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CAPÍTULO 2. Código e enciclopédia.

2.2. Uma definição de código.

2.2.2. O código como conjunto de sistemas.

2.2.2.1. O sistema sintático de códigos complexos.

Devemos assinalar que escapa aos limites deste trabalho a formulação de uma teoria da sintaxe, uma vez que, apenas nos interessa identificar a estrutura do processo

51 O nosso modelo elementar, por exemplo, não é capaz de expressar um código binário, pois ele não comporta

uma mensagem do tipo <não-AB>. O valor semântico de suas mensagens, portanto, possui uma feição nitidamente oposicional, pelo qual sabemos que <nível de insuficiência> também veicula, por oposição, a negação dos demais níveis.

comunicativo, sem que isso importe, necessariamente, uma exaustiva descrição de cada um de seus sistemas componentes.

Teorias da sintaxe, contudo, foram propostas por diversos autores que se ocuparam, principalmente, em descrever as regras sintáticas das línguas naturais. Noam CHOMSKY (1978) desenvolveu uma teoria, denominada gramática gerativa, para compreender a capacidade do falante em emitir e compreender frases inéditas, o que não seria possível para as teorias distribucionais limitadas à análise do léxico em constituintes imediatos.52 Dentro do componente sintático de sua teoria, Chomsky distingue duas grandes partes: a base, que define suas estruturas fundamentais, e a transformação, que permite passar das estruturas formadas pela base, ditas profundas, às estruturas superficiais das frases, que receberão uma interpretação fonética.

KATZ e POSTAL (1964), por sua vez, propuseram um componente sintático e um componente semântico que, juntos, formariam a estrutura da linguagem natural. Os autores, apoiando-se na teoria de Chomsky, também identificaram dois elementos formadores do componente sintático: um elemento de base, ligado à estrutura da frase, e um denominado derivacional, que, a partir das regras das estruturas de base, possibilitará formar categorizações para seus constituintes.53

52 Os constituintes imediatos são uma forma de analisar as frases através elementos que, progressivamente,

tornam-se mais completos. Por exemplo, a frase “o joão comprou todos os livros”, possui, num primeiro nível os seguintes constituintes |o-joão| e |os-livros|, num segundo nível, podemos reconhecer como seus constituintes |o-joão| e |todos-os-livros|, num terceiro nível, |o-joão| e |comprou-todos-os-livros| e, finalmente, um quarto nível capaz de representar a totalidade da frase: [ |o-joão|-|comprou-todos-os-livros| ]. Observe-se que a composição em constituintes imediatos segue uma regra de progressiva associação, através da qual os elementos foram associados em razão da relação recíproca que possuem: artigo-substantivo, no primeiro nível, até a oposição sujeito-predicado no último nível.

53 A análise do componente sintático dos autores inicia-se com a seqüência inicial da gramática [sentença], à

qual se seguirão estruturas derivadas, por exemplo, [sentença, sujeito + predicado], [substantivo + predicado], [substantivo + verbo + objeto] Cf. KATZ e POSTAL (1964:07). Para os autores, o componente sintático é visto como regra subjacente às estruturas da linguagem: “The syntactic component of a linguistic description of a natural language must be a system of rules which enumerates the infinite set of abstract formal structures which underlie the sentences of the language.” (1964:06).

A estrutura do s-código sintático contém leis combinatórias que determinam quais possíveis combinações de sinais serão consideradas válidas em relação ao código. No modelo elementar proposto, os quatro sinais diferentes contidos no sistema (A, B, C e D) poderiam formar dezesseis combinações possíveis, mas apenas quatro delas (AD, AB, BC e CD) são válidas para o processo comunicativo.

Note-se que a regra combinatória tanto predica quais combinações eram válidas, como também a forma pela qual elas deveriam ser realizadas para que seu resultado pudesse ser válido: no exemplo, a combinação deveria ser formada pela junção de somente dois sinais e não de três, de quatro, de cinco etc.

Num modelo elementar, as leis combinatórias sintáticas não teriam que avançar além dessas simples regras de combinação, suficientes para possibilitar o processo comunicativo. Entretanto, em um código infinitamente mais complexo como a língua, as regras sintáticas deverão ser consideravelmente mais complexas e atuarem em diferentes níveis de articulação.

A língua portuguesa possui vinte e três letras em seu alfabeto. A combinação dessas letras possibilita um número infinito de resultados possíveis, pois, diferentemente do modelo elementar apresentado, não existe uma regra que limite o número de sinais constituintes. Existe, contudo, uma regra que determina quais combinações são válidas, cujo critério é a pertinência ao léxico da língua portuguesa. Por exemplo, a combinação |ajubu| é possível para a língua portuguesa, mas não é válida porque não pertence ao seu léxico.

Por outro lado, numa acepção mais rigorosa, as letras K, W e Y não poderiam formar combinações válidas porque não pertencem ao nosso alfabeto. As palavras formadas com tais letras são aceitas e passam a constar nos dicionários apenas em concessão aos barbarismos, mas isso não significa uma revogação da regra sintática a partir da qual somente são reconhecidas como válidas as combinações originadas das vinte e três letras componentes do alfabeto português.

Chamemos atenção a este ponto: o s-código sintático contempla uma regra que seleciona quais elementos poderão compor o processo comunicativo por meio de sua pertinência ao sistema.

Num primeiro nível, ainda anterior à função sígnica, essa regra apresenta-se muito simples, reconhecendo-se, no exemplo da língua portuguesa, que somente as vinte e três letras de seu alfabeto são pertinentes ao sistema, sendo-lhe estranhas, portanto, os demais sinais gráficos componentes de outros alfabetos. Em um outro aspecto, a regra seletiva informa quais fonemas são pertinentes ao código e quais não o são. Por exemplo, o fonema representado por |dla| não é reconhecido pela língua portuguesa, embora possa sê-lo em outras línguas naturais.

Isso significa que, a partir do s-código sintático, podemos compreender quais combinações são pertinentes ao código e quais lhe são estranhos, ainda que nada saibamos a respeito de seu conteúdo semântico.

Em um outro nível, já considerado o signo como elemento passível de combinações em um código, ECO (1997:79) afirma que ele provê uma descrição restritiva da função sígnica para que ela possa ser entendida independentemente de cada contexto; e também uma definição, que ele denomina de mais rica, porque ela provê pontos nodais a partir dos quais a função sígnica pode amalgamar-se com outras funções sígnicas.