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O professor como pesquisador

No documento EDUCAÇÃO, ARTE E HISTÓRIA DA CULTURA (páginas 46-49)

1.8 A Investigação Narrativa

1.8.1 O professor como pesquisador

Muito se fala sobre o professor pesquisador, e neste trabalho dota-se esta postura epistemológica, mas antes faz-se necessário analisar o próprio caráter da pesquisa em educação. Anderson & Herr (1999) citam Schön (1995) quando este fala que os próprios pesquisadores acadêmicos da área de educação tiveram que pagar um preço para terem suas pesquisas aceitas na comunidade acadêmica universitária, e que preço foi esse? Aceitar enquadrar suas pesquisas sob a égide da racionalidade técnica, que se traduz na aplicação da ciência ou do conhecimento sistemático aos problemas instrumentais da prática. A concepção de conhecimento profissional que subjaz à racionalidade técnica define a prática como sendo instrumental pois faz ajustes técnicos entre meios para obter um fim que já é certo e fixo. Além disso estabelece que a prática se torna profissional quando é baseada em

conhecimento sistemático produzido por escolas com maior grau de

desenvolvimento na aprendizagem.

Anderson & Herr (1999) afirmam ser importante levar em consideração que estas duas dimensões da racionalidade técnica devem ser analisadas com cuidado pois ,

[...] a primeira - na qual a prática é instrumental- ameaça com domesticar a pesquisa do prático, e a segunda- na qual a prática é melhorada através da aplicação de pesquisas realizadas por “pessoas de fora” – ameaça relegá-la a um status de segunda categoria (ANDERSON & HERR, 199, p.13)10.

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the first- that practice is instrumental- threatens to domesticate practitioner research, and the second- that practice is improved through the application of research done by “outsiders”- threatens to relegate it to second-class status.

As ponderações acima levam ao questionamento da pesquisa feita por práticos/ professores. Seria a pesquisa deste público realmente pesquisa?. Anderson & Herr (1999) observam que há duas perspectivas, que para eles, são concomitantes: por um lado a pesquisa do prático enfrentará resistência por parte da universidade e por outro, será domesticada a adotada como uma mera nova técnica para o aprimoramento e desenvolvimento profissional

Do lado da escola, muitos administradores e especialistas em desenvolvimento profissional vêem a pesquisa dos práticos como a bala de prata da reforma escolar mas, ao mesmo tempo, querem controlar os tipos de questões que são feitas. Acadêmicos tendem a estarem confortáveis com a pesquisa dos práticos como uma forma de conhecimento local que acarreta mudanças limitadas ao contexto da própria prática, mas, sentem-se menos confortáveis quando é apresentada como conhecimento público com aspirações epistemológicas que vão além do ambiente da prática (ANDERSON & HERR, 1999,p.14).11

Anderson & Herr (1999) fazem outra citação a Schon (1983) ao mencionarem o conceito de conservadorismo dinâmico, cunhado por este e que consiste em trazer os professores pesquisadores de volta ao status quo composto por normas, valores e regras que ao se tornarem tão onipresentes, são internalizadas pelos professores, tornam-se naturalizadas, e passam então a serem inquestionáveis. Por outro lado,

[...] intuitivamente, os práticos sabem que ao desafiarem as normas, o conservadorismo institucional irá , com frequência, responder de forma a manter sua autopreservação . De fato, quando administradores e professores veem suas identidades atreladas a valores e normas institucionais, criticá-los será frequentemente tido como um ataque pessoal (ANDERSON &HERR,1999, p.17)12

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on the school side, many administrators and professional development specialists see practitioner research as the new silver bullet of school reform but, at the same time, want to control the kinds of questions that get asked. Academics tend to be comfortable with practitioner research as a form of local knowledge that leads to change within the practice setting itself, but are less comfortable when it is presented as public knowledge with epistemic claims beyond the practice setting.

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Practioners intutitively know that when they challenge the norms, the institution´s dynamics conservatism will often respond in a self-protective manner. In fact, when administration and teachers see their identities as tied up with institutional values and norms, critiquing these values and norms is often experienced as a personal attack.

A pesquisa dos práticos não é apolítica, ao engajar-se em um empreendimento desta natureza, deve-se estar consciente dos riscos e polêmicas que poderão ser gerados, não apenas entre o professor pesquisador e a instituição, mas também entre esse e o pesquisador acadêmico, justamente pela perspectiva que cada um adota na condução de suas pesquisas. Os práticos por fazerem parte do contexto da pesquisa desejam a imparcialidade do olhar dos pesquisadores acadêmicos; já estes, por serem exteriores ao contexto da pesquisa, desejam ter as sensações daqueles, mas sem perderem a perspectiva analítica de quem observa de fora.

Neste cenário, Mizukami (2010) relata que “os práticos estão lutando não apenas por ter maior impacto institucional, mas também maior poder epistemológico”(MIZUKAMI,2010,p.126). Também ressalta como a colaboração entre práticos e pesquisadores acadêmicos pode resultar em ganhos para ambos pois quando

[...] os práticos se engajam em suas próprias pesquisas, eles tendem a ler mais, e com maior interesse, pesquisas realizadas na e pela universidade. Ironicamente, um movimento crescente de pesquisa de práticos poderá conduzir a uma maior – e não menor- demanda de pesquisa de acadêmicos (MIZUKAMI,2010, p.125).

Por outro lado, as demandas do dia-a-dia escolar podem sobrecarregar o professor e gerar situações de esgotamento que, normalmente, traduzem- se em diminuição da tolerância e do envolvimento deste professor com qualquer situação que envolva novas propostas. Não raro, o professor cansado e isolado busca a solução de seus problemas através da reprodução de um ciclo de reações que apenas levam a um agravamento da dos mesmos, que, por sua vez, poderiam ter sido discutidos entre companheiros da escola. Parrilla e Daniels (2004) elaboraram uma sequência de reações tipicamente enfrentadas por um professor em situação de isolamento:

o professor encontra dificuldades para solucionar ele mesmo o problema;

sente que falta apoio e ajuda;

diante dessa situação, opta por abandonar a resolução do problema;

se refugia na adoção de métodos “seguros” e abandona a inovação, a busca criativa de soluções e métodos de ensino;

a vida da sala de aula deixa de responder à diversidade;

os alunos que não estão no nível médio da classe, tanto os que estão acima como os que estão abaixo dele, ficam excluídos da aula.

Valorizar a riqueza do conhecimento produzido pelo professor e acreditar na sua capacidade de enfrentar e de se ajudar na solução desses problemas colaborativamente é adotar uma postura na qual a escola é tida como uma organização que aprende e se transforma com os seus professores (PARRILLA, A.; DANIELS, H., 2004, p.11).

No documento EDUCAÇÃO, ARTE E HISTÓRIA DA CULTURA (páginas 46-49)

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