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PSICODRAMA COM JOVENS

A atividade aconteceu durante um encontro de “Formação de lideranças jovens” de uma comunidade de Samambaia, cidade-satélite de Brasília (DF). Pediu-se ao diretor que realizasse um psicodrama com caráter bem terapêutico, para contribuir com jovens na reflexão sobre as questões de sua vida.

Estavam presentes setenta jovens, homens e mulheres entre 18 e 24 anos.

Aquecimentos

O diretor pediu aos jovens que fizessem alongamentos diversos, silenciosamente, movimentando todo o corpo. Despertou-os para a atividade. Indicou que eles, ainda no mesmo lugar, refletissem sobre os vários papéis que desempenham na vida atualmente: filho(a), pai, mãe, namorado(a), estudante, papel profissional.

Dando tempo, o diretor pediu que todos refletissem: “O que mais tem te tomado o tempo? O que tem ficado esquecido? Desprezado? O que tem sido prazeroso? Que papel precisa melhorar?

Pensar especialmente em um dos papéis no qual pretendem trabalhar: “Qual é a maior dor que sinto ao pensar nesse papel?”.

Ação dramática

O diretor continuou a atividade pedindo que cada um(a) que já tivesse identificado seus vários papéis escolhesse outro colega, para formar uma dupla de compartilhamento. E tiveram como tarefa, em razão do grande número de participantes, apenas partilhar a dor que aquele papel estava representando em sua vida.

As duplas juntaram-se com outra dupla, formando um quarteto, e partilharam as descobertas e as dores. Tiveram como tarefa:

O último momento dessa etapa consistiu em formar apenas quatro grupos. Tiveram como tarefa apenas partilhar a dor escolhida pelo grupo e, daí, escolher uma única dor.

Com a formação de quatro grupos, o diretor pediu que a dor escolhida em princípio fosse apresentada pelo grupo em forma de uma imagem “fotográfica” estática, para daí iniciar as dramatizações. Fez, então, as interferências necessárias.

Primeira dramatização

Personagens: Um jovem, sua mãe e seus irmãos.

Cenário: Casa da mãe, que foi representada pelos jovens maiores do grupo, dando as mãos. Havia um cachorro. Outros jovens representavam as casas dos vizinhos.

Proposta: O jovem sentia-se oprimido e desvalorizado pela mãe, e decidiu sair de casa, sem conversar.

Cena 1: O diretor iniciou a mobilização entrevistando o representante grupal, o jovem. Ao perguntar o que representava aquela cena, ele trouxe a dor de não se sentir valorizado pela mãe, pois “ela pegava no pé demais...”.

O diretor realizou perguntas como estas:

 Quem é você aqui nesta cena?  Quem são as pessoas?

 Onde estão?  Qual é a dor?

O diretor perguntou se ele gostaria de conversar com a mãe. Respondeu que sim, mas que isso não adiantaria muito, pois já estava decidido a ir embora, até mesmo para fora do país, onde estava um parente ou amigo que o acolheria.

O diretor entrevistou a mãe e procedeu a um diálogo entre mãe e filho. Atuou com inversão de papéis, e o ponto muito marcante da cena foi que o jovem falava em sair de casa, mas não se movia de dentro da “casa” representada pelos outros jovens.

O diretor conduziu, pedindo então que ele saísse, mas que a casa o impedisse.

Conversou com o jovem sobre as questões que o impediam de sair. Este percebeu que, por mais que a mãe “pegasse no pé”, de alguma forma ele gostava daquilo, estava acostumado, era a forma de sentir-se amado e visto e, por isso, não fazia movimento para sair.

Fazendo um carinho no protagonista, que agora tínhamos depois de uma cena intensa para ele, perguntou-lhe como está se sentindo e se estava bem. Respondeu que estava pensativo, mas aliviado e com muita vontade de mudar. Agradeceu.

Segunda dramatização

Personagens: Uma jovem, seu irmão, o pai alcoólatra, pessoas desconhecidas na rua, um amigo do pai.

Cenário: Uma rua da cidade, o pai caído, bêbado, pessoas passando e olhando a cena, ambulância.

Proposta: Os irmãos estão chorando ao lado do pai alcoolizado, caído no chão, com muitas pessoas ao redor, que rezam.

Cena 2: O diretor iniciou a mobilização entrevistando o filho e pedindo que nos apresentasse aquela cena. Este disse que o pai tinha bebido muito, como sempre acontece, e nesse dia aconteceu um acidente: ele caiu e bateu a cabeça. Foi encontrado por pessoas na rua; um deles o conhecia e chamou a ambulância e a família.

A cena, por si só, era mobilizadora, e os filhos estavam visivelmente abalados, tristes, chorando muito. O diretor perguntou o que eles queriam dizer para o pai. Chorando muito, disseram que gostariam que as coisas fossem diferentes. “Por que ele bebia tanto? O que faltava para ele?” (=/=).

Na sequência, seguiu-se para uma inversão de papéis. Foi uma cena catártica e protagônica. Os filhos choravam muito, como praticamente todos os outros participantes da plateia e as personagens da cena.

O diretor pediu que o jovem expressasse um sentimento para com o pai. Ele disse que o amava, mas que estava triste.

Realizou-se a inversão de papéis, e pediu ao pai que repetisse tudo o que os filhos tinham falado.

Com a filha ainda no papel de pai, pedi que ela falasse o que sentia em relação aos filhos. Disse, então, que de fato estava muito envergonhado, triste de fazer isso sempre, mas que não conseguia parar sozinho. Que ele também se sentia sozinho e que ninguém o compreendia. Mas disse que amava os filhos.

Terceira dramatização

Personagens: Um jovem, sua esposa, uma enfermeira, um bebê de dois meses que faleceu. Cenário: Um quarto de hospital, com o bebê na cama enroladinho nos panos. O jovem pai e a

jovem mãe perto dele.

Proposta: O pai está chorando muito pela morte do filho, mas já fazia mais de um ano da morte e ele não a aceitava.

Cena 3: O diretor iniciou a mobilização entrevistando o pai jovem. O diretor utilizou várias técnicas como duplo, inversão de papéis e solilóquio, para trabalhar a cena.

A cena foi muito mobilizadora, pela dificuldade real em lidar com a morte. Para aquele pai, a morte não tinha sido natural, já que o filho era tão pequeno. Ele se culpava, pois a gravidez não fora planejada e o casal era muito jovem. E tiveram muitos problemas com isso também. O diálogo do pai com o filho serviu para que ele se sentisse mais aliviado, liberado para continuar vivendo a sua vida e deixar o filho “em paz”.

Quarta dramatização

Personagens: Filhos, mãe que trabalha demais e pai alcoólatra.

Cenário: A casa da família, onde os filhos todos estão sem fazer nada e com caras tristes, o pai alcoolizado nos fundos da casa, longe dos filhos, e a mãe que chega exausta do trabalho.

Proposta: A filha conversa com a mãe e o pai sobre a situação da família.

Cena 4: O diretor iniciou a mobilização entrevistando a filha que trouxe a cena. Ela estava extremamente triste pela situação familiar. O pai bebia demais e a mãe trabalhava demais, como forma de fugir àquela situação insustentável.

O diretor utilizou várias técnicas: duplo com apoio do ego-auxiliar, inversão de papéis, solilóquio. Também foi uma cena mobilizadora.

O diretor concluiu as atividades com um breve exercício de respiração, ao mesmo tempo em que os jovens refletiam sobre o que ficou para cada um das cenas vividas: “O que mais me mobilizou? O que trouxe para minha vida, em ensinamentos e aprendizagens?”.

As aprendizagens foram muitas, principalmente em relação à confiança em si mesmo, a ter coragem de pedir ajuda, a perceber que não somos perfeitos.

Processamento

A atividade pode ser considerada um psicodrama ou axiodrama, pois, além de trabalhar a dor de cada um no grupo, trabalhou valores.

Trabalhando com as várias cenas e com um bom aquecimento, foi possível o surgimento do movimento protagônico. O tema foi trabalhado de forma a estabelecer sentido e favorecer a definição do protagonista: questionador, transformador, integrador, criador.

Foi um grande momento de compartilhamento de impressões e emoções. Estavam envolvidos, sobretudo, muitos medos e conflitos. Medo de perder o pai alcoólatra para a bebida. Medo de sair de casa. Medo da morte.

O principal tema protagônico girou em torno dos conflitos familiares. Das quatro cenas, duas versaram sobre a situação de alcoolismo do pai, duas sobre conflito com a mãe. Uma destas também trazia a situação anterior, do alcoolismo. E uma das cenas trouxe a situação de gravidez sem planejamento, em que o bebê veio a falecer.

Grupo observado: Grupo de jovens de uma comunidade de Samambaia (DF), em um encontro para formação de lideranças jovens.

Local da observação-participante: Casa de eventos em uma área rural, junto à BR 101. Diretor: Daniel Seidel é psicodramatista, mestre em Ciência Política pela Universidade de

Brasília (UnB).

Ego-auxiliar: Jussara Seidel é psicodramatista, pedagoga, mestranda em Educação pela Universidade de Brasília (UnB).

OBSERVAÇÃO 5

Aula com estudantes de Curso de Pedagogia da UnB, em setembro de 2008.