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3. A QUALIDADE NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO DE PROJETO DE EDIFICAÇÕES

3.2. Prestação do Serviço de Projeto

3.2.3. Parcerias entre o Contratante e os Projetistas

Parceria, segundo Ferreira (2004), é uma “reunião de pessoas que visam a interesse comum; sociedade”. Parceiro, segundo o mesmo autor, é “aquele que está em parceria; sócio” ou “pessoa com quem se joga”.

A partir das considerações de diversos autores, Martins e Barros (2005) definem parceria como sendo “um compromisso formal, baseado nos princípios de colaboração e confiança, estabelecido no mais alto nível hierárquico entre duas ou mais empresas visando alcançar objetivos comuns”.

Fabricio e Melhado (1998) entendem como parceria entre construtora e projetistas “uma ligação duradoura baseada na competência técnica e no intercâmbio de informações, no qual o preço do serviço de projeto fica relativizado pelo potencial de melhoria no processo de produção e na qualidade do produto, que podem ser conseguidos com projetos melhores e mais adequados às necessidades construtivas”.

As parcerias podem implementar a cooperação no empreendimento, proporcionando aumento da produtividade, redução das disputas e a introdução de inovações tecnológicas. As parcerias podem enfatizar a criação de sinergia entre os participantes, o processo de gerenciamento, a formação de equipes com objetivos comuns e a influência no contrato. Elas encorajam atitudes que agregam valor para o cliente frente aos desafios impostos pelo contexto empresarial e pelo mercado global (GRILO, 2002).

A parceria, tal qual como é estudada aqui, não é comumente percebida no mercado imobiliário, sendo que, em geral, são verificadas relações que se estabeleceram pelo tempo e que efetivamente são falhas, no que diz respeito ao comprometimento (AQUINHO e MELHADO, 2003).

Ainda assim, as parcerias apresentam um grande potencial de contribuição para a resolução dos problemas de interação entre contratante e contratados. Os objetivos principais desta articulação são: readequar as relações; criar um ambiente de Engenharia Simultânea; configurar programas comuns e articulados de melhoria da qualidade; permitir a visão global do empreendimento; aumentar o intercâmbio técnico; possibilitar a busca de melhores soluções; aumentar a construtibilidade dos projetos; aumentar a qualidade do produto final (FABRICIO e MELHADO, 1998; SALES et. al, 2003).

As parcerias possibilitam à construtora: assumir um papel pró-ativo em relação aos projetos; subsidiar os projetistas com informações e orientações sobre as soluções cotidianas; liderar um processo de incremento técnico e de introdução de inovações; proporcionar mais trabalhos aos projetistas que se mostram qualificados (FABRICIO e MELHADO, 1998; SALES et. al 2003).

Quanto aos projetistas, as parcerias buscam: adequar os projetos às necessidades e aos processos produtivos da empresa construtora; alinhar os projetistas com as estratégias da construtora; possibilitar a venda de serviços de projetos mais qualificados (FABRICIO e MELHADO, 1998; SALES et. al, 2003).

Há alguns obstáculos que limitam a qualidade dos projetos e a configuração de parcerias (MELHADO, 1994; FABRICIO et.al, 1999):

• o trabalho não sistematizado e descoordenado das diversas equipes de projeto; • diversos níveis de organização dos diferentes integrantes do processo;

• empresas preocupadas apenas com suas práticas internas;

• heterogeneidade intensa dos fornecedores dos serviços de projetos; • a ausência de um projeto voltado à produção;

• a falta da definição de padrões e procedimentos para contratação de projetistas; • a realização de uma compatibilização de projetos eficiente;

• as falhas no fluxo de informações internas à empresa construtora, falta de indicadores da produção, prejudicando o processo de retroalimentação de projetos futuros.

Para que estes obstáculos não sejam decisivos, a parceria deve ser implantada envolvendo estágios, contribuindo para o amadurecimento da relação estabelecida. Conforme Martins e

Barros (2005), “o conceito de parceria pode ser adotado progressivamente através de colaborações informais que evoluem para relações de parceria com estrutura formal”.

Dwyer; Schurr e Oh (1987)17, citados por Isatto (1996), afirmam que as parcerias devem ser implantadas através de um processo que envolve diferentes estágios englobando cinco fases gerais:

• conhecimento mútuo: inicia-se quando uma empresa identifica a possibilidade de realizar uma parceria com outra, sendo que “somente ocorrem reações unilaterais, nas quais os possíveis parceiros posicionam-se e adquirem uma postura propícia ao início da relação de parceria”;

• exploração: inicia-se quando ocorrem as primeiras interações bilaterais, “onde os participantes consideram suas obrigações, benefícios, encargos e a possibilidade de trocas”;

• expansão: ocorre quando os participantes consideram-se satisfeitos com o desempenho da outra parte. Nesta etapa, “a relação de parceria passa a proporcionar maiores benefícios e interdependência para os participantes”. No entanto, “a confiança e a satisfação mútua levam a um aumento nos riscos envolvidos na relação, principalmente porque os ganhos obtidos então dificultam a substituição do parceiro por outra empresa”;

• comprometimento: “refere -se a garantias implícitas ou explícitas da continuidade da parceria”. Nesta fase, a satisfação com a parceria impede a participação de outros possíveis parceiros que poderiam proporcionar os mesmos benefícios;

• dissolução: ocorre “quando os benefícios da parceria são superados pela insatisfação de um ou ambos os parceiros, inicia-se um processo de dissolução”.

Segundo Bertezini (2006), há uma tendência das empresas contratantes trabalharem em parceria com as empresas de arquitetura. Isto acarreta benefícios e desvantagens. De acordo com a autora, por um lado a parceria estreita o contato entre contratante e arquitetos, gerando benefícios ao processo de projeto. Por outro lado, é responsável pela dificuldade de evolução dos métodos de avaliação e de implantação de melhorias no processo de projeto.

17 DWYER, F.R.; SCHURR, P.H.; OH, S. Developing buyer-seller relationships. Journal of Marketing, v. 51,

Através da parceria, o projetista consolida as técnicas e tecnologias dos contratantes em seus projetos. Porém, colabora para a estagnação da empresa de arquitetura que, acostumada com o método de trabalho do contratante, não se preocupa em apresentar alternativas de inovações e evoluções para os projetos. Além de dificultar a entrada de novas empresas de arquitetura no mercado, diminuindo a concorrência sadia (BERTEZINI, 2006).

Em seus estudos18, Souza e Melhado (2003) verificam que os contratantes manifestam preferência por certo projetista de arquitetura, sobrecarregando as empresas de projeto, que não conseguem cumprir os prazos estipulados. Os contratantes escolhem o mesmo projetista para determinadas regiões de lançamento dos empreendimentos. Desse modo, Bertezini (2006) atenta para o fato de que a parceria pode prejudicar a avaliação do projetista, já que há ausência de comparação entre as empresas concorrentes, dificultando a implantação de melhorias no processo de projeto.

Em geral, os estudos mencionam a parceria entre o contratante e o projetista de arquitetura. Souza e Melhado (2003) comentam a respeito de uma empresa que mantém parceria também com o projetista paisagista, justificando que estes – arquiteto e paisagista – representam um retorno de vendas para a empresa contratante. Não foram verificados estudos sobre as parcerias com os projetistas das outras especialidades de projeto.