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O Relacionamento Amoroso, o Casamento e a Maternidade

No documento agdadia (páginas 50-55)

Com exceção do seu relacionamento com Donald, que muitas vezes coloca a Margarida em contradição e do qual falaremos posteriormente, a personagem tem um posicionamento muito claro sobre como uma mulher deve se comportar em relação ao parceiro. Deslocada do padrão moderno de família nuclear, no qual o homem comanda a relação e provém seu sustento, a nova Margarida deixa claro que a mulher deve tomar a atitude no relacionamento e não deve se deixar ser subjugada pelo sexo oposto.

Em Paixão das Cavernas (B 860186 MG 23/1), o comportamento da mulher pós- moderna em relação ao relacionamento amoroso é evidenciado. A alegoria do homem das cavernas utilizada como representação do homem da modernidade, dá o contra- ponto à liberação da mulher pós-moderna em relação ao parceiro. A mulher da nova ambiência, influenciada pelas conquistas obtidas com o feminismo, entre elas a conquista do mercado de trabalho, não é mais submissa ao homem também no relacionamento e por isso é capaz de tomar a iniciativa quando necessário. Na história, o Professor Pardal precisa de um assistente que aceite ir - através de uma máquina do tempo - até a época dos homens das cavernas, ajudá-lo a fazer uma pesquisa. Diante do medo de Donald e sempre com o intuito de provar que a mulher é capaz de fazer qualquer coisa que o homem faz, Margarida embarca nesta viagem.

Figura 10. Fonte: B 860186 MG 32/1. A mulher pós-moderna toma a iniciativa no relacionamento amoroso.

Na aventura, um homem, ou melhor, um pato das cavernas se apaixona por Margarida e tenta lhe dar uma pancada na cabeça após tê-la apresentado para a família. Pardal explica que é dessa maneira que os patos das cavernas conquistam as namoradas. Após

as confusões com Donald que se sente enciumado, o pato das cavernas entende que o coração de Margarida já tem dono e vai embora desconsolado. Margarida percebe que tem uma patinha das cavernas que é apaixonada por ele e a ensina a ter iniciativa no relacionamento (Figura 10).

Figura 11. Fonte: B 870012 MG 31/3. Mais racional que a mulher moderna, a pós-moderna tem o amor-próprio como prioridade.

Outra história que tem como tema central o relacionamento amoroso é Meu Gênio (B 870012 MG 31/3), na qual Ermengarda, namorada do Professor Pardal, está infeliz porque o namorado não tem tempo para ela. Ao consultar uma cartomante, ela descobre que Pardal tem uma garota na cabeça. Morta de ciúme, quer destruir o laboratório no qual o namorado trabalha, mas Margarida a impede alegando que esse não é um comportamento adequado. A mulher pós-moderna tem que reconquistar o namorado através de outras armas e não se expor a uma cena de ciúme que a deixará em situação de inferioridade (Figura 11 e 12).

Figura 12. Fonte: B 870012 MG 31/3. Iniciativa e amor-próprio: a mulher pós-moderna luta pelo relacionamento sem se humilhar.

Em Machão, Não! (B 860151 MG 15/1), sempre em contra-ponto com o feminismo de Margarida, temos o machismo exacerbado de Donald. Esse contraste entre os dois é fundamental para a abordagem da ‘guerra’ dos sexos nas histórias em quadrinhos da personagem e para a exaltação da liberdade e independência feminina como fator relevante na sociedade contemporânea. Nessa ‘guerra’, o fator ciúme sempre entra em voga porque a disputa de espaço entre homem e mulher envolve o sentimento de domínio e poder em relação ao parceiro. O sentimento de posse, que não é exclusivamente feminino, sempre foi mascarado no mundo masculino pelo poder do dinheiro. A sociedade na qual a mulher dependia do marido para se manter dava ao homem uma condição cômoda por ter sempre a esposa sob os seus cuidados. A partir do momento que ela passou a ter uma vida pública e saiu do enclausuramento da vida privada em família, o homem passou a externalizar o seu sentimento de ciúme.

Figura 13. Fonte: B 860151 MG 15/1. Independência financeira e emocional.

No número 15, a pata além do seu trabalho de jornalista, atua como manequim e aparece de biquíni em uma revista. As fotos causam a revolta do namorado que se sente ridicularizado com a situação. A reação dele – como a de qualquer homem moderno – não poderia ser diferente, resultou na proibição. Proibir a esposa ou namorada, de fazer algo é a primeira reação do homem que um dia teve o controle da situação em suas mãos. Como uma boa mulher da terceira onda, que deixou de ser dependente financeiramente e conseqüentemente isso contribuiu para a sua independência afetiva também, prefere perder o companheiro (Figura 13) do que ser subjugada como nas eras anteriores. O discurso da independência dos sentimentos resultou em uma geração caracterizada por casamentos tardios, na qual as mulheres priorizam a carreira ao invés da constituição de uma família.

Assim, em suas histórias, Margarida deixa claro que a mulher da nova ambiência tem um comportamento no relacionamento amoroso diferente do comportamento da mulher moderna. Ela não é mais submissa e não tem o relacionamento como centro de sua vida. O casamento é apresentado com tom pejorativo e como sinônimo de uma vida monótona. Em A Bucaneira (B 870044 MG 41/1), Margarida conta a Donald a história de uma pata-pirata que viveu em tempos passados e com quem o rei queria se casar. Ela reage ao pedido de casamento como se isso representasse a prisão perpétua. Para ela, casar significa cuidar do marido e da casa (no caso, castelo) para o resto dos seus dias e isso não é o ideal de uma vida feliz, como seria para as mulheres da família nuclear (Figura 14).

Figura 14. Fonte: B 870044 MG 41/1. Casamento é sinônimo de monotonia e afazeres domésticos.

O tema é tratado também em No Castelo de Drácula (B 860194 MG 22/1). Margarida com o carro quebrado em uma estrada chuvosa é socorrida pelo Conde Drácula que quer se casar com ela. A figura do vampiro na história representa o homem moderno que na visão feminista ‘suga o sangue’ de sua esposa por tratá-la como objeto e não valorizar o cuidado que ela tem com a família e com os afazeres doméstico, atividades consideradas sem valor pelo sistema econômico industrial. Ao questioná-lo sobre o motivo pelo qual ele quer que ela se case com ele e fique para sempre no castelo, a resposta é imediata: ele precisa de alguém para cuidar da casa e passar a sua roupa (Figura 15).

Figura 15. Fonte: B 860194 MG 22/1. O vampiro como alegoria do homem moderno.

Figura 16. Fonte: B 860206 MG 25/1. A maternidade assusta a mulher pós-moderna.

Em Babau 1990 (B 860206 MG 25/1), Margarida demonstra o seu posicionamento em relação à maternidade. Ao perceber que deixaram um bebê em sua porta, a personagem se apavora com a situação (Figura 16). Por ter ingressado no mercado de trabalho e investido no desenvolvimento de uma carreira, a mulher pós-moderna deixou para segundo plano a constituição de uma família e adiou a maternidade. Acostumada com a sua vida independente de mulher solteira que mora sozinha, a personagem se assusta ao ter que cuidar de uma criança. No entanto, não contrariando o instinto materno que a natureza biológica provê à mulher, logo ela se afeiçoa ao bebê, mesmo percebendo que ele é um robô (Figura 17).

Figura 17. Fonte: B 860206 MG 25/1. E a encanta também.

No documento agdadia (páginas 50-55)

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