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O Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI):

A Política de Assistência Social, a partir da implantação da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) em 2004, que instituiu o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) implantado em 2005, vem buscando em suas ações a centralidade da família, entendendo que a busca por soluções emergenciais e focalizadas para suprir demandas instantâneas não são suficientes. Intervir no contexto familiar implica buscar mudanças significativas nas formas de olhar, de compreender e de trabalhar com as expressões da questão social, vivenciadas por essas famílias.

É nesta perspectiva então, que a política de assistência social vem buscando sua efetivação, considerando a família, independente de seu “formato”, uma das mediadoras das relações entre sujeitos e a coletividade. Esta política, ao considerar as situações de risco social e vulnerabilidades vividas pelas famílias, principalmente por pressões geradas pelos processos de exclusão social e cultural, entende que as mesmas precisam ser apoiadas pelo Estado e pela sociedade, pois para prevenir, proteger, promover e incluir seus membros, a mesma precisa ter condições de sustentabilidade para tal.

De acordo com a nova política de assistência social, os objetivos da política pública de assistência social são traçados da seguinte forma:

Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e, ou, especial para família, indivíduos e grupos que deles necessitarem; contribuir com a inclusão e a equidade dos usuários e grupos específicos, ampliando o acesso aos bens e serviços socioassistenciais e especiais, em áreas urbana e rural; assegurar que as ações no âmbito da assistência social tenham centralidade na família, e que garantam a convivência familiar e comunitária (BRASIL, 2004, p. 27).

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Também de acordo com a PNAS, são estabelecidas as funções da política de assistência social, e que, portanto, dizem respeito à inserção36, prevenção37,

promoção38 e proteção39 de seus usuários40. Como evidenciado nos objetivos da política pública de assistência social, suas ações são executadas de acordo com o nível de proteção, ou seja, proteção social básica e proteção social especial, dividida em média complexidade e alta complexidade.

A proteção social básica visa prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Seu público alvo constitui-se de pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social decorrente da “pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos, dentre outros) e, ou, fragilização de vínculos afetivos – relacionais e de pertencimento social (discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências, dentre outras)” (BRASIL, 2004, p. 27).

Os serviços de proteção social básica são oferecidos nos Centros de Referência da Assistência Social – CRAS, que “[...] é a unidade pública estatal de base territorial, localizado em áreas de vulnerabilidade social, [...] atua com famílias e indivíduos em seu contexto comunitário, visando a orientação e o convívio sociofamiliar e comunitário” (BRASIL, 2004, p. 29).

A proteção social especial destina-se a famílias e indivíduos “que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas,

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“Inclusão dos destinatários nas políticas sociais básicas proporcionando-lhes o acesso a bens, serviços e direitos usufruídos pelos demais segmentos da população” (COUTO 2006, p. 32)..

37“Criar apoios nas situações circunstanciais de vulnerabilidade, evitando que o cidadão resvale do

patamar de renda alcançado ou perca o acesso que já possui aos bens e serviços, mantendo-o incluído no sistema social a despeito de estar acima da linha de Pobreza” (COUTO 2006, p. 32).

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“Promover a cidadania, eliminando relações clientelistas que não se pautam por direitos e que submetem, fragmentam e desorganizam os destinatários” (COUTO, 2006, p. 32).

39“Atenção às populações excluídas e vulneráveis socialmente, operacionalizadas por meio de ações

de redistribuição de renda direta e indireta” (COUTO, 2006, p. 32).

40 Como já evidenciado anteriormente, estes compreendem "cidadãos e grupos que se encontram em

situações de vulnerabilidade e riscos, tais como: famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadas em termos étnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e, ou, no acesso às demais políticas públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes formas de violência advinda do núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social" (BRASIL, 2004, p. 27).

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cumprimento de medidas sócio-educativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras” (BRASIL, 2004, p. 31).

Com relação à proteção social especial de média complexidade, esta dispõe de serviços “que oferecem atendimentos às famílias e indivíduos com seus direitos violados, mas cujos vínculos familiar e comunitário não foram rompidos” (BRASIL, 2004, p. 31). Tais serviços são oferecidos nos Centros de Referência Especializados da Assistência Social - CREAS.

O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) configura-se como uma unidade pública e estatal, que oferta serviços especializados e continuados a famílias e indivíduos em situação de ameaça ou violação de direitos (violência física, psicológica, sexual, tráfico de pessoas, cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto, etc.). A oferta de atenção especializada e continuada deve ter como foco a família e a situação vivenciada. Essa atenção especializada tem como foco o acesso da família a direitos socioassistenciais, por meio da potencialização de recursos e capacidade de proteção. O CREAS deve, ainda, buscar a construção de um espaço de acolhida e escuta qualificada, fortalecendo vínculos familiares e comunitários, priorizando a reconstrução de suas relações familiares. Dentro de seu contexto social, deve focar no fortalecimento dos recursos para a superação da situação apresentada. Para o exercício de suas atividades, os serviços ofertados nos CREAS devem ser desenvolvidos de modo articulado com a rede de serviços da assistência social, órgãos de defesa de direitos e das demais políticas públicas. A articulação no território é fundamental para fortalecer as possibilidades de inclusão da família em uma organização de proteção que possa contribuir para a reconstrução da situação vivida. Os CREAS podem ter abrangência tanto local (municipal ou do Distrito Federal) quanto regional, abrangendo, neste caso, um conjunto de municípios, de modo a assegurar maior cobertura e eficiência na oferta do atendimento (BRASIL, 2011a, s/p.).

Já os serviços de proteção social especial de alta complexidade “são aqueles que garantem proteção integral – moradia, alimentação, higienização e trabalho protegido para famílias e indivíduos que se encontram sem referência e, ou, em situação de ameaça, necessitando ser retirados de seu núcleo familiar e, ou comunitário” (BRASIL, 2004, p. 32).

Atualmente, de acordo com a Resolução nº 109, de 11 de novembro de 2009, que aprova a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, organizados por níveis de complexidade do SUAS (Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade), estão previstos, no âmbito do CREAS, os seguintes serviços: Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e

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Indivíduos (PAEFI); Serviço Especializado em Abordagem Social; Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA), e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC); Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosas e suas Famílias; Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua.

No que se refere ao Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI), é importante evidenciar como este foi se constituindo historicamente. Considerando que a violência, o abuso e a exploração sexual cometida contra crianças e adolescentes representa para estas, uma situação de risco pessoal e social, o Governo Federal também procurou uma alternativa para amenizar tal situação. Dessa forma, buscando cumprir com o compromisso político assumido no I Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, realizado em Estocolmo, capital da Suécia (1996), de construir políticas públicas que garantam os direitos de crianças e adolescentes em situação de risco, elaborou-se, no ano de 2000, o Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-Juvenil. A prioridade estabelecida neste plano foi a implantação do Serviço Sentinela, que ocorreu em 2001, dentro do âmbito da Política de Assistência Social. Em 2005, o Serviço Sentinela foi inserido no Sistema Único de Assistência Social/SUAS como Serviço de Proteção Social Especial de Média Complexidade. Portanto, o “locus” de execução do Serviço Sentinela passou a ser o CREAS. Ressalta-se, portanto, que a partir do desenvolvimento das ações do Serviço Sentinela no âmbito do CREAS, o mesmo passou a ser chamado de Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes, substituindo a terminologia Serviço Sentinela.

Mais recentemente, a partir da resolução anteriormente citada, o nome do serviço foi novamente alterado, passando a denominar-se Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI), que oferta:

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[...] apoio, orientação e acompanhamento especializado a famílias e indivíduos em situação de ameaça ou violação de direitos. Compreende atenções e orientações direcionadas à promoção de direitos, à preservação e ao fortalecimento de vínculos familiares, comunitários e sociais e o fortalecimento da função de proteção das famílias diante do conjunto de condições que causam fragilidades ou as submetem a situações de risco pessoal e social. Nessa direção, o PAEFI oferece atendimento a indivíduos e famílias em diversas situações de violação de direitos, como violência (física, psicológica e negligência, abuso e/ou exploração sexual), afastamento do convívio familiar devido à aplicação de medida socioeducativa ou medida de proteção; tráfico de pessoas; situação de rua; mendicância; abandono; vivência de trabalho infantil; discriminação em decorrência da orientação sexual ou raça/etnia e outras formas de violação de direitos decorrentes de discriminações ou submissões (BRASIL, 2011b, s/p.).

Com relação ao exposto, percebe-se que várias conquistas e avanços foram obtidos recentemente no âmbito da política de assistência social com vistas a melhorar a qualidade do atendimento prestado aos seus usuários, seja na forma de programas, projetos, serviços e benefícios, todos visando, cada vez mais, o exercício e a garantia de direitos.

Com relação ao PAEFI, destaca-se que o estudo aqui proposto poderá dar subsídios para maior qualificação do mesmo, já que se propõe a identificar a relação da exploração sexual de adolescentes com a vulnerabilidade social das famílias – instituição esta que é central para a política de assistência social.

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4 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

No exercício profissional, os Assistentes Sociais deparam-se com diversas expressões da questão social que cotidianamente interferem na vida dos usuários. Estas expressões, a exemplo da fome, da pobreza, do desemprego e da violência exigem das diferentes políticas sociais públicas e dos profissionais que nelas atuam respostas, soluções e/ou formas para o seu enfrentamento. No entanto, para que respostas sejam planejadas e executadas faz-se necessário o conhecimento da realidade vivida pelos sujeitos. Dentre as possibilidades de se conhecer esta realidade, está aquela que decorre da pesquisa, que emprega procedimentos científicos.

Entendemos por pesquisa a atividade básica da Ciência na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação. Ou seja, nada pode ser intelectualmente um problema, se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática. As questões da investigação estão, portanto, relacionadas a interesses e circunstâncias socialmente condicionadas. São frutos de determinada inserção no real, nele encontrando suas razões e seus objetivos (MINAYO, 1994b, p. 17-18).

A pesquisa é "[...] o processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos" (GIL, 1999, p. 42). Constitui-se, portanto, no caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais, o que, por hora, diz respeito a uma de suas finalidades.

No que se refere à pesquisa social, tem-se que a mesma possui uma carga histórica, “reflete posições frente à realidade, momentos do desenvolvimento e da dinâmica social, preocupações e interesses de classes e de grupos determinados” (MINAYO, 2000, p. 23). Caracteriza-se por ser mais abrangente, pois a realidade se expressa como uma totalidade que envolve as mais diferentes áreas de conhecimento e também ultrapassa os limites da ciência.

Nesta perspectiva, o tema e delimitação deste estudo compreende a exploração sexual de adolescentes nos municípios de São Borja e Itaqui/RS e sua

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relação com a vulnerabilidade social das famílias atendidas no Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI).

O estudo representa a possibilidade de ampliar os conhecimentos acerca da violência sexual contra crianças e adolescentes, já que esta tem como principais formas de sua manifestação o abuso sexual e a exploração sexual. Com relação ao abuso sexual, este se constituiu em objeto de estudo da autora, na pesquisa realizada para a elaboração da dissertação de Mestrado em Serviço Social.

A realização da pesquisa nos municípios anteriormente mencionados justifica-se pelo fato de haver uma relação e implicação da pesquisadora com os mesmos. Atualmente a autora desta tese é docente do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)41, que está situada em dez (10) municípios da região fronteiriça do Estado do Rio Grande do Sul, incluindo São Borja (campus onde a pesquisadora desenvolve o seu trabalho como docente) e Itaqui (município vizinho de São Borja). Quando realizou o concurso para ingressar nesta universidade apresentou no Memorial Descritivo de Trajetória Acadêmica uma proposta de trabalho que incluía atividades de ensino, pesquisa e extensão. No que se refere à pesquisa, propôs um estudo que contemplasse municípios da região da fronteira oeste e que tivessem implantado o CREAS – Centro de Referência Especializado da Assistência Social, buscando assim analisar de que forma o Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI) vem contribuindo para o enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes.

A partir da aprovação no referido concurso (em 18 de junho de 2010) e considerando o recente ingresso no Doutorado em Serviço Social (março de 2010), a pesquisadora legitimou o compromisso firmado com a UNIPAMPA. Elaborou o projeto de pesquisa do Doutorado de acordo com a proposta de trabalho apresentada à UNIPAMPA. Além disso, registrou o referido projeto junto a Comissão Local de Pesquisa da UNIPAMPA, campus São Borja, o que possibilitou a

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“A UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA é resultado da reivindicação da comunidade da região, que encontrou guarida na política de expansão e renovação das instituições federais de educação superior, que vem sendo promovida pelo governo federal. Veio marcada pela responsabilidade de contribuir com a região em que se edifica - um extenso território, com críticos problemas de desenvolvimento sócio-econômico, inclusive de acesso à educação básica e à educação superior - a “metade sul” do Rio Grande do Sul. Veio para contribuir com a integração e o desenvolvimento da região de fronteira do Brasil com o Uruguai e a Argentina” (UNIPAMPA, 2009, p. 3).

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participação de alunos (as) bolsistas e voluntários (as) no desenvolvimento da pesquisa.

Com base no exposto, a pesquisa realizada para a elaboração e apresentação desta tese de doutorado, teve como problema de estudo Quais as dimensões de vulnerabilidade social que os (as) adolescentes em situação de exploração sexual estão expostos e como essas vulnerabilidades são reconhecidas e enfrentadas pelos profissionais vinculados ao PAEFI?

Quanto aos objetivos, destaca-se inicialmente o geral e na sequência os específicos: Identificar a relação da exploração sexual de adolescentes com a vulnerabilidade social das famílias e de que forma o PAEFI contribui para o enfrentamento deste fenômeno, a fim de oferecer subsídios para potencializar as políticas públicas de enfrentamento a esta forma de violência; Compreender como se constituem as experiências sociais de vulnerabilidade social vivenciadas pelas famílias de adolescentes vitimizadas(os) pelas relações de exploração sexual; Identificar os fatores que contribuem para vitimização de adolescentes através das relações de exploração sexual; Avaliar de que forma o Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI) contribui para o enfrentamento das situações de vulnerabilidade social das famílias de adolescentes exploradas sexualmente.

A seguir são apresentados os demais elementos da metodologia.