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O regime jurídico de normas técnicas

D. metodologia a ser utilizada

4. NORMAS TÉCNICAS

4.7. O regime jurídico de normas técnicas

Quanto à exigibilidade das normas técnicas verifica-se a natureza de uso voluntário para alguns setores, isto é, sem a natureza do imperativo público, entretanto, tornam-se normas jurídicas com caráter imperativo todas aquelas relacionadas aos direitos fundamentais de saúde, segurança e meio ambiente, quando publicadas pelo Estado de diferentes maneiras, como a seguir exemplificadas.

Para se demonstrar as diferenças entre as distintas normas técnicas, compara-se as normas técnicas publicadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, com as normas técnicas setoriais e empresariais, v.g. as normas publicadas pela UNESP destinadas a reger apenas os alunos e candidatos, bem como aquelas publicadas pelo Grupo Gás Natural, as quais regulamentam procedimentos internos de uma empresa.

As normas técnicas homologadas pela ABNT em face do poder delegado pelo CONMETRO/SINMETRO, cuja correta nomenclatura é norma brasileira e a simbologia NBR atendem às necessidades do sistema de normalização brasileiro,

300SILVEIRA, Newton. As fronteiras da técnica. In: LIMA, Luís Felipe Balieiro (Coord.). Propriedade

produzem diferentes efeitos jurídicos das normas técnicas promulgadas por empresas e outros entes jurídicos.

A norma técnica brasileira é norma de natureza pública de eficácia erga omnes, enquanto que normas técnicas, como, por exemplo UNESP, Gás Natural têm eficácia interna corporis, ou seja, delimitada.

A Lei n.º 8.078, de 11 de setembro de 1990, no capítulo que regula as práticas abusivas, estipula como dever do fornecedor de produtos ou serviços, o uso de normas técnicas expedidas pelos órgãos oficiais competentes, ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - CONMETRO”.301

O artigo 6º, inciso X, artigo 12, inciso VI e o artigo 75, todos da Lei 8.666, de 21 de junho de 1993, determinam que as normas técnicas da ABNT devam ser observadas nos processos de licitação, sob pena de nulidade.302 Estes são alguns exemplos, entre muitas ocorrências percebidas nas Leis nº. 8.974 de 05.01.1995, Decreto nº. 508 de 11.12.2002, Decreto nº 1.787 de 12.01.1996, Lei nº 10.098 de 19.12.2000, Decreto nº. 3.298 de 20.12.99.

O Decreto nº. 2.181, de 20 de março de 1997 estabelece que as normas gerais de aplicação das sanções administrativas previstas na Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990 ao dispor sobre a organização do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor – SNDC, precisamente nas letras “a” e “b” do inciso IX do artigo 12 e inciso III do art. 18.

A ABNT age por delegação do poder público e seus atos não são, por isso, atos oficiais, cogentes, mas como atos públicos dão suporte para normas jurídicas e quando

301Art. 39 - É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços:

VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes, ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - CONMETRO;”

302Destacam-se os seguintes preceitos: “Art. 6º Para os fins desta lei, considera-se: (...) X - Projeto Executivo - o conjunto dos elementos necessários e suficientes à execução completa da obra, de acordo com as normas pertinentes da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT);

Art. 12. Nos projetos básicos e projetos executivos de obras e serviços serão considerados principalmente os seguintes requisitos:VI - adoção das normas técnicas, de saúde e de segurança do trabalho adequadas; Art. 75. Salvo disposições em contrário constantes do edital, do convite ou de ato normativo, os ensaios, testes e demais provas exigidos por normas técnicas oficiais para a boa execução do objeto do contrato correm por conta do contratado.”

tais regras são veiculadas em leis e atos normativos em geral, tornam-se obrigatórias e vinculantes e não faz sentido que uma lei fixe determinada ação ou omissão, com base em norma técnica e, o ordenamento jurídico, por outro lado, impeça ou dificulte o conhecimento do seu conteúdo, porquanto é essa padronização que esclarece a exigência de conduta ou abstenção legal.

O Código de Defesa do Consumidor, no inciso VIII, do artigo 39, ao vedar que o fornecedor comercialize produtos e serviços em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou por aquelas divulgadas pela ABNT ou outra entidade credenciada aos órgãos públicos de metrologia e normalização, obriga o fornecedor a se pautar pelo conteúdo específico da norma e para isso, precisa ter acesso.

As normas tornam-se obrigatórias quando explicitadas pelo Estado por meio de lei, decreto, portaria, etc, ou quando citadas em contratos entre particulares ou entes públicos.

Cunha Ferraz303 analisa os efeitos jurídicos da normalização no sistema jurídico brasileiro e verifica ser obrigatória e cogente a natureza jurídica, bem como, identifica os efeitos acarretados pelo descumprimento do artigo 39 do Código de Defesa do Consumidor, na Lei de Licitações Públicas, em resoluções e portarias de órgãos públicos integrantes da Administração Pública Federal (INMETRO e CONMETRO).

Seu estudo aponta o fundamento, a natureza e a finalidade da normalização no quadro das atividades desenvolvidas nos mais variados setores da vida econômica, industrial, de produção e de serviços que permeia a sociedade; e, as implicações do Princípio da Legalidade no campo na normalização técnica.

Se a Norma Brasileira - NBR é vinculante e se sua homologação está afeita à A.B.N.T., como Fórum Nacional de Normalização, ressalta evidente que tal entidade age como agente público que é, ou seja, sujeita seus gestores ao arcabouço de deveres dos demais agentes públicos, conforme observa-se na doutrina de Bandeira de Melo304.

303FERRAZ, Anna Candida da Cunha. op. cit., p. 63-95: Seu estudo aponta o fundamento, a natureza e a finalidade da normalização no quadro das atividades desenvolvidas nos mais variados setores da vida econômica, industrial, de produção e de serviços que permeia a sociedade; e, as implicações do Princípio da Legalidade no campo na normalização técnica.

304MELLO, Celso Antônio Bandeira de. op. cit., p. 226-227, conforme observa-se na doutrina de Bandeira de Melo: “Quem quer que desempenhe funções estatais, enquanto as exercita, é um agente público. Por isto, a noção abarca tanto o Chefe do Poder Executivo (em quaisquer das esferas) como os senadores, deputados, vereadores, os ocupantes de cargos ou empregos públicos da Administração direta dos três Poderes, os servidores das autarquias, das fundações governamentais, das empresas públicas e sociedades