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2. CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA

2.4. O Projeto como Fator de Competitividade

A competitividade é a tradução particular da idéia de eficácia, que se aplica às empresas. A empresa eficaz é aquela que consegue transformar um grande número de pessoas em seus clientes, obter lucro e sobreviver no mercado. Para isto, num ambiente de concorrência, a empresa precisa ser competitiva, o que significa ter: um desempenho melhor que o de seus concorrentes; e vantagens competitivas, que a tornem preferida de seus clientes (MAXIMIANO, 2000).

Segundo Silva e Souza (2003), a competitividade empresarial “resulta de capacitações

acumuladas ao longo do tempo e de estratégias competitivas, numa abordagem dinâmica

sobre as percepções do processo concorrencial e do ambiente econômico”.

Conforme Ferreira (2004), estratégia é a arte de aplicar os meios disponíveis ou explorar condições favoráveis a fim de atingir objetivos específicos. De acordo com Maximiano (2000), a necessidade de planejar estrategicamente é resultado de dois conjuntos de forças principais. O primeiro compreende as oportunidades e desafios criados pelos segmentos do ambiente, como concorrência, consumidores etc. O segundo compreende os problemas e as oportunidades que surgem nos sistemas internos da organização, como as competências dos funcionários, a disponibilidade de capital etc.

A estratégia competitiva, segundo Porter (1991), é um conjunto de “ações ofensivas ou defensivas para criar uma posição defensável em uma indústria, para enfrentar com sucesso as cinco forças competitivas e, assim, obter um retorno sobre o investimento maior para a empresa”. As cinco forças competitivas de Porter, que dirigem a concorrência na indústria são: a rivalidade entre as empresas existentes, o poder de negociação dos fornecedores, o poder de negociação dos compradores, a ameaça de novos entrantes e a ameaça de produtos ou serviços substitutos.

Ao enfrentar as forças competitivas, há três abordagens estratégicas genéricas que uma empresa pode empregar para superar seus concorrentes: liderança no custo total, diferenciação e enfoque (PORTER, 1991). A primeira consiste em atingir a liderança no custo total através de um conjunto sistemático de políticas empresariais voltadas para eficiência produtiva e

organizacional6. A segunda consiste em diferenciar o produto ou o serviço oferecido pela empresa, criando algo que seja considerado único no âmbito de toda a indústria. A terceira consiste em determinar um grupo comprador como alvo estratégico e atender as necessidades deste grupo por meio de políticas empresariais votadas para este fim.

Balarine (2002) apresenta, através de evidências de mercado, as alternativas estratégicas adotadas pelas incorporadoras imobiliárias. Ampliando o campo das estratégias de Porter (1991), o autor realizou uma classificação em sete grupos: estratégias de financiamento, que são voltadas à geração de financiamento destinado à produção; recursos mercadológicos, como a utilização de campanhas publicitárias e flexibilidade de projetos; segmentação e

nichos de mercado, considerando as estratégias de marketing; internacionalização, como

estratégia para expandir a atuação da empresa para o mercado internacional; parcerias, criando alianças estratégicas com outras empresas; indicadores da qualidade e produtividade direcionados à medição do desempenho da empresa; e estratégias dinâmicas, no sentido de combinar diferentes estratégias.

Já Weisheng, Liyin e Yam (2008) identificaram fatores de sucesso críticos que determinam a competitividade dos contratantes – incorporadoras – e classificaram-nos em oito grupos: gestão do empreendimento, estrutura organizacional, recursos da organização (humanos e financeiros), estratégia competitiva, relacionamento entre os participantes do empreendimento, técnica de negociação, marketing e tecnologia (inovação). Assim, as configurações da estrutura e das operações da empresa influenciam em sua competitividade, à medida que influenciam no processo de produção do empreendimento.

Barros Neto, Fensterseifer e Formoso (2003) afirmam que, em função das competências internas da empresa, do tipo de mercado de atuação, do grau de concorrência deste mercado e do tipo de produto, há a escolha de algumas prioridades competitivas. Esta escolha deve considerar os recursos e a capacidade da empresa, como também as oportunidades de mercado, com o intuito de torná-la competitiva.

Os autores definem prioridades competitivas como sendo “um conjunto consistente de critérios que a empresa tem de valorizar para competir no mercado”. Assim, devem-se definir

os critérios competitivos mais adequados e estruturar a produção para que seja capaz de dar suporte às prioridades escolhidas. As principais prioridades competitivas existentes na literatura, segundo os autores, são: custo, qualidade, desempenho na entrega, flexibilidade, inovatividade e serviços.

O quadro 2.1 mostra a relação entre os desejos dos clientes com os critérios competitivos da produção em empresas de construção de edificações.

Quadro 2.1 – Relação dos desejos dos clientes com os critérios competitivos da função

produção das empresas de construção de edificações

DESEJOS DOS CLIENTES CRITÉRIOS COMPETITIVOS DA PRODUÇÃO

PREÇO Menor preço

Condições de pagamento

CUSTO

Menor custo (aumento da produtividade) Adequação ao fluxo de caixa

PRAZO

Prazo de entrega

Garantia de entrega no prazo

DESEMPENHO NA ENTREGA Velocidade de produção Confiabilidade de entrega PRODUTO Desempenho do produto Possibilidade de alterações Introdução de novos produtos

QUALIDADE

Conformação com os contratos Conformação com os projetos

Qualidade do processo (boa execução) FLEXIBILIDADE Flexibilidade do produto INOVAÇÃO SERVIÇOS ASSOCIADOS Durante a construção Após a construção SERVIÇOS Atendimento Assistência técnica

Fonte: (Barros Neto, Fensterseifer e Formoso, 2003)

Analisando as estratégias competitivas (ou prioridades estratégicas) das incorporadoras e construtoras mencionadas pelos autores7, é possível notar suas relações com o projeto. As

definições de projeto têm forte relação com o nicho de mercado e o recurso mercadológico escolhido, já que compõem as características do produto. Além disso, os projetos subsidiam a execução da obra e podem contribuir para a sua produtividade, dependendo do nível de construtibilidade e detalhamento das soluções. Somando um bom projeto e uma boa execução, há possibilidade de diminuir o trabalho da assistência técnica, já que o número de patologias pode diminuir.

Uma maneira de se obter um produto de boa qualidade e que atenda às necessidades dos clientes é por meio do desenvolvimento de projetos bem detalhados e compatibilizados,

permitindo que a execução do que foi determinado seja realizada da melhor maneira possível. No entanto, é importante destacar que a equipe de execução deve estar preparada para utilizar bem estes projetos, mediante, por exemplo, o treinamento dos operários (Barros Neto, Fensterseifer e Formoso, 2003).

Segundo Silva e Souza (2003), as relações que se configuram entre os agentes que desenvolvem o projeto e o cliente contratante integram uma grande cadeia de relações, pautada nas estratégias de competição específicas destes agentes. Porém, um aspecto de importância maior é a estratégia de competição do agente responsável pelo empreendimento. Isto porque é ele quem identifica e atende a demanda por um produto (edificação), em que o projeto detém um grande potencial como determinante do desempenho competitivo deste agente.

Em função da importância estratégia do projeto para a empresa incorporadora/construtora e para o sucesso do empreendimento, há uma ligação de interdependência do processo de projeto e as atividades dos demais processos da empresa. Através do estabelecimento claro das interfaces entre o processo de projeto e os demais processos, é possível estabelecer os canais de comunicação entre o projeto (definição do produto e de seu processo produtivo), o planejamento e controle da produção e a execução da edificação.

Cardoso, Silva e Fabricio (1998) afirmam que os serviços de engenharia e projetos têm papel importante na produção do empreendimento e, por conseguinte, na ampliação da capacidade competitiva das empresas incorporadoras e construtoras. Os serviços de engenharia e projetos, segundos os autores, subsidiam a realização de diversas atividades do processo de produção, desempenhando diferentes funções, com importantes desdobramentos para a qualidade e produtividade. Assim, eles detém uma parcela significativa de responsabilidade quanto aos resultados financeiros e comerciais dos empreendimentos, com a produtividade e qualidade dos processos de produção e com o nível de atendimento às necessidades e expectativas dos clientes/usuários.

O Quadro 2.2 mostra a importância dos serviços de engenharia e projetos ao longo do processo de produção de um empreendimento.

Quadro 2.2 – A importância dos serviços de engenharia e projetos ao longo do processo de

produção de um empreendimento (genérico) ATIVIDADES DO

PROCESSO DE PRODUÇÃO

SERVIÇOS DE ENGENHARIA E

PROJETOS OS SERVIÇOS INFLUENCIAM...

Comercial

Estudos de viabilidade, anteprojeto, orçamentos (estimativas).

Características preliminares do produto e atendimento dos anseios do mercado quanto a tipologias;

Definição dos prazos e possibilidades de fluxos de investimento dos clientes;

Previsão de custos e possibilidade de desembolso do público alvo.

Estudos de concepção e projetos

Projetos e detalhamentos,

orçamentos detalhados. Qualidade dos projetos e construtibilidade e qualidade do produto (prometida); Determinação dos custos do empreendimento. Logística de

suprimentos

Detalhamentos/especificações, orçamentos, planejamento e programação da produção.

Corretas especificações e quantificações dos insumos;

Confiabilidade dos cursos orçados;

Previsão e controle das quantidades e “tempos” para aquisição de insumos (materiais e humanos) Logística de canteiro Projetos de canteiro de obras, gestão dos fluxos internos Definições de “layout” de canteiro e almoxarifado, planejamento e controle dos fluxos de materiais e

serviços (pessoas). Execução

Projetos, estudos de preparos e métodos, projetos para produção, engenharia de segurança

Construtibilidade dos projetos, racionalização e produtividade dos procedimentos construtivos, atendimentos dos requisitos de qualidade do produto e produtividade do processo, segurança e higiene no trabalho.

Assistência técnica Projeto e especificações Ausência de defeitos/patologias, qualidade do produto (vivenciada).

Fonte: (adaptado de CARDOSO, SILVA e FABRICIO, 1998)

Diante do exposto, pode-se inferir que estudar aspectos relacionados ao projeto é importante. Dessa forma, o Capítulo 3 trata da gestão de seu processo e de sua caracterização como prestação de um serviço.