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O setor de cerâmica vermelha na cadeia produtiva da construção civil

CAPÍTULO 4. O Arranjo Produtivo Local (APL) de cerâmica vermelha

4.2 O setor de cerâmica vermelha na cadeia produtiva da construção civil

A cadeia produtiva da construção civil representa cerca de 16% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e gera 15 milhões de emprego, sendo 4 milhões de empregos diretos. No documento “Agenda Política para a Cadeia Produtiva da Construção Civil”, estudo encomendado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) em 2004, é possível verificar que nos anos recentes anteriores a 2004 o desempenho foi bastante negativo sendo que “a última expansão do PIB da construção civil deu-se em 2000 (2,6%) e, desde então, o PIB do setor acumulou queda de 12,7%, sendo que apenas em 2003 a contração foi de 8,6%” (Fiesp/Ciesp, 2004, p. 9).

Diversas são as atividades componentes do macro setor da construção civil, conforme apresentado pelo Gráfico 4.1. O setor de construção responde por 33% da cadeia produtiva da construção civil; matérias primas por 19%; e serviços por 46% da cadeia.

Gráfico 4.1. – Componentes da Cadeia da Construção Civil. Fonte IPEA (2000 apud Casarotto, 2002)

Segundo Fabrício (1999) apud Casarotto (2002), os agentes envolvidos na cadeia da construção civil apresentam diversos portes empresariais e diferentes níveis de tecnologia agregada em seus processos. Outra característica marcante é a preponderância de pequenas e médias empresas, dispersas pelo território e com um forte vínculo com a sua região. Pelo Anexo IV deste trabalho é possível visualizar esquematicamente a cadeia produtiva da construção civil, lembrando que não é o nosso objetivo apresentar uma visão detalhada dessa cadeia.

A indústria cerâmica, parte da cadeia da construção civil, é responsável no Brasil por cerca de 1% do PIB, e corresponde a um conjunto bastante heterogêneo de empresas. Apresenta uma estrutura produtiva composta por diversos segmentos, com destaque para o setor de Cerâmica Estrutural (vermelha) que, em 2004, obteve um faturamento de US$ 4,2 bilhões; seguida pelo segmento de Cerâmica de Revestimento (pisos e azulejos), com faturamento de US$ 3,9 bilhões (Associação Nacional da Indústria Cerâmica, 2006). Pela Tabela 4.1 – dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento (Anfacer) de 2006 – é possível observar os principais segmentos da indústria cerâmica, classificados pelo valor anual de sua produção.

Tabela 4.1. – Classificação dos principais segmentos da indústria cerâmica pelo valor anual de sua produção.

Fonte: Anfacer (2006).

O setor de cerâmica estrutural ou vermelha é um grande consumidor de matérias-primas minerais e de insumos energéticos. Produz tijolos furados, tijolos maciços, lajes, blocos de vedação e estruturais, telhas, manilhas e pisos rústicos, base para a construção civil.

Figura 4.1. – Cadeia produtiva da indústria da cerâmica estrutural ou vermelha. Fonte: Espaço Tecnológico Alesp (2005)

Com respeito à presença das unidades fabris da indústria de cerâmica vermelha no território brasileiro, concentram-se majoritariamente nas regiões Sul e Sudeste. Este segmento industrial tem seus principais pólos localizados nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Norte, nos municípios detalhados pela Tabela 4.2.

Tabela 4.2. – Principais Pólos de Cerâmica Estrutural por Estados e Municípios 2006. Fonte: RAIS (2006).

Principais Pólos de Cerâmica Estrutural por Estados e Municípios 2006

São Paulo Paraná Catarina Santa Janeiro Rio de Gerais Minas Rio Grande do Norte

Itu – Campinas Santa Gertrudes – Cordeirópolis Tatuí – Sorocaba

Tambaú – Vargem Grande do Sul

Mogi-Guaçu – Itapira Panorama – Paulicéia José Bonifácio – Avanhandava Barra Bonita – Bariri Ourinhos – Palmital Região do Rio Ivaí Eixo Imbituva – Prudentópolis (Ponta Grossa) Costa Oeste Região Norte Região Sul (Criciúma) Centro- Oeste (Blumenau) Região Oeste Itaboraí Campos dos Goytacazes Monte Carmelo – Araguari Vale do Açu

É um setor bastante pulverizado, composto principalmente de micro e pequenas empresas, quase sempre de organização familiar, utilizando em geral, tecnologias desenvolvidas há mais de 30 anos. Uma quantidade pequena de empresas, porém crescentes, utiliza processos produtivos com tecnologias mais atuais, como sistemas semi-automáticos de carga e descarga e fornos túneis (Dualibi e Carvalho, 2002).

Conforme Bustamante e Bressiani (2000), estima-se que existem 11.000 unidades produtivas, com média de 25 a 30 empregados, somando entre 250.000 a 300.000 empregos. Movimentam ao redor de 60.000.000 toneladas de matérias – primas ao ano, com reflexos nas vias de transportes, como também no meio ambiente (lavras de argila).

As empresas atum em um raio de aproximadamente 250 km para o transporte de produtos, sendo que para telhas o alcance é maior, cerca de 500 km; havendo casos de 700 km para telhas especiais.

A produção anual está estimada em US$ 2,5 milhões (conforme apresentado na Tabela 4.1), recurso este que costuma ficar nos locais de produção. É um setor com alto significado social, quando pensado pela grande quantidade que gera de empregos,

como também pelo fornecimento de blocos e telhas para a construção em geral, principalmente moradias.

Usualmente as empresas do setor possuem reservas e jazidas próprias de matéria-prima. Modificações vêm ocorrendo nas empresas produtoras de cerâmica, fazendo com que elas passem a terceirizar a suprimento destes materiais.

As empresas fornecedoras de matéria-prima, em geral, são de pequeno porte, quase sempre nas proximidades dos pólos de consumo. A argila, matéria-prima das cerâmicas, tem baixo valor agregado e o seu transporte tem um custo alto.

A maior parte da produção das micro e pequenas indústrias de cerâmica vermelha é vendida sem nota fiscal, isto é, cerca de 70 a 90% de toda a produção é vendida de forma a sonegar impostos.

Com menção às questões que afetam o segmento de Cerâmica Vermelha como um todo, Duailibi Filho & Carvalho (2002) enumeram:

- Baixa qualidade dos produtos (grande variação dimensional e baixa resistência mecânica);

- Grande manuseio de matérias-primas, cerca de 83 milhões de teneladas/ano. A exploração das argilas de forma não racional causa impacto ambiental e escassez; - A lenha ainda é empregada, na sua maioria, como insumo energético, advindas de florestas naturais e até mesmo de mangues. A maioria das empresas utilizam fornos de pouca eficiência energética;

- A qualificação da mão-de-obra é bastante baixa, com pouco ou inexistente treinamento para empregados e deficiências na gestão administrativa. A gestão da empresa ainda é realizada pela família proprietária;

- A produtividade média, 12.000 peça/operário/mês, é bastante baixa quando comparada com o padrão europeu de 200.000 peças/operário/mês. Grande defasagem tecnológica tanto em termos de maquinário, nível de automação, etc., como no próprio processo de produção (em suas 4 etapas básicas: extração e preparo das matérias-primas, conformação, secagem e queima);

- Necessidade de redução do custo da produção, aliada às exigências de adequação às normas técnicas;

- Preocupação voltada para reduzir a grande diversificação de tipos de produtos existentes, não somente visando uma redução de custos de produção, como também para atender melhor à construção civil, fornecendo produtos adequados aos padrões

técnicos a proporcionar a diminuição dos desperdícios que, de um modo geral, está na ordem de 30% da produção desse segmento industrial.

4.3 A contextualização e caracterização do pólo de Cerâmica Vermelha de