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Um novo estereótipo

No documento agdadia (páginas 82-95)

3.1 Conclusão

3.1.2 Um novo estereótipo

Quando analisamos os discursos das histórias em quadrinhos, percebemos que eles são repletos de estereótipos sociais e o gênero feminino é um deles. No final da década de 70, as mulheres nos quadrinhos ainda estavam submetidas aos estereótipos determinados pela sociedade industrial. Conforme declara Renard:

“apesar desta evolução ‘feminista’26 a imagem global da mulher mantém-se ainda ligada a actividades profissionais pouco ou mediamente qualificadas (vendedoras, domésticas, secretárias) contando-se apenas uma técnica de electrônica (Yoko Tsuno), algumas aviadoras e algumas médicas. A promoção é segura, mas lenta” (1978: 186).

Se fizermos um paralelo entre a afirmação do autor e o seriado Malu Mulher, apresentado anteriormente, perceberemos que a posição da mulher tanto no Brasil quanto no exterior nos últimos anos da década de 70 era a mesma. O que confirma a teoria de Toffler de que as grandes ondas de mudança são fenômenos globais que afetam gradativamente todas as sociedades, independentemente de posições políticas, econômicas ou ideológicas.

Tendo em vista a posição da mulher no Brasil e no mundo (exemplificada pela maneira como a mídia retratava a mulher: no Brasil, Malu Mulher e no exterior, quadrinhos analisados por Renard) alguns anos antes do gibi da Margarida ser lançado, percebemos que as histórias da personagem produzidas no Brasil foram pioneiras e contribuíram para a desmistificação do estereótipo feminino criado pela modernidade. No contexto

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Em parágrafo anterior, o autor trata do aumento do número de personagens femininas nas histórias em quadrinhos devido ao movimento de emancipação feminina que se refletiu nos quadrinhos.

mundial das histórias em quadrinhos, as personagens femininas no início dos anos 80 ainda não tinham alcançado a emancipação propagada por Margarida, mesmo nos países desenvolvidos. E na vida real a situação era a mesma, como evidenciado pela Rede Globo de Televisão.

Além de pioneira na disseminação do novo estereótipo de mulher, a nova Margarida difundida pelas histórias em quadrinhos brasileiras é mais emancipada do que as mulheres retratadas pela mídia até hoje. Ao comparar-se a análise realizada no desenvolvimento deste estudo com o trabalho intitulado A influência das revistas femininas na formação da identidade da mulher, realizado por Dornelles (1996)27 percebe-se que dez anos depois de Margarida ter desafiado o machismo do mundo dos quadrinhos, as mulheres da vida real continuam presas ao antigo estereótipo que as definem como mãe, dona-de-casa e submissa ao parceiro. Em A influência das revistas femininas na formação da identidade da mulher, a autora analisa o discurso da revista Nova - versão brasileira da internacional Cosmopolitan - através do artigo As 10 armas secretas de uma sedutora publicado em 1995 e verifica que o estereótipo da mulher do período moderno - subjetiva, emotiva e desesperada para encontrar o ‘príncipe encantado’ - continua a ser disseminado pelo veículo de comunicação. Diante disso, temos no gibi da Margarida um precursor dos ideais femininos pós-modernos até em relação aos meios de comunicação que supostamente deveriam apresentar conteúdo mais atual que as histórias em quadrinhos, por se tratar de um veículo não de entretenimento, mas de informação.

A autora conclui seu trabalho declarando que “desconstruir os estereótipos de gênero que ainda vigoram seja um bom começo para se construir novas concepções do que é o feminino” (Dornelles, 1996). O gibi da Margarida, por trás da ingenuidade muitas vezes atribuída às histórias infantis, prestou sua contribuição a esse movimento de desconstrução dos estereótipos de gênero ao atribuir à mulher do final do século XX e início do século XXI, características desvinculadas do casamento, do trato da família, da busca desenfreada por um parceiro e do consumo e situá-la em uma condição de emancipação em relação ao sexo oposto, independente financeiramente e com uma participação ativa no mercado de trabalho deixando de desempenhar o papel apenas de

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consumidora para tornar-se também produtora dentro da divisão de funções do âmbito econômico da sociedade.

3.1.3 Mudança Global

Nas análises de quadrinhos feitas por autores como Dorfman e Mattlart, já mencionadas na primeira parte deste trabalho, a ideologia dominante é evidenciada como arma para a manutenção da hegemonia de poder estabelecida no mundo após a Segunda Guerra. Na análise de Margarida, o contexto estudado é diferente. O discurso das histórias em quadrinhos da personagem refere-se, não ao pensamento de uma nação (como ocorre em Para Ler o Pato Donald, que abrange a ideologia imperialista norte-americana), mas aos fenômenos de mudança universais, que independente de quem ocupa o poder e controla a economia, afetam a composição das identidades dos indivíduos de qualquer lugar do planeta. As mudanças sociais refletidas no discurso das histórias da personagem estão se desenvolvendo em todas as sociedades contemporâneas, seja em maior ou menor grau de penetração.

Assim como Toffler (1980) argumenta que o conjunto de mudanças - nomeado por ele de onda - afeta o globo como um todo, independente de organização econômica ou política (em seu livro ele demonstra que a Segunda Onda afetou tanto os países comunistas como os capitalistas), a terceira onda e conseqüentemente o novo papel da mulher dominará todas as sociedades contemporâneas, seja a curto ou longo prazo.

Para esse estudo interessa que se comprove que as histórias em quadrinhos, mesmo sendo um meio de comunicação destinado ao entretenimento, refletem as mudanças de comportamento e de ideologia que se processam no mundo. A influência que exercem sobre os leitores ao disseminarem essas ideologias é um tema polêmico e ainda não comprovado. No entanto, podemos concluir que mesmo não responsáveis pelas mudanças de comportamento do indivíduo na sociedade, as histórias em quadrinhos fazem parte desse processo. Elas possuem uma participação ativa na formatação dos novos valores a partir do momento que interagem com o meio social e o retratam. Assim, a história em quadrinhos – como os demais meios de comunicação de massa – contribuem para que os novos padrões e estereótipos de comportamento sejam disseminados e debatidos, levantando questões relacionadas às mudanças que já se

processam na sociedade. Os quadrinhos funcionam como um canal de difusão do momento atual e um espaço de reflexão sobre as alterações que ainda se processarão.

1. Livros

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DE MASI, Domenico (org.). A Sociedade Pós-Industrial. (vários autores). 1ª ed. São Paulo: SENAC, 1999.

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2. Teses e Dissertações

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4. Artigos

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6. Gibis

Histórias em quadrinhos citadas

A Bucaneira (B870044MG41/1)

A Caverna das Sereias (B870085MG36/1) A Guerra das Amazonas (870011MG30/01) A Moda é Mudar (B860061MG6/1)

A Mulher-Âncora (B870116MG40/1) A Xerifa (B860083MG7/1)

Ah, Os Velhos Tempos... (B870157AMG1/1) Babau 1990 (B860206MG25/1)

Beleza Tecnológica (B910159MG143/1)

Com Quantas Arrobas se Faz um Boi (B870009MG28/1) Defenda-se! (B860187MG20/1)

Em Terra de Ci...u...mento... (B870049MG32/1) Feminismo em Uba Dhula (B870089MG44/1) Machão, não! (B860151MG15/1)

Margarida Mulher (B850149MG5/4) Meu Gênio (B870012MG31/3)

No Castelo de Drácula (B860194MG22/1)

No Tempo das Cavaleiras Andantes (B860137MG12/1) Novo Pato no Pedaço (B860205MG26/1)

O Chou da Margarida (B870015MG27/1) O Cilindro Mágico (B870065MG34/1) Os Preços e a Fama (B860049MG5/1) Paixão das Cavernas (B860186MG23/1)

Pra Mau Pagador, Ótima Cobradora (B860057MG4/1) Prefeita Perfeita (B870028MG28A/1)

Problemas de Beleza (B870035MG33/1) Queda pra Pára-Quedismo (B860150MG13/1) Trabalho pra Machão... Onde? (B870014MG29/1) Uma Nova Margarida (B860008MG1/1)

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