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2. A INSERÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO NA

2.2 O trabalho da mulher a partir da Constituição de 1988

Nas últimas duas décadas, além de continuar a exercer papéis clássicos como o de mãe, esposa e dona de casa, a maior parte das mulheres trabalha fora de casa. As mulheres adentraram em massa no mercado de trabalho, ocupando um espaço cada vez maior.

O perfil da mulher brasileira, a partir da década de 1990, alterou-se significativamente. Um número significativo de mulheres buscou um maior nível de escolaridade e passou a ocupar cargos de responsabilidade antes destinados aos homens; a população feminina economicamente ativa alcançou entre 1981 e 1998 111,5%, índice acentuadamente maior que o masculino.53

A maior inserção de mulheres no mercado de trabalho continua se estabelecendo por conta de um conjunto de fatores, tais como: o desejo pessoal de realização e autonomia, a diminuição na taxa de natalidade, o aumento da contribuição no rendimento familiar.

52 MACIEL, Eliane Cruxên Barros de Almeida. A igualdade entre os sexos na Constituição de 1988.

Disponível em <http://www.senado.gov.br/conleg/artigos/especiais/AIgualdadeEntreosSexos.pdf>.

Acesso em: 04 de novembro de 2008.

53 NOGUEIRA, Cláudia Mazzei. O trabalho feminino no mundo produtivo do Brasil. In: SILVA, Maria Ozanira; YABEK, Maria

O crescente número de famílias monoparentais54, em que as mulheres são

maioria enquanto chefes de família, e os inúmeros movimentos feministas contribuíram para a maior igualdade entre homens e mulheres.

A interação do conjunto dos fatores anteriormente especificados modificou veementemente o cenário, papéis e relações sociais antes estabelecidos. As necessidades e imposições do capitalismo, da globalização e das políticas neoliberais que se instalaram no mundo nos últimos anos trouxeram muitos benefícios ao mercado, que lucrou muito com o tratamento desigual conferido aos trabalhadores e às trabalhadoras.

A entrada massiva da mulher no mercado trabalho garantiu ao mercado financeiro altos níveis de lucratividade, já que “o maior emprego de mulheres em determinados setores produtivos adveio, e ainda advém de fatores como a busca pelo aumento de lucros através do pagamento de menores salários às mulheres”55, somado ao aumento do consumo em todos os setores da economia.

Por outro lado, as mulheres, apesar de todos os preconceitos que permearam e permeiam sua entrada e permanência no mercado de trabalho, ganharam a liberdade não apenas para trabalhar. Elas avistaram novas possibilidades em todos os aspectos de sua existência, inclusive a possibilidade de se libertarem de seus próprios preconceitos e estereótipos, disseminados pela sociedade patriarcal durante séculos.

Logo, nas últimas duas décadas, ou seja, de 1980 e 1990, as mulheres obtiveram e desenvolveram um papel de destaque em nossa sociedade. Tal evolução é confirmada por dados estatísticos divulgados por órgãos especializados, como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)56, o Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) e o Departamento Intersindical de Estatística e

54 São as famílias compostas por um dos pais e sua prole.

55 CALIL, Léa Elisa Silingowschi. Direito do trabalho da mulher: a questão da igualdade jurídica ante a

desigualdade fática. São Paulo: LTr, 2007, p. 63.

56 O IPEA é uma fundação pública federal vinculada ao Núcleo de Assuntos Estratégicos da

Presidência da República. Suas atividades de pesquisa fornecem suporte técnico e institucional às ações governamentais para a formulação e reformulação de políticas públicas e programas de desenvolvimento brasileiros.

Estudos Socioeconômicos (DIEESE)57. Estes órgãos observam todas as formas de

informação expostas na mídia, no transporte público, nos postos de trabalho da iniciativa privada ou pública, constatando a presença feminina de forma massiva e expressiva.

Ademais, a partir dos anos 90 intensificaram-se significativamente as mudanças no mercado de trabalho. Estas redefiniram o padrão de incorporação das forças de mão-de-obra masculina e feminina. A partir de então, o número de mulheres no mercado só fez aumentar.

Os avanços tecnológicos e a passagem do fordismo ao toyotismo58 modificaram o nível de importância antes dado ao processo de manufaturação da matéria-prima, criada e recriada pelo avanço tecnológico, e influenciaram diretamente na diminuição dos postos de trabalho, já que o trabalho humano foi sendo gradativamente substituído pelo processo de automatização e robótica, desencadeando o crescimento do desemprego e o adensamento do desemprego estrutural.59

57 O DIEESE é uma criação do movimento sindical brasileiro, realiza projetos em parceria com órgãos

governamentais e entidades da sociedade civil, nacionais e internacionais, com a finalidade de estudar os seguintes eixos temáticos: emprego, renda, negociação coletiva, desenvolvimento e políticas públicas. Disponível em <http://www.dieese.org.br/fol/oQueDieese.xml>. Acesso em: 05 de novembro de 2008.

58 O Fordismo consistia em uma forma de organizar a linha de montagem das fábricas para

produzirem mais, controlando melhor as fontes de energia e de matérias-primas, bem como a formação da mão-de-obra, a organização do mercado e os preços. Tinha como objetivos principais a diminuição do tempo de duração de cada tarefa e a disponibilização rápida de produtos no mercado deixando-os em estoque, além de alargar a capacidade de produção do operário no mesmo período, por meio da especialização e da linha de montagem. Ao contrário do fordismo, na forma de organização Toyotista produz-se apenas o necessário, diminuindo ao máximo os estoques. Esse tipo de produção tem como objetivo produzir apenas o que é necessário de acordo com a demanda, em um sistema denominado Just in Time. Assim, o operário produz pequenos lotes.

59 Desemprego estrutural é um fenômeno identificado na atualidade e que se traduz no

desaparecimento de alguns postos de trabalho. Segundo Jorge Rosenbaum Rimolo: “El mundo del

trabajo se ha visto estremecido en la última década, siendo posible sostener que enfrentamos el advenimiento de un sistema económico que destruye más puestos de trabajo que genera. Los mayores y más graves problemas del mercado de trabajo de nuestra época se están generando por la sustitución de mano de obra por tecnologia, la posibilidad técnica de producir con menos mano de obra e, incluso, hasta por la conveniencia de mantener un desempleo funcional” (Los Derechos Fundamentales del trabajo en el marco de las reformas del nuevo orden económico. In: Cadernos PROLAM/USP, ano 2, vol. 2, São Paulo, 2003, p. 27).

Nesse sentido, Patrícia Tuma Martins Bertolin:

Os novos processos produtivos resultantes da incorporação de tecnologias de ponta têm sido responsáveis por notável redução do número de empregos, que se agrava com a utilização do trabalho temporário e da terceirização que constituem a maior parte da força de trabalho contingencial. Sua própria existência age como redutor dos salários dos trabalhadores fixos.60

Foi dentro desse contexto socioeconômico que ocorreu com maior quantidade a inclusão da mão-de-obra feminina nos mercados de trabalho, especialmente, “nos setores ligados às ocupações tradicionalmente consideradas femininas – nos serviços sociais e no trabalho doméstico”.61

No início da década de 90, com a abertura do mercado às importações, acelera-se o processo de racionalização da produção, que imprime uma nova dinâmica às relações de trabalho. O empresariado nacional incorpora e dissemina o discurso da competitividade no mercado internacional e intensifica a adoção de medidas que visam a redução dos custos das empresas, o que afeta, diretamente, o nível e a qualidade do emprego, as condições de trabalho e a organização sindical. É nesse período que se intensificam as investidas contra os direitos trabalhistas vigentes, envolvendo o questionamento de conquistas adquiridas em décadas de lutas, com propostas patronais de flexibilização da remuneração, da contratação e da jornada de trabalho, entre outras.62

Concomitantemente ao aumento da feminilização da mão-de-obra, acontecia uma abertura de mercado que ocasionou profundas transformações na situação econômica do país. Entre essas a modernização do sistema produtivo, a reestruturação produtiva, a flexibilização das normas trabalhistas63 e a criação de

novas funções, as quais foram destinadas pelo mercado à mão-de-obra feminina.

60 BERTOLIN, Patrícia Tuma Martins. Aspectos do mercado de trabalho brasileiro em uma era

globalizada. In: Tema, v. 51, São Paulo, 2008, p. 74.

61 Igualdade no trabalho enfrentando os desafios. Disponível em

<http://www.oitbrasil.org.br/info/downloadfile.php?fileId=275>. Acesso em: 02 de maio de 2008.

62 Negociação coletiva e eqüidade de gênero no Brasil: cláusulas relativas ao trabalho da mulher -

1996-2000. Disponível em <http://www.dieese.org.br/esp/pesquisa17mulheroit.pdf>. Acesso em: 08 de junho de 2008.

63 Segundo Jorge Luiz Souto Maior, “… flexibilização representa a adaptação das regras jurídicas a

uma nova realidade, gerando um novo tipo de regulamentação. Por desregulamentação identifica-se a idéia de eliminação de normas do ordenamento jurídico estatal que não mais se justificariam no contexto social, incentivando-se a auto-regulação pelos particulares”. (A fúria. In: Revista LTr n. 66, São Paulo, 2008, p. 1290).

Em pesquisa recente, publicada em 2008, o DIEESE demonstrou as variações na taxa de participação por sexo nas regiões metropolitanas brasileiras, especificando as variações em porcentagem na última década, conforme tabelas abaixo: 64

Taxa de participação, por sexo.

Regiões Metropolitanas e Distrito Federal - 1998/2008 - (em %)

Regiões Metropolitanas e Distrito Federal

Belo Horizonte Distrito Federal Porto Alegre Período

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

1998 57,6 68,6 47,7 61,8 70,8 54,2 56,7 68,4 46,1 1999 57,2 67,4 48,1 62,0 70,1 55,2 58,3 68,6 49,0 2000 57,7 67,7 48,9 62,7 70,6 55,9 58,9 69,2 49,7 2001 58,4 67,6 50,1 63,1 70,7 56,7 58,6 68,5 49,6 2002 58,8 67,8 50,9 64,4 72,0 58,0 57,5 66,7 49,3 2003 60,4 68,5 53,1 64,5 72,0 58,1 57,9 67,8 49,1 2004 60,7 68,1 54,1 64,5 71,4 58,6 57,9 66,8 49,8 2005 59,9 67,7 53,0 64,6 71,4 58,9 57,4 66,4 49,3 2006 60,4 68,5 53,3 65,1 71,7 59,4 56,8 65,5 49,0 2007 60,9 68,6 54,1 64,8 71,3 59,4 56,9 65,8 49,0 janeiro/2008 61,2 69,0 54,4 64,9 70,6 60,0 57,8 66,1 50,3 Fevereiro/2008 60,7 68,5 54,0 65,2 71,0 60,3 58,1 66,2 50,9 março/2008 60,8 68,9 53,7 65,1 71,2 59,9 58,2 66,7 50,6 abril/2008 59,7 68,1 52,5 65,3 71,4 60,1 58,2 66,9 50,4 maio/2008 59,9 68,6 52,4 65,1 71,4 59,7 58,5 67,1 51,0 junho/2008 60,0 68,9 52,3 65,3 71,6 59,9 58,4 66,9 50,9 Fonte: Convênio DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convênios regionais. PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego. Elaboração: DIEESE.

64 DIEESE. Disponível em <http://turandot.dieese.org.br/icv/TabelaPed?tabela=3>. Acesso em: 08 de

Recife Salvador São Paulo Período

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

1998 53,8 65,8 43,6 60,0 68,7 52,5 61,6 73,3 50,8 1999 54,0 65,2 44,4 60,2 68,5 53,1 62,2 73,4 52,0 2000 53,6 64,6 44,2 61,0 69,2 53,9 62,5 73,4 52,7 2001 53,3 64,3 44,1 61,4 69,2 54,8 62,9 72,9 53,8 2002 53,2 63,9 44,2 62,2 69,8 55,5 63,5 73,4 54,4 2003 52,7 63,0 43,9 62,8 70,3 56,3 63,6 73,0 55,1 2004 52,0 62,5 43,2 61,9 69,3 55,5 63,8 73,0 55,5 2005 50,8 60,9 42,3 61,1 68,5 54,7 63,5 72,4 55,5 2006 51,3 61,3 42,8 60,6 68,0 54,3 62,9 71,3 55,4 2007 51,4 61,6 42,8 61,2 68,4 55,2 62,8 71,4 55,1 janeiro/2008 52,5 63,2 43,6 61,8 69,2 55,5 63,1 71,9 55,3 fevereiro/2008 51,8 62,5 42,9 61,4 68,8 55,2 63,1 71,8 55,4 março/2008 51,7 62,1 42,9 60,9 68,5 54,5 63,5 72,4 55,7 abril/2008 51,6 62,1 42,8 60,1 67,3 54,2 63,9 72,2 56,4 Maio/2008 52,1 62,3 43,5 59,9 67,1 54,0 64,0 72,0 56,7 junho/2008 52,6 62,4 44,4 59,7 66,5 54,1 63,9 71,7 56,9 Fonte: Convênio DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convênios regionais. PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego. Elaboração: DIEESE.

Da análise dessas tabelas, percebe-se um aumento significativo do percentual de mulheres no mercado de trabalho na última década, apesar de não ter alcançado os mesmos índices de inserção e permanência dos homens em nenhuma das regiões metropolitanas analisadas. Não obstante o fato de tal inserção feminina no mercado de trabalho ter sido marcada pela precarização e terceirização intensa dos postos de trabalho.

2.3 A inserção da mulher no mercado de trabalho brasileiro - terceirização e