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Capítulo 1 – “Ele não fala assim, igual nós, mas ele, o olhar dele tá falando”

1. O Antropoceno e o contexto da crise ambiental

1.2.1 O Programa de Boas Práticas Agropecuárias (BPA)

O Programa de Boas Práticas Agropecuárias (BPA) da Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária (Embrapa/Gado de Corte), vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (MAPA), é definido como um protocolo de procedimentos e normas que tem

por objetivo tornar os elos da cadeia produtiva da carne22 mais lucrativos e competitivos

22O Programa de Boas Práticas Agropecuárias abrange outras atividades para além da bovinocultura de corte. A fruticultura, a suinocultura e a bovinocultura de leite contam com protocolos específicos.

comercialmente, ofertando alimentos mais seguros e provenientes de propriedades

sustentáveis (BPA, 2013). A lista através da qual a propriedade rural é avaliada compreende

onze itens: gestão da propriedade rural; função social do imóvel rural; gestão dos recursos

humanos; gestão ambiental; instalações rurais; manejo pré-abate23 e bem-estar animal;

pastagens; suplementação alimentar; identificação animal; controle sanitário e manejo

reprodutivo (BPA, 2013).

No primeiro item, “gestão da propriedade rural”, a administração da propriedade é

avaliada segundo critérios de planejamento anual, registro de receitas e despesas, a

manutenção de registros de controle zootécnico do rebanho, as atribuições de cada

funcionário e informações descritivas sobre o uso do solo. A “função social do imóvel rural” é

avaliada a partir dos dados contidos no Imposto Territorial Rural (ITR) que estabelece em

80% o Grau de Utilização da Terra (GUT). A eficiência da exploração é medida por outro

índice, o Grau de Eficiência da Exploração (GEE) 24, cujo parâmetro é 100%. Na análise da

“gestão dos recursos humanos” são avaliadas o respeito à legislação trabalhista vigente e se há

indícios de trabalho infantil e/ou escravo na propriedade. As condições de saúde e de higiene

oferecidas aos trabalhadores, através da realização de exames periódicos, da condição das

instalações como refeitórios e banheiros, além das condições de potabilidade da água são

também analisadas. Os currais de manejo (também conhecidos como mangueiras25), as

rampas de acesso dos embarcadouros, a qualidade das cercas e mourões e os reservatórios de

23O manejo de pré-abate se inicia com o transporte dos animais nas fazendas e se estende até o momento da sangria nos frigoríficos.

24O Grau de Utilização da Terra (GUT) é calculado dividindo-se a área utilizada pela área aproveitada. Por exemplo, em uma propriedade de 100 hectares que produziu em 80 hectares, o GUT foi de 80%. O grau de eficiência da exploração é medido, para o caso da pecuária, por meio da divisão entre o número total de Unidades Animais (UA) do rebanho, pelo índice de lotação estabelecido pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea. Tais indicadores estão estabelecidos na Lei 8.629/1993, que regulamenta os dispositivos constitucionais relativos à reforma agrária, dentre os quais o princípio constitucional de que o imóvel rural deve atender à sua função social.

25O curral ou mangueira é o espaço no qual o gado é trabalhado, onde são feitas as vacinas, colocados os brincos e feitas as marcações com ferro quente.

água são alguns dos itens avaliados no quesito “instalações da propriedade”. As condições de

moradia e alojamento, de segurança no trabalho e as oportunidades de participação em cursos

e capacitações entram também neste quesito de avaliação. A condição das pastagens e sua

adequação ao clima, ao solo e ao sistema produtivo empregado, além do uso de fertilizantes,

da existência ou não do sistema de integração entre lavoura e pecuária são observados no item

pastagens. Além desta, outros itens dizem respeito mais diretamente aos animais e às técnicas

empregadas na criação dos mesmos. São eles, a identificação animal – que busca verificar se a

propriedade trabalha, e de que forma, com algum sistema de rastreabilidade; o controle

sanitário, no qual são analisados o respeito aos calendários de vacinação, a existência de

técnicos especializados para a elaboração desse calendário e o treinamento dos demais

funcionários, a origem e a qualidade das vacinas e dos medicamentos, além das condições de

armazenamento dos mesmos; e o manejo reprodutivo, em que critérios como estação de

monta26, tipo de reprodução utilizada – se adota-se a monta natural ou protocolos de

Inseminação Artificial por Tempo Fixo (IATF)27, por exemplo, a realização de exames

andrológicos28 nos touros, a castração dos machos, bem como as condições das instalações

para a realização desses procedimentos. No item “suplementação alimentar”, pede-se a

verificação do estado de conservação dos alimentos fornecidos aos animais, a manutenção de

registros acerca desses insumos, principalmente sua origem, além de questionar se são

administradas substâncias de origem animal ao rebanho29. Cada um destes itens é classificado

como obrigatório ou altamente recomendável. Conforme as porcentagens de adequação, que

26A estação de monta corresponde ao período de acasalamento entre machos e fêmeas. Cada propriedade define esta temporada que na Fazenda Casa Verde acontece entre fins de outubro e fins de janeiro.

27O uso do protocolo de IATF tem por objetivo sincronizar os cios e ovulações das vacas por meio da administração de hormônios.

28O exame andrológico é realizado para analisar a qualidade do sêmen dos animais. A amostra é analisada pelo veterinário imediatamente após a coleta do material, em um microscópio trazido por ele ao curral.

29O uso de alimentos à base de proteína e gordura de origem animal na alimentação de ruminantes é proibido no Brasil pela Instrução Normativa N. 08, de 2004. A motivação para esta determinação do Ministério da Agricultura levou em consideração os casos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), conhecida como a doença da vaca louca.

oscilam entre 80 a 100% para os itens obrigatórios e entre 60 e 80% para os altamente

recomendáveis, as propriedades são classificadas nas categorias ouro, prata e bronze.

Dentre estes onze elementos listados acima, o item “gestão ambiental” diz respeito

mais diretamente ao tema deste capítulo, embora a questão ambiental seja pontuada também

na avaliação de outras matérias, como o controle sanitário – descarte de carcaças e

embalagens de medicamentos e vacinas – e o manejo das pastagens, ao avaliar o uso de

fertilizantes e/ou agrotóxicos.

Pela abordagem do programa, o meio ambiente torna-se um item de gerenciamento,

que requer planejamento e adequação às legislações ambientais vigentes, especialmente no

que diz respeito às Áreas de Proteção Permanente (APP) e reservas legais30. No componente

relativo ao meio ambiente, a coleta seletiva do lixo é classificada como altamente

recomendável, e a armazenagem e o descarte de embalagens de medicamentos, produtos

veterinários, fertilizantes e agrotóxicos são itens de cumprimento obrigatórios. Outro bloco de

questionamentos na esfera ambiental investiga se há indícios de práticas de conservação do

solo e da água, ações de conscientização dos funcionários e familiares sobre a conservação do

meio ambiente e ações para a prevenção de queimadas acidentais, único elemento de caráter

obrigatório neste bloco. A lista de verificação atinente ao meio ambiente investiga ainda se o

empreendimento produz ou utiliza alguma fonte de energia renovável em suas atividades.

O bem-estar dos animais é avaliado a partir de dez itens. O questionário analisa os

métodos empregados na condução dos animais na fazenda (até o curral e outras áreas da

30De acordo com o Código Florestal, Lei 12.651/2012, artigo 30, a Área de Preservação Permanente – (APP) é definida como “área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”. Segundo a mesma legislação, as áreas de reserva legal correspondem às áreas do interior de uma propriedade “com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa”.

propriedade) de modo a minimizar o estresse e a incidência de contusões; a forma com que

são reunidos e manejados os lotes de animais durante o período de pré-abate; como se dá o

monitoramento das condições dos caminhões para o transporte dos animais para o frigorífico;

a lotação desses meios de transporte e o horário em que é realizado o transporte; além de

verificar se a condição de saúde dos animais a serem transportados é avaliada antes do

embarque. Esses são os itens objeto de escrutínio classificados sob a rubrica pré-abate, ou

seja, o período que corresponde à saída dos animais da fazenda com destino ao abatedouro.

Outros quatro itens são avaliados visando abarcar o bem-estar em um sentido mais amplo: a

existência de capacitação dos funcionários, o sombreamento das pastagens, a lotação dos

confinamentos e o manejo apropriado a cada categoria animal.

O laudo resultante dessa avaliação não configura imediatamente um selo, mas

qualifica as propriedades positivamente avaliadas para a obtenção de certificações de

qualidade emitidos por organismos independentes reconhecidos pelo Instituto Nacional de

Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). Dessa forma, o laudo produzido pelo

programa BPA constitui um instrumento que visa auxiliar os produtores rurais que desejam

certificar seus produtos. Entretanto, para além de um mecanismo que visa alcançar outras

certificações, o “atestado de adequação”, como é chamado o documento que atesta a

conformidade da propriedade ao programa de boas práticas, visa chegar até os consumidores e

comunicá-los de que a carne produzida possui qualidade e que o crescimento das unidades

produtivas se dá de forma sustentável, como indicado no folder de divulgação do programa

disponível online31.

Para o administrador da Fazenda Casa Verde (RS), Bruno, o “BPA, por exemplo, ele

chamou a atenção pra muitas coisas, né. E a coisa mais interessante é que não adianta você se

31Disponível em: http://cloud.cnpgc.embrapa.br/bpa/files/2013/02/Folder_BPA_institucional_08022011.pdf. Acesso em 22 de setembro de 2015.

dedicar a um tipo de manejo ou um assunto só, ou um tema só. Todos tão interligados, né. E o

processo ele é completamente vinculado, uma coisa tá ligada com a outra, e se esse processo

não é entendido, compromete o sistema todo, né” (Entrevista com Bruno, 06/04/2015). Bruno

se remete em sua fala aos demais programas de boas práticas, quais sejam, as Boas Práticas de

Fabricação (BPF), aplicável na fase de industrialização dos produtos e ao Programa Alimento

Seguro (PAS), relativo ao varejo. Para ele, o mais importante é que toda a cadeia produtiva

esteja comprometida e legitimada por programas como estes.

As ideias de bem-estar animal foram introduzidas em sua fazenda pelo protocolo de

boas práticas (BPA) sendo que Bruno chamou a atenção para um detalhe que o marcou

bastante: “então, por exemplo, no caso da americana, a Temple Grandin. Como é que a gente

chegou nisso. Tinha predisposição, tinha, vamos entender mais o animal pra gente ter melhor

resultado e aí tu começa a chamar a atenção, ver algumas coisas, como aquele negócio do

redemoinho… Agora, por exemplo, aquilo fica evidente. Cada animal que tá próximo de ti te

olhando tu olha pra ver se tem o redemoinho” (Entrevista com Bruno, 06/04/2015). Esse

“redemoinho”, de que fala Bruno, refere-se a um formato particular dos pelos na testa de bois

e vacas, principalmente das raças britânicas, como o Angus e o Hereford, que possuem uma

pelagem mais densa e espessa. No artigo “Cattle with hair whore patterns above the eyes are

more behaviorally agitated during restraint” (1995), Grandin descreve que os bovinos que possuem um redemoinho acima da linha dos olhos são mais agitados e difíceis de serem

contidos. A formação do sistema nervoso e dos redemoinhos de pelo e pele se dariam na

mesma camada embrionária e daí a possibilidade de correlação entre as duas variáveis,

segundo a autora.

o bem-estar animal é uma das etapas do processo produtivo. Se a questão do bem- estar animal não for devidamente conhecida e trabalhada dentro do processo produtivo nós vamos ter um sistema ineficiente. O bem-estar animal, dentro do processo produtivo, se o produtor não levar isso em consideração e não dar a devida importância, ele vai ter um sistema ineficiente, né. Então a gente cuida do animal pelo animal. Mas cuida do animal pelo sistema produtivo e o resultado econômico, pelas duas coisas, né. Acho que o bom produtor é aquele que percebe isso. Cuida do animal por ser um animal, por ser um ser vivo, mas cuida do animal também para que o sistema dele de manejo seja o mais eficiente possível (Entrevista com Bruno, 06/04/2015).

Dessa forma, uma dimensão moral de cuidado não está desconectada de uma dimensão

econômica que o boi adquire quando é pensado como um animal de produção. Esse caráter

duplo também pode ser percebido em um dos pontos da lista de verificação do BPA, que

justifica a recomendação de uma área mínima de 12 m² para cada animal em confinamento

“de forma a assegurar o bem-estar animal e o seu desempenho produtivo” (BPA, 2013: 19).

Os confinamentos de gado de corte, que correspondem ao sistema americano de

Concentrated Animal Feeding Operation (CAFOs), adquirem expressividade no Brasil a partir dos anos 1980 (Moreira et al, 2009). Nesse sistema, “os animais são colocados em

piquetes ou currais de engorda com área que restringe a locomoção dos mesmos, e onde os

alimentos são fornecidos de forma controlada nos cochos” (Moreira et al, 2009: 133). No

Brasil, diferentemente dos Estados Unidos, onde nos CAFOs um boi pode passar toda a sua

vida, o gado é confinado apenas na fase final de engorda, por cerca de três meses. No próximo

capítulo abordarei em maiores detalhes a questão dos confinamentos, mas convém trazê-los

aqui na medida em que eles são importantes para a argumentação em torna da pecuária

sustentável. De acordo com Bruno, administrador das Fazendas Casa Verde (RS) é preciso

usar racionalmente o espaço disponível para a agropecuária, e os confinamentos são uma boa

Que hoje, principalmente na produção animal, os sistemas vão ser cada vez mais intensivos e de terminação estabulada ou assim, sem espaço para os animais. Quer dizer, na realidade a sociedade tá ocupando cada vez mais espaço e reduzindo os outros espaços, né. O espaço para produzir alimento – tanto a agricultura como a pecuária –, até mesmo da vida silvestre. E aí a gente pode falar fauna e flora, as duas coisas, porque o espaço é um só, né. E então o sistema de produção de gado confinado, por exemplo, é um sistema que vai cada vez mais crescer (Entrevista com Bruno, 06/04/2015).

Em confinamento torna-se também possível aumentar a eficiência do gado de corte

por meio de um controle preciso de sua dieta e de uma observância mais próxima das suas

condições de saúde. Na opinião do pecuarista, um animal eficiente é também mais sustentável

em termos ambientais. Esta é também a constatação do Programa de Boas Práticas

Agropecuárias (BPA) ao afirmar que a adesão ao protocolo “contribui para a redução da

emissão dos gases de efeito estufa (GEE), mediante a redução da idade de abate, qualidade

das pastagens e práticas conservacionistas”32. A eficiência para a indústria de gado de corte

diz respeito à equação engorda/tempo: quanto maior o ganho de peso em determinado

período, maior é a eficiência de um boi. Equacionando eficiência zootécnica com

sustentabilidade, Bruno resumiu seu argumento da seguinte maneira:

por essa questão do efeito estufa né, que fala nos animais. Tu conheces bem a taxa de mitigação do efeito estufa do sequestro de carbono. Pra diminuir isso aí tu tem que intensificar o sistema. Então se um animal está pronto com um ano de idade e com um determinado peso e tu tem outro animal que termina com dois anos de idade, portanto o dobro de tempo, com o mesmo peso. Qual o animal mais eficiente, qual o animal que causou menos dano ambiental? Eu: O primeiro? B: Então, esse é o sistema (Entrevista com Bruno, 06/04/2015).

Um dos objetivos para se maximizar a eficiência dos animais é reduzir sua idade de

abate. Se, no passado, um boi levava, em média, cinco anos para “ficar pronto”, ou seja,

32Conforme o panfleto de divulgação do programa disponível em:

http://cloud.cnpgc.embrapa.br/bpa/files/2013/02/Folder_BPA_institucional_08022011.pdf. Acesso em 22 de setembro de 2015.

atingir o peso ideal para o abate, através dos programas de melhoramento genético e da

administração de suplementos minerais e rações altamente calóricas, um boi pode,

atualmente, ser abatido com menos de dois anos de idade, ou cerca de quinze meses. Um boi

que vive menos, também consome menos recursos naturais e assim é considerado menos

danoso ao meio ambiente.

Na fala desse pecuarista pode-se observar uma tentativa de articulação entre

sustentabilidade e bem-estar animal que tem relação direta com o aumento da competitividade

e da rentabilidade na produção. Em sua opinião, o pecuarista é um conservacionista por

natureza por ser o maior interessado na conservação do meio ambiente, que é também o seu

negócio: “porque a propriedade rural ela, o produtor tem o máximo interesse em preservar o

seu patrimônio e o seu negócio. Então ele é um conservacionista por natureza, né” (Entrevista

com Bruno, 06/04/2015).

Nesse caso, se “o pecuarista é um conservacionista por natureza”, o boi poderia se

tornar um aliado na preservação do meio ambiente. Bruno lança mão genericamente de

pesquisas científicas para demonstrar que as áreas de campo nativo da região da Serra Gaúcha

eram habitadas por um herbívoro cuja função seria manter a paisagem característica dessas

terras.

E ali um pesquisador mostrou um trabalho que eu achei fantástico, comprovando que há 12 mil anos nós tínhamos aqui campos nativos… Porque eles fizeram uma escavação e descobriram pólen de gramíneas, né, há 12 mil anos. Porque que tinha isso aí? Porque também na época existia um herbívoro né, que consumia essa gramínea, essas pastagens, esse campo nativo. E é esse herbívoro que fazia o equilíbrio do ambiente, né. Porque a mata, se ela não tiver um mecanismo de contenção ela vai avançando, aquelas florestas primárias, aquelas plantas primárias que vão crescendo, depois vira tudo mato. Então a tendência é assim ó: se tu não fizer nada nesse ambiente aqui isso tudo vai ficar mato. Certo? Porque que tinha campo nativo há 12 mil anos? Porque tu tinha esse herbívoro. E qual é o papel do bovino, depois que terminou esse herbívoro, que já é extinto? Os bovinos fizeram esse papel, né. Então no tempo das missões aqui: porque que chamava Vacaria dos Pinhais? Porque esse norte do estado aqui tudo era campo nativo! Era um ambiente extremamente favorável pro desenvolvimento dos bovinos! Que cresceram

selvagens, né. Então assim, ó. O animal tem um papel importante na formação do ecossistema! Que no passado era esse herbívoro e agora é o bovino! Então essa relação animal/ambiente e a interferência do homem é que vai caracterizar o nosso futuro, né (Entrevista com Bruno, 06/04/2015).

O próprio boi tornar-se-ia, nesse contexto, “um conservacionista”, visto que a sua

presença auxiliaria na preservação das áreas de campo nativo. Cuidar do boi é cuidar também

de uma determinada configuração ecológica característica daquela região, os campos de cima

da serra. Bruno vê, entretanto, como ameaça à paisagem dos campos o avanço das lavouras,

especialmente de soja e de milho sobre áreas anteriormente destinadas à pecuária. Na

Fazenda Casa Verde, por exemplo, a área destinada à pecuária já foi reduzida em mais de 50%

e esse movimento se repete nas propriedades vizinhas. Essa mudança deve-se em grande parte

pela lavoura ser mais lucrativa e oferecer um retorno mais rápido dos investimentos que a

atividade pecuária.