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Retomando os nossos objetivos e questões iniciais de pesquisa.

Esta dissertação de Mestrado apresenta-se como um estudo inicial sobre as

potencialidades e limites do ambiente de ensino e de aprendizagem da Robótica Pedagógica Livre no processo de (re)construção de conceitos científico-tecnológicos a partir do desenvolvimento de artefatos robóticos na perspectiva da filosofia de softwares e hardwares livres por professores em formação.

Independente de respostas definitivas e conclusivas, podemos constatar que novas dúvidas e questionamentos surgiram. Não temos uma pesquisa acabada/terminada, mas, sim, caminhos que foram abertos a partir de reflexões e que nos impulsionam a novas investigações, a serem perseguidas no doutorado.

A partir dos resultados que dispomos, podemos dizer inicialmente que foram identificados e descritos os processos de (re)construção de conceitos científico-tecnológicos a partir do desenvolvimento de artefatos robóticos na perspectiva da filosofia de softwares e

hardwares livres com os educandos em formação. Os educandos, antes de iniciarmos a

pesquisa, não sabiam ligar o computador e desconheciam as funcionalidades das suas partes – gabinete (CPU), monitor, mouse e teclado – e não apresentavam conhecimentos científico-tecnológicos sobre os LEDs, resistores, números binários, algoritmos, placas de circuito impresso e soldagem. Na medida em que os educandos desenvolviam e se envolviam na construção da IHL e do artefato robótico – o pisca-pisca de árvore de Natal –, os processos

de (re)construção de conceitos científico-tecnológicos eram desvelados, permitindo que identificássemos e descrevêssemos esses processos. No final da pesquisa, a maioria dos educandos estava familiarizada com termos técnicos como LEDs, resistores, placas de circuito impresso, tensões – contínua e alternada – e resistência, que passaram a ser frequentes em seu vocabulário durante os encontros. Também se familiarizaram com as funcionalidades das partes integrantes do computador – gabinete (CPU), monitor, mouse e teclado. Entretanto, alguns educandos ainda permaneciam com dificuldades na compreensão de alguns termos técnicos – como o termo resistência.

Todo educando apresenta um ritmo em seu processo de aprendizagem, pois cada um tem a sua história particular, que é formada por sua estrutura biológica, psicológica, social e cultural. Desenvolver atividades que respeitem as dificuldades e as limitações de cada educando é um dos desafios nas práxis e práticas pedagógicas dos educadores. Vale ressaltar que instigar a criatividade e a curiosidade dos educandos é uma das estratégias de ensino e de aprendizagem para que os educadores tratem esse tipo de situação. Segundo Freire (2006, p. 85):

O bom clima pedagógico-democrático é o em que o educando vai aprendendo à custa de sua prática mesma que sua curiosidade como sua liberdade deve estar sujeita a limites, mas em permanente exercício. Limites eticamente assumidos por ele. Minha curiosidade não tem o direito de invadir a privacidade do outro e expô-la aos demais.

Dessa forma, ao presenciar as dificuldades e as limitações enfrentadas pelos educandos – sem invadir e expor a sua privacidade –, observamos durante toda a pesquisa que a maior dificuldade deles foi com os termos técnicos. Isso, de certo modo, excluía alguns educandos do contexto da Robótica, pois percebia-se um certo distanciamento deles das aulas. A alternativa encontrada para a inserção desses educandos foi revisar as aulas anteriores a cada novo encontro. Ressaltamos que cada educando tem o seu tempo para o seu processo de transformação e ele deve ser respeitado. É importante relatar que as dificuldades dos educandos em conciliar as informações necessárias para a construção do conhecimento, no processo de ensino e de aprendizagem, podem ter sido influenciadas pelo fato de estarem adormecidas (o educando não esqueceu as informações – houve aprendizado, mas com o passar do tempo, ocorreu o seu adormecimento por não mais utilizá-las) e/ou porque os educandos tiveram uma má formação científica e/ou por resistência ao tecnológico.

autoquestionamentos e reflexões nas práticas de construção da IHL e do artefato robótico – o pisca-pisca de árvore de Natal – pelos educandos auxiliou-nos na identificação e descrição das práxis pedagógicas no ambiente de ensino e de aprendizagem da Robótica Pedagógica Livre – nosso segundo objetivo. A formação continuada e as atividades práticas durante toda a pesquisa auxiliaram os educandos a (re)pensarem sobre a sua práxis pedagógica no contexto educacional. Foi possível constatar que as práxis pedagógicas no ambiente de ensino e de aprendizagem da Robótica Pedagógica Livre permitiram que os educandos tratassem as informações que estavam sendo compartilhadas, transformando-as em conhecimento; que o processo de desenvolvimento dos kits básicos de Robótica Pedagógica Livre auxiliou a maioria dos educandos na interpretação do mundo como elemento do seu processo de transformação. É relevante salientar que a escola deve refletir sobre as reproduções das antigas práticas e práxis pedagógicas nesse momento de mudanças tecnológicas. Segundo Delizoicov (2007, p. 12):

As escolas precisam passar por profundas transformações em suas práticas e culturas para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. […] Todavia, os professores são profissionais essenciais na construção dessa nova escola. […] Entendendo que a democratização do ensino passa pelos professores, por sua formação, por sua valorização profissional e por suas condições de trabalho, pesquisadores têm defendido a importância do investimento no seu desenvolvimento profissional.

Os educandos necessitam de formação continuada durante o seu processo de formação científica, para auxiliar no entendimento da relação dialógica entre os processos de mudanças tecnológicas e o mundo a sua volta – transformações que podem alterar a sua forma de ver e pensar os problemas do mundo moderno.

No início da pesquisa, os educandos não apresentavam conhecimentos de informática suficientes para o prosseguimento da nossa investigação com o tema proposto – Robótica Pedagógica Livre. Fatos constatados nas tentativas de instalação dos softwares que iriamos utilizar no ambiente de ensino e de aprendizagem, na solicitação de busca de arquivos no navegador, entre outras. Essa constatação levou-nos a refletir sobre o processo de inclusão digital nesse ambiente de ensino e de aprendizagem. Portanto, durante a pesquisa foi possível identificar e discutir como a Robótica Pedagógica Livre possibilita a inclusão digital dos educandos – terceiro objetivo. Ter acesso aos computadores não é o bastante se não sabemos como utilizá-los adequadamente, ou seja, o educando deveria ser capaz de tratar as informações referentes ao(s) software(s) e transformá-las em conhecimento – contexto que foi constituído durante toda a pesquisa nas explicações feitas nos encontros, por exemplo: como

utilizar os softwares Kommander e Ktechlab no ambiente de ensino e de aprendizagem da Robótica Pedagógica Livre. Segundo Freire (1991, p. 61):

Se a vocação ontológica do homem é a de ser sujeito e não objeto, só poderá desenvolvê-la na medida em que, refletindo sobre suas condições espaço-temporais, introduz-se nelas, de maneira crítica. Quanto mais for levado a refletir sobre sua situacionalidade, sobre seu enraizamento espaço-temporal, mais “emergerá” dela conscientemente “carregado” de compromisso com sua realidade, da qual, porque é sujeito, não deve ser simples espectador, mas deve intervir cada vez mais.

A emancipação do educando ocorre quando ele se envolve e se apropria de todo o processo – da concepção do produto até seu usufruto. Ora, como produzir e entender a construção do código-fonte se os educandos não compreendiam o recurso tecnológico para o processo de ensino e de aprendizagem – o computador – que iria auxiliá-los no desenvolvimento do programa? É importante registrar que a construção da IHL e do artefato robótico – o pisca-pisca de árvore de Natal – permitiram que a maioria dos educandos apreendesse desde o hardware do computador até os softwares envolvidos no processo de ensino e de aprendizagem. Portanto, no contexto da identificação e discussão da inclusão digital foi possível constatar que a formação continuada durante a pesquisa auxiliou a maioria dos educandos tanto no processo de construção do código-fonte quanto no produto (as respostas do software) – criação com o código-fonte de um programa no aplicativo Kommander.

Quanto aos referenciais teóricos em geral, podemos dizer que a apropriação das discussões teóricas de Abbagnano (2007), Castoriadis (1982), Chassot (2001, 2003), Silveira (2003, 2004) e Vázquez (2007) possibilitou construir um arcabouço teórico-metodológico para auxiliar-nos: na identificação e descrição dos processos de (re)construção de conceitos científico-tecnológicos (Abbagnano e Chassot); identificação e descrição das práxis pedagógicas (Castoriadis e Vázquez) e identificação e discussão da inclusão digital (Silveira).

Para finalizar, tecemos as considerações e implicações gerais da nossa pesquisa no ambiente de ensino e de aprendizagem da Robótica Pedagógica Livre. Além disso, apontamos algumas considerações e implicações da nossa investigação para a formação de professores de Pedagogia e para a Educação em geral.