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Textos de política e situação económica Quadro 8

O SISTEMA BANCÁRIO NO PRIMEIRO SEMESTRE DE

1.INTRODUÇÃO

No primeiro semestre de 2003, a actividade do sistema bancário português(1) denotou alguma re- cuperação, sobretudo em relação aos desenvolvi- mentos da segunda metade do ano anterior(2). Esta recuperação acompanhou a melhoria da situação nos mercados financeiros internacionais, manten- do-se, contudo, a tendência de desaceleração do crédito, em linha com a situação cíclica da econo- mia.

Assim, reflectindo, em parte, a valorização do mercado de acções, assistiu-se à recuperação do valor da carteira de títulos e participações financei- ras para níveis semelhantes aos registados, um ano antes. Por seu lado, face à estagnação que conti- nuou a caracterizar a captação de depósitos de cli- entes e à melhoria das condições de acesso aos mercados financeiros internacionais, o sistema bancário português retomou a emissão de títulos de dívida nestes mercados.

Em face da permanência de uma conjuntura desfavorável, interna e internacionalmente, conti- nuou a observar-se, ao longo da primeira metade de 2003, uma pausa no esforço de internacionaliza- ção dos bancos portugueses, ocorrendo, mesmo, o anúncio de cedência de participações não estraté- gicas de alguns grupos bancários. Contudo, os bancos terão prosseguido com os processos de re- organização interna e de modernização tecnológi- ca tendentes à obtenção de ganhos adicionais de eficiência. A par dos programas de reestruturação em curso, a introdução de sistemas de gestão de risco mais sofisticados estará, também, a contribu- ir para a melhoria das condições concorrenciais do sistema bancário português.

Ao longo de 2003, manteve-se a tendência de desaceleração do crédito concedido pelo sector bancário ao sector privado não financeiro. Esta

evolução foi observada quer pelos empréstimos concedidos a empresas não financeiras, quer a par- ticulares. A desaceleração do saldo de emprésti- mos a particulares esteve associada à evolução dos empréstimos para aquisição de habitação, agrega- do que, no entanto, ainda mantém taxas de varia- ção significativas. Os empréstimos a particulares

Banco de Portugal / Boletim económico / Setembro 2003 43

Textos de política e situação económica

(1) A análise do sistema bancário efectuada neste artigo é baseada predominantemente em dados da actividade consolidada, com recurso a agregados em base individual ou a agregados das Estatísticas Monetárias e Financeiras (EMF) quando não é pos- sível obter a desagregação sectorial ou por instrumento neces- sária à análise (Sobre o assunto ver a “Caixa II.8.1. Informação

utilizada na análise do sistema bancário português”, no Relatório Anualde 2002). Salvo referência em contrário, o agregado con-

siderado para o sistema bancário português refere-se ao con- junto dos bancos (incluindo a Caixa Económica Montepio Geral), das restantes caixas económicas e das caixas de crédito agrícola mútuo, sendo excluídos os bancos com sede ou activi- dade exclusiva no off-shore da Madeira e/ou actividade predo- minante com não residentes. São consideradas como bancos, e incluídas no agregado referido, as sucursais de instituições de crédito com sede em outro Estado-membro da União Europeia — com excepção daquelas que não sejam classificáveis como instituições financeiras monetárias (IFM) — assim como as su- cursais de instituições de crédito com origem em países tercei- ros.

Ao longo do artigo, existem, referências às contas consolidadas, quer do total do sistema bancário (conforme definido no pará- grafo anterior) quer do subconjunto das instituições domésti- cas. Este último agregado corresponde ao total do sistema excluindo as instituições cujo controlo de gestão seja assegura- do por instituições não residentes, quer se tratem de institui- ções de direito português, filiais de grupos bancários não residentes (sujeitas à supervisão do Banco de Portugal), ou de sucursais de instituições de crédito com sede na União Euro- peia (não sujeitas à supervisão do Banco de Portugal). Esta dis- tinção fundamenta-se pelo facto de o financiamento obtido no exterior por estas instituições (não domésticas) ser tipicamente assegurado por entidades com as quais têm relações de grupo (o que torna menos relevantes quer o tipo quer a maturidade do financiamento), ao contrário do que sucede com as institui- ções domésticas.

para outras finalidades têm mantido taxas de vari- ação próximas de zero. Adicionalmente, e à seme- lhança do sucedido nos anos precedentes, as insti- tuições bancárias têm reduzido a sua carteira de crédito por via da realização de operações de titu- larização de empréstimos.

Em linha com a situação cíclica da economia portuguesa, a qualidade da carteira de crédito do sistema bancário português continuou a deterio- rar-se, facto reflectido no aumento dos rácios de incumprimento. O crédito vencido registou um forte crescimento nos primeiros seis meses de 2003, o qual terá sido atenuado na evolução dos rácios de incumprimento, dado o montante cres- cente e significativo que os créditos abatidos ao ac- tivo vêm registando.

Reflectindo, principalmente, o contributo nega- tivo da margem financeira, os indicadores de ren- dibilidade do sistema bancário português reduzi- ram-se, no primeiro semestre de 2003, quando comparados com o semestre homólogo. No entan- to, face à performance na segunda metade de 2002, quer a rendibilidade do activo quer a rendibilidade dos capitais próprios apresentaram-se claramente mais favoráveis, em resultado, sobretudo, da evo- lução positiva das comissões líquidas e dos resulta- dos em empresas participadas, verificando-se uma redução nas provisões líquidas constituídas no se- mestre (estas, no entanto com contributo neutro para a variação dos resultados, no período).

Apesar do aumento verificado pelos fundos próprios totais (que reflectiu o aumento de capital de um dos grupos bancários), este foi compensado pelo acréscimo de requisitos de cobertura dos ris- cos de crédito e de mercado. Este acréscimo resul- tou exclusivamente do alargamento do perímetro de consolidação do sistema, dado que se manteve a tendência de desaceleração do crédito, na gene- ralidade dos segmentos. Assim, no final de Junho, o rácio de adequação dos fundos próprios do siste-

ma bancário português mantinha-se inalterado ao nível de final de 2002, em 9.8 por cento (Quadro 1).

2. ESTRUTURA DE MERCADO

No final de Junho de 2003 existiam em activida- de, em Portugal, 57 bancos , dos quais 25 eram não domésticos(3). Nessa data, o sistema bancário in- cluía, ainda, 4 caixas económicas e 128 caixas de crédito agrícola mútuo (Gráfico 1). Ao longo do primeiro semestre do ano cessaram actividade como bancos três instituições não domésticas.

Relativamente ao final de 2002, a estrutura do sistema bancário não registou alteração significati- va. Os bancos continuaram a dominar a actividade do sistema bancário português, mantendo pesos superiores a 95 por cento, em termos do activo lí- quido, crédito a clientes e recursos de clientes (Quadro 2).

As quotas de mercado do conjunto dos cinco maiores grupos continuam a exceder 75 por cento, mantendo-se, todavia, uma tendência de ligeira di-

(2) A evolução do sistema bancário português em base consolida- da, em 2003, está influenciada pelo alargamento, no primeiro trimestre do ano, do perímetro de consolidação de um dos gru- pos bancários domésticos, que passou a incluir mais uma filial no estrangeiro. Este facto reflectiu-se na generalidade das ru- bricas do balanço e da demonstração de resultados, quando consideradas em base consolidada. Sempre que a evolução dos indicadores analisados no texto esteja significativamente afec- tada por esta alteração, tal facto será referido, ou no texto (quando determine o sentido da evolução do indicador em cau- sa) ou em nota de pé-de-página.

Gráfico 1 NÚMERO DE INSTITUIÇÕES NO SISTEMA BANCÁRIO 59 59 57 60 57 25 25 27 28 25 146 146 137 131 128 6 6 5 4 4 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180

Dez.99 Dez.00 Dez.01 Dez.02 Jun.03

Bancos - Total

Bancos - Não Domésticos Caixas de Crédito Agrícola Mútuo Caixas Económicas

Nota: O grupo dos “bancos” inclui a Caixa Económica Montepio Geral. Não estão incluídos os bancos com sede ou actividade predominante no off-shore da Madeira, e/ou actividade predominante com não residentes.

(3) O subconjunto dos bancos não domésticos engloba as filiais (na acepção de instituições com sede em Portugal, cujo capital é maioritariamente detido por grupos bancários com sede em outros países) e as sucursais de bancos estrangeiros, incluindo as sucursais de bancos com sede em países da União Europeia.

Quadro 1