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CAPÍTULO 1 WALMART BRASIL: TRAJETÓRIA DE INTERNACIONALIZAÇÃO E

1.4 O Setor varejista e supermercadista no Brasil

No ano de 2016, o comércio respondeu, em seu conjunto, por 12,3% do PIB e contava com 9,3 milhões de comerciários que, por sua vez, representavam 20% dos trabalhadores formais no país,

54Pratap, Abhijeet. “Walmart International sales and International stores”, 19 de março de 2018. Última atualização: 22 de dezembro de 2018. Disponível em: https://www.cheshnotes.com/walmart-international-sales-and-international- stores/. Último acesso em 15/01/2019.

ficando atrás somente do setor de serviços (35,8%) (DIEESE, 2017a).

O comércio tem sido definido no Brasil como o conjunto de “atividades cuja função é interligar a produção industrial ao consumo, por meio da seleção de produtos, aquisição, distribuição, comercialização e entrega” e subdivide-se em três grandes segmentos: varejo, atacado e veículo. No país, seguindo a tendência mundial, o setor também é conhecido como tradicional absorvedor de força de trabalho menos qualificada do que a empregada no setor industrial. Observa-se ademais a suscetibilidade do setor em relação à política econômica, ou seja, as mudanças de conjuntura macroeconômica e nos níveis de renda dos consumidores afeta rapidamente o volume de vendas (SANTOS; COSTA, 1997).

O comércio varejista, entre 2004 e 2014, registrou taxas positivas e teve crescimento acima do PIB, porém, o volume de vendas caiu 4,3% em 2015 e 6,2%, em 2016, bem como reduziram-se as despesas de consumo das famílias (4,2%) e a massa salarial (3,5%). O recuo recente também pode ser percebido através do número de estabelecimento que foram fechados. De acordo com dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC), houve o fechamento de 80,1 mil lojas em 2015, 108,7 mil em 2016 e 226,5 mil em 2017. Apesar disso, entre 2001 a 2016, o setor cresceu 77,9%, a taxa acima do crescimento do PIB do período (45,9%).

Cabe destacar que no comércio varejista, as empresas que possuíam até 19 pessoas ocupadas (96,8% do total) foram as que geraram a maior parcela da receita operacional líquida (R$ 490,6 bilhões ou 37,9% do total); pagaram a maior parte das remunerações, R$ 54,2 bilhões (46,2%); e empregaram a maior parte do pessoal ocupado, 4,6 milhões (57,9%) (IBGE, 2016). Como esses dados evidenciam, predomina no comércio varejista um alto número de estabelecimentos de pequeno porte, em termos de pessoal ocupado, e cujas vendas destinam-se ao consumidor final, para uso familiar ou pessoal (IBGE, 2016).

Os dados mais recentes para o varejo referem-se à pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo para o ranking das 300 maiores empresas do setor, de 2018. Os dados coletados de 2017 destacam: que o maior grupo do varejo é o Grupo Pão de Açúcar (GPA), com faturamento de R$ 77,56 bilhões, o equivalente a 12,87% do faturamento total das 300 empresas pesquisadas; que o Carrefour é a maior empresa de varejo do País, com um faturamento de R$ 49,6 bilhões, ou 8,24% das vendas das maiores varejistas e que o setor com maior número de empresas no Ranking é o de Supermercados, com 140 representantes, reafirmando a relevância econômica deste segmento.

Os supermercados são estabelecimentos varejistas que oferecem uma grande variedade de produtos através de sistemas de autosserviço, onde o consumidor seleciona as mercadorias desejadas sem a necessidade de vendedores e as transporta até o caixa por meio de cestas e carrinhos. O autosserviço começou a crescer no comércio nos EUA nos anos 1930, momento também do surgimento dos primeiros supermercados. No Brasil, os supermercados começaram a surgir apenas na década de 1950 e somente nos anos 1960 que se firmaram como principal via de distribuição de alimentos (GHISI, 2005).

Seguindo o movimento já destacado como um fenômeno para a maioria dos países após a década de 1970, o setor supermercadista no Brasil começou a passar por alterações significativas a partir de 1995. Entre elas, destacam-se: 1) a internacionalização (e desnacionalização), com forte penetração do capital estrangeiro; 2) mudança na relação de força na cadeia produtiva, com incremento do poder de pressão das grandes redes sobre seus fornecedores; 3) difusão de novos padrões de gestão; 4) concentração do setor; 5) maiores exigências de qualificação para mão-de-obra e 6) incorporação tecnológica (DIEESE, 2003, p. 1–2)

O processo de concentração no setor supermercadista no Brasil ganha força a partir de 1995 até o início dos anos 2000. A partir dos dados das 300 maiores redes do segmento, que representam 80% do total do faturamento no setor, o relatório do DIEESE mostra que:

[...]as duas maiores redes (Pão de Açúcar e Carrefour) que, em 1993, detinham 25% do faturamento total, passaram a responder por 42%, em 2002. Já o conjunto formado pelas cinco maiores que, em 1993, faturaram 36% do montante faturado pelas trezentas empresas consideradas na análise, passou a faturar 59%, em 2002 (DIEESE, 2003).

Essa concentração pode ser melhor percebida a partir da Tabela 3, que destaca os principais processos de aquisição realizados no Brasil no período de 1995 a 2005. Importante salientar que em 2002, o Wal-Mart Brasil S/A (atualmente Walmart Brasil Ltda.) era a sexta maior rede supermercadista, com apenas 2,1% de participação no setor e cujo crescimento deu-se a partir de 2005 com a aquisição das redes que naquele momento eram a terceira e quarta maior do segmento.

Tabela 3 - Aquisições realizadas pelas maiores redes supermercadistas no Brasil entre 1995-2005 Classificação no Ranking ABRAS 2002 Empresas Participação no setor Aquisições Bandeiras 1 Companhia Brasileira de Distribuição 15%

Jerônimo Martins Distribuição Brasil Ltda. (Sé Supermercados), Shibata e Mogiano, Peralta (que comprou Batagin), Paes Mendonça, Barateiro, Reimberg e Cia, Supermercadinhos São Luís (CE), Nagumo, Mappin, Millus, Sab, Freeway, Pamplona, Manbo, Ipical, ABC

Extra Hipermercados, Pão de Açúcar, ABCBarateiro, Compre Bem e Extra Eletro

2

Carrefour Com. Ind. Ltda

13% Lojas Americanas, Planaltão, Roncetti,

Mineirão, Rainha, Dallas, Continente, Eldorado, Stoc, HiperManaus

Carrefour, Champion, Dia% 3 BomPreço S/A Superm. Do Nordeste 4%

Supermar, Petipreço BomPreço

4

Sonae

Distribuição Brasil S/A

4%

Coletão(PR), Cância (SP), Cia. Real de Distribuição (RS), Nacional (que adquiriu as marcas Dosul, Zottis, Trevisan e Calcanhoto no RS), Extra Econômico, Grupo Joaquim Oliveira (detentor das marcas Big e Real), Mercadorama

Big, Mercadorama, Coletão, Nacional, Cândia e Maxxi Atacado

5 Sendas S/A

3%

Parlé, Três Poderes

Sendas, Bon Marché, casa Show, Drogaria Sendas

Fonte: GHISI, 2005, p. 37.

No período recente, apesar das dificuldades econômicas que o país vem sofrendo, o segmento de super e hipermercados continua obtendo um faturamento crescente. Segundo dados da Associação Brasileira de Supermercados – ABRAS, em 2017 o faturamento foi de 353,3 bilhões de reais, representando um crescimento nominal de 4,3% e 5,4% do PIB. Além disso, contrariando o movimento geral do comércio varejista, em relação ao ano anterior houve um aumento de 0,4% no número de lojas, 1,1% no número de empregos diretos e um acréscimo de 0,9% na área de venda. Apenas a quantidade de checkouts decresceu em 0,6%.

A diferença das principais redes supermercadistas em relação ao varejo em geral é que, se considerarmos apenas a atividade nesse segmento, o Carrefour está na primeira posição e o GPA em segundo, representando respectivamente 14% e 13,7% do faturamento total. O Walmart, por sua vez, manteve-se na terceira posição, com 8%. Considerando as cinco maiores redes supermercadistas no ano de 2017, elas representaram 39,8% do faturamento total do segmento. Os dados expressos no

Gráfico 1 demonstram que os pequenos estabelecimento continuam perdendo participação na geração de emprego no segmento.

Gráfico 1- Evolução dos estabelecimentos do segmento supermercadista por tamanho (2006-2017)

Fonte: RAIS – elaboração própria

Ainda que exista no setor um movimento de investimento nas lojas de bairro e de conveniência por parte das grandes redes, destaca-se que ainda há uma forte presença dos pequenos estabelecimentos, com características familiares. E, a despeito das dificuldades logísticas e de transporte, há espaço para uma maior expansão das grandes varejistas.

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 10000 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 0 Empregado De 1 a 4 De 5 a 9 De 10 a 19 De 20 a 49 De 50 a 99 De 100 a 249 De 250 a 499 De 500 a 999 1000 ou Mais