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O Tratado de Maastricht (1992) e a constituição da União Europeia

Capítulo 2 – Os processos de integração Europeu e Sul-Americano

2.1 A União Europeia pelo trajeto Alemão

2.1.3 O Tratado de Maastricht (1992) e a constituição da União Europeia

Ao contrário das previsões de desordem e desgoverno, a Alemanha do chanceler Kohl iria se manter voltada para a integração da Europa. O processo de integração “estaria no coração da política externa da Alemanha unida” (KITCHEN, 2013, p. 554). Parte essencial da Comunidade Europeia, conforme Kitchen (2013), o Tratado de Maastricht veio para diminuir os poderes alemães de soberania: a União monetária, com o estabelecimento do Euro, viria a

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substituir um dos elementos fundamentais da identidade e soberania alemã: o poderoso Marco alemão16. O Banco Central Europeu viria para substituir o Banco Federal Alemão17. A integração da Europa iria ter uma política externa e de defesa comum e as fronteiras entre os Estados-parte da Comunidade Europeia estariam abertas. A Alemanha refrescava seus anseios de ter relações mais profundas com seus vizinhos e assegurar uma “Alemanha europeia”, com uma vocação para atuar como parte da Europa (KITCHEN, 2013; GOMES, 1997).

Acordado em 1992 pela reunificada Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Dinamarca, Irlanda, Reino Unido, Grécia, Espanha e Portugal, o Tratado de Maastricht – também conhecido como Tratado da União Europeia – entrou em vigor em 1993 e levou a Comunidade Europeia à criação da instituição que ela é até hoje. Ela vai além do Mercado comum e cria uma União econômica e monetária que estava agora dentro do Tratado da Comunidade Europeia. Criada com caráter misto, supranacional e de cooperação intergovernamental, estabelecia as bases para a Política Exterior e de Segurança Comum (PESC), a criação da União econômica e monetária além da criação de uma cidadania europeia (UNIÃO EUROPEIA, 1992; SODER, 1995; OLIVEIRA, 2002; SZUCKO, 2017).

O Tratado intensificou o processo de integração com uma abordagem voltada ao desenvolvimento de um novo projeto de democracia e de políticas sociais, a livre circulação de pessoas, bens, serviços e capitais, bem como políticas comum no âmbito dos transportes, agricultura e pesca e a livre concorrência e comércio (SZUCKO, 2017; KERBER, 2001; UNIÃO EUROPEIA, 1992).

A União Europeia estabeleceu-se por três pilares, a saber: a Comunidade Europeia (CE), a Política Externa e de Segurança Comum (PESC) e a Cooperação entre Polícia e Justiça em Matérias Criminais (PJCC). A solidez do caráter comunitário do processo de integração veio através da CE, ao fortalecer políticas comuns e agregando mais competências. É o pilar supranacional da integração. A PESC e a PJCC são intergovernamentais. No âmbito da Política Externa e de Segurança Comum, fica previsto ações de caráter comum nas relações internacionais, sempre observando os princípios da União Europeia e que tem sido objeto de controvérsias. Da PJCC, o terceiro pilar, pode-se destacar a presença de elementos da política doméstica dos Estados membros (UNIÃO EUROPEIA, 1992; GOMES, 1997; PECEQUILO, 2012).

16 Da tradução do alemão, Deutsche Mark (KITCHEN, 2013). 17 Da tradução do alemão, Bundesbank (KITCHEN, 2013).

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Com a entrada em vigor do Tratado de Maastricht e a consolidação do mercado comum no início de 1993, retornou-se o dinamismo do processo de integração e previsões pessimistas iam se encerrando. Mesmo com os inúmeros avanços e conquistas obtidos através do Tratado da União Europeia, não houve fim dos debates: a grande decepção alemã foi da submissão dos outros Estados-membros ao que a Grã-Bretanha já desejava desde o Ato Único Europeu, de não perseguir uma vocação federal, e sim apenas uma união cada vez mais estreita. Na preocupação dos custos da reunificação, a própria Alemanha perdeu um pouco do seu entusiasmo quanto a um maior aprofundamento da integração, fazendo com que a palavra de ordem fosse a da disciplina orçamental (PECEQUILO, 2012; GOMES, 1997).

Dentro das novas características, em 1995, outros Estados passaram a integrar a União: a Áustria, a Finlândia e a Suécia (APPLEYARD; FIELD; COBB, 2010). Já no ano de 1997, foi assinado um dos tratados de maiores mudanças da União, o Tratado de Amsterdam, que em linhas gerais, objetivava questões sociais e democráticas, sendo uma destas a livre circulação dos cidadãos europeus (OLIVEIRA, 2002; UNIÃO EUROPEIA, 1997). Entrando em vigor em 1999, um dos avanços significativos do Tratado de Amsterdam correspondeu a incorporação do Acordo de Shengen, que facilitou as viagens por fronteiras físicas entre os países europeus participantes. Assinado em 1985 pela Alemanha, França, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, tinha por objetivo eliminar controles fronteiriços entre os signatários, permitindo a livre circulação de pessoas. De 1985 a 1995 – da entrada em vigor do Acordo de Shengen –, novos Estados aderiram a lista, à exceção da Irlanda e do Reino Unido (PECEQUILO, 2012; FULBROOK, 2016; UNIÃO EUROPEIA, 1997)

Outra questão abordada neste tratado dizia respeito ao compromisso europeu com os direitos humanos, estabelecendo como condicionante à entrada do bloco o respeito aos termos previstos na Convenção Europeia em Direitos Humanos. Além disso, o tratado dava poder legislativo a UE para atuar contra a discriminação racial, sexual, religiosa e étnica e poder para atuar em questões de emprego que afetassem os países-membros (BISWARO, 2011). Este período, a partir de 1997 até 2002, foi marcado por uma dinâmica dupla entre o aprofundamento e o alargamento: houve a continuação dos projetos que já estavam em andamento (como o estabelecimento de uma moeda comum) e a renovação de ideias, através da apresentação de outros projetos para a consolidação dos compromissos da integração (PECEQUILO, 2014).

Desde 1991 até 2002, mesmo sofrendo com pressões econômicas dos Estados europeus, os estágios de implementação da moeda comum foram seguidos, adaptando-se e flexibilizando exigências quanto a convergência. Estas negociações permitiram o cumprimento das regras e,

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em 1999, entrou em vigor a moeda e foi criada a Zona do Euro. Criada e estabelecida em 1999 por onze países (os quais, naquele momento, atendiam aos critérios negociados de convergência), a circulação plena das notas e moedas do Euro só começou em 200218. Devemos dar o devido destaque a França e a Alemanha, países-chave para o sucesso e o estabelecimento do Euro, demonstrando forte empenho para que a Zona do Euro fosse concretizada (PECEQUILO, 2012; SZUCKO, 2017).