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2.4 A educação no contexto do jogo, do teatro e do sociodrama

2.4.3 O sociodrama e a educação

O sociodrama foi proposto por Moreno (1984) e pode ser definido como uma ação dramática grupal, que considera o grupo como protagonista do drama desenvolvido. Como já mencionado, a origem da perspectiva sociodramática está “na religião, na medicina e na sociologia”. Moreno desenvolveu sua abordagem a partir de 1926, em contextos grupais os mais diversificados: campos de refugiados de guerra, praças, escolas, prisões e clínicas psiquiátricas.

Moreno (1984) acreditava em uma integração cósmica entre o universo e os seres, como também entre estes. A dificuldade de comunicação promove ruídos que impedem o tele – faculdade perceptiva vivencial favorecida e desenvolvida por aqueles que, em relação, conseguem se colocar um no lugar do outro, perceber-se (com o mínimo de ruídos) e se escolher (ou rejeitar) livremente.

Na prática, o grupo é aquecido a fim de descobrir seu drama. O conceito de drama não implica necessariamente nem tragédia, nem comédia – como pode sugerir. Significa ação. A ação grupal deve convergir para uma situação comum. Frequentemente essa situação é uma cena em que se visualiza um conflito ou impasse. Iniciada a cena, esse conflito vai se tornando cada vez mais nítido. Com essa clareza, ele divide as opiniões e, na prática, divide opiniões-ações sobre o que cada um, como indivíduo, faria na vida real. Dividido o grupo, inicia-se um debate, com dramaturgia espontânea e expressão criativa livre dos atores. A cena termina pela resolução do impasse, pela manutenção naquele momento das divergências, ou pela interrupção convencionada pela duração de um tempo determinado que se esgotou. Todo o processo é mediado pelo diretor e por atores-auxiliares (egos-auxiliares).

Na educação, o que poderíamos evidenciar enquanto proposta sociodramática atual é a Pedagogia do Drama, que segundo Romaña (2004) é uma proposta educacional de caráter construtivista que se sustenta em três pilares: a teoria de Vygotsky, que cuida do sistema explicativo do desenvolvimento humano; a ética da Pedagogia da Autonomia, do mestre Paulo Freire, cujo ponto central está dado pela possibilidade de a educação produzir a evolução da consciência no sujeito aprendiz; e uma didática sócio-psicodramática inspirada na obra de Jacob Levy Moreno, com suas práticas grupalistas e sua crença inabalável a respeito da criatividade e da força reparadora que existe no interior dos grupos.

Essas três vertentes teórico-práticas se integram coerentemente, fortalecendo-se umas às outras nos seus aspectos mais vitais. É basicamente uma proposta educacional que procura vincular o saber adquirido na aprendizagem formal com a experiência vivida. Romaña (2004) define Pedagogia do Drama:

Uma proposta educacional que se propõe a vincular os saberes que o aprendizado formal oferece ao estudante, com as experiências de vida (culturais e afetivas) que ele carrega. (Romaña, 2004, p.23)

Romaña segue uma trajetória de pesquisas e trabalhos com psicodrama relacionado à Educação. No período de 1969-1970 esses trabalhos receberam o nome de “Técnicas

Psicodramáticas Aplicadas à Educação”, mas depois ganharam nova designação: “Método Educacional Psicodramático”, “Psicodrama Pedagógico” e, finalmente, “Pedagogia do Drama”. Essa pesquisa, que começou como método, foi associada à prática do role playing para estruturar o papel do educador, e assim se converteu no Psicodrama Pedagógico, incorporando jogos, trabalhos com estruturas sociodramáticas e o clássico role playing, chegando à Pedagogia do Drama, que para essa autora é mais completa e mais abrangente.

No Psicodrama Pedagógico o professor poderá trabalhar sozinho, realizando dramatizações no plano da realidade, no plano simbólico e no plano da fantasia para trabalhar os conteúdos, exercitar a análise, a síntese e as generalizações. É possível aplicar, aí, as técnicas básicas do psicodrama.

Na Pedagogia do Drama as intervenções e performances focam um assunto abrangente. O trabalho será realizado em equipe, utilizando as composições ou abordagens psicodramáticas tais como: jornal vivo, sociodrama, teatro espontâneo, jogos dramáticos, método educacional psicodramático e role playing. Incorpora poucas aplicações das técnicas básicas do psicodrama.

Pela abrangência da proposta, por falta de preparação do próprio educador, proveniente da educação formal, e pela estrutura engessada da matriz curricular com horários fixos, nota-se a dificuldade de utilização da Pedagogia do Drama. A sua utilização fica relegada, assim, a campos específicos do próprio psicodrama. Ou seja, ocorre na formação do próprio psicodramatista ou em treinamentos do papel do educador, no desenvolvimento de equipes. E não com os próprios estudantes – crianças, jovens e adultos.

A ideia da pesquisa sobre o conceito de “protagonista” surgiu de nossa experiência com grupos sociais diversos. Ao ouvir falar de “protagonista”, percebíamos sentidos diferentes, que geravam expectativas e interesses diferentes nos diversos grupos. Isso não significava, necessariamente, um problema, contanto que as pessoas utilizassem o conceito para atender aos objetivos de seus grupos definidos.

A questão principal residia em melhor definir o conceito nos campos de atuação do “protagonista”, no sentido de contribuir para ressignificar e melhor utilizar esse termo em qualquer dos contextos: social, grupal e dramático.

Em nossa própria experiência com grupos, sempre ocupamos um lugar de “protagonista”, projetando-nos para as coisas, sendo projetada, aceitando e levando o grupo a caminhar. Ou promovendo ações para que outros ocupassem o lugar protagônico. Sem a preocupação de “perder” o espaço de destaque. Sempre percebendo o quanto estar nessa posição é visivelmente cansativo, desgastante, mas ao mesmo tempo implica sentir-se vivo, cheio de energia e renovação. E quanto é uma “ação” desejada por muitas pessoas.

Pensar em como contribuir para que mais pessoas pudessem estar ou ser “protagonistas” nos levou, principalmente, a analisar esse conceito.