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CAPÍTULO I Enquadramento conceptual do sector dos produtos de moda

1.10. O sector dos produtos de moda e vestuário em Portugal

1.10.1. A evolução da indústria têxtil de produtos de moda e vestuário

Portugal sempre foi um país de forte tradição têxtil apesar da industrialização portugue- sa se ter dado apenas no século XVIII, (Departamento de Engenharia Têxtil da Univer- sidade do Minho; 2009). Um dos pontos marcantes da vida da indústria têxtil portugue- sa é a Revolução Industrial Inglesa. Nesta altura surgem nos mercados produtos novos como é o caso do algodão. Estes produtos, concorrência direta aos têxteis portugueses, de certo modo, inviabilizaram a produção interna. De mencionar que nesta época as pequenas oficinas eram predominantes em Portugal.

Apenas a partir do ano de 1836 e com fim das lutas liberais, a indústria têxtil se estabe- lece e inicia um novo ciclo. Este renascer da indústria têxtil portuguesa surge muito devido a investimentos particulares, que permitiram adquirir novas máquinas e fomentar a divisão técnica do trabalho da indústria algodoeira e de lanifícios. Um pouco mais tarde, entre os anos de 1840 a 1860, verifica-se um novo e positivo avanço na indústria têxtil. Contudo, e apesar destes avanços e evoluções a maior parte da produção têxtil em Portugal continua a ser de carater artesanal, resistindo fortemente à inovação.

No final do século XIX, a produção têxtil acaba por se tornar minimamente satisfatória. No entanto esta situação é viável apenas se protegida pelas taxas aduaneiras existentes na época. De verificar que estas taxas aduaneiras foram introduzidas na lei portuguesa como forma de encarecer os produtos importados, salvaguardando por isso, os produtos de produção interna.

Não menos importantes, apesar de inicialmente bastante precários, surgem os mercados aliados às conquistas coloniais que prometiam a possibilidade de exportações e negó-

cios além-fronteiras. Contudo, de acordo com o autor Alves (2004), neste período, as exportações portuguesas tinham pouca expressão.

No entanto em momentos de conflitos externos, como é o caso da 1ª Guerra Mundial, da Guerra Civil de Espanha e da 2ª Guerra Mundial, esta situação altera-se positivamente para as empresas têxteis portuguesas. No ano de 1931, é instituído o decreto nº19354, com o objetivo máximo de disciplinar, coordenar e proteger a indústria têxtil (Alves, 2004).

Na década de 60, Portugal torna-se um dos maiores exportadores mundiais de têxteis e vestuário, reconhecido pela sua excelente relação preço-qualidade. Nos anos 80, forte- mente marcados pela adesão de Portugal à CEE, dá-se uma ampla modernização do sector, um aumento das exportações (Vasconcelos, 2006). Estas evoluções permitiram ainda responder as necessidades atuais do mercado consumo, nomeadamente maior fle- xibilidade dos processos produtivos e estruturas de gestão das industrias têxteis de por- tuguesas.

1.10.2. Caracterização da indústria têxtil de produtos de moda e vestuário

No contexto estrutural a indústria têxtil portuguesa assume-se como uma indústria com grande representatividade. Trata-se portanto de um sector maduro, fragmentado e sujei- to a desajustamentos periódicos entre a oferta e a procura, cujo desempenho se encontra fortemente condicionado pelas flutuações da atividade económica a nível mundial (Vas- concelos, 2006).

De acordo com a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (2013), esta indústria é uma das mais importantes na economia portuguesa representando:

i) 12% Do total das exportações portuguesas; ii) 23% Do emprego da indústria transformadora;

iii) 9% Do volume de negócios da indústria transformadora iv) 8% Da produção da indústria transformadora.

Por tradição esta indústria apresenta infraestruturas de pequena dimensão, conforme menciona os autores Guerreiro et al, (2008). De acordo com o VI Congresso Português de Sociologia, onde foi analisado o sector têxtil (1994-2004), nesta área de negócios predominam as pequenas e médias empresas. Contudo, e apesar de se verificar um aumento de empresas de pequenas dimensões, assiste-se também a um aumento ligeiro de empresas de grande dimensão muitas vezes com mais de 500 trabalhadores (Guerrei- ro et al, 2008).

O crescimento desta indústria consolidou a especialização sectorial que se veio a deli- near ao longo das últimas décadas traduzindo-se a vários níveis:

i) Reforço da componente do emprego industrial em valor absoluto; ii) Aumento do seu peso na estrutura sectorial;

iii) Incremento da sua importância no conjunto das nossas exportações; iv) Redireccionamento das exportações portuguesas para o mercado europeu

e americano.

1.10.3. A Investigação e o desenvolvimento relativo à indústria têxtil de produtos de moda e vestuário

De acordo com o Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional de 2007, o investimento em investigação e desenvolvimento nesta indústria tem vindo a crescer. Estas atividades tiveram inclusive o maior crescimento dos países da União Europeia durante o período de 2004 a 2007 (Guerreiro et al, 2009).

Segundo o Estudo elaborado pelo CITEVE no ano de 2004, o investimento em investi- gação e desenvolvimento relativo à indústria têxtil portuguesa apresentou um aumento médio de 15% em 2002 relativamente ao ano anterior, mostrando que as empresas começam a atribuir mais importância à inovação no seu sector de atividade.

Apesar das reduções nos postos de trabalho, a produtividade tem vindo a crescer signi- ficativamente através da inovação e adaptação aos mercados externos. Para estes resul- tados contribuiu, sem dúvida, o enorme investimento de recursos públicos em progra- mas de apoio à modernização e reestruturação do sector (Guerra, 2007).

No entanto, apesar do investimento feito, segundo o autor Fernandes (2004), no contex- to da indústria nacional, os ramos ligados à indústria do vestuário apresentam novamen- te índices de intensidade de investigação e desenvolvimento reduzidos, denotando uma maior aposta em fatores de inovação materiais.