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1.4 Abordagem qualitativa versus quantitativa

1.4.2 O trabalho de campo

No total foram realizadas trinta e uma entrevistas a cinco grupos diferenciados de interlocutores: docentes universitários (7); funcionários públicos angolanos (5); representantes de entidades da cooperação nacional e multilateral e de organizações não- governamentais (ONG) (6); empresários angolanos e diretores gerais de empresas angolanas (7); empresários e diretores gerais de empresas chinesas (3). A estes somaram-

19 se ainda um representante de uma ONG estrangeira, um empresário estrangeiro e um jornalista da área de economia.

Os entrevistados foram selecionados quanto aos respetivos atributos funcionais e área de atividade (empresários e funcionários públicos) e à respetiva posição enquanto interlocutores privilegiados na sociedade angolana (professores universitários). Os funcionários da administração pública entrevistados tiveram conhecimento direto ou de proximidade relativamente à negociação dos acordos de financiamento entre o governo angolano e o governo chinês. As entrevistas aos empresários angolanos e chineses constituíram uma opção óbvia, tendo em conta a segunda pergunta de partida, que visava clarificar as estratégias de implementação de empresas chinesas e a respetiva interligação ou inexistência desta interligação com o Estado chinês. Os membros da cooperação multilateral e bilateral foram selecionados dado o seu conhecimento dos factos e da evolução de práticas e de discursos sobre o desenvolvimento emitidos pelo governo.

A técnica da amostragem usada nos levantamentos e pesquisas de opinião, a partir de uma amostra sistemática da população, pretende generalizar os resultados à população em análise. No caso das entrevistas qualitativas, contrariamente, o que se pretende, dentro do grupo selecionado é explorar “o espectro (a variação) das opiniões, as diferentes representações sobre o assunto em questão” (Atkinson, Bauer e Gaskell, 2010).

A seleção dos entrevistados que realizei é fundamentada por Atkinson, Bauer e Gaskell (2010), os quais referem ser possível selecionar os entrevistados com base em grupos sociais específicos, considerando que existe um número limitado de pontos de vista e de posições sobre um tópico dentro do mesmo meio.

Como a temática das questões de pesquisa teve como objetivo a recolha de representações, perceções, conhecimentos dos informantes sobre uma temática tratada ao nível das instâncias mais elevadas do aparelho político angolano, posteriormente negociadas e implementadas ao nível ministerial, supervisionadas pelo Ministério das Finanças, incluímos na seleção de entrevistados, funcionários do referido ministério. Os funcionários da cooperação foram entrevistados com o intuito de ouvir diferentes perceções sobre a entrada da China como um novo parceiro de financiamento de Angola, o que foi útil para traçar um perfil comparativo entre parceiros de Angola membros do Comité de Apoio ao Desenvolvimento (CAD) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), parceiros tradicionais, como Portugal e Espanha, e a China. As entrevistas aos empresários angolanos, um grupo social que se desenvolveu e complexificou com as novas oportunidades económicas surgidas com a assinatura do acordo de paz em 2002, permitiram obter uma “visão a partir de dentro”, sobre a entrada de um número elevado de imigrantes chineses em Angola, quer como mão-de-obra, quer como

20 empresários concorrentes em distintos sectores de atividade. Por último, as entrevistas a diretores gerais de empresas chinesas em Angola permitiram entender melhor as formas de

Quadro I.3 Categorização dos entrevistados

entrada e de estabelecimento de parcerias, as oportunidades e a forma como se articularam estes interlocutores com as práticas locais de fazer negócios, assim como o posicionamento que adotaram perante outras empresas concorrentes estrangeiras.

Professor universitário em universidade pública E1 Professor universitário E2 Investigador e docente na área da Ciência Política E3 Professores universitários Professor universitário na área de Economia E4 Professor universitário e investigador E5 Investigadora universitária na área de Economia E6 Professor universitário E7 Funcionários públicos Funcionário Ministério das Finanças E8 Funcionário Ministério das Finanças E9 Funcionário Ministério das Finanças E10 Gestor de projetos públicos E11 Responsável de Câmara de Comércio e Indústria de Angola E12 Representante da cooperação portuguesa E13 Representante da cooperação portuguesa E14 Responsável de cooperaçao multilateral E15 Reponsável de cooperação espanhola E16 Membro ONG portuguesa Huambo E17 Representante de ONG E18 Diretor de projetos de empresa angolana (construção) E19 Director-geral de empresa angolana e construção E20 Director de empresa angolana do setor extrativo E21 Empresário do setor da construção E22 Empresário do setor da construção E23 Empresário do setor de telecomunicações E24 Dono de empresa de apoio ao registo de empresas

estrangeiras em Angola E25 Jornalista especializado na área de Economia E26 Sócia-gerente e directora de vendas empresa de construção E27 Director- Geral de empresa familiar (construção, indústria e importação e venda) E28 Director geral de empresa familiar(construção e obras E29 Empresário estrangeiro setor telecomunicações E30

Tradutor E31

Empresários e gestores chineses Jornalista Empresários e gestores de empresas angolanas Funcionários da cooperação

21 Dependendo do respetivo contexto, e do maior ou menor relacionamento com a atividade política organizada (e considerando a grande interligação entre a atividade económica e o poder político) o tema desencadeou nos diversos interlocutores uma expressão vincada de posicionamento face aos acordos políticos e à instalação e entrada de cidadãos chineses no país.

A análise dos dados começou com a codificação, com a ajuda numa primeira fase, da aplicação informática “Atlas TI”. Esta aplicação auxilia a sistematização da codificação do texto e a comparação entre diferentes segmentos de texto – no entanto não se se substituem à codificação concebida pelo investigador. A codificação emerge de uma construção teórica prévia, mas deve ser suficientemente aberta para permitir a emergência de novas categorias no processo de análise. Segundo Kelle (2007), a metodologia inerente à Grounded Theory implica preferencialmente um procedimento indutivo, segundo o qual os investigadores iniciam a pesquisa pelo processo de recolha de dados e posteriormente desenvolvem uma teoria a partir desses dados.

No entanto aportes posteriores consideraram que esta postura é ingénua e que a codificação e a ida para o campo para recolha empírica tem sempre por base uma construção ou uma orientação teórica prévia em que os “códigos teóricos representam aqueles conceitos teóricos que o investigador tem à sua disposição, independentemente da recolha e da análise de dados”.

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Capítulo UM - ENQUADRAMENTO TEÓRICO