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O Programa Estruturante de Extensão Indígena do Estado do Acre

O Programa Estruturante de Extensão Indígena do gover- no do Estado do Acre foi criado em 2001 e apresenta nova formu- lação em 2008, quando passa a incorporar muito das proposições da PNATER, principalmente no que se refere à orientação de uma produção agroecológica, ao desenvolvimento sustentável e à valo- rização do saber tradicional dos povos, contrapondo-se assim às práticas difusionistas que estiveram presentes historicamente nos modelos de políticas de ATER no Brasil e no mundo.

O Programa Estruturante de Extensão Indígena é execu- tado pela Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar - SEAPROF, órgão estadual responsável pela execução da política de Assistência Técnica e Extensão Rural. Sob a responsabilidade da Gerência de Extensão Indígena, o Programa objetiva dar suporte às ações mitigadoras para as sociedades indígenas, que se encontram sob o impacto da pavimentação das BRs 317 e 364 (ACRE, 2008). De acordo com o documento, à Gerência de Extensão Indígena compete capacitar as comunidades indígenas para as práticas agroflorestais, orientando para as alternativas agroeco- lógicas que possibilitem melhorias na condição de vida das comu- nidades, respeito às peculiaridades de cada povo, valorização dos conhecimentos tradicionais e redução das consequências danosas causadas pelo contato com a sociedade nacional “através de ações que vislumbram um futuro em que os indígenas conscientizem-se do seu papel na sociedade e exerçam plenamente sua cidadania” (ACRE, 2008, p. 4).

Embora o documento do Programa não faça referência à PNATER, observa-se que há uma sintonia na proposição das duas políticas no que se refere à orientação para o desenvolvimento sustentável, à prática agroecológica e à valorização dos conheci- mentos tradicionais dos povos beneficiários. No caso do programa do Acre a proposta destaca o objetivo de minimizar as sequelas deixadas pela relação interétnica ocorrida entre índios e a socieda- de nacional ao longo da história.

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De acordo com o Programa as populações indígenas que estão sendo beneficiadas encontram-se na área de influência das BRs 317 e 364, num total de 10 terras indígenas, com aproxi- madamente 5.411 índios das seguintes etnias: “Jaminawa, Man- chineri, Kaxinawa, Shanenawa, Poyanawa e Katukina, localizados em seis municípios: Sena Madureira, Assis Brasil, Feijó, Tarauacá, Mâncio Lima e Cruzeiro do Sul” (ACRE, 2008, p. 4). A indicação das TIs próximas às referidas BRs, já estava inserida nos projetos financiados pelo BNDES conforme apontado por Aquino e Igle- sias (2005) anteriormente.

Foram estabelecidos dois eixos temáticos. O primeiro é a produção sustentável, através dos cuidados com a qualidade am- biental, os saberes indígenas, a realidade de cada aldeia e a agro- ecologia. O segundo, segurança alimentar em busca da soberania, busca alternativas agroflorestais e extrativistas, que de acordo com o documento, contribuirão para a melhoria de vida das comunida- des indígenas, (ACRE, 2008).

Assim como os objetivos e as ações, nos eixos temáticos o Programa também enfatiza os termos que orientam a política, tais como a agroecologia, a sustentabilidade social e ambiental e a valorização dos conhecimentos tradicionais, seguindo a mesma proposição da PNATER.

Quanto às Estratégias previstas no programa, além de propor o apoio e fortalecimento da produção visando àsegurança alimentar, está previsto também o resgate do uso de sementes tradicionais, o manejo florestal de uso múltiplo e a capacitação de agentes florestais indígenas. A estratégia resgate de sementes parece ser o coração do programa, de acordo com o livro “Se- mentes Tradicionais do Povo Huni Kui” (Kaxinawa) publicação da SEAPROF, da série Caderno da Extensão Agroflorestal (2010). Trata-se de uma experiência que realizou “oficinas em terras in- dígenas, feiras de trocas de sementes tradicionais e intercâmbio entre os povos indígenas, promovida pelos agentes agroflorestais e comunidades com o apoio da SEAPROF” (ACRE, 2010, p. 7).

Outro resultado da Estratégia “Resgate do uso de semen- tes tradicionais”foi o artigo de Borges e Rocha, (2010), que in- tegrou a publicação pelo Ministério do Desenvolvimento Agrária

– MDA, do livro “A Experiência de Assistência Técnica e Extensão Rural junto aos Povos Indígenas: o desafio da interculturalidade”.

O uso de sementes, assim como a sua relação com a segurança alimentar de populações tradicionais, tem outra aborda- gem atualmente, frente à aplicação da biotecnologia e às exigên- cias do mercado internacional, que diferente do que preconizam as publicações acima referidas, constituem-se em ameaça a tais garantias e autonomia de muitos povos. Em julho de 2010 a Re- vista eletrônica Diversidad Sustento y Culturapublicou matéria que discute essa questão destacando que desde a origem da agri- cultura as sementes são componentes fundamentais dos sistemas produtivos e de soberania e autonomia alimentícia dos povos. As sementes são resultado do trabalho coletivo acumulado por cente- nas de gerações de agricultores que as tem domesticado, conser- vado e trocado desde épocas ancestrais. Muitos grupos humanos têm em diferentes regiões, melhorado e adaptado variedades em distintos ambientes produtivos e socioculturais.

É fundamental a continuidade desse livre manejo entre os povos e inaceitável o controle por parte de monopólios e paten- tes. No entanto, nas últimas décadas, empresas de biotecnologias perceberam o valor que as sementes têm no controle da agricul- tura mundial, o que resulta em ameaça às práticas tradicionais de manejo das sementes e da consequente segurança alimentar dos povos indígenas. (Editorial da revista Biodiversidad Sustento y Culturas, 2010).

Pelo que está posto acima, não parece ser tão simples, como pretende o Programa de Extensão Indígena, atingir a garan- tia da segurança alimentar e autonomia de povos indígenas por esse meio, que desconsidera a conexão entre a realidade local e a global de uma economia que atua nos mais longínquos lugares do planeta, conforme apontado por Giddens (1997):

Poucos não têm consciência que suas ativi- dades locais são influenciadas ou até deter- minadas por acontecimentos ou organismos distantes. O capitalismo durante século XX teve fortes tendências à expansão, posterior a

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II Guerra Mundial e mais, nos últimos 40 anos, o padrão de expansionismo começou a se alte- rar, [tornando-se] mais descentralizado e mais abrangente. No plano econômico a produção mundial aumentou de forma dramática (p.75).

O Programa de Extensão Indígena estabelece oito pro- gramas, constantes nas páginas 7 a 11 do documento, que apre- sentam ações específicas, conforme síntese abaixo, que serão exe- cutadas não só pela Gerência de Extensão Indígena, como tam- bém por outros setores da SEAPROF:

Resgate e Reintrodução de Sementes Tradicionais em Ro- çados –estão previstos a assistência técnica e fomento para resgatar sementes de tradição ancestral, bem como o manejo historicamente adotado por cada povo, “para assegurar uma alimentação saudável, limpa e permanente, sem dependência de atores externos, atingin- do assim a soberania alimentar” (ACRE, 2008, p. 7).

Quintais e Sistemas Agroflorestais –implantação de siste- mas agroflorestais–SAFs em áreas de capoeira “com a introdução de espécies frutíferas, além das essências florestais madeireiras e não-madeireiras” (ACRE, 2008, p. 7). Isso será feito através da- realização de cursos que capacitam os agentes agroflorestais indí- genas e a comunidade para a preparação dos SAFs e os cuidados de manutenção, com a finalidade da melhoria da dieta alimentar.

Piscicultura – dar assistência técnica para a prática da pis- cicultura em lagos e açudes para o consumo e a comercialização, bem como a orientação para o acesso ao crédito do Pronaf.

Manejo Natural da Fauna Silvestre - neste programa o do- cumento faz referência à criação de tracajás e abelhas melíponas e informa apenas que para sua realização será respeitada a diver- sidade e grau de contato entre os povos, haverá esclarecimento às comunidades dos pontos positivos e negativos do manejo, sem que sejam criadas falsas expectativas e que a atividade irá se basear nos estudos constantes no Zoneamento Econômico e Ecológico e etnozoneamento das terras indígenas.

Manejo de Recursos Naturais Florestais (Flora)–Orientar ascomunidades para a prática do “manejo de produtos florestais

não-madeireiros (mel de abelha, manejo de palha, de ouricuri, açaí, óleo de copaíba, andiroba, patoá, buriti, murmuru, jarina e etc.)” (ACRE, 2008, p. 8), de forma a contribuir e potencializar a prática da medicina tradicional e recuperar áreas degradadas através do reflorestamento com as espéciesrelacionadas. Dessa forma dar-se- -á o suporte para a produção de artesanato com os produtos desse cultivo, além de possibilitar uma fonte alternativa de renda para as famílias. Ainda está inclusa nesse programa a disponibilização de equipamentos que facilitem a extração dos produtos florestais.

Assistência Técnica e Extensão Agroflorestal -Orientar e assistir nas atividades dos roçados, quintais florestais, SAFs e todas as outras ações de produção sustentável com bases e práticas agro- ecológicas nas técnicas que não são de conhecimentos tradicionais dos indígenas como tratos culturais e fitossanitários que podem aparecer nas frutíferas ou medidas profiláticas e de instalações.

Formação de Agentes Agroflorestais Indígenas – forma- ção através de “cursos, oficinas, encontros, e outras atividades que possam fomentar a formação continuada” (ACRE, 2008, p. 10) de agentes agroflorestais indígenas e não indígenas que desenvol- vam atividades sustentáveis. Os agentes agroflorestais receberão ainda orientações técnicas dentro de suas aldeias.

Organização Comunitária (Associativismo/ Cooperativis- mo) – será dado o apoio para a organização jurídica das comu- nidades, facilitando o acesso aos órgãos competentes para esse fim, além do apoio na documentação interna das associações e cooperativas como a elaboração de atas e estatutos.

Decorridos aproximadamente dois anos de execução do que se pode considerar a segunda fase do Programa, a publicação do artigo de Borges e Rocha em 2010, constitui-se em uma breve avaliação de algumas ações do Programa. Os autores começam reco- nhecendo que a demarcação da terra indígena é um aspecto limitador para a obtenção de alimentos em quantidade suficiente, pois restringe a caça e os roçados e se torna um agravante diante do aumento da população indígena que vem sendo registrado (BORGES e ROCHA, 2010),e o processo de ocupação que acontece no entorno das TIs.

Para os autores, as ações de ATER e fomento em Terras in- dígenas são “resultado dos esforços de vários atores, governamentais,

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não-governamentais, sociedade civil organizada, movimentos sociais [...] desenvolvido ao longo dos anos” (BORGES e ROCHA, 2010, p. 1). Apontam, mesmo sem fazer referência, à importância dos eventos realizados no início do “Governo da Floresta”, com fóruns, reuniões, etc., que permitiram a realização do etnolevantamento e da elabora- ção dos Planos de Gestão12 das TIs, o que na opinião dos autores, diferencia-se de momentos anteriores quando as ações eram imple- mentadas de forma imediatista e semnenhum estudo. Segundo eles todo o trabalho de ATER é feito observando os referidos estudos.

No referido artigo Borges e Rocha (2010) consideram que o “Projeto Estruturante” foi um trabalho iniciado em 2001, para atender os habitantes das TIs impactadas pela pavimentação das duas BRs, “mas que devido à grande demanda e à necessida- de em se trabalhar em bases sustentáveis, atualmente procura-se atender todos os povos indígenas do Estado” (BORGES e RO- CHA, 2010, p. 2).

Segundo Borges e Rocha (2010) dentro das ações de ATER indígena, desenvolvidas no Acre tem sido de fundamental importância um agente social que tem facilitado o diálogo entre os órgãos responsáveis pelas ações e a comunidade, que é o Agente Agroflorestal Indígena – AAFI:

Só estes agentes têm condições de prestar uma efetiva e eficiente assistência técnica em suas comunidades, pois somente eles são ca- pazes de dialogar com os anciãos indígenas que ainda conhecem sementes, formas ances- trais de cultivo e coleta de produtos florestais. Os AAFIs superam uma dificuldade regional de deslocamento e longas distâncias percorri- das pelos técnicos da Seaprof, o que demanda um tempo maior entre os escritórios regionais 12 Os Planos de Gestão Territorial e Ambiental consistem em realizar oficinas, in loco, con-

tando com a participação de equipes interinstitucionais, governamentais e não gover- namentais, com o objetivo de fazer junto com as comunidades um levantamento das iniciativas presentes nas Terras Indígenas, indicando os anseios, a vocação produtiva de cada povo e as áreas destinadas a cada uma das atividades exercidas na Terra Indígena (BORGES e ROCHA, 2010, p 5).

e as aldeias, além da logística que se emprega nas viagens (BORGES e ROCHA, 2010, p.7).

Nesse sentido, o Governo precisou criar incentivo para a atuação dos AAFIs que recebem um “valor mensal a título de bolsa-auxílio [que] não fica somente com o titular, mas geralmente é repartido entre os seus ‘parentes’” (GORGES e ROCHA, 2010, p. 8). Essas são estratégias que o poder público identificou para manter a política com ações continuadas, sem sofrer interrupções, sob o risco de comprometer os benefícios que podem estar ocor- rendo, assim como a quebra do diálogo já estabelecido entre a comunidade e os órgãos responsáveis pelas ações.

Borges e Rocha (2010) afirmam que as atividades desen- volvidas têm como premissa o empoderamento dos povos indígenas ”que consiste em delegar competências às próprias comunidades, conscientizando-as de seu papel e importância na preservação do meio ambiente” (p.3). Cabe aqui questionar se a delegação de com- petência não constitui em última análise, numa “visão” tutelar do Es- tado, ainda muito presente nas políticas indigenistas, fazendo supor uma falta de capacidade dos índios na gestão e práticas ambientais. Está posto para a Gerência de Extensão indígena o de- safio de compatibilizar a introdução das técnicas que contribuirão para a melhoria da produção alimentar e excedente para comer- cialização, quando do interesse dos povos, e a valorização dos co- nhecimentos tradicionais, ou seja, manter a tradição produtiva na modernidade, observando que a tradição alimentar indígena não incluía a criação de animais silvestres. Tradicionalmente isso era feito através do modo extrativista e nele havia um componente simbólico de enorme valor cultural, presente na caça e na pesca, com a prática de rituais. Com as novas práticas, que lugar caberia a esses rituais?

Outro desafio é analisar como os programas governa- mentais promovem o reordenamento territorial do Estado, e quem são os agentes que pensam esse novo ordenamento. No caso do PDS do Acre, segundo Souza (2008) o teor do documento foi ba- seado na seguinte orientação do BID:

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No que toca à viabilidade sócio-ambiental, a finalidade é limitar, num lapso de 20 anos, a expansão da fronteira agropecuária em 16% do território acreano, de modo a reduzir o desmatamento a uma taxa de 0,4% a 0,3% por ano. Aqui o Banco já procura estabelecer uma repartição do território acreano para as finalidades de uma determinada atividade eco- nômica: 16% do território acreano equivalem à reserva de 2,64 milhões de hectares de terra destinada à atividade agropecuária(SOUZA, 2008, p. 129 e 130).

Cabe ressaltar que o conjunto dos programas destinados aos índios, no Acre, foi uma decisão de fora para dentro: por mais discutido que tenha sido com as populações, o fato de eles haverem se tornado beneficiários dos programas foi em razão de suas TIs estarem próximas às BRs, que precisam ser pavimentadas para o desenvolvimento econômico do Estado, conforme previsto no PDS.

O Governo do Acre, ao adotar o slogan de “Governo da Floresta”, reúne a combinação de interesses como o cuidado que o Estado deve ter em incluir nas políticas públicas os Povos da Flo- resta (seringueiros, índios, ribeirinhos, etc.) e isso vai influir na boa imagem que o Governo ganha junto aoutras nações e instituições financeiras internacionais, como BID e BNDES, que financiam os programas do Estado.

O Programa de Extensão Indígena está em consonância com o PDS do Acre. Este “apresenta dois objetivos gerais: a) me- lhorar a qualidade de vida da população e b) preservar o patrimô- nio natural do Estado do Acre a longo prazo” (SOUZA, 2008, p. 120). As contradições postas entre o slogan do governo e o Pro- grama de Desenvolvimento sustentável - PDS foram denunciadas na imprensa local e nacional.

O Programa de Extensão Indígena apresenta um quadro que relaciona as 34 Terras indígenas do Estado, com uma popula- ção de 12.720 índios (ACRE, 2008, p. 12 e 13). No Programa o

critério que elegeu os beneficiários é apenas o fato de as popula- ções indígenas se encontram sob a área de influência das BRs 317 e 364. A análise do PDS e do documento do BID (Propuesta de

Préstamo)13 realizada por Souza (2008) traz uma informação que

esclarece a escolha dos beneficiários do Programa de Extensão Indígena, principalmente no que se refere à pavimentação da BR 364 no trecho Rio Branco / Cruzeiro do Sul:

Quanto à viabilidade econômica especifica- mente da obra de pavimentação da estrada (70,1 km), a consideração do BID, para aná- lise de seus custos/benefícios, se dá pelo fato de que a mesma funcionará como infra-estru- tura necessária ao desenvolvimento econômi- co da região, posto que gerará um novo tráfe- go de produtos florestais (“madeira certificada em troncos das florestas de Cruzeiro de Sul”) e não florestais. Vê-se da onde vem a obsessão pela madeira (SOUZA, 2008, p. 129).

Essa evidência nega o argumento constante no Programa de Extensão Indígena que atribui a escolha ao fato de se tratarem de populações impactas pelo contato, uma vez que todas as etnias do Estado sofrem consequências das relações interétnicas.

Há uma combinação entre a exploração dos recursos ma- deireiros, a pavimentação de rodovias e as populações indígenas que ficam próximas às BRs que serão pavimentadas. Assim como há também uma contradição na conciliação de objetivos. Uma des- sas contradições é a dificuldade de manter a ordem dos objetivos do PDS nos documentos que foram emitidos posteriormente ao Contrato de Empréstimo. Segundo Souza (2008), “enquanto o Contrato coloca, no plano textual, em primeiro lugar, como ob- jetivos gerais, a qualidade de vida e a preservação ambiental,” (p.133), o objetivo geral do PDS aparece na Nota Técnica assim: “promover o crescimento econômico ambientalmente sustentável

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e a diversificação produtiva no Acre a fim de melhorar a qualidade de vida da população e preservar o patrimônio natural do Estado em longo prazo.” (ACRE, 2002, apud SOUZA, 2008, p. 133).

A pavimentação das BRs 317 já foi concluída há alguns anos, a pavimentação da BR364 encontra-se bastante adiantada e ambas dão acesso ao Pacífico e têm importância para o desen- volvimento econômico local, como se pode constatar nos registros apontados por Aquino e Iglesias (2005):

As decisões e intenções firmadas na “Primeira Reunião Binacional de Autoridades e Empre- sários do Estado do Acre-Brasil e da Região do Ucayali-Peru”14, ocorrida em Pucallpa, em

março de 2004, tomaram como antecedentes acordos e pautas negociados pelos Presidentes Lula e Alejandro Toledo na cidade de Lima em agosto de 2003, contidos no “Memorando de Entendimento sobre a Integração Física e Eco- nômica entre Brasil e Peru”, reiterados em en- contro dos Ministros das Relações Exteriores de ambos países em fevereiro de 2004. Nes- ses atos anteriores, as autoridades federais, brasileiras e peruanas, no marco da constru- ção de uma “aliança estratégica”, afirmaram respaldar as propostas da IIRSA e demonstra- ram a intenção de construir mecanismos para efetivar os três Eixos (Transoceánico Central, do Amazonas e Interoceánico del Sur) que vi- sam aprofundar a integração terrestre, fluvial e aérea entre os dois países (AQUINO e IGLE- SIAS, 2005, p.39e 40).

Mas o Programa de Extensão Indígena ainda não conse- guiu chegar à Terra Indígena do Rio Caeté dos Índios Jaminawa,

14 Consultar a "Acta de Intención para el Desarrollo del Eje Comercial y de Integración Pucal- lpa-Cruzeiro do Sul", assinada em Pucallpa a 12 de março de 2004 pelo Presidente do Go- verno Regional de Ucayali, Edwin Vásquez Lopeze pelo Governador do Acre, Jorge Viana.

como será visto, a seguir, nos resultado da pesquisa de campo. As- sim se pode concluir que a formulação de políticas públicas, além de ser influenciada pela disputa de poder e interesses da sociedade mais ampla, traz em sua fase de planejamento e execução uma série de contradições que dizem respeito às metas e objetivos, bem como à priorização dos grupos sociais beneficiados. E a defasagem entre o discurso e a prática, assim como o resultado das promessas não cumpridas, são condições das políticas públicas às quais os extensionistas devem estar atentos, já que eles se constituem na ponta de lança das intervenções sociais planejadas.