• Nenhum resultado encontrado

O MUNICÍPIO DE PIRACICABA, O MERCADO IMOBILIÁRIO E O CAPITAL SOCIAL LOCAL.

4.4. O setor e o ambiente da construção civil local.

Como observado no capítulo 2, o MCMV foi importante enquanto política de combate à crise externa para a geração de renda e emprego.

Para Piracicaba, a Tabela 14 sintetiza informações referentes à participação percentual em termos de empregos formais com carteira assinada e rendimento médio mensal dos diferentes setores da economia local comparativamente às médias estaduais em São Paulo.

Tabela 14. Participação relativa de cada setor no total de empregos formais e rendimento médio mensal, em Reais (R$), por setor da economia no município de Piracicaba e no Estado de São Paulo, referente ao ano de 2010. SETOR % DE EMPREGADOS EM PIRACICABA % DE EMPREGADOS NO ESTADO DE SÃO PAULO RENDIMENTO MÉDIO DOS EMPREGOS EM PIRACICABA RENDIMENTO MÉDIO DOS EMPREGOS NO- ESTADO DE SÃO PAULO Agricultura, Pecuária, Pesca e Produção Florestal no Total de Empregos Formais 0,86% 2,39% 1479,59 1576,09 Indústria no Total de Empregos Formais 33,92% 20,15% 3235,39 2979,77 Construção no Total de Empregos Formais 5,62% 5,33% 1807,57 2250,68 Comércio Atacadista, Varejista e Reparação de Veículos 22,31% 19,56% 1823,96 1954 Serviços 37,29% 52,57% 2564,98 2682,2

Fonte: IBGE (apud: SEADE, consulta em jul. 2015).

Pela Tabela 14 é possível observar que, em termos de geração de empregos formais, destacam-se no município os setores de serviços e da indústria, justamente os que possuem a maior capacidade de oferecer aos empregados com carteira assinada o maior retorno médio, em Reais.

O setor da construção civil em Piracicaba, assim como no restante do Estado de São Paulo, responde por pouco mais de 5% em relação ao total dos registros em carteira. Este setor no município, por sua vez, esta entre os que oferecem os piores rendimentos médios, superando apenas o setor da agricultura local.

Em relação ao número de empregados por setor, observa-se pela leitura do Gráfico 19 que as contratações acompanharam a conjuntura macroeconômica: a partir de 2002 há elevação no nível geral de empregos com carteira assinada no município. Essa elevação generalizada sofre uma retração em quase todos os setores da economia com a crise de 2008, mas mostra recuperação a partir de 2009.

A partir de 2011, porém, o que se observa não é a retração, mas a estagnação das contratações em quase todos os setores.

Gráfico 19. Número de empregados por atividade econômica no município de Piracicaba, de 1996 a 2013.

Fonte: Elaborado pelo autor com dados do Ministério do Trabalho e Emprego (RAIS – apud: IPPLAP, 2015)

Para a construção civil em específico, fica visível que a partir de 2005 houve um salto na demanda por mão-de-obra no setor. Tal demanda por trabalhadores - passando pela crise de 2008 com uma breve queda - se estagnou a partir de 2011 e vem mantendo o número de contratados no setor. A exceção ficou por conta das contratações na indústria local, que aumentaram entre 2011 e 2013. Possivelmente esta manutenção da elevação dos empregos

0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 35000 40000 45000 50000 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3 construção civil comércio serviços administração pública agropecuária indústria

na indústria para Piracicaba possa estar associada à chegada da multinacional sul-coreana Hyundai, do setor automotivo, com todas as possibilidades de geração de empregos diretos e indiretos. A previsão da injeção de investimentos desta empresa para o município era da ordem de 600 milhões de dólares para o período de 2011 a 2012 (IPLLAP, 2015).

Sobre as empresas da construção civil e o mercado onde elas atuam, dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC, 2014) mostram que muitas empresas atuam no segmento da construção. A maioria, porém, sabe-se que são de empresas que participam de sub- empreitadas e/ou meras prestadoras de serviços. Dias e Castelo (2013) apontam que, no estado de São Paulo, aproximadamente 100 construtoras atuam no MCMV.

É um número consideravelmente grande, mas representa pouco em termos do número de empresas abertas que atuam no setor da construção como um todo.

O Gráfico 20 mostra a evolução do número de estabelecimentos que atuam no setor, classificados enquanto empresas do ramo da construção civil. Não discrimina, porém, o porte dos estabelecimentos e as áreas específicas de atuação (construção pesada, construção residenciais, prestadoras de serviços).

De qualquer maneira, vê-se que a proliferação do número de estabelecimentos também teve relação com o volume de crédito ao setor - já mostrados no capítulo 2 - e que atraiu mais empresas (players) para o segmento.

Gráfico 20: Número de estabelecimentos da construção civil, de 2000 a 2013.

Fonte: CBIC (2014).

As empresas do setor também não se limitam, muitas vezes, a atuar em suas regiões de origem, razão pela qual algumas localidades podem ser mais atrativas do que outras. Por esse motivo, é um tanto irrelevante indicar o número de empresas do setor sediadas em Piracicaba.

Para além das análises de dados, na questão da atração de investimentos e empresas para a cidade, alguns aspectos que puderam ser tratados nas entrevistas com os atores de mercado e que são relevantes para a pesquisa esteve relacionado à percepção deles para com dois pontos: primeiro, as facilidades institucionais encontradas no município, entendidas aqui como legislação favorável/estimulante aos negócios e; segundo, a percepção desses “players” em relação à existência ou não de corrupção e a agilidade burocrática dos órgãos públicos na aprovação de projetos.

Em relação ao primeiro quesito, a análise de Goulart, Terci e Otero (2014), apontam que a legislação no município de Piracicaba é mais “permissiva” para empreendimentos habitacionais voltados para o interesse social, expondo como exemplos as Leis Complementares 206/2007 (art. 146) e 207/2007 (art. 43-50), que imprimem vantagem ao empreendedor pela execução de lote mínimo com área inferior à ZEIS em que ele se insere. Para os autores, essa seria a explicação para proliferação deste instrumento no município.

Apenas para fins de apontamento das ações ou reações dos atores políticos frente aos estímulos do Governo Federal através do MCMV, sem entrar no julgamento de mérito dessas leis, são apontadas abaixo outras mudanças

0 20.000 40.000 60.000 80.000 100.000 120.000 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

jurídicas ocorridas no município de Piracicaba, de forma não exaustiva, a saber34:

• Lei Complementar 248/2009: Isenta de impostos sobre transmissão “inter-vivos” - ITBI - sobre imóveis provenientes de programas populares de habitação;

• Lei Complementar 268/2011: aprova o Plano Municipal de Habitação de Interesse Social (PMHIS);

• Lei Complementar 315/2013: dispensa o empreendedor de caução para os loteamentos e condomínios do Programa Minha Casa Minha Vida que forem implantados em Piracicaba;

• Lei Complementar 280/2013: autoriza a prefeitura na doação de terreno ao Fundo de Arrendamento Residencial (FAR) para implantação de projeto de moradia popular do MCMV; • Lei Complementar 09/2015: isenta o empreendedor de IPTU

para os imóveis do Programa Minha Casa Minha Vida, Faixa 1, enquanto esses imóveis estiverem sendo construídos; Outros inúmeros decretos municipais foram expedidos no intuito de regulamentar critérios de seleção de beneficiários do programa, bem como a Lei Ordinária 7578/2013, no qual o município assina termo de compromisso e adesão com o Governo do Estado de São Paulo para parceria na habitação de interesse social, esta visando integrar recursos do Governo do Estado e do Governo Federal. Neste último caso, não implica em dizer que esta prática era nova no município, pois há diversos registros de parcerias entre município, estado e união para a construção de habitação popular na cidade antes da data da institucionalização desta parceria.

Com relação ao segundo ponto - percepção dos atores em relação à existência ou não de corrupção local para dar andamento aos projetos - um dos primeiros aspectos trabalhados junto ao setor empresarial e que norteou a entrevista esteve focado na questão da confiança dos empreendedores nas instituições e nos órgãos municipais.

A intenção foi a de perceber se o ambiente local é favorável aos negócios; afinal, conforme visto na revisão de literatura do capítulo 1, em um

34 Pesquisa realizada no site da Câmara de Vereadores de Piracicaba: www.camarapiracicaba.sp.gov.br, consulta em jul./2015.

ambiente social mais honesto, os custos de transação são menores, há maior possibilidade de parcerias para realizar negócios e, consequentemente, cria-se um clima mais favorável à construção do capital social.

Como resposta, os empreendedores da construção civil entrevistados e que atuam em Piracicaba foram unânimes em afirmar que nunca tiveram qualquer problema em relação à existência de corrupção local para a aprovação e execução de seus projetos; algo que, segundo os próprios, não é uma realidade em outras localidades. Conforme afirmou um deles: “há cidades onde você encontra problemas de todas as ordens para implantar um projeto”. Outro entrevistado afirma que “dependendo da cidade, você pode ter uma experiência terrível”.

Para um dos empreendedores entrevistados: “é fácil observar que em Piracicaba há muitas construtoras vindas “de fora”, isso é um reflexo da cidade, de que não há favoritismo e corrupção para execução dos projetos”.

Se pela ótica da confiança, em termos de ausência de corrupção, o município está bem quisto pelo mercado da construção civil, a opinião não é a mesma em relação à agilidade burocrática.

Vários entrevistados apontaram a lentidão dos órgãos municipais (não só locais, mas também como realidade presente em outras administrações) como um fator de atraso nos lançamentos de empreendimentos, o que prejudica os negócios.

Os entrevistados mostram compreensivos e adeptos às necessidades de cumprir os requisitos legais, bem como compreendem que o atendimento de todos os esses requisitos depende da aprovação de diferentes órgãos e em diferentes secretarias, mas sentem-se prejudicados pela lentidão estatal.

Para um dos entrevistados: “o que é mais complicado aqui são as lentidões nas aprovações. Isso deveria ser mais rápido. Há cidade onde se aprova tudo em 4 meses, enquanto aqui não há precisão, podendo chegar a até três anos”. Para outro: “Piracicaba é um lugar muito bom: a aprovação de projetos funciona bem, sem corrupção. O que atrapalha um pouco aqui é a burocracia, a lentidão”.

Visto o ambiente para as construtoras, caminha-se para a análise do ambiente para as imobiliárias.