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O S M ONGES B ARBUDOS ATRAVÉS DOS DOCUMENTOS POLICIAIS

2. A S DISPUTAS POLÍTICAS LOCAIS EM S OLEDADE (1935 – 1938)

3.4 O S M ONGES B ARBUDOS ATRAVÉS DOS DOCUMENTOS POLICIAIS

Outra fonte que contribui para refletirmos sobre a inserção dos Monges Barbudos no contexto de disputas políticas são os documentos produzidos pelos policiais militares que foram deslocados para Soledade com o propósito de acalmar a localidade. Eram relatórios produzidos com o propósito de dar ciência aos superiores dos sucessos das ações desenvolvidas contra os Monges Barbudos.

No relatório do 1º Tenente Januário Dutra, enviado ao comandante geral da Brigada Militar em 30 de março de 1938, temos alguns indícios para a justificativa do uso da força:

Consoante vossa determinação telegráfica, fiz sair daqui, na madrugada do dia 19 do corrente, um contingente composto de vinte praças sob o comando do 2º tenente Arlindo Rosa, com destino ao 6º Distrito deste município a fim

de reconhecer e dispersar uma reunião de fanáticos que constava existir e que estavam empregando ideias subversivas.135

No documento policial, podemos identificar que existia uma suspeita política sobre os Monges Barbudos, pois o uso de “ideias subversivas” foi amplamente utilizado ao longo do período do governo Vargas para identificar comunistas ou opositores ao regime. Destacamos ainda a data desse documento que antecede em semanas o confronto ocorrido na localidade de Bela Vista. Dessa maneira, temos a confirmação de que o grupo era conhecido e vigiado pela força de segurança muito antes da marcha religiosa rumo à capela de Santa Catarina, motivados pela crença do retorno do santo monge.

Podemos indicar que o movimento dos Monges Barbudos já era de conhecimento das autoridades: no estado, através das informações prestadas pela Brigada Militar, e nacionalmente pelo sistema de informação de Getúlio Vargas, que contava com informantes, inclusive em Porto Alegre, como relatado no caso de Aladino Neves.136

Esse movimento militar que objetivou reconhecer e dispersar o grupo religioso resultou no interrogatório de oito membros dos Monges Barbudos, os quais teriam se apresentado livremente ao tenente Arlindo Rosa.

[...] no dia 22 de março, foi remetido pelo tenente Arlindo, um grupo de oito fanáticos que haviam se apresentado a ele [...]. Interroguei demoradamente cada um deles, verifiquei minuciosamente todos os documentos e demais papéis que possuíam, não tendo encontrado tanto nas declarações como nos papéis nada de importância, que indicasse a pregação de ideias exóticas.137

O documento permite-nos identificar que havia, sobre os Monges Barbudos, uma suspeita de serem agentes políticos contrários à ordem instaurada ou de serem ligados à figura do ex-governador Flores da Cunha. Porém, segundo o próprio tenente Arlindo Rosa, tal suspeita não pôde ser confirmada, nem mesmo após o interrogatório e a revista em seus documentos pessoais.

Nos documentos policiais, podemos identificar algumas percepções por parte dos agentes da repressão sobre os habitantes da região, bem como alguns dados sobre a

135 Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, Destacamento do 3º Regimento de Cavalaria. Relatório

enviado ao sr. Comandante Geral da Brigada Militar. Soledade, 30 de março de 1938, assinado pelo 1º Tenente Comandante do Destacamento Januário Dutra, p. 1.

136 Confira nota nº 65 referente à carta enviada por Aladino Neves para Alzira Vargas em 20/04/1938, na qual

relatava um grupo suspeito em Soledade.

137 Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, Destacamento do 3º Regimento de Cavalaria. Relatório

enviado ao comandante geral da Brigada Militar. Soledade, 30 de março de 1938, assinado pelo 1º Tenente Comandante do Destacamento Januário Dutra, p. 1.

organização religiosa. É o caso do relatório apresentado pelo então 2º tenente Arlindo Rosa após ter permanecido dez dias em diligência na região do sexto distrito de Soledade, a fim de investigar o caso dos Monges Barbudos. Nesse documento temos,

Como me é dado a observar, a maior parte do pessoal que habitam nos lugares acima mencionados são descentendes do nosso caboclo indolente, pouco gostam de trabalhar, de maneira que, a miséria começou a bater-lhe a porta da casa, então, por meio de uma seita religiosa tendo como padroeira a Santa Catarina, procuram a se reunirem e se auxiliarem mutuamente. Os mais espertos então começaram a fazer a propaganda da religião, dizendo que, quem não pertencesse aquela religião muito em breve morreria e seus bens seriam repartidos com o pessoal da seita, aconselham também andarem desarmados, respeitar as autoridades, apanharem e não brigarem, não beberem, trabalharem pouco, não trabalharem sábados e nem domingo e purificarem o sangue, tomando Caroba, erva de mato e outras.138

O trecho destacado demonstra-nos a percepção do 2º tenente Arlindo Rosa frente aos nacionais, ou seja, aos caboclos que habitavam a região do interior de Soledade. Foi indicado que a condição de serem “caboclos indolentes” teria contribuído para a divulgação das ideias religiosas, pois esta veio ao encontro de sua pouca inclinação para o trabalho.

Também está presente a ideia messiânica, isto é, a crença de que tudo seria reordenado na futura vinda do santo monge, marcada para a semana santa de 1938. Podemos identificar o relato da crença de que tudo seria repartido pelos membros da seita, o que pode ter contribuído para a divulgação da ideia de serem comunistas.

Porém, no mesmo documento, obtemos informações desconcertantes sobre os ensinamentos e regras vigentes entre os membros do movimento, pois eram orientados a apresentar uma conduta que estava na contramão do contexto local, uma vez que, como analisado nos capítulos precedentes, a realidade em Soledade na década de 1930 expressava uma violência rotineira.

Com esses indícios, podemos indicar que o movimento dos Monges Barbudos não se apresentava como grupo violento ou fomentador de agitações sociais. Não temos nenhuma informação contundente que comprove serem eles adeptos de “ideias exóticas” ou “subversivas”; pelo contrário, as informações existentes contribuem para identificá-los como uma expressão religiosa e cultural local, inserida no seu contexto social. Acreditamos que tais evidências ganham maior relevância por terem partido justamente daqueles que tiveram como missão reconhecer, investigar, combater e dispersar os sujeitos que compuseram o

138 Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, Destacamento do 3º Regimento de Cavalaria. Relatório

enviado ao comandante geral da Brigada Militar. Soledade, 30 de março de 1938, assinado pelo 1º Tenente Comandante do Destacamento Januário Dutra, p. 1.

movimento. Os soldados da Brigada Militar foram para o interior de Soledade, a fim de combater uma ameaça política, agentes subversivos, comunistas, fato que nos documentos produzidos não obteve confirmação.

Outro ponto relevante, que se destaca nos documentos produzidos pela Brigada Militar sobre os acontecimentos ocorridos no sexto distrito, está associado com a imigração estrangeira existente em Soledade. O conflito, segundo relatado na documentação policial, estaria vinculado ao medo e à incompreensão dos estrangeiros frente à cultura cabocla.

Os colonos de origem estrangeira e os que não querem fazer parte da religião e que habitam naquelas paragens, vendo a união dos monges como são conhecidos e crescerem dia a dia os adeptos, estão ficando alarmados e começam a fazer os mais desencontrados comentários. Conforme estou informado, os fanáticos se reúnem sábados e domingos nas igrejas a rezarem completamente desarmados e depois dispersam-se e cada um vai para a suas casas.139

Percebemos um conflito entre o nacional e o estrangeiro, culturas e realidades distintas que se encontraram no interior de Soledade. Além do destaque para o medo existente entre os que não participavam do grupo religioso, temos novamente, num relato oficial, que os membros dos Monges Barbudos apenas se reuniam para rezar aos sábados e domingos, desarmados; após encerrar as práticas religiosas, rezas, terços, orações, retornavam para suas residências.

Na continuidade do relatório, temos a informação de que os Monges Barbudos se apresentariam à autoridade policial livremente. Segundo o documento, “os fanáticos que se apresentaram me pediram para que eu fosse pessoalmente, que eles faziam os outros se apresentarem, que, não se apresentavam ao tenente Arlindo porque o temiam, entretanto, se prontificaram que, o dia em que quiser eles fanáticos se apresentarão todos.”140

Na conclusão do relatório, o tenente Januário expressou sua opinião sobre os Monges Barbudos, demonstrando incerteza sobre os mesmos: “sr. Coronel, apesar de não ter encontrado, não posso negar ou afirmar a inexistência de algum núcleo disfarçado, para

139 Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, Destacamento do 3º Regimento de Cavalaria. Relatório

enviado ao comandante geral da Brigada Militar. Soledade, 30 de março de 1938, assinado pelo 1º Tenente Comandante do Destacamento Januário Dutra, p. 1.

140 Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, Destacamento do 3º Regimento de Cavalaria. Relatório

enviado ao comandante geral da Brigada Militar. Soledade, 30 de março de 1938, assinado pelo 1º Tenente Comandante do Destacamento Januário Dutra, p. 1.

inocular, aos poucos, ideias exóticas aos moradores da referida região.”141 Mesmo nada

encontrando que comprovasse a suspeita de serem os Monges Barbudos agentes subversivos ou propagadores de ideias exóticas, de desrespeitarem a autoridade policial, ou de atacarem as famílias da localidade, prevalece a dúvida de que provavelmente tenha sido decisiva para os trágicos acontecimentos ocorridos na capela dedicada a Santa Catarina.

Os acontecimentos datados de 13 e 17 do mês de abril de 1938 foram registrados no relatório produzido pelo então tenente Januário Dutra. Nesse documento, podemos ler a sua versão do que se sucedeu naqueles dias.

[...] nos lugares denominados Bela Vista e Rincão dos Bernabés uma grande reunião de fanáticos que praticavam uma religião exótica e não conhecida, tendo as referidas reuniões causado pânico entre os moradores dos referidos lugares; ocasionado terem diversas pessoas pedido às autoridades garantias e providências a respeito, pois os fanáticos haviam invadido o lugar denominado Bela Vista e se apoderaram da igreja denominada Santa Catarina, aonde localizaram um grande acampamento, tendo o chefe do bando conforme consta, postado-se sobre o altar da referida igreja a tomar chimarrão. O primeiro apelo foi dirigido ao Delegado de Polícia de Sobradinho, cuja autoridade atendeu com presteza e dirigindo-se com uma patrulha para o local Bela Vista, e, ao se aproximar do referido local foi hostilmente recebido, tendo alguns dos componentes do bando feito disparos de arma contra o delegado e sua patrulha, que revidaram a agressão, resultando saírem diversos feridos, entre eles o chefe do bando Anastácio Fiúza, que veio a falecer; também foram feitos diversos prisioneiros e o restante do grupo foi dispersado.142

No presente documento, podemos perceber uma grande mudança na forma de apresentar os Monges Barbudos, bem como a conduta desses. A documentação policial é contraditória e deixa margem para diversas interpretações, pois, em um documento, consta que não eram violentos e eram orientados a andarem desarmados; noutro, temos a descrição de um grupo armado e violento, além de apresentar atitudes que atacavam diretamente os lugares sagrados da Igreja Católica, fato não confirmado pelo frei Clemente, como demonstrado anteriormente. Mesmo assim, segundo registrado no relatório, a patrulha do cabo Centenário efetuou a prisão de 104 fanáticos.143

141 Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, Destacamento do 3º Regimento de Cavalaria. Relatório

enviado ao comandante geral da Brigada Militar. Soledade, 30 de março de 1938, assinado pelo 1º Tenente Comandante do Destacamento Januário Dutra, p. 1.

142 Relatório enviado da Delegacia de Polícia em Soledade, datado de 15 de maio de 1938, assinado, Januário

Dutra, p. 1. (APERS - Monges Barbudos).

143 Relatório enviado da Delegacia de Polícia em Soledade, datado de 15 de maio de 1938, assinado, Januário

No auto de resistência, o qual foi assinado pelo delegado de polícia Antônio Pedro Pontes, novamente surge a alegação de estarem os Monges Barbudos armados e de que teriam resistido quando da chegada da força policial.

[...] deparamos com numerosa multidão composta por monges, suas mulheres e grande número de crianças de todas as idades. Ao chegarmos no local indicado foram os soldados que faziam parte da escolta, alvejados pelos referidos monges, os quais procuravam embrenhar-se nas matas e de lá atiravam contra os soldados; tendo os mesmos feridos inocentes e mulheres da mesma seita, e homens também.144

Podemos perceber que há uma diferença entre o primeiro e segundo relatório, sendo que no primeiro os Monges Barbudos não representavam uma ameaça. No segundo, são apresentados como portando armas, “[...] foram apreendidas em poder dos fanáticos duas Winchesters e um revólver calibre quarenta e quatro”145, e oferecendo resistência. Esse fato pode ter contribuído para legitimar o uso da força contra os membros do grupo religioso.

Junto ao relatório estavam anexadas algumas declarações que confirmam a versão oficial da polícia, segundo a qual os monges eram um grupo de muitas pessoas. Porém, não há consenso entre os declarantes quanto ao número dos participantes do movimento, oscilando entre 800 e 2000 pessoas, e se estariam ou não portando armas.146

Mencionando a Lei de Emergência como forma de legitimar a ação policial, pode-se perceber que o movimento dos Monges Barbudos foi enquadrado ou pelo menos tratado como uma ameaça à ordem nacional, ao Estado Novo.

Como o fato acontecido, contraria dispositivos da Lei de Emergência, pois, os fanáticos além de cultivarem uma religião exótica, fizeram reuniões sem licença contrariando assim a Lei em vigor e como tivesse o Exm. Sr. Interventor Federal, mandado um emissário, a fim de investigar os acontecimentos, dei então por concluídas estas investigações, passando-as ao Emissário Sr. Capitão José Rodrigues da Silva, para os devidos fins, outrossim, foram entregues à referida autoridade os 104 presos e bem assim as armas acima mencionadas.147

144 Documento enviado da 3ª Delegacia Regional - Delegacia de Polícia em Sobradinho, 22 de abril de 1938, p.

4. Endereçada ao Chefe de Polícia do Estado.

145 Relatório enviado da Delegacia de Polícia em Soledade, datado de 15 de maio de 1938, assinado, Januário

Dutra, p. 1.

146 As declarações foram feitas por: Otacilio Floriano Pinto, Júlio da Silva Telles, Jacinto Bridi, Fidencio Patrício

de Britto, Manoel da Silva Telles, João Kraemer (este último é o dono da mangueira, local onde foram aprisionados os monges), cabo Vergilio Felisberto Centenário e Soldado Oswaldo dos Santos. Confira o Relatório de 15/05/1938.

No terceiro relatório produzido pela Brigada Militar, redigido após a conclusão das operações militares, temos que “[...] com as medidas adotadas, dentro de pouco tempo passou a reinar completa ordem naquela região.”148 O major José Rodrigues da Silva, ao concluir o

relatório, sugere medidas complementares para a manutenção da ordem,

Concluído este breve relatório sobre os fanáticos que infestaram os municípios de Soledade e Sobradinho, tomo a liberdade de seguir, com medida complementar à ação de vigilância do destacamento especial, o seguinte: criação de uma escola, ou grupo escolar em Tunas, sede do 6º Distrito de Soledade, o aproveitamento dos elementos que pertenceram àquela seita nos trabalhos do Departamento Rodoviário, bem como a distribuição de sementes pela Secretaria de Agricultura aos mesmos elementos, esta última com fim de evitar a situação de miséria a que estão sujeitos tais elementos em conseqüência de suas crendices, que os levou a deixarem de trabalhar por largo espaço de tempo.149

A documentação policial, produzida no calor da hora, sobre os acontecimentos ocorridos em Soledade envolvendo o movimento dos Monges Barbudos possibilita-nos indicar que existia a ideia de uma possível ameaça comunista. Assim como nas demais fontes analisadas ao longo do capítulo, principalmente a imprensa e a eclesiástica, também nas fontes policiais, a ameaça comunista alegada para combater os camponeses de Soledade, não foi confirmada. Não foi possível identificar a presença ou a ligação do movimento com o comunismo, porém, mesmo assim, foram reprimidos pelo Estado.

No Boletim nº 154 da Brigada Militar, temos o louvor do sucesso da ação militar na grave situação existente na região de Soledade.

XII – Louvor. Em consequência de ter regressado de Sobradinho, o contingente do 1º regimento de cavalaria que ali fora em serviço especial, sob o comando do 1º tenente Antônio Nunes Pontes, é me grato louvar os oficiais e praças que compunham o referido contingente pela disciplina e abnegação demonstrado durante o tempo em que estiveram naquele município, atuando com tropas da Brigada Militar, sob o comando do major José Rodrigues da Silva, na grave situação ali criada por um aglomerado de habitantes fanatizados e hostis às leis e às autoridades.150

148 Relatório apresentado ao comandante geral da Brigada Militar pelo major José Rodrigues da Silva, sobre os

acontecimentos ocorridos nos municípios de Soledade e Sobradinho, com o surto de fanatismo religioso praticado por elementos que se tornaram conhecidos por “monges barbudos”.

149 Relatório apresentado ao comandante geral da Brigada Militar pelo major José Rodrigues da Silva, sobre os

acontecimentos ocorridos nos municípios de Soledade e Sobradinho, com o surto de fanatismo religioso praticado por elementos que se tornaram conhecidos por “monges barbudos”.

150 Brigada Militar. Estado Maior. 1ª Secção. Q. G. em Porto Alegre, 12 de julho de 1938 – terça-feira. Boletim

Nesse documento, consta que os Monges Barbudos eram hostis tantos às leis quanto às autoridades. Essa versão vai de encontro às demais declarações prestadas pelos próprios comandantes militares, quando relataram suas impressões sobre os membros do movimento sócio-religioso.

Ainda segundo os Boletins do ano de 1938, temos a publicação do ofício nº 90, datado do dia 20 de julho de 1938, enviado pelo interventor federal no Rio Grande do Sul em louvor pela ação militar executada na região de Soledade. Destacamos que as informações foram recebidas pela interventoria através do relatório enviado pelo major José Rodrigues da Silva.

VI – Louvor – Transcrição de ofício. Este comando recebeu do Exmo. sr. Interventor Federal neste estado o oficio abaixo transcrito, do teor seguinte: “Tendo recebido o relatório apresentado a esse Comando Geral da Brigada Militar pelo major José Rodrigues da Silva, referentes à sua missão policial repressora e preventiva no caso dos chamados “monges” que infestavam os municípios de Soledade e Sobradinho, pelo presente ofício determino que, em nome da Interventoria Federal seja aquele oficial elogiado pelo exato desempenho de sua missão, que foi hábil, criteriosa e inteligente, reintegrando na vida ordeira e normal. (Of. nº 90, de 20-07-938). Em consequência determino que sejam consignados nos assentamentos do major José Rodrigues da Silva os louvores do Exmo. sr. Interventor Federal, nos termos do ofício acima transcrito. (a) Agenor Barcellos Feio. Cel. Comandante Geral. Confere: Cel. Angelo de Mello. Chefe do Estado Maior.151

Podemos perceber que o Estado estava ciente da ação militar e a par dos acontecimentos que estavam ocorrendo na região de Soledade. Organizou uma ação de repressão ao movimento, à ameaça que acreditava existir naquela localidade.

Acreditamos que a concepção de que eram hostis à lei e às autoridades possa ter contribuído para a divulgação da ameaça comunista. Supomos que esse foi o motivo pelo qual o Estado reprimiu de forma violenta os membros do movimento religioso de Soledade.

151 Brigada Militar. Estado Maior. 1ª Secção. Q. G. em Porto Alegre, 2 de agosto de 1938 – terça-feira. Boletim