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7.1 A ANÁLISE LINGÜÍSTICA DA PRIMEIRA ENTREVISTA

7.1.2 O SEGUNDO EXCERTO

Neste momento da entrevista, a apresentadora Angélica fala da fase em que houve muitas comparações do seu trabalho e da sua personalidade com outra apresentadora de TV, a Xuxa. Alex pergunta sobre o papel da imprensa, se ela influenciou muito na rivalidade que se estabeleceu naquela época. Este excerto está reproduzido, logo abaixo:

Alex: Isso é uma forsação de barra por parte da imprensa? Das pessoas em geral?

Angélica: Eu acho que sim. Eu acho que sim. De todo mundo. Porque acabava, em algum momento, isso virou pra gente mesmo. Pra mim e pra ela, eu acho. Porque de tanto contarem aquela história pra você, você vai acreditando naquilo, entendeu? De uma rivalidade, de uma... de um clima, de uma não tá gostando, não tá curtindo o que a outra está fazendo, tá imitando e tal. Em algum momento a gente realmente acreditou nisso.

Alex: Você já se sentiu rival da Xuxa, em algum momento?

Angélica: Ah, eu acho que sim. Eu acho que no auge dessa confusão toda, quando a gente nem se conhecia ainda, eu muito menina, com quinze, dezesseis anos, qualquer coisa que falassem pra mim, ali, é verdade. Você é uma esponja, você absorve tudo que te falam, né? Quando alguém vinha e falava, sabe o que a Xuxa falou que não gosta de você, porque você não sei que? Porque teu cabelo... eu falava: É? Eu também não gosto dela. Pronto, virava um problema. E aí aquilo saía no jornal, entendeu? Então, aí, quando a gente se conheceu e tal, quebrou o gelo.

A Angélica concordou com a colocação de Alex, dizendo que os comentários feitos pela imprensa e pelas pessoas atingiram ambas, a Xuxa e a própria Angélica. Ela faz o uso da expressão a gente, que é altamente abstrata, mas que, aqui, torna-se menos opaca, logo no momento em que ela fala pra mim e pra ela, mostrando que a gente ativa uma referenciação às duas apresentadoras.

A perspectiva muda no momento em que a Angélica fala “Porque de tanto contarem aquela história pra você, você vai acreditando naquilo, entendeu?”. Estas duas ocorrências do dêitico você, mostra uma referenciação que parte do ponto de vista da Angélica, com relação a si mesma. Isto se confirma com a abertura de um

113 enquadramento subjetivo explicitado em “, eu muito menina, com quinze, dezesseis

anos, qualquer coisa que falassem pra mim, ali, é verdade”.

O fato é que a Angélica está incluída no escopo de referenciação. Isto não garante que a faceta seja exclusivamente egocêntrica. Especialmente, porque ela termina sua narrativa falando “Em algum momento a gente realmente acreditou nisso”. Esta fala reitera a manifestação da faceta interlocutória. Entretanto, é imperativo observar quais são os elementos por ela referenciados. No escopo desta referenciação não estão todos os dois interlocutores imediatos. Neste caso, o único interlocutor incluído na referenciação é a Angélica e não o ouvinte (o Alex). Nesse escopo temos a Angélica e a Xuxa. A Xuxa entra na cena imagética da referenciação quando o enquadramento muda com a fala acima.

Para confirmarmos a hipótese referente à faceta do dêitico, farei a substituição do mesmo por suas acepções. O trecho a ser substituído é “Você vai acreditando”. Vejamos como se dá as substituições:

a. Alguém vai acreditando; b. Eu vou acreditando; c. Ela/ele vai acreditando; d. A gente vai acreditando; e. Nós vamos acreditando; f. As pessoas vão acreditando; g. Elas/eles vão acreditando.

É interessante perceber que a opção (a) é muito esquemática, não fazendo nenhum sentido na referenciação. Se o grau de esquematicidade diminui, como em (b) e (c), já é possível delinear de forma mais precisa a referenciação. Entretanto, neste

114 contexto, sabemos que a Angélica falava de si mesma, o que faz a opção (b) ser

plausível e a (c) inaceitável. Não há ancoragem alguma para ela/ele, mas há ancoragem para uma auto-referenciação. A opção (d) e (e) estão aliadas ao contexto, o que pode confirmar a emergência da faceta interlocutória. A opção (f) traria um conflito com a referenciação feita por “as pessoas” que falavam da rivalidade entre as apresentadoras. E a opção (g) não faria o menor sentido, pois romperia com a coerência textual e referenciativa.

Ainda sobre a rivalidade, a Angélica responde a outra pergunta da seguinte forma:

“Eu muito menina, com quinze, dezesseis anos, qualquer coisa que falassem pra mim ali é verdade. Você é uma esponja, você absorve tudo que te falam, né? Quando alguém vinha e falava, sabe o que a Xuxa falou que não gosta de você, porque você não sei que? Porque teu cabelo... eu falava: É? Eu também não gosto dela.”

A tomada de perspectiva é notável, pois ela relata que era menina, com quinze para dezesseis anos e que ela própria acreditava em tudo. As ocorrências em negrito, acima, são manifestações da faceta egocêntrica. A Angélica retrata como ela era, fala da sua própria idade e conta que, por ser tão jovem, era como uma esponja que absorvia tudo. Este é o enquadramento semântico que a apresentadora constrói, neste fragmento.

Assim, fazendo as substituições temos:

a. Alguém é uma esponja... Alguém absorve tudo; b. Eu sou uma esponja... Eu absorvo tudo;

c. Ela/ele é uma esponja... Ela/ele absorve tudo; d. A gente é uma esponja... A gente absorve tudo; e. Nós somos uma esponja... Nós absorvemos tudo;

115 f. As pessoas são uma esponja... As pessoas absorvem tudo;

g. Elas/eles são uma esponja... Elas/eles absorvem tudo.

A única opção que está alinhada com o enquadramento semântico desta fala da Angélica é a (b). Esta fala trata de uma clara auto-referenciação, o que poderá ser confirmado nas análises gestuais.

As duas ocorrências seguintes do dêitico você (“... a Xuxa falou que não gosta de você, porque você não sei que...”) configuram uma referenciação canônica, pois estão num discurso direto feito entre alguém que conversava com a Angélica. Por isso não serão consideradas, nesta análise. Da mesma forma, não será feita a análise da ocorrência em que o você configura o objeto indireto, como em “de tanto contarem aquela história pra você”, pois não há como estudar sua concordância verbal. Entretanto, o você como objeto naquela enunciação mostra que a Angélica estava sendo alvo daquela referenciação, de natureza canônica.

A estrutura TAM deste excerto pode ser assim analisada. Em “você vai acreditando...” temos uma perífrase verbal com gerúndio. Temos uma ação durativa com o verbo ir, que está no presente e o acreditar, flexionado no gerúndio.

Na parte seguinte, em “você é uma esponja”, o tempo é o presente do indicativo e o aspecto é durativo. Já em “você absorve tudo”, o aspecto é pontual, mas

Tabela 4: TAM da 1ª entrevista – Excerto 2.

OCORRÊNCIA TEMPO ASPECTO MODO

“você vai

acreditando...”

Presente Durativo Indicativo

“...você é uma esponja...”

Presente Durativo Indicativo

“...você absorve tudo...”

o tempo se mantém no pres constatações.

Por meio dos gráfico modo, neste segundo excer Todas as ocorrências estão no futuro. Veja a Figura 36.

Figu A forma do presente é mais

Como colocado an fragmento foi o indicativo, t “vai acreditando”. O gráfico

0 1 2 3

PRESEN

presente do indicativo. A tabela 4 permite a visu

ficos abaixo, pode-se observar a estrutura do tem xcerto. Mais uma vez o tempo presente foi o m tão no presente. Nenhuma ocorrência se deu

.

Figura 36: Tempo na entrevista 1, 2º excerto.

mais recorrente. Não há registros de formas pretéritas o

anteriormente, o único modo verbal reg vo, tendo uma ocorrência no gerúndio que é a p

fico da Figura 37 ilustra a análise modal.

SENTE PASSADO FUTURO

TEMPO

116 isualização destas o tempo, aspecto e o mais recorrente. no pretérito, ou as ou no futuro. registrado neste a perífrase verbal

O modo indicativo

Em termos de aspect As formas durativas têm ca uma esponja) e a outra uma absorver. Veja que o gráfico

Figura O aspecto durati 0 1 2 3 IN 0 1 2 3 DU

Figura 37: Tempo na 1ª entrevista, 2º excerto. tivo aparece nas três ocorrências, nesta parte da entrevi

pecto verbal temos duas ocorrências durativas e características interessantes. Uma apresenta u uma ação contínua (vai acreditando). A pontual

fico da Figura 38 ilustra estas asserções.

gura 38: O aspecto da 1ª entrevista, 2º excerto.

rativo aparece em duas das três enunciações analisadas INDICATIVO SUBJUNTIVO IMPERATIVO

MODO

DURATIVO PONTUAL

Aspecto

117 revista.

vas e uma pontual. ta um estado (ser tual é a referente a

118