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2.4 A educação no contexto do jogo, do teatro e do sociodrama

2.4.2 O teatro na educação

Podemos apontar a catequese de índios realizada pelo padre Anchieta como um marco brasileiro da história da educação, da história do teatro e da história do teatro-educação. Centenas de anos mais tarde, os princípios de sua pedagogia ativa ganharam repercussão teórica e curricular com o movimento da Escola Nova e, em maior ou menor grau, passaram a fazer parte da didática seguida nas escolas em todos os níveis de ensino, em diversos conteúdos complementares, em nosso país.

Reproduzimos de Bareicha (2004) um quadro referencial demonstrativo (Figura 1) acerca da distribuição de atividades pedagógicas que contribuíram, durante o século XX, nas escolas brasileiras, para o que se convencionou chamar de “educação teatral”. As artes cênicas, no início da instituição dos Sistemas Nacionais de Ensino se concentravam no teatro, quando relacionado entre as “artes”.

Segundo Bareicha (1998) o teatro foi utilizado nas escolas de maneira diversificada. A dramatização de situações cotidianas no ensino de idiomas é prática pedagógica consagrada desde o século XIX. Posteriormente a prática foi experimentada, segundo seu levantamento bibliográfico, em aulas de história, geografia e matemática. Também foi utilizada, para os mesmos conteúdos do ensino regular, no ensino especial. Ainda no espaço escolar, a partir da década de 1970, práticas teatrais foram experimentadas na supervisão e na orientação vocacional de alunos. Do mesmo modo, há relato de experiências de sua utilização na coordenação pedagógica e na resolução de conflitos interpessoais na escola.

Como afirma Bareicha (2004), o uso de jogos, dinâmicas, dramatizações, espetáculos, oficinas e diversas outras atividades não se restringiu ao espaço escolar. Além da escola, há relatos de sua utilização em diversos outros contextos, como em acampamentos de escoteiros, acampamentos de sem-terra, experiências de educação rural e ações culturais realizadas em feiras, museus e teatros.

Figura 1 – Variedade de aplicações vivenciais que culminam na Educação Teatral

Outro quadro demonstrativo (Figura 2) apresentado por Bareicha (2004) sugere um olhar multirreferencial sobre as práticas teatrais-pedagógicas já relatadas na bibliografia especializada da área. Em seu levantamento constam atividades com crianças, jovens e adultos; em espaço escolar infantil, adolescente e universitário; utilizando-se oficinas de improvisação sem quaisquer materiais; ou implicando a confecção de adereços, figurinos, maquiagem e fantoches; uso de teatro de formas animadas, de jogos ou de teatro convencional; com atividades relacionadas também à literatura, à educação, à educação física, à psicologia, à sociologia e à orientação política.

INICIAÇÃO AO TEATRO EDUCAÇÃO ESTÉTICA FORMAÇÃO DE PLATÉIA ESPECTA ORIENTAÇÃO VOCACIONAL FORMAÇÃO DO ATOR FORMAÇÃO DOS ALUNOS DIDÁTICA ENSINO ESPECIAL LÍNGUAS HISTÓRIA GEOGRAFI PSICODRAMA PSIQUIATRIA catequese bibliodrama PROFISSIONALIZANTE AÇÃO CULTURAL ESCOTISMO EDUCAÇÃO TEATRAL

Figura 2 – Diversidade de práticas teatrais-pedagógicas já experimentadas, que compõem a área do teatro-educação

As várias possibilidades de aplicação do referencial teórico-metodológico do teatro- educação apontam para diferentes linhas de pesquisa e ação que podem ser desenvolvidas tanto nas faculdades de educação como nas de artes cênicas. De um modo geral, houve quatro grandes grupos de experiências: 1) ação cultural; 2) didática de disciplinas curriculares e extracurriculares; 3) ensino de teatro; e 4) educação estética.

Como já evidenciamos, Bareicha (2004) investigou as Representações Sociais do Teatro na perspectiva de quem realiza teatro (chamados “práticos”) e na de quem ensina teatro (chamados “formadores”). As concepções são comuns no aspecto “cultural e estético” do teatro, mas são diferentes na periferia do núcleo das representações. Para os formadores o teatro mantém relações com as artes e com a história. Para os práticos o teatro é uma profissão, um meio de vida, uma forma de vida. Como muitos “práticos”, por necessidade de mercado, acabam exercendo a licenciatura, práticas pedagógico-teatrais são relacionadas como atividades de seu cotidiano. Tal fato não é mencionado pelos “formadores”, professores

LAZER RECREAÇÃO JOGOS DRAMÁTICOS PSICODRAMA SOCIODRMA AXIODRAMA JOGOS TEATRAIS JOGOS DE PAPÉIS (ROLEPLAYING) TEATRO INFANTIL (para e por crianças e

jovens) FANTOCHES DRAMATURGIA INFANTIL BONECOS BRINQUEDO PLAYGROUND BRINCADEIRA JOGOS TRADICIONAIS ENCENAÇÕES TEATRO UNIVERSITÁRIO PEÇA DIDÁTICA JORNAL VIVO TEATRO JORNAL TEATRO- EDUCAÇÃO

universitários de teatro. Dentre as práticas pedagógico-teatrais destacam-se o Teatro do Oprimido, o sociodrama e diversas formas de se promover teatro de improviso.

Nesse sentido, é importante ressaltar que a prática é realizada por grupos de teatro formais e não formais. Isto é, pessoas formadas em teatro e pessoas com diferentes formações. Portanto, pessoas mais tecnicamente preparadas que outras – mas todas muito motivadas para a ação. Outro aspecto importante é o lugar onde são realizadas as práticas pedagógico-teatrais: a maior parte dos relatos diz respeito à escola fundamental, mas os demais espaços escolares formais são mencionados, tendo sido citados todos eles, pelo menos uma vez.

O que mais chama a atenção são as práticas realizadas em espaços não formais, que aludem a espaços de ensino e aprendizagem pouco difundidos. O desafio é duplo: manter ações no espaço escolar formal e multiplicar os espaços não formais (fora da escola). O Teatro do Oprimido, assim como o sociodrama e os teatros do improviso, são realizados tendo por objetivo a educação para a cidadania, a educação em saúde, a educação estética e a educação para a paz, envolvem organizações da sociedade civil (Ongs) e ocupam hospitais, creches, escolas de ensino especial e igrejas, entre outras.

As linhas de pesquisa podem variar conforme o foco. Em artes cênicas a preocupação deve recair sobre “aspectos composicionais da cena”. Isto é, quais elementos favorecem a instauração e o desenvolvimento de uma cena aberta, com dramaturgia livre, plena em improvisação, e como encerrar esse “espetáculo”. Cada etapa pode ser explorada em pesquisa. Para a educação, o foco pode variar em relação ao tema protagônico, e essa variação pode envolver a emergência do protagonista e a condução deste na cena, o aprendizado grupal, a influência da didática ativa no aprendizado dos participantes, a relação entre os participantes, a relação dos participantes com o tema e a construção coletiva de conhecimentos.