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O questionário como instrumento multifacetado de coleta e produção de dados

CAPÍTULO 3 PROCEDIMENTOS DE PRODUÇÃO E ORGANIZAÇÃO DE DADOS

3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DE PESQUISAS EM

3.2.2 O questionário como instrumento multifacetado de coleta e produção de dados

Atendendo aos critérios de objetividade e clareza nas questões propostas, bem como à necessidade de lógica interna que garanta acesso às informações desejadas e possibilidade de tratamento adequado dessas informações, elaborou-se o questionário de coleta e/ou produção de dados deste estudo.

O questionário utilizado foi dividido em quatro partes, de acordo com os aspectos das Representações Sociais dos alunos sobre os cursos de licenciatura que se desejava abordar. A seguir são descritas cada uma dessas partes.

A primeira parte, composta de três questões, voltou-se para a abordagem estrutural das RS. Por essa razão, foram utilizadas as técnicas de Associação Livre de Palavras (ALP) e Triagens Hierárquicas Sucessivas.

A Associação Livre de Palavras consiste em pedir aos sujeitos que evoquem o que têm em mente quando se deparam com um mote indutor, que geralmente é o rótulo do objeto de representação em estudo. Conforme citado no item 3.1, essa técnica tem a vantagem de fornecer informações numerosas, de maneira rápida e pouco dispendiosa, já que com uma única questão é possível ter boas pistas do que o mote indutor ativa na memória da amostra da população estudada. Para Abric (1998), a evocação livre de palavras é “uma técnica maior para coletar os elementos constitutivos do conteúdo de uma representação” (p. 66), possibilitando a identificação dos possíveis elementos do Núcleo Central e do Sistema Periférico.

Ao longo do desenvolvimento da Abordagem Estrutural das Representações Sociais, foram sendo propostos complementos para testar a relevância e o papel dos elementos identificados por meio da ALP. Criaram-se assim métodos, como as Triagens Hierárquicas Sucessivas que, neste estudo, é utilizado no momento das entrevistas.

Por conseguinte, na primeira parte do questionário, solicitou-se aos sujeitos a escrita das 5 (cinco) primeiras palavras que lhes viessem à mente sobre:

I. contribuições do curso para ensinar matemática na Educação Básica; II. contribuições do estágio para ensinar matemática na Educação Básica; III. contribuições do PIBID (quando partícipe) para ensinar matemática na Educação Básica.

Para cada uma das evocações, pediu-se aos sujeitos que enumerassem de 1 (um) a 5 (cinco) as palavras citadas, de acordo com a importância que atribuíam a

elas. Para finalizar, instou-se os sujeitos a justificar a escolha da palavra considerada como mais importante e escrever uma justificativa de, no mínimo, cinco linhas para a escolha.

Os dados produzidos por meio da técnica de Associação Livre de Palavras foram tratados por meio do software EVOC. No momento de apresentação dos dados obtidos por essa parte do questionário, será apresentada descrição sucinta do referido

software.

Na segunda parte do questionário, lançou-se mão do uso de escalas de atitude, consideradas instrumentos adequados para mediar a intensidade das atitudes e opiniões dos sujeitos sobre determinado objeto de estudo, de forma mais objetiva possível. Esse tipo de instrumento é bastante utilizado em pesquisas em Psicologia Social. Dentre os vários tipos de escalas existentes com essa finalidade, optou-se pela Escala de Likert (na segunda parte do questionário) (CUNHA, 2007).

De acordo com os pressupostos dos usos da Escala de Likert, foram apresentadas aos sujeitos 11 (onze) afirmativas sobre possíveis contribuições de cursos de formação de professores para atuar na Educação Básica. As afirmativas fundamentaram-se nos objetivos elencados pela legislação do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência — PIBID. Considerou-se que tais afirmativas serviam a todos os sujeitos da amostra, mesmo os que não participavam de tal programa, devido ao seu teor estar relacionado a importantes pontos sobre a formação incial de professores da Educação Básica que vêm sendo discutidos na literatura da área.

A partir da análise das afirmativas apresentadas, o sujeito deveria expressar sua atitude em relação a diferentes experiências vivenciadas em seu curso de formação de professores. O grau de concordância variava entre: muito, razoavelmente, pouco, muito pouco e nada. Logo, os respondentes não apenas respondiam se concordavam ou não com as afirmações, mas também informavam qual seu grau de concordância ou discordância em relação a elas.

Essa parte tinha como objetivo trazer um delineamento inicial das atitudes dos sujeitos em relação à formação docente nos diferentes espaços dos cursos que frequentavam. No quadro a seguir, apresentam-se as onze afirmativas utilizadas exatamente da forma como foram apresentadas aos sujeitos.

QUADRO 5 – AFIRMATIVAS SOBRE CURSOS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES UTILIZADAS EM QUESTÕES DE ESCALAS DE ATITUDE, NA 3ª PARTE DO QUESTIONÁRIO

I. A atuação na escola básica durante o curso de formação de professores permitiu a aquisição de conhecimentos sobre a profissão docente.

( ) Muito ( ) Razoavelmente ( ) Pouco ( ) Muito pouco ( ) Não contribuiu II.O curso incentivou a formação para atuação como professor da Educação Básica. ( ) Muito ( ) Razoavelmente ( ) Pouco ( ) Muito pouco ( ) Não contribuiu III .O curso promoveu a integração entre ensino superior e Educação Básica.

( ) Muito ( ) Razoavelmente ( ) Pouco ( ) Muito pouco ( ) Não contribuiu

IV. O curso proporcionou oportunidades de criação e participação em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter inovador e interdisciplinar.

( ) Muito ( ) Razoavelmente ( ) Pouco ( ) Muito pouco ( ) Não contribuiu

V. O curso contribuiu para a elaboração de diagnósticos de problemas identificados no processo de ensino-aprendizagem.

( ) Muito ( ) Razoavelmente ( ) Pouco ( ) Muito pouco ( ) Não contribuiu

VI. O curso contribuiu para reflexões sobre formas de superação de problemas diagnosticados no processo de ensino-aprendizagem.

( ) Muito ( ) Razoavelmente ( ) Pouco ( ) Muito pouco ( ) Não contribuiu

VII. O curso promoveu inserções dos acadêmicos no cotidiano de escolas da rede pública de Educação Básica.

( ) Muito ( ) Razoavelmente ( ) Pouco ( ) Muito pouco ( ) Não contribuiu

VII. As atividades do curso contemplaram a Educação Básica em diferentes modalidades, a saber: educação de jovens e adultos, espaços de educação não-formal, entre outros.

( ) Muito ( ) Razoavelmente ( ) Pouco ( ) Muito pouco ( ) Não contribuiu

IX. O curso possibilitou o estudo de documentos que norteiam o planejamento e desenvolvimento das atividades docentes, tais como: o projeto político-pedagógico da escola, os Parâmetros Curriculares Nacionais, as Diretrizes Curriculares Estaduais para a Educação Básica e documentos referentes à gestão escolar.

( ) Muito ( ) Razoavelmente ( ) Pouco ( ) Muito pouco ( ) Não contribuiu

X. O curso contribuirá para a transformação do quadro de fracasso escolar em matemática apresentado pelos alunos de acordo com avaliações nacionais e internacionais.

( ) Muito ( ) Razoavelmente ( ) Pouco ( ) Muito pouco ( ) Não contribuiu XI. O curso contribuiu para a valorização do magistério como perspectiva profissional. ( ) Muito ( ) Razoavelmente ( ) Pouco ( ) Muito pouco ( ) Não contribuiu Fonte: A autora.

Na terceira parte do questionário, com o objetivo de fomentar reflexões sobre alguns dos principais problemas apontados em pesquisas sobre processos de formação de professores (FIORENTINI, 2002; WOLSKI, 2007), apresentou-se ao sujeito duas afirmativas excludentes para posicionamento a favor de uma ou outra. As afirmativas foram baseadas nas diretrizes17 curriculares nacionais para formação de professores, vigentes em 2014 e julho de 2015, época de preparação e aplicação do instrumento em discussão.

17 Resolução CNE/CP 1, de 18 de fevereiro de 2002, instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena.

Ainda no quinto item dessa parte do questionário, além de escolher entre as duas afirmativas excludentes, os sujeitos deveriam dissertar sobre como compreendiam a articulação entre teoria e prática. A reposta dada pelos sujeitos a essa questão foi tratada com o auxílio do software ALCESTE. No quadro a seguir, apresentam-se as cinco afirmativas exatamente da forma como foram apresentadas aos sujeitos.

QUADRO 6 – AFIRMATIVAS EXCLUDENTES SOBRE ENCAMINHAMENTOS NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA PARA ANÁLISE DOS SUJEITOS

Para cada frase, assinale o complemento que mais reflete sua forma de pensar sobre seu curso de

formação.

1. Os professores das diversas disciplinas do curso de Licenciatura em Matemática... a) trabalharam de forma isolada durante o curso.

b) trabalharam de forma articulada, focando a formação para o ensino de matemática na Educação Básica.

2. Os professores supervisores técnicos das escolas de Educação Básica ...

a) participaram ativamente de minha formação para o ensino de matemática na Educação Básica. b) apenas receberam os estagiários para as atividades de docência.

3. Após a realização de atividades nas escolas...

a) aconteceu rotineiramente, em aula na universidade, a reflexão sobre as atividades desenvolvidas, individual e coletivamente.

b) não houve momentos de reflexão, individual ou coletiva, sobre as atividades desenvolvidas nas escolas.

4. As diversas disciplinas do curso de Licenciatura em Matemática...

a) não possibilitaram o estabelecimento de relações entre os conteúdos do ensino superior e os conteúdos ensinados na Educação Básica.

b) possibilitaram estabelecer relações dos conteúdos tratados no ensino superior e conteúdos da Educação Básica.

5. Ações implementadas no curso...

a) em todas as disciplinas, contribuíram para a articulação entre teoria e prática.

b) apenas nas disciplinas de conteúdo específico pedagógico contribuíram para a articulação entre teoria e prática.

c) não contribuíram para a articulação entre teoria e prática.

Considere a questão 5 (cinco) e explique como você compreende a articulação entre teoria e prática. Escreva no mínimo 5 linhas.

Finalmente, na quarta parte do questionário, foi utilizada a escala de atitude do tipo Diferenciador Semântico18. Esse tipo de escala é composto por um par de adjetivos com significados mais opostos possível, entre os quais se estabelece uma escala de 5, 7 ou 11 pontos. Solicita-se ao sujeito que assinale na referida escala o que sente em relação ao objeto de estudo para cada par de adjetivos.A atitude do sujeito é dada pela soma dos pontos atribuídos em cada par de adjetivos (CUNHA, 2007).

Seguindo esses procedimentos, apresentou-se uma lista de palavras contrárias, com o objetivo de levar o sujeito a mostrar sua opinião sobre as atividades realizadas durante o curso de Licenciatura em Matemática quanto à preparação para a docência na Educação Básica. Perguntava-se, por exemplo, se estas atividades tendiam mais para pontuais ou constantes. Havia, então, uma escala ligando uma palavra a outra, onde o aluno deveria mostrar para qual direção sua opinião tendia e em que grau. A seguir, o quadro que apresenta a forma como a questão sobre escala do tipo diferenciador semântico foi apresentada aos sujeitos.

QUADRO 7 – PALAVRAS UTILIZADAS PARA ESCALAS DO TIPO DIFERENCIADOR SEMÂNTICO

18 As escalas de Diferenciador Semântico foram introduzidas por Osgood, em 1952, na sequência de estudos desenvolvidos no quadro de teorias da aprendizagem. Ao estudar vários pares de adjetivos opostos, identificaram-se, através da análise fatorial, três fatores: avaliação, potência e actividade. Em que, BOM – MAU e AGRADÁVEL – DESAGRADÁVEL constituem exemplos de pares de adjetivos antagónicos que integram a dimensão avaliação. A dimensão actividade pode ser ilustrada com os adjectivos do tipo RÁPIDO – LENTO e ACTIVO – PASSIVO, sendo da esfera da potência os pares do tipo RIJO – MACIO, GRANDE – PEQUENO [sic] (LIMA, 2000).

de formação específica de formação pedagógica

dinâmicas mecânicas diversificadas repetitivas articuladas desarticuladas constantes pontuais relevantes irrelevantes suficientes insuficientes planejadas improvisadas

Fonte: A autora.

Ao final da quarta parte do questionário, focou-se no processo de objetivação, por meio do seguinte mote indutor: Ser professor é... No momento das análises de dados, os resultados obtidos a partir dessa questão não foram utilizados, pois entendeu-se que as respostas dadas pelos sujeitos não iam ao encontro das questões de estudo, pois forneciam dados relativos à representação social da profissão docente e não das contribuições do curso para a formação para a docência.

Mesmo diante desse contexto, optou-se por manter o instrumento de produção de dados em seu formato original, por considerar-se que a reflexão sobre os procedimentos metodológicos como um todo pode, por si só, trazer contribuições para futuros estudos na área de Representações Sociais, ou ainda, para a própia área de metodologia de pesquisa.

Os questionários foram aplicados pela própria pesquisadora em visitas às instituições selecionadas durante o ano de 2015. Durante essas visitas, além da aplicação dos questionários, dialogava-se com a coordenação de curso, professores de estágio, coordenadores de PIBID da IES e alunos participantes da pesquisa. Esses momentos de permanência em campo foram importantes para perceber os contextos de cada curso participante da pesquisa.