEL V EC C H IO , D A L L A R I, JE LLIN E K e AZAM BUJA^. A d e s p e it o d i s s o , a lg u n s d e l e s n&o re lu ta m - certam ente por m otivos de ordem d i d á t i c a - em r e f e r i r com o termo "E s t a d o " ordenamentos p o l í t i c o s onde sab idam ente i n e x i s t i a e s s e poder de mando autônomo e supremo, como e r a o c aso das s o c ie d a d e s f e u d a i s .

0 r ig o r term in o ló g ico é , de f a t o , atenuado quando se t r a t a de resum ir a t ip o l o g i a do E s ta d o no con texto de sua evo luçã o h i s t ó r i c a . A qui v a le r e c a p i t u l a r e s t a m a té ria p a r a o fim de v e r i f i c a r que o poder e s t a t a l como u n id a d e de dom inação^ somente e x i s t i u , r ig o ro sa m en te fa l a n d o , a p a r t i r

da Id a d e M o derna. Logo, vamos c o n s t a t a r q u e , por e x t e n s ã o , a e x c l u s i v i d a d e (m onopólio) do e x e r c í c i o do poder j u r i s d i c i o n a l por p a r t e do Estado é um fenômeno t í p i c o d e s s a f a s e , uma v e z

in e r e n t e à c o n fig u r a ç ã o d aq uela " u n i d a d e " (S o b e r a n ia ) .

Cf.: Alexandre Gropalli, Doutrina do Estado, p. 4 e 266; Giorgio Del Vecchio, Teoria do estado, p. 24,

41/42 e 156/59; Dalno de Abreu Dallari, Eleientos de teoria geral do estado, p. 101; G. Jellinek, Teoria general dei estado, p. 144/47 e 351; e Darcy Azanbuja, Introdução à ciência política, p. 26/27. fi

inportante atentar para o que disse Dallari, quando observa que a análise da grande variedade de conceitos de Estado revela duas orientações essenciais: ou se dá nais ênfase a u b eleeento concreto

ligado à noção de força, coerção e doainação (identificação do Estado con o 'poder político*), ou se realça a natureza jurídica, tosando-se c o b o ponto de partida a noção de ordea, o Estado c o b o ordenação

noraativa de conduta. Na priseira enquadras-se, por exeaplo, tfeber, Heller, Burdeau, Duguit, Gurvitch e Duverger. Na segunda, Jellinek, lelsen, Del Vecchio e Gerber (cf. op. cit., p. 98/101).

38

0 p r o c e s so e v o lu t iv o do Estado costum a s e r d e s c r i t o p e lo s a u t o r e s segundo uma s e q u ê n c ia c r o n o l ó g ic a , d is t in g u in d o - s e , p a r a e f e i t o s d id á t i c o s , e n t r e as d i v e r s a s épocas da h i s t ó r i a da hum anidade, is t o p o r q u e , como a d v e r t e D A L L A R I, é im p o ssív e l d is p o r "em ordem s u c e s s i v a a p o ia d a na H i s t ó r i a , os exem p lares de Estado que tenham r ealm en te e x i s t i d o u n s após os outros"*®. A ssim , o s p r i n c i p a i s t ip o s h i s t ó r i c o s de E s t a d o , de acordo com a d o u t r i n a p r e p o n d e r a n t e , s a 0 os s e g u i n t e s : E s t a d o O r ie n t a l (ou t e o c r á t i c o ) ; E s t a d o Grego (ou h e l é n i c o ) ; E stad o Romano; E s t a d o M e d ie v a l (o u f e u d a l ) ; E s t a d o M oderno (que se d e sd o b ra em A b s o l u t o e L i b e r a l ) ; e , f i n a l m e n t e , E stad o Contemporâneo.

Os t r ê s p r im e ir o s podem ser a g l u t i n a d o s n a d e s ig n a ç ã o comum de E s t a d o A n t i g o ^ . 0 exame d e s s a s form açGes p o l í t i c a s r e v e l a uma c a r a c t e r í s t i c a b asta n te a n á lo g a aos ordenam entos e s t a t a i s que se co n figu ra ra m (como modelo g e n é r ic o ) a p a r t i r do s é c u lo X V /X V I (E s t a d o M oderno) , q u a l s e j a , a sua u n id a d e

49 Dalno de Abreu Dallari, op. cit., p.

51.

Disse a propósito Giorgio Del Vecchio que "É preferível, neste domínio, remeter os leitores para os tratados históricos da especialidade e para as análises especificas dos diversos ordenamentos estatais, que se formam e transformam no fluxo perene da vida dos povos* (Teoria do estado, p.

50).

^ Cobo

procede Antônio Carlos Nolkmer, in Slesentos para

ata

critica do estado, p.

23.

A respeito da tipologia histórica do Estado Nolkmer procura fazer usa "síntese“ a partir do ‘confronto* que afirma existir entre duas maneiras de visualizar esta instituiçSo, a saber: ’a) Perspectiva liberal-burguesa de cunho político-jurídico que retrata as sociedades políticas mediante uma trajetória natural, evolutiva e racional, delineada classicamente pelo jurista alemão Georg Jellinek e largamente difundida no Ocidente [trata-se da tipologia que descrevemos, excetuada a inclusSo do Estado Conteaporineo]; b) Perspectiva

marxista de cunho sócio-econômico, que define os tipos de Estados em função do modo e das relações de produção (Estado EscraviBta, Estado Feudal, Estado Capitalista e Estado Socialista)" (ibidem).

i n t e r i o r e g e r a l ^ . T a l u n id a d e t i n h a , à é p o c a , uma representaçã o b a s t a n t e a m p la , s i g n i f i c a n d o em resum o a absorção p e lo Estado de t o d a a v i d a c u l t u r a l . G ET T EL, c i t a d o por D A L L A R I, tra d u z com c l a r e z a e s s a percepção ao t r a t a r do Estado o r i e n t a l : " a f a m í l i a , a r e l i g i ã o , o E s t a d o , a o rg an izaç ã o econômica formavam vim co n ju n to c o n f u s o , sem d if e r e n c ia ç ã o a p a r e n t e . Em c o n s e q u ê n c ia , não se d i s t i n g u e o pensamento p o l í t ic o d a r e l i g i ã o , da m o ra l, da f i l o s o f i a ou das d o u t r in a s e c o n ô m i c a s "^ . No p la n o propriam ente p o l í t i c o (dim ensão do poder " e s t a t a l " ) , e s s a u n id a d e tem o s e n t i d o de um poder que não adm ite o u tr o que lh e s e j a e s t r a n h o , i s t o é , o Estado não t o l e r a a d i v i s ã o i n t e r i o r , desmembrando-se apenas na m edida em que n e c e s s i t a de vim s istem a p l u r a l de órgãos p a ra desincum bir- se de su as d i s t i n t a s f u n ç õ e s ^ . No e n t a n t o , outro tra ço fu n d a m e n ta l d e s s e s E s t a d o s , a p a r da n a t u r e z a u n i t á r i a , enco ntra - se n a r e l i g i o s i d a d e . E é justam ente em função d e s t a c ir c u n s t â n c i a que se v e r á estrem ec id a a p r e t e n s a hegem onia (u n id a d e p o l í t i c a ) da a u to rid a d e e s t a t a l .

51 (Daí aludir-se à seielhança dessas fonações con os ordenaaentos aodernos) Cf. 6. Jellinek, op. cit., p. 245, 256/57 e 260. Con efeito, escreve Dalao de Abreu Dallari que "A idéia da natureza unitária é peraanente, persistindo durante toda a evolução política da Antiguidade" (op. cit., p. 53).

52 Dalao de Abreu Dallari, op. cit., p. 53. A respeito do EBtado coao cominidade de cultura, ver taabéa

G. Jellinek, op. cit., p. 246/47 e 255/256.

53 Cf. G. Jellinek, op. cit., p. 509; sSo suas, ainda, as seguintes palavras: "A divisão da coaunidade ea várias partes dotadas de soberania igualaente originária, é absolutasente iapossível” (op. cit., p. 256/57). No caso especifico do antigo Estado Oriental, nSo se admitia sequer a divisão funcionai (cf. Dalao de Abreu Dallari, op. cit., p. 53).

40

De f e i t o , r e c o r d a WOLKMER que "A r e l i g i a 0 dom inava amplamente a v i d a doB povos a n t i g o s " , im prim indo a ss im um c a r á te r marcadam ente t e o c r á t ic o ao poder p o l í t i c o (dom ínio dos s a c e r d o t e s ) ^ . C onsideravam - se, co n seq uente m ente, a a u t o r id a d e dos g o v e r n a n te s e a s normas de con duta i n d i v i d u a l como e x p r e s s O e s de um po der d i v i n o , c u jo v e í c u l o , em m uitos c a s o s , e r a a c l a s s e s a c e r d o t a l : "H á uma c o n v iv ê n c ia de d o is p o d e r e s , um humano e um d i v i n o , v a r ia n d o a i n f l u ê n c i a d e B t e , segundo c i r c u n s t â n c i a s de tempo e l u g a r " ^ . A ss im , como e n s in a J E L L IN E K , ou bem o soberano é r e p r e s e n t a n t e do poder d i v i n o e s ua v o n ta d e é sem elhante à da d i v i n d a d e , caso em que a t e o c r a c ia t e r á como r e s u l t a d o o fo r t a le c im e n t o do p o de r do E s t a d o ; ou e s t á lim it a d o p e l o poder d e s t a , a q u a l então e x p r e s s a s u a v o ntad e s u p e r io r ao E stad o m ediante o u tr o s ó rg ã os. 0 E s t a d o i s r a e l i t a , po r exemplo - o m ais im portante de todos os a n t ig o s E s t a d o s O r i e n t a i s , de acordo a in d a com JE LLIN E K - co rresp o n d e ao segundo t i p o , em que p l a n t e i a um dualism o d e n tr o da v i d a do E s t a d o , formado por d o i s p o d e r e s : um humano e ou tro supra-hum ano, e x e r c id o p e lo s sacerdotes^® . E s t a form a d u a l i s t a do po der p o l í t i c o im p lic a v a , f a t a lm e n t e , uma c o n t r a p o s iç ã o r e c í p r o c a e n t r e o soberano e a i g r e j a , comprometendo a u n i t a r i e d a d e e suprem acia da a u t o r id a d e

5* Antônio Carlos Holkoer, op. cit., p. 24. 55 Dalno de Abreu Dallari, op. cit., p. 53/54. 5® Cf. G. Jellinek, op. cit., p. 237/39.

e s t a t a l como fo n te ú n ic a de d om inaça0 . Não s e r i a p o r t a n to in teira m en te e x ato afirm ar- se a n a t u r e z a m on ista do E s t a d o

a n t ig o , no s e n t id o de d e p o s i t á r i o de todo o poder p o l í t i c o -

a in d a que e s t i v e s s e r e la t iv a m e n t e próxim o d i s s o ^ .

Há a in d a um outro a s p e c t o m uito p e r t i n e n t e a r e f o r ç a r e s t a c o n s t a ta ç ã o , advin do d a s e s p e c i f i c i d a d e s do E s t a d o Romano, q u a l s e j a , "a d i s t i n ç ã o e n t r e uma ordem ou p o d e r p ú b lic o (E s t a d o ) e uma ordem ou p o der p r iv a d o ( p a t e r

f a m í l i a s )"58. Com e f e i t o , a f a m í l i a romana a ss e n t a v a numa t a l

concepção a u t o r i t á r i a que ao p a i e r a r e c o n h e c id o um p o d e r p o l í t i c o sobre os se u s que p e r d u r a v a por t o d a a sua v i d a . De

c o n s e g u in t e , t in h a o p a t e r fa m ília s ., no seu âm bito, "um po der

de a u to r id a d e in d e p e n d e n te e não d e r iv a d o do E s ta d o nem subm etido a sua f i s c a l i z a ç ã o , é d i z e r , um p o der análogo ao do Estado "59.

Mas é no E s t a d o M e d ie v a l que se o b s e rv a r á com extrem a

n i t i d e z o c o n t r a s t e da p a r t iç ã o do po der p o l í t i c o , então j á não apenas d u a l i s t a , mas pluralista® ® . A q u i v a l e r e c o r d a r - a

57 Ho antigo Egito, que taabéa era usa teocracia (para fixaraos

aaiB

os exeaplo), a onipotência dos Faraós é atenuada "porque os egípcios crias outros deuses, cada un dos quais governa invisiveIsente certa atividade ou assunto. 0 rei, pois, é ua deus entre outros deuses cuja vontade a classe sacerdotal é a única que sabe interpretar. Eis o poder divino e político do Faraós liaitado pelos outros deuses, ou aelhor, pela classe dos sacerdotes. E liaitado tanbéa pelos chefes das províncias, que constituea usa poderosa organizaçío feudal" (Darcy Azaabuja, Teoria geral do estado, p. 139).

58 Antônio Carlos Solkaer, op. cit., p. 24. 59 6. Jellinek, op. cit., p. 257.

6® fara Dalno de Abreu Dallari três fatores conjugados deterainaraa a caracterização do Estado Medieval: o cristianiseo, as invasões dos bárbaros, e o feudal isso (cf. op. cit., p. 56/59).

42

p a r t i r de ANTONIO MANUEL HESPANHA®1 - que as e s t r u t u r a s sócio- econôm ica e j u r í d i c o - p o l í t i c a d a Id a d e M édia costumam se r i n t e g r a d a s sob a denom inação de s iste m a f e u d a l . D en tre v á r i o s

o u tr o s a s p e c t o s , v e r if ic o u - s e a l i , como se tem n o t í c i a , uma o r g a n iz a ç ã o s o c i a l em que os la ç o s de d e p e n d ê n c ia eram b a s e a d o s n a p o sse da t e r r a : e s t a e r a a b ase da econom ia e o fundam ento do p o der p o l í t i c o ^ . Como panoram a, esten de- se um

complexo p r o c e s s o de d e t e r io r a ç ã o do poder p o l í t i c o " e s t a t a l " (Im p é r io Rom ano), que o c a s io n o u a ru p tu r a da r e la ç ã o de d i r e i t o p ú b l i c o E stad o - cid a d ã o e sua s u b s t it u iç ã o po r form as

de s u b o rd in a ç ã o p e s s o a l sob m odelos j u r í d i c o s de d i r e i t o p r iv a d o . 0 " E s t a d o " , e n fr a q u e c id o e d e sp ro v id o de m eios f i n a n c e i r o s , p a s s a a r e t r i b u i r os s e r v iç o s que lh e são p r e s t a d o s com a doação de t e r r a s o u , sim plesm en te, a t r a v é s da d e le g a ç ã o (o u m e lh o r, a l i e n a ç ã o , po r p a rt e do r e i ) de p o d e r e s m a je s t á t ic o s aos p o te n t a d o s f u n d i á r i o s (s e n h o r e s d as t e r r a s ) - p o d e r e s e s t e s de n a t u r e z a p ú b l i c a , como a a d m in is tr a ç ã o da J u s t i ç a , c o b r a n ç a de im postos e o r g a n iza ç ã o m i l i t a r (n e s s e