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2 A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DO CARIRI PARAIBANO:

3.2 O SEMIÁRIDO BRASILEIRO E O CARIRI PARAIBANO: COMPREENDENDO

O Semi-Árido brasileiro não é apenas clima, vegetação, solo, Sol ou água. É povo, música, festa, arte, religião, política, história. É processo social. Não se pode compreendê-lo de um ângulo só. (MALVEZI, 2007, p.9).

As regiões áridas e semiáridas correspondem a 40% dos solos do planeta terra e abrigam aproximadamente 20% a 40% da população humana e conforme estudos históricos e arqueológicos, as primeiras áreas a serem povoadas em toda a história da civilização humana (MENDES, 1997).

Quando falamos do semiárido brasileiro (Figura 01), estamos nos referindo a uma região que ocupa 18,2% (982.566 Km²) do território nacional, abrange mais de 20% dos municípios brasileiros (1.135) e abriga 11,84% da população do país. Mais de 22,5 milhões de brasileiros/as viviam na região em 2010, sendo 14 milhões na

zona urbana e 8,5 milhões na zona rural, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010).

Dados mais atuais mostram que a população desta região já ultrapassa 23,5 milhões de habitantes. De acordo com uma síntese divulgada em setembro de 2014, pelo Sistema de Gestão da Informação e do Conhecimento do Semiárido (Sigsab), em quatro anos a população da região atingiu crescimento de mais de 5%. A população equivale hoje a pouco mais de 34% da população do Nordeste e a cerca de 12% da do país (SIGSAB, 2016).

Figura 01 – Recortes do semiárido paraibano.

Fonte:acervo pessoal.

Os dados nos revelam que grande parte da população do semiárido brasileiro ainda reside na zona rural. Para Malvezi

[...] não são claras as razões que explicam a permanência de tanta gente no campo, sobretudo numa região que muitos consideram inviável. Talvez a população fique porque suas terras ainda não foram confiscadas pelo latifúndio, que não se interessou tanto por elas (MALVEZI, 2007, p.57).

Uma razão que pode explicar a permanência nesta região é a relação do povo catingueiro para com a sua terra. O catingueiro é apaixonado pela caatinga e, ainda que precariamente, aprendeu a viver neste ambiente. A criação de pequenos animais, a apicultura, as diversas formas de captação de água, seu armazenamento em reservatórios escavados no chão, dentre outras soluções, possibilitam que o povo nasça, cresça e se reproduza, embora migre intensamente, para ir e para voltar (MALVEZI, 2007).

A denominação dos povos do semiárido de “catingueiro” faz sentido, pois a região do semiárido corresponde basicamente à delimitação do Bioma Caatinga que é o principal ecossistema existente na região, ocupando uma área de aproximadamente 955.000 Km2, e estendendo-se pelos estados da Bahia, Ceará, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe, Alagoas, parte do Maranhão e norte de Minas Gerais (PRADO, 2005).

O Semiárido nordestino é caracterizado pelas irregularidades no regime pluviométrico, definido pela escassez, irregularidade, temperatura elevada e precipitações anuais variando entre 250 a 1000 mm, distribuídos em um curto período, de 3 a 6 meses. Acerca do regime pluviométrico, Malvezi (2007) relata que no semiárido não há período fixo de chuvas, nem lugar certo, para chover. Para o autor, essa variação de tempo e espaço dificulta, mas não impede a boa convivência com o ambiente. Comparado com outras regiões semiáridas do mundo, onde chove entre 80 a 250mm por ano, o semiárido brasileiro é o mais chuvoso do planeta. Nele, cai do céu, em média, de 200 a 800mm anuais. Uma precipitação pluviométrica concentrada em poucos meses do ano e distribuída de forma irregular em todo semiárido6.

Nessa região, o clima é do tipo BSh (semiárido quente de baixa latitude e altitude), conforme a Classificação de Koppen. O clima semiárido é um tipo de clima caracterizado pela baixa umidade e pouco volume pluviométrico. Na classificação mundial do clima, o clima semiárido é aquele que apresenta precipitação de chuvas média entre 200 mm e 400 mm (VELLOSO; SAMPAIO; PAREYN, 2002).

A região semiárida brasileira (Figura 02) dispõe de significativo potencial para o desenvolvimento sustentável de suas populações. Entretanto, os modelos de

6 Informação disponível em <http://www.asabrasil.org.br/semiarido> Acesso em 12. Mar.

desenvolvimento, no geral, privilegiam o crescimento dos centros urbanos em detrimento das áreas rurais, sendo essas consideradas apenas como fontes de abastecimento alimentar, de matérias-primas, portanto, sem equidade dos espaços.

No entanto, a histórica pressão antrópica exercida sobre este bioma na forma de queimadas, desmatamentos, caça e poluição dos corpos hídricos, somada às características naturais do semiárido, concorre para acentuar a degradação do meio físico, com consequências danosas para a sua biodiversidade.

Assim, as práticas inadequadas de uso e aproveitamento do solo e demais bens naturais comuns7 desta região, aliadas à elevada densidade demográfica e condições climáticas sui generis da região semiárida, têm acentuado o desgaste da paisagem natural deste ambiente, ocasionando assim a perda da biodiversidade e esgotamento destes bens, além de acentuar o processo de desertificação nas áreas susceptíveis.

O semiárido é um espaço com grande concentração de terra, da água e dos meios de comunicação, que historicamente sempre estiveram nas mãos de uma pequena elite. Essa situação gera níveis altíssimos de exclusão social e de degradação ambiental e são fatores determinantes da crise socioambiental e econômica vivida na região8.

Inserido na região semiárida temos o cariri paraibano (ver mais detalhes sobre este no Tópico 1 da Seção III), que constitui uma das regiões naturais do semiárido mais carentes, apresentando um quadro de atraso econômico e social muito grave, assim como um acelerado processo de degradação, determinado pelo efeito combinado entre as condições climáticas próprias da região, falta de políticas públicas adequadas, práticas inadequadas de uso e aproveitamento dos recursos hídricos e demais recursos naturais (LEAL; TABARELLI; SILVA, 2005). Diante deste quadro, é importante que seja estimulada a execução de projetos de EA nesta região, visto a sua necessidade de conservação.

Diante do exposto, faz-se necessário desenvolver projetos que visem conservar os bens naturais da região semiárida. Entretanto, Gadotti (2000) afirma que buscar a conservação pela gestão não é algo facilmente executável,

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Optamos pela terminologia de “Bens Naturais” ao invés de “Recursos Naturais”, pois este último enaltece uma função de meio ambiente “para ser utilizado”, “consumido”. O conceito de bens naturais comuns compreende “os elementos do meio físico que são necessários para sustentar a vida, que são a terra, a água, o ar e as espécies da fauna e da flora, cuja

variedade denomina-se biodiversidade”. Informação disponível em

http://www.mma.gov.br/biodiversidade/biodiversidade-brasileira Acesso em 15. dez. 2015.

8 Informação disponível em <http://www.asabrasil.org.br/semiarido> Acesso em 12. Mar.

principalmente quando as propostas de intervenção apresentadas se contrapõem aos padrões comportamentais da comunidade.

Sabemos que a mudança de comportamento está diretamente relacionada com a elevação do nível de consciência dos grupos humanos envolvidos e sua ação sobre o meio em que estão inseridos, e que, compreender as questões ambientais para além de suas dimensões biológicas, químicas e físicas, como questões sociopolíticas, exige a formação de uma consciência ambiental e a preparação para o pleno exercício da cidadania (PENTEADO, 2010).

Nesse contexto, a formação de uma consciência ambiental e a promoção de atitudes pautadas nos princípios da sustentabilidade nas diversas comunidades do semiárido é fundamental, tanto pela atualidade do tema, como pelo fato de que a EA corresponder a um instrumento básico na solução de problemas regionais, e sua vinculação com as questões ambientais a nível mundial. Ademais, na região semiárida, ainda são escassos os trabalhos que discutam a questão da formação continuada em EA.

Para Sato (2002), a EA deve ser projetada sobre realidades locais e globais, abrangendo os principais espaços da sociedade civil, das diversas instituições e do Estado, com relevância na compreensão de que a relação “ser humano – natureza” é mediatizada pelas relações na sociedade e representa um ponto central na capacidade de ação ética, educativa e comunicativa, que permita a construção de um mundo mais justo e igualitário.

Uma instituição capaz de suprir as necessidades apontadas pela autora é, sem dúvida, a Escola. Nestes espaços, a prática da EA é importante à medida que procura desvendar a natureza do trabalho educativo e como ele contribui no processo de construção de uma sociedade sensibilizada e capacitada a enfrentar o desafio de romper os laços de dominação e degradação que envolve as relações humanas e as relações entre a sociedade e natureza. Para que estes objetivos sejam alcançados, faz-se necessário um corpo docente bem preparado e articulado para lidar com as questões ambientais de maneira interdisciplinar.

Para Saviani, o ensino tradicional pretende transmitir os conhecimentos, isto é, os conteúdos a serem ensinados por esse paradigma seriam previamente compendiados, sistematizados e incorporados ao acervo cultural da humanidade. Dessa forma, é o professor que domina os conteúdos logicamente organizados e estruturados para serem transmitidos aos alunos (SAVIANI, 1991).

Assim, é preciso orientar-nos na direção que a formação não implica somente o saber, mas também o saber-fazer, o poder-fazer (competências), o ser pessoal (ARAUJO; MELO, 2004). Com isso, percebe-se que o nível mais alto de exigência para o sistema escolar corresponde a um ensino em direção à formação integral das pessoas, ampliando os pilares do saber e do saber fazer com o saber ser e o saber conviver.

Encontramo-nos, neste caso, diante de uma proposta de mudanças. Neste contexto, a formação continuada de professores é uma forma de trazer para o centro da discussão não só novas maneiras de ensinar, mas também de refletir sobre como professores atuam em sala de aula.

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