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Capítulo 2:.Um modelo para a criação e desenvolvimento do

2.2 O que é o modelo

O modelo proposto por Nonaka e Takeuchi para propiciar a criação do conhecimento organizacional é baseado na distinção entre conhecimento tácito e conhecimento explícito e considera que deve ser dada atenção especial aos processos de canalização e conversão do conhecimento tácito O modelo também considera uma forma de gerenciamento para empresas geradoras de conhecimento, gerência middle-up-down, e uma estrutura organizacional, organização em hipertexto, que serão apresentadas posteriormente.

O conhecimento tácito é aquele pessoal, difícil de ser comunicado. Modelos mentais, técnicas e habilidades compõem este tipo de conhecimento. O conhecimento explícito é aquele que pode ser codificado e transmitido em linguagem formal.

Outro ponto básico do modelo é de que o conhecimento é criado por indivíduos e o conhecimento organizacional é uma ampliação do conhecimento individual, que passa a fazer parte da rede de conhecimentos da organização.

Nonaka e Takeuchi consideram então que o processo social de interação entre os indivíduos proporciona a conversão de conhecimento tácito e de conhecimento

explícito, fazendo com que o conhecimento aumente na organização. Os autores propõem, deste modo, uma “espiral” da criação do conhecimento (figura 2.1), que surge pela interação entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito dos indivíduos e é expandido na organização.

Figura 2.1 – espiral de criação do conhecimento organizacional: Fonte: Nonaka e Takeuchi (1997).

A interação de conhecimento tácito e explícito produz quatro tipos de conhecimento: 1) conhecimento compartilhado, gerado pela conversão de conhecimento tácito em tácito: são os modelos mentais e habilidades compartilhadas (socialização); 2) conhecimento conceitual, gerado pela conversão de conhecimento tácito em explícito: criação de conceitos, normalmente através de metáforas e analogias

(externalização); 3) conhecimento sistêmico, gerado pela conversão de conhecimento explícito em explícito: obtido atualmente principalmente através do uso criativo de redes computadorizadas e bancos de dados (combinação); 4) conhecimento operacional, gerado pela conversão de conhecimento explícito em tácito: aprimora o gerenciamento de projetos, processos de produção, uso de novos produtos e implementação de políticas (internalização).

Desta forma, esses conteúdos de conhecimento interagem entre si na espiral de criação do conhecimento.

Segundo Nonaka e Takeuchi, as seguintes condições em nível organizacional podem promover a espiral do conhecimento:

(1) Intenção: aspiração de uma organização às suas metas; (2) Autonomia: no nível individual, todos os membros devem agir de forma autônoma conforme as circunstâncias. Ao permitir essa autonomia, a organização amplia a chance de introduzir oportunidades inesperadas; (3) Flutuação e caos criativo: colapso de rotinas, hábitos ou estruturas cognitivas; (4) Redundância: superposição intencional de informações sobre atividades da empresa, responsabilidades da gerência e sobre a empresa como um todo; (5) Variedade de requisitos: para maximizar a variedade, todos na organização devem ter a garantia do acesso mais rápido à mais ampla gama de informações necessárias, percorrendo o menor número possível de etapas

De acordo com a teoria exposta, podemos considerar o seguinte modelo integrado de cinco fases do processo de criação do conhecimento organizacional, considerando a dimensão de tempo: (1) compartilhamento do conhecimento tácito; (2) criação de conceitos; (3) justificação dos conceitos; (4) construção de um arquétipo; e (5) difusão interativa do conhecimento.

No que se refere ao processo gerencial, Nonaka e Takeuchi consideram que o gerente de nível médio está no centro da gestão do conhecimento e propõem o que chamam de modelo middle-up-down.

Neste modelo, o conhecimento é criado pelos gerentes de nível médio, que são freqüentemente líderes de uma equipe ou força-tarefa, através de um processo em espiral de conversão que envolve tanto a alta gerência quanto os funcionários de linha de frente. A alta gerência cria uma visão ou sonho, enquanto a gerência de nível médio desenvolve conceitos que os funcionários da linha de frente possam compreender e implementar. Os gerentes de nível médio tentam resolver a contradição entre o que a alta gerência espera criar e o que realmente existe no mundo real.

Nonaka e Takeuchi classificam os indivíduos de uma organização criadora de conhecimento em: profissionais do conhecimento, engenheiros do conhecimento e gerentes do conhecimento.

Os profissionais do conhecimento são responsáveis pelo acúmulo e pela geração de conhecimento tácito (operadores do conhecimento) e explícito (especialistas do conhecimento). No grupo de especialistas de conhecimento estão os cientistas de P&D, engenheiros de software e especialistas como de finanças e marketing.

Os gerentes e engenheiros do conhecimento precisam dar a estes profissionais tarefas desafiadoras para permitir o acúmulo de experiências.

Os engenheiros do conhecimento são os responsáveis pela conversão do conhecimento tácito em explícito e vice-versa. São os gerentes de nível médio, responsáveis pela criação dos conceitos. Conseguem o equilíbrio entre o que é e o que deve ser. Refazem a realidade, segundo a visão da empresa.

Os gerentes do conhecimento são responsáveis pela gestão do processo total de criação do conhecimento em nível de empresa. Os gerentes do conhecimento dão senso de direção às atividades de criação do conhecimento de uma empresa, (1) expressando os conceitos principais sobre o que a empresa deve ser (2) estabelecendo uma visão do conhecimento sob a forma de uma visão da empresa ou declaração de políticas e (3) estabelecendo padrões que justifiquem o valor do conhecimento que está sendo criado. No que se refere à estrutura organizacional para permitir a criação de conhecimento da forma mais adequada e contínua em uma organização, Nonaka e Takeuchi propõem o que denominam de organização em “hipertexto”. Trata-se de uma combinação de duas formas tradicionais de estrutura organizacional, a burocracia e a força-tarefa, atuando em conjunto com um terceiro nível que os autores denominam de base de conhecimento.

Esta estrutura organizacional, como mostra a figura 2.2, é constituída de níveis interconectados, ou contextos: o sistema de negócios (estrutura burocrática), a equipe de projetos (força-tarefa) e a base de conhecimentos. A denominação de hipertexto se deve a uma metáfora obtida de um conceito desenvolvido em informática, onde um hipertexto é uma referência cruzada de material, com desvios para informações desejadas com vídeos, gráficos, softwares, dados, e textos em variados níveis de detalhes e níveis de abstração.

Figura 2.2 – Organização em hipertexto: Fonte: Nonaka e Konno (1993).

Para Nonaka e Takeuchi, uma organização de negócios deve ser equipada para explorar, acumular, compartilhar e criar novo conhecimento de forma contínua e repetida em um processo dinâmico e em espiral. Desse ponto de vista, a burocracia é eficaz para exploração e acúmulo de conhecimento (combinação e internalização) e a força-tarefa é eficaz no compartilhamento e criação do conhecimento (socialização e externalização). A organização de negócios deve buscar tanto a eficiência de uma burocracia quanto a flexibilidade de uma força-tarefa.

A principal característica de uma organização em hipertexto é a capacidade de seus membros de mudar de contexto. Os membros de uma equipe de projeto são selecionados de diversas áreas da organização para a execução de um projeto, engajando-se em atividades de criação de conhecimento. Ao final do projeto, esses membros passam para o nível de base de conhecimento (estrutura virtual), onde é feito um levantamento do conhecimento criado e adquirido. Esse levantamento inclui sucessos e fracassos que são documentados e analisados. A seguir, esses membros da organização voltam para suas atividades de rotina no nível de sistemas de negócios, de onde serão recrutados posteriormente para um novo projeto.

Uma organização em hipertexto tem a capacidade organizacional de converter contínua e dinamicamente os diferentes conteúdos do conhecimento gerados pela burocracia e pela equipe de projeto.