• Nenhum resultado encontrado

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.3. O processo ofensivo

Teodorescu (1984) refere que, em relação aos jogos desportivos, ter a bola significa atacar e não possuí-la implica defender. No HP, a posse ou não do objecto de

jogo define qual a equipa que se encontra na situação de ataque ou defesa (Honório, 1988, 1998b; Martins, 1994). Segundo Honório (1998b) podemos observar claramente essas duas fases bem distintas, contendo, cada uma delas, linhas orientadoras das diversas acções a desempenhar (Figura 9).

Figura 9: As fases do jogo de Hóquei em Patins (Honório, 1998b).

Porém, embora distintas, as duas fases encontram-se intimamente relacionadas. Assim, os aspectos defensivos e ofensivos devem estar presentes de forma interactiva (Clemente, 1991). Fernando Luís (2004:22) opina que, no HP “defender não é um acto passivo … é ataque”, isto é, é alterar a estratégia ofensiva adversária, activamente, impedindo os atacantes de ocuparem os espaços e posições pretendidas. Assim, percebemos que o comportamento decisional defensivo poderá influenciar o comportamento decisional ofensivo nos lances em análise.

Vila (2001) considera que, em geral, os hoquistas em processo ofensivo, devem ver o companheiro com bola e posicionar sempre o stick em posição de recepção ou remate, devem realizar passes fortes, direccionados ao stick do companheiro e geralmente junto ao solo. Se a situação de passe não é possível, podemos proteger a bola com o nosso corpo e até com a ajuda da tabela. Os jogadores sem bola devem ter em conta o sistema defensivo utilizado pelo adversário, as suas características (destro ou canhoto) e a forma como se comporta (mais ou menos pressionante) e ter sempre como preocupação a ajuda ao companheiro com bola, situando-se em posição de: recepção, remate, realizar um bloqueio ou ecrã, ou arrastar um defensor para abrir espaços.

Sendo esta modalidade um JDC de interligação entre diferentes elementos, ofensivos e defensivos, constatamos que um dos aspectos que podemos considerar mais relevantes no processo ofensivo é a capacidade de executar o passe e a recepção com velocidade e precisão.

As combinações de movimentos dos vários jogadores, a atacar ou a defender, assentam em designações que traduzem a relação numérica entre opositores, sendo que no HP, tal como em outras modalidades colectivas, o leque de acções possíveis é infinito – desde o 1x1 até ao 4x4, quer a atacar quer a defender, acrescentando neste caso a acção do guarda redes (Batista, 2004).

Nos JDC em geral e no HP em particular, podemos considerar que existem os seguintes métodos de jogo ofensivo: o contra-ataque, o ataque rápido e o ataque organizado ou posicional. Segundo Castelo (1996:134), estas fases possuem determinadas características, que em nosso entender também estão presentes no HP. Assim:

- O contra-ataque permite uma rápida transição da zona defensiva para a ofensiva, logo após a recuperação da posse de bola, diminuindo assim o tempo da fase de construção/elaboração do processo ofensivo e é caracterizado por existirem condições favoráveis a explorar em termos de tempo e espaço; a simplicidade do processo implica um número mais reduzido de jogadores que intervêm directamente com a bola, “executando comportamentos técnico-tácticos pelo lado do risco”;

- O ataque rápido possui a mesmas características do contra-ataque, sendo que a diferença assenta na existência de uma certa organização defensiva por parte da equipa contrária;

- O ataque organizado ou posicional estabelece-se com uma movimentação em bloco do ponto de vista atacante tentando contrariar uma defesa já organizada, em geral

através de situações mais prolongadas no tempo e com um maior número de intervenientes.

Em relação ao nosso trabalho consideramos que, mais importante que analisar ou caracterizar aprofundadamente estes processos ofensivos, é bem mais frutuoso tentar perceber e analisar as constantes interacções entre atacante e seu defensor directo. Podemos considerar que estas acções são realizadas, do ponto de vista ofensivo, através do domínio da patinagem e do manejo do stick e concretizadas por comportamentos técnico-tácticos tais como: técnicas de drible, finta e simulação, técnicas de domínio e controlo de bola e técnicas de passe e de finalização.

Estas situações de conflito dual ocorrem permanentemente no HP, em virtude das equipas que se encontram em processo defensivo optarem, na esmagadora maioria, se não mesmo totalidade das vezes, por um sistema defensivo de marcação directa (individual e/ou homem a homem), sendo a acção do atacante consequentemente condicionada pela atitude do defesa, em relação à pressão com que este actua. Para além disso a distância do alvo a atingir também parece influenciar esta relação (Ribeiro & Araújo, 2005). Também podemos acrescentar que apesar de acções individuais, estas devem ser entendidas e contextualizadas na realidade do jogo, pois também são consequência de toda uma dinâmica de equipa. Basta para isso salientar que um jogador sem bola pode libertar espaço, “arrastando” o seu defensor, ou por outro lado condicionar a acção do seu colega, se ocupar uma área que não deveria, num determinado momento.

Numa investigação com base na modalidade de Futsal, modalidade esta com algumas características similares ao HP, Amaral (2004:308) analisou sequencialmente a situação de 1x1 no processo ofensivo e concluiu que esta parece fomentar o desequilíbrio defensivo do adversário, uma vez que activa situações de remate e falta. Verificou ainda que “ ao nível do contexto de cooperação, o 1x1 com vários apoios é aquele que apresenta maior probabilidade de conduzir a uma situação de remate”.

Numa análise da dinâmica da TD na relação 1x1 no Basquetebol, Ribeiro & Araújo (2005), consideram que esta situação é indissociável do jogo 5x5, sendo que a TD não depende exclusivamente de soluções motoras elaboradas mentalmente, mas antes da exploração de situações características do jogo, sendo que a decisão emergirá da forma como o jogador for afinando perceptivamente o seu comportamento decisional em relação aos pormenores subtis do jogo. Por fim, consideram que o factor de distância entre atacante e defesa assume um papel directo e fundamental na TD.