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O TRIGÉSIMO DIA DE INTERNAÇÃO

No documento RDJ 109 n. 1 (páginas 133-138)

Há controvérsia no TJDFT sobre a possibilidade de constar do contrato de plano de saúde cláusula de coparticipação do segurado no custeio de tratamento psiquiátrico após o trigésimo dia de internação.

De acordo com o primeiro entendimento, desde que expressa- mente prevista no contrato e observado o limite de 50%, a cláusula não é abusiva, visto que a coparticipação se encontra autorizada pela legislação especial (art. 16, VIII, da Lei 9.656/98 e art. 22, II, da Resolução Norma- tiva 387/2015 da ANS), viabiliza a manutenção do equilíbrio econômico- -financeiro do contrato e não configura limitação temporal de internação – vedada pela Súmula 302 do STJ –, pois a operadora de plano de saúde continua obrigada a arcar com parte das despesas, independentemente do prazo da internação.

O segundo entendimento, por sua vez, considera a cláusula abusiva, mesmo que expressamente contratada e observado o limite de 50%, por ser incompatível com a boa-fé e por colocar o consumidor em situação de desvantagem econômica. Para os Desembargadores que mani- festaram esse posicionamento, a cláusula frustra a legítima expectativa do consumidor – que, ao realizar o contrato com a operadora de plano de saúde, confia no recebimento da cobertura do tratamento médico neces- sário para a proteção da sua saúde – e impõe, por via oblíqua, a limitação do tempo de duração do tratamento, quando o segurado não tiver condi- ções de pagar a sua parte no custeio.

Acórdãos representativos da possibilidade de constar do contrato de plano de saúde a cláusula de coparticipação do segurado no custeio de tratamento psiquiátrico após o trigésimo dia de internação:

Des. Héctor Valverde Note-se que os presentes autos não tratam de imposição de limitação temporal absoluta para a internação hospitalar da segurada – prática rechaçada pela Súmula 3022 do Superior Tribunal de Justiça –, mas da coparticipação proporcional da beneficiária diante de tratamento continuado e de du- ração indefinida. [...] O contrato celebrado entre as partes estabelece (f. 14-15), de forma clara e expressa, que haverá coparticipação da segurada após o 31º (trigésimo primeiro)

Acórdãos 1059024, 1058084, 1043306, 1035071, 1035016, 1034633, 1034699, 1028235

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dia de internação para tratamento psiquiátrico e psicológico, na proporção de 50% (cin- quenta por cento). A coparticipação, no caso dos autos, foi devidamente convencionada em percentual não abusivo, observando ao estabelecido em Lei e ao dever informação previsto no art. 6°, inc. III, do Código de Defesa do Consumidor, não havendo, desse modo, que se falar em ilegalidade da referida cobrança. (TJDFT, 1ª Turma Cível, Acórdão n. 1059024, APC 2015141008460, Relator Des. Héctor Valverde, DJe de 22/11/2017.)

Des. Fernando Habibe A previsão contratual do regime de coparticipação nos planos de saúde tem amparo na Resolução 8/98 do Conselho de Saúde Suplementar (CONSU) e na Lei nº 9.656/98, sendo válida, desde que regularmente prevista no contrato. (TJDFT, 4ª Turma Cível, Acórdão n. 1058084, APC 20150111300376, Relator Des. Fernando Habibe, DJe de 10/11/2017.)

Des. Cesar Loyola Há amparo normativo para a previsão contratual na forma acima, na medida em que a Lei nº 9.656/98, que regulamenta os planos e seguros privados de assistência à saúde, prevê a possibilidade de estipulação de percentual de coparticipação do beneficiário nas despe- sas com assistência médica, hospitalar e odontológica (art. 16, inciso VIII). [...] Superior Tribunal de Justiça concebeu não ser abusiva a cláusula de coparticipação, expressamente contratada e informada ao consumidor, para internação decorrente de transtornos psi- quiátricos superior a 30 (trinta) dias, por se destinar à manutenção do equilíbrio entre as prestações e contraprestações que envolvem a gestão de custos do contrato de plano de saúde. (TJDFT, 2ª Turma Cível, Acórdão n. 1043306, APC 20160110772560, Relator Des. Cesar Loyola, DJe de 1º/9/2017.)

Des. João Egmont O art. 16, VIII, da Lei 9.656/1998, que dispõe sobre os planos e seguros privados de as- sistência à saúde, autoriza a coparticipação dos beneficiários do plano de saúde, desde que expressamente pactuada. [...] O fato do consumidor ter de desembolsar deter- minado percentual, antecipadamente conhecido, porque expressamente previsto no contrato, não quer dizer que esteja havendo abusividade. [...] A Súmula 302 do STJ, utilizada como fundamento da condenação pelo juízo a quo, é inaplicável à hipótese dos autos, pois se reporta à impossibilidade de limitação de tempo de internação hos- pitalar, ao passo que a autora pleiteia a cobertura integral de internação psiquiátrica. (TJDFT, 2ª Turma Cível, Acórdão n. 1035071, APC 20150710249714, Relator Des. João Egmont, DJe de 2/8/2017.)

Des. James Eduardo Oliveira O sistema de coparticipação atende à particularidade do plano de assistência à saúde e não pode ser considerado hostil às normas de proteção ao consumidor. [...] A pró- pria Resolução n. 8/98, do Conselho de Saúde Suplementar (CONSU), autoriza o sistema de coparticipação nessas hipóteses [...] Cumpre salientar que a coparticipação de que se cogita não se confunde com a limitação temporal de internação hospitalar, práti- ca repudiada pela jurisprudência sedimentada na Súmula 302 do Superior Tribunal de Justiça. A restrição temporal que confronta a legislação especial e o Código de Defesa do Consumidor é aquela que traduz negativa de cobertura, o que definitivamente não ocorre na hipótese em que o segurado, por conta da natureza específica do tratamento e à guisa de estipulação contratual autorizada pela agência reguladora, passa a arcar com parte das despesas da internação duradoura [...] Conclui-se, assim, que a cláusula contratual que prevê a coparticipação do segurado a partir do 31º dia de internação não pode ser reputada ilícita: além de amparada em disposição contratual clara, não carac- teriza recusa de tratamento e é validada pela agência reguladora competente. (TJDFT, 4ª Turma Cível, Acórdão n. 1035016, APC 20150110920213, Relator Des. James Eduardo Oliveira, DJe de 1º/8/2017.)

Des. Eustáquio de Castro [...] a Resolução nº. 387/2015, no artigo 22, inciso II, alíneas “a” e “b”, autoriza a exis- tência de fator moderador quando transcorridos 30 (trinta) dias de internação, contí- nuos ou não, nos 12 (doze) meses de vigência e limita a coparticipação ao valor máximo de 50% (cinquenta por cento) do valor contratado entre a operadora de plano de saúde e o prestador de serviço de saúde. [...] Assim, preserva-se o próprio equilíbrio atua- rial, sem configurar-se necessariamente a ocorrência de ato abusivo capaz de limitar o direito do beneficiário de acesso aos serviços de assistência à saúde. (TJDFT, 8ª Turma Cível, Acórdão n. 1034633, APC 20160110214027, Relator Des. Eustáquio de Castro, DJe de 1º/8/2017.)

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Acórdãos representativos da impossibilidade de constar do contrato de plano de saúde a cláusula de coparticipação do segurado no custeio de tratamento psiquiátrico após o trigésimo dia de internação:

Des. Romeu Gonzaga Neiva Comprovada nos autos a impossibilidade financeira do beneficiário do plano de saúde de arcar com os custos da coparticipação, deve ser afastada a cláusula contratual, aplicando-se os artigos 6º, V, e 7º do Código de Defesa do Consumidor. (TJDFT, 7ª Turma Cível, Acórdão n. 1034699, APC 20160110917808, Relator Des. Romeu Gonzaga Neiva, DJe de 2/8/2017.)

Desª. Gislene Pinheiro Além da limitação temporal de internação, também é abusiva a cláusula que impõe coparti- cipação, uma vez que, conforme acima, coloca o consumidor em desvantagem exagerada, a ponto de tornar-se impraticável a realização de seu objeto, não olvidando-se, igualmente, da fragilidade suportada pelo segurado e sua família, que será inequivocamente agravada pela referida cobrança. A exigência dessa coparticipação configura uma tentativa das ope- radoras de limitarem os dias de internação ou mesmo de negar o próprio tratamento. [...] Assim, mostra-se ilegítima a negativa de cobertura do tratamento médico-psiquiátrico da autora, em regime de internação, mediante a cobrança de coparticipação, no percentual de 50% (cinquenta por cento), após o 30º dia de tratamento. (TJDFT, 7ª Turma Cível, Acórdão n. 1028235, APC 20160910149565, Relatora Desª. Gislene Pinheiro, DJe de 3/7/2017.)

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IMPENHORABILIDADE DE VERBAS

DE CARÁTER ALIMENTAR

O TJDFT, ao interpretar o art. 833, IV, do CPC, vem decidindo que as verbas de caráter alimentar – os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos, as pensões, os pecúlios e os montepios – são absolutamente impenhoráveis, a fim de resguardar o mínimo patrimonial necessário à subsistência do devedor e de sua família. Não obstante, conforme prevê o parágrafo segundo do referido dispositivo legal, essa regra de impenhorabilidade absoluta comporta duas hipóteses de exceção: dívida decorrente de obrigação alimentícia de qualquer natu- reza e quantias excedentes a cinquenta salários-mínimos mensais.

Acórdãos representativos:

Des. Robson Barbosa de Azevedo No caso, entendo que a quantia é impenhorável, pois não há notícia ou comprovação de ganhos em quantia vultosa pelo executado, pelo que se impõe considerar que a pe- nhora poderá importar em risco para a subsistência do devedor. O art. 833 do CPC disciplina que não estão sujei- tos à execução os bens que a lei considera impenhoráveis, dentre eles, os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentado- ria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destina- das ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional li- beral. Portanto, a decisão combatida deve ser reformada, pois entendo que a verba alimentar bloqueada é necessá- ria para custear as despesas da agravante e de sua família, o que não pode esperar. (TJDFT, 5ª Turma Cível, Acórdão n. 1053749, 07096350220178070000, Relator Des. Robson Barbosa de Azevedo, DJe de 24/10/2017.)

Des. Angelo Passareli Os valores depositados em conta-corrente em decorrên- cia da percepção de salário, conta essa também conhe- cida como conta salário, são absolutamente impenho- ráveis diante da vedação constante do inciso IV do art. 833 do CPC. (TJDFT, 5ª Turma Cível, Acórdão n. 1050040, 07008289020178070000, Relator Des. Angelo Passareli, DJe de 9/10/2017.)

Des. Alvaro Ciarlini Percebe-se que a decisão agravada se encontra em har- monia com a regra prevista no art. 833, inc. IV, do CPC, que expressamente prevê a impenhorabilidade de valores depositados em conta salário. Destaque-se que a ressal- va prevista no art. 833, inc. IV, § 2º, do CPC não pode ser aplicada no caso em análise, pois se refere à hipótese de constrição para pagamento de prestação de alimentos, bem como de valores que excedam o montante de 50 (cin-

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quenta) salários-mínimos, o que não ocorreu na espécie. (TJDFT, 3ª Turma Cível, Acórdão n. 1043111, 07064660720178070000, Relator Des. Alvaro Ciarlini, DJe de 5/9/2017.)

Des. Sérgio Rocha As verbas de natureza alimentar são impenhoráveis, salvo para pagamento de dívida da mesma natureza (CPC/15, art. 833, inciso IV e § 2º). Precedentes do STJ e deste TJDFT. É admissível a penhora de valores depositados em conta que não seja destinada exclusivamente ao recebimento de salário. (TJDFT, 4ª Turma Cível, Acórdão n. 1042251, AGI 20160020477160, Relator Des. Sérgio Rocha, DJe de 30/8/2017.)

Des. Roberto Freitas O Agravante afirma que a verba bloqueada em sua conta-corrente junto à Caixa Eco- nômica Federal corresponde à sua aposentadoria, sendo, pois, de natureza alimentar e, portanto, impenhorável, nos termos do art. 833, inc. IV, do CPC. [...] Com efeito, a verba objeto da presente lide, proveniente de obrigação de pagar plano de saúde, atrai a inci- dência da exceção prevista no parágrafo segundo do referido no §2º do Art. 833 do CPC, por se tratar de obrigação de caráter alimentar. O pagamento de plano de saúde constitui, efetivamente, alimento in natura, conforme entendimento majoritário da jurisprudência. (TJDFT, 1ª Turma Cível, Acórdão n. 1032099, 07057135020178070000, Relator Des. Ro- berto Freitas, DJe de 26/7/2017.)

Des. Sandoval Oliveira Conforme as provas dos autos, no entanto, a referida quantia não podia ser objeto de penhora, pois, além de parte ser comprovadamente de titularidade exclusiva do embar- gante, os valores ostentam natureza alimentar. É cediço que o salário perfaz verba de na- tureza alimentar e, conforme preceitua o artigo 833, inciso IV, do CPC, via de regra, está coberto pelo manto da impenhorabilidade, tendo em vista que a regra é excetuada apenas em caso de penhora para pagamento de prestação alimentícia, o que não é o presente caso dos autos. (TJDFT, 2ª Turma Cível, Acórdão n. 1031348, APC 20160111238703, Relator Des. Sandoval Oliveira, DJe de 17/7/2017.)

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INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

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