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RDJ 109 n. 1

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Academic year: 2021

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Foto: Mídia Ninja - Mobilização Nacional Indígena

Produção gráfica: Coordenadoria de Digitalização e Serviços Gráficos – CODIG | SEG | TJDFT

JUL-DEZ

2017

REVISTA DE DOUTRINA

E JURISPRUDÊNCIA

ANO V.1 0 |M º1 ISSN 0101-8868 Venda Proibida

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FEVEREIRO 2018 BRASÍLIA – DF

PuBLIcAçãO SEmEStRAL DO tJDFt tIRAGEm 550 EXEmPLARES

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T R I B U N A L D E J U S T I Ç A D O D I S T R I T O F E D E R A L E D O S T E R R I T Ó R I O S DESEmBARGADOR mARIO mAcHADO VIEIRA NEttO

Presidente

DESEmBARGADOR HumBERtO ADJutO uLHÔA Primeiro Vice-Presidente

DESEmBARGADOR JOSÉ JAcINtO cOStA cARVALHO Segundo Vice-Presidente

DESEmBARGADOR JOSÉ cRuZ mAcEDO Corregedor da Justiça

P R O D U Ç ã O PRImEIRA VIcE-PRESIDêNcIA

Desembargador Humberto Adjuto Ulhôa | Primeiro Vice-Presidente Lizandro Garcia Gomes Filho | Juiz Assistente

Guilherme Valadares Vasconcelos | chefe de Gabinete SEcREtARIA DE JuRISPRuDêNcIA E BIBLIOtEcA – SEBI

Guilherme de Sousa Juliano

SuBSEcREtARIA DE DOutRINA E JuRISPRuDêNcIA – SuDJu Alice Maria A. de Affonso Fabre Figueiredo

Milene Adriana da Silva Gibson NÚcLEO DE REVIStA JuRÍDIcA – NuREV

Adriana Salerno Re Sandra Venâncio de Araújo Alexandre da Silva Lacerda

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cOmISSãO DE JuRISPRuDêNcIA

Desembargadores Titulares: Mário-Zam Belmiro Rosa (Presidente); Flavio Renato Jaquet Rostirola; João Batista Teixeira; Maria de Lourdes Abreu; James Eduardo da Cruz de Moraes Oliveira.

Desembargador Suplente: Diaulas Costa Ribeiro. cONSELHO EDItORIAL

Álvaro Luís de Araújo Sales Ciarlini (IDP/DF); Carlos Ayres de Freitas Britto (UniCEUB/DF); Cláudio Peneda Madureira (UFES/ES); Cristiano Chaves de Farias (Universidade Baiana de Direito/BA); Edgar Guimarães (Instituto de Direito Romeu Felipe Barcellar/PR); Fabrício Motta (UFG/GO); Fredie Didier (UFBA/BA); Geilson Salomão Leite (UFPB/ PB); Geilza Fátima Cavalcanti Diniz (UniCEUB/DF); Héctor Valverde Santana (UniCEUB/DF); Ingo Wolfgang Sarlet (PUC/RS); Jeff erson Carús Guedes (UniCEUB/DF); Lígia Maria Silva Melo de Casimiro (URCA/FAP/ CE); Luciano Ferraz (UFMG/MG); Maurício Leal Dias (UFPA/PA); Miguel Etinger de Araújo Junior (UEL/PR); Pablo Stolze (UFBA/BA); Paulo Afonso Cavichioli Carmona (UniCEUB/DF); Thiago Marrara (USP/SP). EDItORES ASSOcIADOS

André Macedo Oliveira (UnB/DF); Diaulas Costa Ribeiro (UCB/DF); Héctor Valverde Santana (UniCEUB/DF); João Batista Teixeira (UCB/DF); Lucas Rocha Furtado (UnB/DF); Marcos Catalan (Unisinos/RS); Marcus Alan Melo Gomes (UFPA/PA); Marlon Tomazette (UniCEUB/DF). cOmISSãO EXEcutIVA

Adriana Salerno Re; Alexandre da Silva Lacerda e Sandra Venâncio de Araújo – NUREV/TJDFT.

PAREcERIStAS

BAHIA: Daniel Ribeiro Silva (UNIFACS); Salomão Resedá (UFBA). BRASÍlIA: Ana Cláudia Loiola de Morais Mendes (IDP/DF); Atalá

Correia (IDP); Celso de Barros Correia Neto (UCB); Fabrício Castagna Lunardi (UnB); Humberto Cunha dos Santos (UniCEUB); Juliano Alves (UNIEURO); Leonardo Gomes de Aquino (UNIEURO); Leonardo Pimentel Bueno (Advogado); Maurício Muriack de Fernandes e Peixoto (UniCEUB); Norberto Mazai (IDP e IESB); Pedro de Araújo Yung-Tay Neto (UnB); Pedro Machado de Almeida Castro (UnB); Rafael Freitas Machado (UniCEUB e IDP); Rafael Vasconcelos de Araújo Pereira (ATAME); Raquel Tiveron (UniCEUB); Ricardo Rocha Leite (UniCEUB); Susana de Morais Spencer Bruno (UDF); Thiago Luís Sombra (UnB).

eSPÍRITO SANTO: Thiago Felipe Vargas Simões (UVV). GOIÁS:

Fernanda Heloísa Macedo Soares (FACEG). MARANHÃO: Vinícius Abdala (UNIBALSAS). MATO GROSSO: Sarah Caroline de Deus Pereira (Universidade La Salle de Lucas); Simone Genovez (FASIP).

MATO GROSSO dO Sul: Alexandre Raslan (Procurador de Justiça/

MPMS). MINAS GeRAIS: Alex Fernandes Santiago (Promotor de Justiça/MPMG); Bruno Amaro Lacerda (Universidade Federal de Juiz de Fora); Emerson Andena (PUC/MG); Enio César Gonçalves Pimenta (PUC/MG); Leonardo Barreto Moreira Alves (FESMPMG); Luciano J. Alvarenga (Universidade FUMEC). PARÁ: Luanna Tomaz (UFPA). Revista de doutrina e jurisprudência / Tribunal de Justiça do Distrito

Federal e dos Territórios – Vol. 1, n. 1 (1966) –. Brasília : TJDFT, 1966-.

Quadrimestral: 1966 – 2014. Semestral: 2015-. Disponível também em versão eletrônica a partir de 2002: http://www.tjdft.jus.br/institucional/jurisprudencia/revistas/ doutrina-e-jurisprudencia

ISSN 0101-8868

1. Direito, Periódico. 2. Direito, Jurisprudência. I. Brasil. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT)

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Produção gráfi ca realizada pela Coordenadoria de Digitalização e Serviços Gráfi cos – CODIG/SEG/ TJDFT

Publicação semestral da RDJ. Jul-Dez/2017. ISSN 0101-8868 Núcleo de Revista Jurídica – NUREV

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

Fórum Milton Sebastião Barbosa, Bloco A, Sala 526 – CEP 70094-900 Brasília – DF

Telefones: (61) 3103-4642 e 3103-4644 E-mail: nurev@tjdft.jus.br

@Todos os direitos reservados. A reprodução ou tradução de qualquer parte desta publicação será permitida mediante autorização expressa do editor. Solicita-se permuta/ Pídese canje/ On demande l´échange/ Si richiede lo scambio/ We ask for exchange/ Wir bitten um Austausch

PARANÁ: Eduardo Pottumati (PUC); Fabiano Augusto Piazza Baracat

(ESA, OAB/PR); Francisco Emílio Baleotti (UEL); Gabriel Cardoso Galli (Instituto Superior do Litoral do Paraná); Patrícia Ayub da Costa Ligmanovski (UEL); Thaís Amoroso Paschoal Lunardi (UFP).

PeRNAMBuCO: Silvio Romero Beltrão (UFPE). RIO de jANeIRO: Felipe

Asensi (UERJ); João Carlos Castellar (UFRJ); Tiago Joffi ly (Promotor de

Justiça/MPRJ). RIO GRANde dO NORTe: José Evandro Zaranza (UNI-RN). RIO GRANde dO Sul: João Paulo Forster (UniRitter); Rafael Sirangelo Belmonte de Abreu (UFRS). SÃO PAulO: Amauri Feres Saad (PUC); Bruno Dantas (PUC/SP); Christiano Cassetari (USP); Christiany Pegorari Conte (PUC/Campinas); Cíntia Rosa Pereira de Lima (USP); Cláudia Maria Las Casas Brito Lamas (FSR/UNIESP); Guilherme Adolfo Mendes (FDRP/USP); Juliana Oliveira Domingues (USP); Murillo Giordan Santos (USP); Nicholas Merlone (Centro Universitário SENAC); Raul Miguel Freitas de Oliveira (FDRP/USP); Regina Célia Martinez (FMU).

AleMANHA: Eduardo Viana Portela Neves (Universität Augsburg). ARGeNTINA: Daniel Ribeiro Silva (UBA). eSPANHA: Alberto Silva

Santos (Universidad Pablo de Olavide de Sevilla). FRANÇA: Ruitemberg Nunes Pereira (Universitè Paris 1 Panthéon-Sorbonne). PORTuGAl: Andrea Wollman (Universidade de Coimbra).

PROcESSO EDItORIAL

Adriana Salerno Re; Alexandre da Silva Lacerda e Sandra Venâncio de Araújo – NUREV/TJDFT.

REVISãO ABNt

Adriana Salerno Re; Alexandre da Silva Lacerda e Sandra Venâncio de Araújo – NUREV/TJDFT.

REVISãO tEXtuAL

Ana Luiza de Azevedo dos Santos – GPVP/TJDFT. Alice Maria A. de Aff onso Fabre Figueiredo – SUDJU/TJDFT.

Adriana Salerno Re; Alexandre da Silva Lacerda e Sandra Venâncio de Araújo – NUREV/TJDFT.

REDAçãO DAS NOtAS DE JuRISPRuDêNcIA

Ana Cláudia Nascimento Trigo de Loureiro; Priscilla Kelly Santos Duarte Romeiro e Risoneis Álvares Barros – NUPIJUR/TJDFT.

REVISãO DAS NOtAS DE JuRISPRuDêNcIA Ana Luiza de Azevedo dos Santos – GPVP/TJDFT. Alice Maria A. de Aff onso Fabre Figueiredo – SUDJU/TJDFT.

Ana Cláudia Nascimento Trigo de Loureiro; Priscilla Kelly Santos Duarte Romeiro e Risoneis Álvares Barros – NUPIJUR/TJDFT.

PROJEtO GRÁFIcO

Coordenadoria de Digitalização e Serviços Gráfi cos – CODIG. PRODuçãO GRÁFIcA

Impressão e acabamento: Coordenadoria de Digitalização e Serviços Gráfi cos – CODIG.

Data de impressão: Fevereiro 2018. Tiragem: 550 exemplares.

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Revist a de d out R ina e Ju R isp R udência. 53. B R asíl ia. 109 (1). edit o R ial / Jul -de Z 2017

Desembargador Humberto Adjuto Ulhôa

Primeiro Vice-Presidente do TJDFT e Editor-Chefe da RDJ

A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo lugar.

Martin Luther King

Neste volume da RDJ, são apresentados oito artigos, além da jurisprudên-cia representativa do tJDFt. Os artigos inijurisprudên-cial e final possuem temas que são abordados à luz da filosofia do direito, pois um dos objetivos desta publicação é problematizar – assim como almeja a filosofia – assuntos da área e, em consequência, induzir à reflexão sobre o pensar e o fazer jurídi-cos. Assim, poder-se-á contribuir para a visão crítica que se estenda para além da aplicação da lei, permitindo a análise desta, bem como dos con-textos social e cultural em que esteja inserida, para que seja aperfeiçoada, e se possa ir em busca da justiça mais justa.

começo apresentando o artigo destaque, Por uma releitura do di-reito dos povos indígenas: do integracionismo ao interculturalismo, do Promotor de Justiça thimotie Aragon Heemann, que demonstra a mudan-ça de visão sobre os povos indígenas ocorrida desde a edição do Estatuto do Índio, em virtude da necessária utilização dos tratados internacionais sobre direitos humanos na análise e nos julgamentos sobre os direitos deles. como esse Estatuto foi publicado há mais de quarenta anos, surgiu uma lacuna legal acerca do assunto no Brasil, e passaram a ser utilizados os referidos tratados nos tribunais. Afirma o autor que o indígena deixou de ser visto como objeto de tutela para passar a ser reconhecido como su-jeito autônomo de seus direitos, o que deveria ser refletido na atualização das respectivas normas brasileiras, por meio de linguagem que afastasse

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Revist a de d out R ina e Ju R isp R udência. 53. B R asíl ia. 109 (1). edit o R ial / J ul -de Z 2017

o preconceito social existente – e persistente aqui em nosso País – contra esses povos. com esse intuito, o autor apresenta sugestões de vocábulos para tratar do tema, pautado na concepção de jogos da linguagem de Wittgenstein.

convém ressaltar que o artigo destaque se encontra em consonância com o objetivo da RDJ de trazer assuntos atuais e relevantes para o seu público. De fato, esse artigo oferece a oportunidade de refletir sobre questão que tem sido discutida em âmbito internacional. Não por acaso, em 15 e 16 de outubro de 2017, em Nova York, a Organização das Nações unidas – ONu promoveu um encontro intitulado Reunião de pontos focais da rede latino-americana para a prevenção de genocídio e atrocidades em massa, cuja relatora especial para os direitos dos povos indígenas, Victoria tauli--corpuz, apresentou os riscos e os desafios atuais à sobrevivência física e cultural desses povos na América Latina e citou o Brasil como um dos principais países em que estes estão ameaçados de extinção devido à vulnerabilidade à violência, às drogas, aos interesses agrocomerciais, madeireiros e mineradores legais e ilegais, bem como à ausência de iniciativas para a demarcação de suas terras. Ao contrário do cenário internacional, no Brasil, talvez em razão da crise política e institucional que tem abalado o País, esporádica e pontualmente se tem falado sobre a excruciante situação dos indígenas brasileiros. Que esse artigo motive a conscientização sobre esse problema, pelo menos daqueles leitores da RDJ que possam vir a julgar causas a ele relativas.

A seguir, é apresentado o texto A observância das regras processuais no declínio de com-petência em ação de execução movida por cooperativa financeira, em que se esclarece ser muito peculiar a relação estabelecida entre a cooperativa financeira e seu associado, a qual não pode ser analisada sob o amparo do código de Defesa do consumidor, mas sim com base na legislação espe-cífica sobre o tema. Em virtude disso, a execução dos contratos de empréstimo firmado com essas cooperativas não pode ser declinada de ofício pelo magistrado. Vale a pena ler o artigo e verificar quais os argumentos da autora para chegar a essas conclusões.

Em Os honorários advocatícios sucumbenciais sob a égide do novo CPC, são debatidas as inovações que a Lei 13.105/2015 trouxe ao tema, muitas das quais ainda controversas, motivo pelo qual o autor as coteja com a letra da lei, com os posicionamentos doutrinários e com os precedentes jurisprudenciais mais recentes, a fim de fornecer subsídios para que o leitor forme sua opinião. É destacada, também, a importância da jurisprudência dos tribunais superiores para uniformizar a interpretação sobre a matéria. Não deixe de conferir esse bem escrito e interessante artigo.

No artigo A responsabilidade civil das empresas de transporte no fornecimento de trans-portes gratuitos, a autora traz um tema controverso: a possibilidade de as empresas que prestam gratuitamente o serviço de transporte serem responsabilizadas, entendimento pautado na unifi-cação da responsabilidade contratual com a extracontratual e na doutrina do bystander, de origem norte-americana. Sugere a aplicação do código de Defesa do consumidor aos casos pertinentes a

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Revist a de d out R ina e Ju R isp R udência. 53. B R asíl ia. 109 (1). edit o R ial / Jul -de Z 2017

apresentado estudo de alguns casos curiosos, que deixo a cargo do leitor averiguar.

No quinto artigo, Os precedentes judiciais no novo Código de Processo Civil e seus reflexos no direito brasileiro, abordam-se os prós e os contras do fortalecimento dos precedentes judiciais no novo cPc, por meio de um estudo comparativo com o common law. Os autores concluem que o fortalecimento dos precedentes judiciais é positivo para o processo civil brasileiro, desde que sejam utilizados corre-tamente os métodos para a sua superação, a fim de evitar o engessamento dos direitos no País. confira essa excelente proposta.

Em Inscrição de entes federativos em cadastros federais de inadimplência e a jurispru-dência do Supremo Tribunal, é apresentada a análise e a sistematização das decisões proferidas pelo StF nas ações que envolvem a inscrição de estados-membros em cadastros federais de restri-ção ao crédito, cuja discussão, segundo o autor, é importante em virtude de, também, envolver o re-cebimento e a aplicação de recursos públicos. constata-se haver graves problemas para os estados em decorrência desse evento comum, porém de efeitos prejudiciais, por redundar em verdadeiro conflito federativo. Afirmo, com segurança, tratar-se de texto bem fundamentado e organizado, o que confere fluência a um assunto complexo.

Remeto o leitor, ainda, para o Considerações a respeito da coisa julgada inconstitu-cional, em que são apresentados os conceitos básicos para o entendimento da coisa julgada bem como as discussões relacionadas à possibilidade de relativização desta, o que caracteriza estudo sistematizado sobre assunto de repercussão no ordenamento jurídico. A autora procura reforçar o entendimento de que esse instituto é de importância vital para o processo, por estar relacionado à imutabilidade do conteúdo da decisão e, em decorrência, à estabilidade e à segu-rança jurídica proporcionada às partes. Entretanto, seu caráter não absoluto e, portanto, sua relativização seria possível, quando seu conteúdo violar princípios e valores constitucionais. Esse artigo é de extremo interesse para a judicatura.

com O “Décimo segundo camelo” de Luhmann: entre aporias, interpretações e herme-nêutica jurídica, fecham-se os artigos desta edição assim como foram abertos, com outro texto de filosofia do direito, no qual se constata a importância da linguagem na interpretação jurídica, mo-tivo pelo qual, segundo o autor, “abre-se um campo fértil para as contribuições da hermenêutica filosófica ao processo de interpretação e de fundamentação do direito”. Nesse artigo, a parábola do décimo segundo camelo é utilizada como base para que, pautado na hermenêutica de Gadamer, o autor possa verificar a (in)existência de um padrão interpretativo válido para as situações jurídicas. Vale a pena acompanhar a argumentação constante de um texto tão dialético quanto instigante, exatamente como deve ser a provocação filosófica.

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Revist a de d out R ina e Ju R isp R udência. 53. B R asíl ia. 109 (1). edit o R ial / J ul -de Z 2017

Enfim, prezados leitores, são esses os artigos deste volume, o último número da Revista de Doutrina e Jurisprudência publicado sob a direção do atual editor-chefe. Registro o grande prazer – e desafio – que foi estar embrenhado na publicação desta Revista durante dois anos. Juntamente com minha equipe, procuramos resguardar a qualidade que a caracteriza e, a partir de agora, como ávido leitor, continuarei a acompanhar suas excelentes publicações.

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JuRispRudência

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DO INtEGRAcIONISmO AO INtERcuLtuRALISmO

FOR A REAPPRAISAL OF INDIGENOUS LAW: FROM INTEGRATIONISM TO INTERCULTURALISM

Thimotie Aragon Heemann . . . . 12

A OBSERVÂNcIA DAS REGRAS PROcESSuAIS NO DEcLÍNIO DE cOmPEtêNcIA Em AçãO DE EXEcuçãO mOVIDA POR cOOPERAtIVA FINANcEIRA

THE OBSERVANCE OF THE PROCEDURAL RULES ON COMPETENCE DECLINATION IN EXECUTION CASE DEMANDED BY FINANCIAL COOPERATIVE

Marianna Ferraz Teixeira . . . . 26

OS HONORÁRIOS ADVOcAtÍcIOS SucumBENcIAIS SOB A ÉGIDE DO NOVO cPc

THE LEGAL FEES UNDER THE SCOPE OF THE NEW CIVIL PROCEDURE CODE

Antonio Danilo Moura de Azevedo 38

A RESPONSABILIDADE cIVIL DAS EmPRESAS DE tRANSPORtE NO FORNEcImENtO DE tRANSPORtES GRAtuItOS

THE CIVIL LIABILITY OF TRANSPORTATION COMPANIES DUE THE PROVISION OF FREE Aline Bona de Alencar Araripe 50

OS PREcEDENtES JuDIcIAIS NO NOVO cÓDIGO DE PROcESSO cIVIL E SEuS REFLEXOS NO DIREItO BRASILEIRO

JUDICIAL PRECEDENTS IN THE NEW CIVIL PROCEDURE CODE AND ITS CONSEQUENCES IN BRAZILIAN LAW

Kayro Ycaro Alencar Soares e Karin Anressa Lisboa Nunes . . . . 60

APLIcAçãO ANALÓGIcA DOS BENEFÍcIOS DA DELAçãO PREmIADA À cONFISSãO ESPONtÂNEA. . . . 128

cOmPEtêNcIA DAS VARAS DE FAZENDA PÚBLIcA PARA JuLGAR DEmANDAS cONtRA SOcIEDADE DE EcONOmIA mIStA . . . . 130

cOPARtIcIPAçãO DE SEGuRADO NO cuStEIO DE tRAtAmENtO PSIQuIÁtRIcO APÓS O tRIGÉSImO DIA DE INtERNAçãO . . . .132

ImPENHORABILIDADE DE VERBAS DE cARÁtER

ALImENtAR . . . . 135

INDENIZAçãO POR DANOS mORAIS – PESSOA JuRÍDIcA 137

ISENçãO DO ImPOStO DE RENDA SOBRE PROVENtOS DE APOSENtADORIA DO PORtADOR DE DOENçA GRAVE – POSSIBILIDADE . . . . 139

INcIDêNcIA DA LEI mARIA DA PENHA – NEcESSIDADE DE mOtIVAçãO DE GêNERO . . . .141

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destaque

JuRispRudência

INScRIçãO DE ENtES FEDERAtIVOS Em cADAStROS FEDERAIS DE INADImPLêNcIA E A JuRISPRuDêNcIA DO SuPREmO tRIBuNAL

FINANCIAL FEDERATIVE CONFLICTS IN THE BRAZILIAN SUPREME COURT’S JURISPRUDENCE

Abhner Youssif Mota Arabi . . . . 71

cONSIDERAçÕES A RESPEItO DA cOISA JuLGADA INcONStItucIONAL

CONSIDERATIONS ABOUT THE UNCONSTITUTIONAL RES JUDICATA

Paula Daher Sardinha . . . . 90

O “DÉcImO SEGuNDO cAmELO” DE LuHmANN: ENtRE APORIAS, INtERPREtAçÕES E HERmENêutIcA JuRÍDIcA

LUHMANN’S “TWELFTH CAMEL”: BETWEEN APORIAS, INTERPRETATIONS AND LEGAL HERMENEUTICS

Wagner Vinicius Oliveira . . . 110

O DIREItO DO PROFESSOR QuE AtuA Em uNIDADE DE INtERNAçãO AO REcEBImENtO DO ADIcIONAL DE INSALuBRIDADE . . . . 143

REAJuStE DA mENSALIDADE DE PLANO DE SAÚDE cOm BASE Em cRItÉRIO EtÁRIO – DIScRImINAçãO AO IDOSO 145

REPARAçãO DE DANO mORAL NA ESFERA PENAL . . .147

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Revist a de d out R ina e Ju R isp R udência. 53. B R asíl ia. 109 (1). p . 12-25 / J ul - de Z 2017

POR UMA RELEITURA DO DIREITO DOS

POVOS INDÍGENAS: DO INTEGRACIONISMO

AO INTERCULTURALISMO

Thimotie Aragon Heemann

FOR A REAPPRAISAL OF INDIGENOUS LAW:

FROM INTEGRATIONISM TO INTERCULTURALISM

RESUMO

o artigo versa sobre a evolução do Direito dos Povos indígenas no estado brasileiro, demonstrando como a influência do fenômeno conhecido como convencionalização do Direito operou nesse Direito e tornou efetiva a transição entre paradigmas, do movimento integracionista para o chamado interculturalismo dos direitos humanos. essa transição fez com que os indígenas e suas comunidades fossem reconhecidos como sujeitos autônomos de direitos. São apontados, neste texto, ainda, os consectários da Constituição Federal de 1988 e do Direito internacional dos Direitos humanos no Direito dos Povos indígenas, bem como é proposta uma nova hermenêutica para os povos indígenas com base na concepção de jogos de linguagem formulada por Ludwig Wittgenstein.

» PALAVRAS-CHAVE: DireiTo ConSTiTUCionAL. DireiTo DoS PoVoS inDÍgenAS. inTerCULTUrALiSmo. DireiToS

hUmAnoS. ConVenCionALiZAÇÃo Do DireiTo.

ABSTRACT

This article discusses the evolution of indigenous rights in Brazilian law, showing how the phenomenon known as conventionality of law occurred in regard to indigenous law, leading to a paradigm transition from the former integrationist position to what is known as interculturalism of human rights, which recognizes indigenous individuals and communities as autonomous subjects of rights. This article points out the consequences the advent of the 1988 Federal Constitution and international human rights law had in relation to indigenous law; it also proposes a new hermeneutics of indigenous peoples based upon the conception of language games formulated by Ludwig Wittgenstein.

» KEYWORDS: CONSTITUTIONAL LAW. INDIGENOUS RIGHTS. INTERCULTURALISM. HUMAN RIGHTS. CONVENTIONALITY OF LAW.

1 POR UMA TRANSIÇÃO DE PARADIGMA NO DIREITO DOS POVOS

INDÍGENAS: DO INTEGRACIONISMO AO INTERCULTURALISMO

no ano de 1973, foi editada, no estado brasileiro, a principal norma sobre o Direito dos Povos indígenas até o momento, qual seja, o estatuto do Índio, com o objetivo principal de integrar todo e qualquer indígena à sociedade majoritária. não é por acaso que o artigo 1º da Lei 6.001/73 (estatuto do Índio) prevê que: “esta Lei regula a situação jurídica dos índios ou silvícolas e das comunidades indígenas, com o propósito de preservar a sua cultura e integrá-los, progressiva e harmoniosamente, à comunhão nacional”. ora, a intenção do legislador brasileiro na época da edição do referido estatuto foi, de forma desrespeitosa e preconceituosa, conceber a condição de indígena como algo passageiro e transitório, uma vez que, com

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ThimoTie ArAgon heemAnn

Revist a de d out R ina e Ju R isp R udência. 53. B R asíl ia. 109 (1). p . 12-25 / J ul - de Z 2017

Por UmA reLeiTUrA Do DireiTo DoS PoVoS inDÍgenAS: Do inTegrACioniSmo Ao inTerCULTUrALiSmo

o passar do tempo, todos os indígenas deveriam se integrar à sociedade majoritária, caracterizando o

que a doutrina especializada denomina de paradigma integracionista.1

Assim, os membros das comunidades indígenas passavam por um processo de assimilação cultural, na medida em que eram classificados inicialmente como índios não integrados e, ao longo desse referido processo, passavam a ser denominados como índios em vias de integração e, por fim, índios integrados. ocorre que tal situação refletia um viés colonizador por parte da sociedade majoritária, o que não pode mais ser admitido nos dias atuais; afinal, vigora no mundo globalizado a chamada teoria da relatividade cultural, que preconiza a inexistência de hierarquia entre as culturas

e a impossibilidade de sobreposição de uma cultura a outra.2

outrossim, ser membro de uma comunidade indígena é uma questão de identidade cultural, que deve ser fomentada, preservada e desenvolvida por todos os indivíduos, sejam eles indígenas, sejam membros da sociedade envolvente.

Assim, com o advento da Constituição Federal de 1988 bem como com a ratificação da Con-venção 169 da oiT, o Brasil passou a adotar um modelo de estado Pluriétnico,

não mais pautado em pretendidas homogeneidades, garantidas ora por uma perspecti-va de assimilação, mediante a qual sub-repticiamente se instalam entre os diferentes grupos étnicos novos gostos e hábitos, corrompendo-os e levando-os a renegarem a si próprios ao eliminar o específico de sua identidade, ora submetendo-os forçadamente à invisibilidade (PereirA, s.d.).

o artigo 215, caput e §1º, da Constituição Federal de 1988 é tratado como marco da plurietnicidade no estado brasileiro, uma vez que impõe ao estado a obrigação de garantir a todos o pleno exercício dos direitos culturais bem como a obrigação de proteção às manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e às de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional. os dispositivos da Convenção 169 da oiT caminham no mesmo sentido, pois reconhecem o direito de ser e de permanecer índio por aqueles que assim desejarem e se autorreconhecerem.

É nessa perspectiva, à luz da Constituição Federal de 1988 e da Convenção 169 da oiT, que o Direito dos Povos indígenas tornou obsoleto o paradigma do integracionismo e passou a ser regido pelo paradigma do interculturalismo.

Primeiramente, é de suma importância ressaltar a diferença entre o chamado multicultura-lismo e o interculturamulticultura-lismo. embora ambas as concepções reconheçam a existência e a autonomia de diversas culturas, o multiculturalismo representa a multiplicidade de culturas em um determi-nado locus, reconhecendo, no entanto, uma hegemonia da sociedade majoritária sobre as culturas minoritárias, flertando com o fenômeno denominado por Boaventura de Souza Santos de canibali-zação cultural. Já o interculturalismo pode ser definido como o contato e o intercâmbio entre cultu-ras em condições de igualdade. É importante ressaltar que tais contatos e experiências não devem ser visualizados unicamente em termos étnicos, mas também como um processo de comunicação e

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Revist a de d out R ina e Ju R isp R udência. 53. B R asíl ia. 109 (1). p . 12-25 / J ul - de Z 2017

Assim, com base em um diálogo intercultural proporcionado pelo paradigma do intercultu-ralismo dos direitos humanos, expressivo número de autores da doutrina especializada já reconhece a não recepção de diversos dispositivos inseridos no estatuto do Índio, pois boa parte dos artigos da Lei n. 6.001/73 reflete os ideais do paradigma integracionista, não mais concebido nem tolerado após o advento da Constituição Federal de 1988 e da ratificação da Convenção 169 da oiT pelo estado

brasileiro.4 Portanto, foi fundamental, na transição de paradigma ocorrida no Direito dos Povos

in-dígenas, que os membros das comunidades indígenas deixassem de ser objeto de tutela e passassem a ser encarados como sujeitos autônomos de direitos. no entanto, a referida transição de paradigma e o reconhecimento de novos direitos às comunidades indígenas jamais haveriam ocorrido, se não fosse por intermédio dos tratados e dos documentos internacionais de direitos humanos celebrados pelo estado brasileiro, conforme se demonstrará a seguir.

1.1 A CONVENCIONALIZAÇÃO DO DIREITO DOS POVOS INDÍGENAS: UM CAMINHO SEM VOLTA

em virtude do seu caráter alográfico,5 o direito passa atualmente por um estágio de

con-vencionalização, no qual se buscam interpretar as normas domésticas à luz dos tratados

interna-cionais.6 no âmbito do Direito dos Povos indígenas, o movimento de interpretação das normas

do-mésticas com base nos tratados e nas convenções internacionais ratificados pelo estado brasileiro é ainda mais forte e visível, visto que a principal norma acerca da matéria no Brasil foi editada há mais de quarenta anos. ora, é evidente que, com o passar do tempo, toda e qualquer legislação interna acaba se tornando obsoleta, devendo, por isso, ser atualizada pelo Poder Legislativo. ocorre que, no âmbito do Direito dos Povos indígenas, o legislador brasileiro parece não demonstrar interesse ou preocupação em corrigir as assimetrias e as lacunas ocasionadas pelo decurso de mais de quatro

décadas da edição do estatuto do Índio.7

Desse modo, não restou outra opção aos aplicadores do direito senão se valer dos tratados e das convenções de direitos humanos ratificados pelo estado brasileiro, para corrigir as assimetrias causadas ao Direito dos Povos indígenas pela inércia do legislador brasileiro. Assim, diversos docu-mentos internacionais costumam ser utilizados pelos tribunais em decisões que envolvem direitos e interesses das comunidades indígenas. entre os mais conhecidos, estão a Convenção 169 da oiT — principal convenção internacional ratificada pelo estado brasileiro acerca do Direito dos Povos indígenas —, a Convenção Americana de Direitos humanos, a Declaração da onU sobre os Direitos dos Povos indígenas e a recente Declaração Americana sobre Direitos dos Povos indígenas, esta úl-tima formulada pela organização dos estados Americanos (oeA) no ano de 2016.

Portanto, em virtude do descaso do legislador brasileiro para com as comunidades indígenas

e com fulcro no princípio da máxima proteção aos índios,8 é possível concluir que o movimento de

convencionalização do Direito dos Povos indígenas é um caminho sem volta, pois as comunidades indígenas brasileiras não podem (e não devem!) ficar à mercê do grupo majoritário representado no

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Por UmA reLeiTUrA Do DireiTo DoS PoVoS inDÍgenAS: Do inTegrACioniSmo Ao inTerCULTUrALiSmo ThimoTie ArAgon heemAnn

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Congresso nacional, sob pena de autorizarem uma asfixia do grupo minoritário por parte da socie-dade envolvente.

2 A GRAMÁTICA INTERCULTURAL DO DIREITO DOS POVOS INDÍGENAS E A

HER-MENÊUTICA DIATÓPICA

Já há algum tempo, o uso da linguagem e as questões semânticas deixaram de ser tratadas como temas perpendiculares no cotidiano do intérprete do direito e passaram a possuir papel de suma importância na sua atividade. em sua clássica obra investigações Filosóficas, o alemão Ludwig Wittgenstein desenvolveu o conceito de jogos de linguagem, segundo os quais o significado das pa-lavras não deve ser compreendido como algo fixo e delimitado, como uma propriedade que emana do enunciado linguístico, e sim como algo que as expressões linguísticas exercem em um contexto determinado e com objetivos específicos. Logo, para o filósofo, o significado pode variar, dependen-do dependen-do contexto em que a palavra é inserida e dependen-do propósito desse uso (WiTTgenSTein, 1988).

Com base na ideia de jogos de linguagem formulada por Wittgenstein, é possível perceber que a linguagem e a semântica de cada palavra possuem papel de destaque no contexto social, além de retratarem o nível de evolução de determinada sociedade em decorrência da utilização desta ou daquela palavra. Assim, a linguagem e as questões semânticas variam de acordo com as condições

de tempo, local e cultura,9 motivo pelo qual a hermenêutica do Direito dos Povos indígenas deve ser

reconstruída, pautada pelas experiências geradas pelo interculturalismo e com fulcro no já referido movimento de convencionalização do ramo do direito em estudo.

Desse modo, a partir da irradiação dos efeitos do interculturalismo dos Direitos humanos no Direito dos Povos indígenas, uma série de palavras e expressões tornaram-se obsoletas e devem ser retiradas do vocabulário cotidiano daqueles que lidam com a temática.

Primeiramente, há que se fazer uma diferenciação entre direito indígena e direito indigenis-ta. o direito indigenista é aquele produzido pela sociedade envolvente, leia-se, Poder Legislativo, com aplicação direta e imediata na vida cotidiana das comunidades indígenas; um exemplo é o estatuto do Índio (Lei n. 6.001/1973). Já o direito indígena corresponde às normas jurídicas produ-zidas e aplicadas pela própria comunidade indígena, tais como costumes e sanções penais indíge-nas. Acerca da diferença entre direito indígena e direito indigenista, é a lição de Vitorelli:

Tecnicamente, direito indigenista é o nome adequado a designar o direito, produzido pelo grupo dominante, que trata da condição indígena. A expressão direito indígena se destinaria a designar o direito produzido pelo próprio grupo indígena. em inglês, a primeira expressão é referida como indigenous law, enquanto a segunda é designada como indian Law (2016, p. 25). Continuando a tratar da gramática intercultural indígena, uma das formas de se referir aos membros de comunidades indígenas que deve ser prontamente eliminada do vocabulário daqueles que tratam da matéria é o termo “silvícola”. Segundo o Dicionário Aurélio, a palavra “silvícola” significa “quem nasce ou vive na selva; selvagem.” neste caso, o próprio significado da palavra já

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demonstra um tom de preconceito para com os indivíduos membros de comunidades tradicionais; a partir do interculturalismo dos Direitos humanos e da eficácia irradiante dos tratados internacio-nais de direitos humanos assinados pelo estado brasileiro, não cabe ao intérprete do direito utilizar uma expressão preconceituosa e arcaica. Além disso, tal expressão não retrata a atual situação das comunidades indígenas brasileiras, uma vez que boa parte dessas comunidades possui relação com a vida urbana e fala a língua portuguesa.

em relação à coletividade de índios, os termos “tribo” e “aldeia” também devem ser con-siderados obsoletos e excluídos do vocabulário do Direito dos Povos indígenas. Tais termos trans-mitem a ideia de que toda e qualquer comunidade indígena possuiria seu modus vivendi atrelado a costumes e práticas primitivas e pouco desenvolvidas, o que não pode ser encarado como verdade. Além disso, tais termos perpassam a ideia de que os membros das comunidades indígenas seriam individualmente incapazes, fato que também destoa da realidade; o reconhecimento da incapaci-dade civil do indígena pelo simples fato de ter nascido no seio de uma comuniincapaci-dade indígena é um consectário do integracionismo, paradigma ultrapassado no atual Direito dos Povos indígenas.

Também não deve ser encarada como correta a utilização do termo “aculturado” para se referir a determinado indígena, visto que, superado o antigo paradigma do Direito dos Povos indí-genas, pouco importa se determinado membro de uma comunidade indígena está ou não envolvido com a cultura predominante da sociedade envolvente.

A pior e mais danosa classificação aplicada aos indígenas brasileiros, lamentavelmente ain-da usaain-da no ordenamento jurídico brasileiro, é a que, a partir do estatuto do Índio, diferencia os indígenas em isolados, em vias de integração e integrados. Trata-se de uma classificação obsoleta, que foi idealizada com base no paradigma do integracionismo, ou seja, com o viés de conferir des-tinação útil ao índio mediante sua integração à cultura da sociedade envolvente. Conforme já dito, entende-se que, à luz da Constituição Federal de 1988, tal classificação não teria sido recepcionada, uma vez que, com a consolidação do atual estado Democrático de Direito, a classificação em comen-to violaria a própria dignidade dos indígenas. infelizmente, essa classificação ainda vem sendo

uti-lizada pelos tribunais superiores,10 embora já existam decisões que classificam tais critérios como

arcaicos, preconceituosos e obsoletos.11

outra questão pouco debatida, embora não se trate propriamente de questão terminológica ou semântica, é a suposta “incapacidade” do indígena pela simples condição de ser índio; uma ins-tância notória da qual emerge essa noção se encontra no Código Civil brasileiro, que põe em xeque a capacidade civil plena dos indígenas, ao prever, em seu artigo 4º, parágrafo único, que: “A capaci-dade dos indígenas será regulada por legislação especial.”

Com o advento do estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015), o regime das in-capacidades passou por substancial modificação: atualmente, apenas os menores de 16 (dezesseis) anos são absolutamente incapazes. Todavia, o próprio estatuto da Pessoa com Deficiência manteve,

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no Código Civil brasileiro, o artigo que trata da capacidade civil dos indígenas. A lei especial a que se refere o artigo 4º, parágrafo único, do CCB é o estatuto do Índio, diploma legislativo idealizado à luz do obsoleto e preconceituoso paradigma integracionista, conforme já referido neste artigo. nesse sentido, o artigo 9º da referida lei dispõe que, para que o índio seja considerado capaz de praticar normalmente os atos da vida civil,

[…] poderá requerer ao Juízo competente a sua liberação do regime tutelar após preenchi-dos os requisitos legais, quais sejam: ter idade mínima de 21 anos; conhecimento da língua portuguesa; habilitação para o exercício de atividade útil, na comunhão nacional; e razo-ável compreensão dos usos e costumes da comunhão nacional (Art. 9º, Lei n. 6.001/73). Assim, à luz do princípio da igualdade, previsto no artigo 5º, caput, da Constituição Federal de 1988, c/c os dispositivos constitucionais e convencionais já apontados, é possível concluir que o regramento da (in)capacidade indígena previsto no estatuto do Índio viola os tratados internacio-nais de direitos humanos sobre a matéria, além de não ter sido recepcionado pela própria Consti-tuição Federal de 1988, e deve ser aplicado aos membros das comunidades indígenas o regime geral das (in)capacidades disposto no Código Civil brasileiro.

mas nem tudo está perdido. Como forma de proporcionar um diálogo intercultural dos direi-tos humanos, Boaventura de Souza Sandirei-tos propõe o que denomina hermenêutica diatópica, que, em breve síntese, consiste na compreensão mútua dos distintos universos de sentidos das culturas en-volvidas no diálogo, para que se consiga alcançar a universalidade dos direitos humanos construída por diversas concepções culturais. o objetivo principal da hermenêutica diatópica é conscientizar ao máximo o intérprete do direito sobre a incompletude existente em todas as culturas do mundo, propondo, então, um diálogo que se desenvolva com um pé numa cultura, e outro, noutra, mate-rializando um verdadeiro diálogo intercultural (SAnToS, 2008, p. 3). Assim, é a partir dessa ideia formulada pelo sociólogo português que deve ser pensada a atual gramática intercultural de Direito dos Povos indígenas, haja vista que os standards e a terminologia utilizada nesse ramo do direito não devem ser impostos pela sociedade envolvente, mas concebidos a partir de um diálogo intercultural entre a sociedade majoritária e as comunidades indígenas.

Desse modo, valendo-se da concepção de hermenêutica diatópica como ponto de partida e

com o auxílio do efeito purificador12 dos tratados internacionais de direitos humanos sobre o

arca-bouço normativo brasileiro, as expressões acima mencionadas devem ser excluídas da gramática intercultural do Direito dos Povos indígenas, e o intérprete do direito deve utilizar as expressões “índio” ou “indígena”, para se referir ao membro de uma comunidade indígena, e as designações

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3 OS CONSECTÁRIOS DO INTERCULTURALISMO NO DIREITO DOS POVOS INDÍGENAS

3.1 O DIREITO AO AUTORRECONHECIMENTO

o primeiro e mais conhecido consectário do interculturalismo dos Direitos humanos no Di-reito dos Povos indígenas é o diDi-reito ao autorreconhecimento. Conforme dispõe o artigo 2º, inciso i, da Convenção 169 da oiT, cabe à própria comunidade indígena decidir quem é ou não indígena. As-sim, não compete à sociedade dominante, exterior àquela cultura, decidir quem é ou não indígena, mas apenas ao indivíduo e ao grupo do qual ele afirma ser membro. isso, porque não há ninguém melhor do que os próprios membros da comunidade tradicional, já inseridos naquela cultura, para reconhecer seus semelhantes. Trata-se do chamado critério da autoatribuição de identidade, tam-bém chamado de autodefinição ou autorreconhecimento. Sobre os benefícios do critério do autor-reconhecimento, explica Sarmento:

Trata-se de critério extremamente importante, na medida em que parte da correta pre-missa de que, na definição da identidade étnica, é essencial levar em conta as percepções dos próprios sujeitos que estão sendo identificados, sob pena de chancelarem leituras etnocêntricas ou essencialistas dos observadores externos provenientes de outra cultura, muitas vezes repletas de preconceito. A ideia básica, que pode ser reconduzida ao prin-cípio da dignidade da pessoa humana, é de que na definição da identidade não há como ignorar a visão que o próprio sujeito de direito tem de si, sob pena de se perpetrarem sérias arbitrariedades e violências, concretas ou simbólicas (2010, p. 302).

na mesma linha da Convenção 169 da oiT, o artigo 2º do estatuto dos Quilombolas reco-nhece expressamente o critério do autorreconhecimento como fórmula utilizada para definir quem

deve ou não ser considerado quilombola.14 Ainda, os tribunais superiores já começam a reconhecer o

critério do autorreconhecimento como a melhor saída para aferir quem deve ou não ser considerado

membro de uma comunidade indígena.15

Assim, foi deixado de lado o critério obsoleto e preconceituoso estabelecido pelo estatuto do Índio, no qual se conferia aos membros da sociedade envolvente decidir quem seria ou não “cate-gorizado” como indígena.

3.2 O DIREITO À AUTODETERMINAÇÃO

Um segundo consectário da influência do interculturalismo dos Direitos humanos no Di-reito dos Povos indígenas foi o reconhecimento do diDi-reito à autodeterminação dos povos indígenas

como norma cogente.16 nessa linha, o preâmbulo da Declaração da onU sobre os Direitos dos Povos

indígenas prevê o direito à autodeterminação dos povos indígenas, afirmando que “nada do dispos-to na presente Declaração poderá ser utilizado para negar a povo algum seu direidispos-to à audispos-todetermi- autodetermi-nação, exercido em conformidade com o direito internacional.”

Foi a partir da mudança de paradigma no Direito dos Povos indígenas que essas comunida-des passaram a gozar, de forma efetiva, do direito à autodeterminação, que, nas palavras de Albu-querque, pode ser definido como:

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[…] um direito enquanto conjunto de regras, normas, padrões e leis reconhecidas so-cialmente que garantem a determinados povos, segmentos ou grupos sociais o poder de decidir seu próprio modo de ser, viver e organizar-se política, econômica, social e cul-turalmente, sem ser subjugados ou dominados por outros grupos, segmentos, classes sociais ou povos estranhos à sua formação específica (2008, p. 148).

A organização das nações Unidas (onU) divide o direito à autodeterminação em duas

face-tas,17 quais sejam, a autodeterminação externa e a autodeterminação interna. enquanto a primeira

corresponde à garantia de não sofrer dominação estrangeira, a segunda compreende o direito de se autogovernar e de preservar a sua identidade cultural e linguística.

especificamente sobre o reconhecimento aos povos indígenas do direito à autodetermina-ção, Anjos Filho esclarece que:

[…] não há qualquer dúvida quanto ao fato de que os povos indígenas são titulares do di-reito à autodeterminação, o qual é necessário para o alargamento das suas possibilidades de escolha e para o incremento do bem-estar de todos os seus integrantes (2013, p. 591). Assim, a autodeterminação das comunidades indígenas, direito previsto na referida decla-ração onusiana, corresponde à organização social positivada no artigo 231, caput, da Constituição

Federal de 1988.18 outrossim, esse direito deve ser compreendido como uma concessão de

auto-nomia às comunidades indígenas, e não sob a perspectiva de soberania, uma vez que o direito à

autodeterminação dos povos indígenas não confere aos mesmos o direito de secessão.19 Portanto, a

autonomia referente à autodeterminação é aquela de índole interna, e o seu conteúdo é preenchi-do tanto pela autonomia territorial (terra indígena é uma terra demarcada e diferente da terra não indígena) quanto pela autonomia cultural, visto que a sociedade indígena tem direito de possuir a própria cultura, independentemente da cultura predominante na sociedade envolvente. Logo, é do direito à autodeterminação dos povos indígenas que acaba por decorrer a construção de um direito à

diferenciação social, popularmente conhecido como “direito à diferença.”20

Portanto, é forçoso concluir que o direito à autodeterminação é uma das grandes conquistas da história recente das comunidades indígenas, que visa proteger os referidos povos da situação de jugo

colonial e da dominação por parte da sociedade envolvente.21 Ademais, negar às comunidades

indí-genas o direito à autodeterminação seria absolutamente incoerente com o atual estágio da proteção internacional de direitos humanos, o qual garante aos povos indígenas diversos direitos, como liber-dade, igualliber-dade, direito ao desenvolvimento, direito à identidade cultural e linguística, dentre outros. 3.3 O DIREITO À CONSULTA

o terceiro e talvez mais importante consectário do interculturalismo dos Direitos humanos no Direito dos Povos indígenas é justamente o célebre direito à consulta.

Segundo o art. 6º da Convenção 169 da oiT, principal diploma normativo das comunidades tradicionais no plano internacional, as comunidades indígenas possuem o direito de consulta e par-ticipação antes da imposição de qualquer tipo de política pública que as possa afetar.

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embora o Supremo Tribunal Federal não reconheça a absoluta obrigatoriedade do direito

de consulta às comunidades indígenas,22 a jurisprudência da Corte interamericana de Direitos

hu-manos entende de maneira diversa, fixando, inclusive, um iter procedimental para ser seguido na aplicação desse direito. Primeiramente, a consulta deve ser prévia, quer dizer, o ato de consulta deve ser realizado antes da imposição de qualquer política pública que possa afetar os membros da comunidade indígena. em seguida, a consulta deve ser livre, afinal, os membros da comunidade indígena devem exprimir a sua vontade de forma livre e desembaraçada, não podendo ser coagidos

no momento do ato de consulta.23 Por fim, a consulta deve ser informada, ou seja, realizada de

boa--fé, de modo que os membros da comunidade indígena entendam o assunto em pauta. Deste modo, o ato de consulta deve ser culturalmente situado, a fim de que a população da comunidade indígena consiga internalizar a controvérsia que deva ser dirimida. Sobre o iter procedimental do direito de consulta, é a lição de Pereira:

essa consulta tem por pressuposto, portanto, o domínio desses povos sobre a sua exis-tência, e a expectativa de que, eventualmente, ações externas sobre ela se projetem. A consulta deve ser prévia (‘sempre que sejam previstas’), bem informada (conduzida ‘de boa-fé’), culturalmente situada (‘adequada às circunstâncias’) e tendente a chegar a um acordo ou consentimento sobre a medida proposta (2016, p. 179).

nessa mesma linha de raciocínio, é importantíssimo o papel do ministério Público como agente fiscalizador desse iter procedimental do direito de consulta às comunidades indígenas; afi-nal, o direito de consulta é um dever do estado e não uma obrigação das comunidades indígenas. Portanto, além do ajuizamento de ações civis públicas na esfera judicial, instrumentos extrajudi-ciais como o inquérito civil, o termo de ajustamento de conduta, o procedimento administrativo e os procedimentos preparatórios podem ser utilizados pelo agente ministerial como instrumento de fiscalização e concretização do direito à consulta. Acerca do papel do ministério Público na fiscali-zação e na concretifiscali-zação do direito de consulta às comunidades indígenas, é o magistério de mattos:

nesse norte, ante a certeza de que a consulta é um direito positivado no ordenamento jurídico pátrio e, ao mesmo tempo, um instrumento que visa à implementação da de-mocracia participativa em relação às comunidades indígenas, cabe ao ministério Público (estadual ou federal) exigir a sua realização sempre que houver a intenção da prática de qualquer ato administrativo ou legislativo que possa afetar estes povos, zelando, ade-mais, para que todas as suas características sejam plenamente observadas (2015, p. 116).24 Ainda sobre o direito de consulta, a Corte interamericana de Direitos humanos estabelece uma diferença entre consulta e consentimento. o dever de obter o consentimento das comunidades indígenas é exigido nas hipóteses de grandes empreendimentos que possam vir a provocar a perda do território indígena ou a comprometer significativamente a relação da comunidade indígena com a sua terra, o que, neste caso, inclui o acesso aos recursos fundamentais que fomentam a existência do grupo e de suas tradições culturais. Já o dever de consulta prévia, informada e de boa-fé, é ne-cessário em razão de fatos que não envolvam a perda da terra indígena, nem possam comprometer

significativamente a relação da comunidade tradicional com a sua terra.25

em matéria de produção legislativa, não se pode deixar de mencionar a não convencional e inconstitucional PeC 215/2000, que trata da transferência do processo de demarcação de terras

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dígenas da competência administrativa do executivo para o Legislativo, exemplo claro da tentativa de cercear direitos indígenas, como o direito à consulta. A principal crítica proferida pelos defen-sores dos direitos dos povos indígenas ao projeto de emenda à Constituição que tramita no Senado Federal é justamente o dado já referido, qual seja, o de que a PeC 215 visa a transferir ao Congresso nacional a decisão final sobre as demarcações de terras indígenas (atualmente, essa decisão é de competência do executivo). Assim, se a PeC 215/2000 for aprovada pelo Congresso nacional, uma minoria étnica, qual seja, os povos indígenas, passará a ter a fruição e o gozo de seus direitos funda-mentais submetidos ao bel-prazer de uma maioria política, havendo uma forte tendência de asfixia

dos direitos da minoria étnica.26

outrossim, o direito de consulta previsto na Convenção 169 da oiT e amplamente debatido na jurisprudência nacional e internacional não deve ser confundido com a situação conhecida como “oitiva constitucional,” prevista no art. 231, § 3º, da Constituição Federal de 1988, que consiste na situação na qual o Congresso nacional ouve as comunidades indígenas como pressuposto para

auto-rizar, ou não, um empreendimento hidrelétrico ou minerário que aproveite seus recursos naturais.27

Deste modo, é imperioso concluir que o direito à consulta constitui importante instrumento de democratização dos atos e das políticas públicas que envolvam direitos e interesses das comu-nidades indígenas, fomentando a participação ativa de seus membros e servindo como forma de

combater o chamado racismo ambiental.28

CONCLUSÃO

Com base na perspectiva exposta no presente artigo, não restam mais dúvidas sobre a im-portância dos tratados e dos documentos internacionais de direitos humanos no Direito dos Povos indígenas, uma vez que foi a partir do movimento de convencionalização desse ramo do direito que as comunidades indígenas e seus integrantes passaram a ser encarados como sujeitos autônomos de direitos e não como meros objetos de tutela, consolidando, de forma efetiva, a transição do pa-radigma integracionista para o papa-radigma do interculturalismo. Assim, é possível concluir que o atual estágio de proteção dos povos indígenas é um caminho sem volta, pois o feixe de novos di-reitos conquistados pelas comunidades indígenas está cada vez mais consolidado no ordenamento jurídico brasileiro.

Ser índio não deve ser encarado como algo transitório e negativo; pelo contrário, o

ethos de uma comunidade indígena é algo que deve ser respeitado, fomentado e preservado,

posto que, parafraseando ronald Dworkin em sua clássica obra A Virtude Soberana: a Teoria e a Prática da igualdade, todos são livres e iguais, merecem o mesmo respeito e a mesma consideração por parte do estado e devem ter respeitados os seus planos de vida. Aprovado em: 19/10/2017. recibo em: 30/8/2017.

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NOTAS

1 “o primeiro deles é o estatuto do Índio, editado em 1973, sob um paradigma totalmente integracionista. A condição indígena seria algo

harmoniosamente eliminado por intermédio da integração dos direitos à comunhão nacional.” (ViToreLLi, 2016, p. 25).

2 Sobre a teoria da relatividade cultural, ver KAYSer, 2010.

3 Sobre a diferença entre interculturalismo e multiculturalismo, bem como o fenômeno conhecido como canibalização cultural, ver SAnToS (2008).

4 Sobre o regime paternalista e atentatório aos direitos humanos dos povos indígenas, é a lição de Daniel Sarmento: “Tal regime, além de

violar tratados internacionais de que o Brasil é signatário — notadamente a Convenção 169 da oiT —, é francamente inconstitucional, não só porque inconciliável com o discurso da Constituição de valorização das culturas indígenas e de empoderamento dos índios e das suas comunidades (CF, art. 231, caput e 232), como também pela ostensiva incompatibilidade com o princípio da dignidade da pessoa humana, seja na dimensão da autonomia, seja naquela do reconhecimento. Quanto à última, parece ser desnecessário enfatizar o quanto é desres-peitoso e degradante tratar alguém como incapaz de estar inserido em uma cultura diferente do mainstream.” (SArmenTo, 2017, p. 264).

5 o direito é alográfico porque o texto normativo não se completa no sentido nele impresso pelo legislador; afinal, a completude do texto

somente é alcançada no momento em que o sentido por ele expressado é produzido, como nova forma de expressão, pelo intérprete. Sobre o caráter alográfico do direito, ver grAU, (2016, p. 38).

6 A impossibilidade de se decretar a prisão do depositário infiel com base nas normas internacionais de direitos humanos materializa o

fenômeno da convencionalização do direito. Para um maior aprofundamento sobre este tema, ver CArVALho (2015).

7 Já se arrasta na Câmara dos Deputados desde 1991 o PL 2.057/91, denominado “estatuto dos Povos indígenas”. no Senado Federal, está

em trâmite o PLS 169/2016, também denominado “estatuto dos Povos indígenas”. Até o presente momento, pouco se discutiu acerca de tais projetos, o que demonstra um total descaso do legislador brasileiro para com as comunidades indígenas.

8 Segundo robério nunes dos Anjos Filho, a Constituição Federal de 1988 adotou uma série de princípios reitores acerca do Direito dos Povos

indígenas, entre eles o princípio da máxima proteção aos índios, que fez nascer o chamado in dubio pro indigena e ainda o reconhecimento de que o patamar de proteção alcançado não elide novas medidas a favor das comunidades indígenas. nesse sentido, ver AnJoS FiLho, 2009, p. 243.

9 A Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural definiu cultura como “o conjunto dos traços distintivos espirituais e materiais,

in-telectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abrange, além das artes e das letras, os modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças.” Sobre o tema cultura e processo indígena, ver ChASe, 2014.

10 Utilizando o termo “silvícola”, STJ, Agint no resp 1372210/Am, relatora: min. regina helena Costa, Primeira Turma, julgado em 16 maio

2017. nesse mesmo sentido, STF, re 633499 Agr, relator: min. Teori Zavascki, Segunda Turma, julgado em 22 set. 2015. Utilizando a clas-sificação de índio “integrado à sociedade”, STJ, Agrg no rhC 79.210/SC, relator: min. Antônio Saldanha Palheiro, Sexta Turma, julgado em 30 mar. 2017. Utilizando o termo “aculturado” para se referir a determinado membro de uma comunidade indígena, STJ, resp 737.285/ PB, relatora: min. Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 08 nov. 2005. nesse mesmo sentido, STF, rhC 64.476/mg, relator: min. Carlos madeira, Segunda Turma, julgado em 10 jul. 1986. As palavras “tribo” e “aldeia” também são encontradas em diversos julgados dos tri-bunais superiores.

11 STJ, rmS 30.675-Am, relator: min. gilson Dipp, julgado em 22 nov. 2011.

12 Denomino efeito purificador dos tratados internacionais de direitos humanos a irradiação oriunda das convenções internacionais de

direitos humanos sobre os atos normativos internos, que atua na correção de assimetrias e na propositura de uma (re)interpretação à luz da atual proteção internacional de direitos humanos.

13 neste mesmo sentido, é a opinião de edilson Vitorelli: “expressões como silvícola, tribo, aldeia, integrado, não integrado, ou em vias de

integra-ção devem ser evitadas. o melhor é utilizar apenas o termo índio ou indígena e as designações comunidade ou grupo.” (ViToreLLi, 2016, p. 27).

14 Art. 2º do Decreto 4.887, de 2003, dispõe que “São considerados remanescentes das comunidades dos quilombos os grupos

étnico-ra-ciais que, além de assim se autodefinirem no âmbito da própria comunidade, contem com trajetória histórica própria, relações territoriais específicas e presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida.”

15 “Adotado o normativo da Convenção oiT n 169, o estado brasileiro acolheu, formalmente, como critério de identificação a

autoidentifica-ção, de tal modo que, para fins legais, é indígena quem se sente, comporta-se ou afirma-se como tal, de acordo com os costumes, organiza-ções, usos, língua, crenças e tradições indígenas da comunidade a que pertença. Por sua vez, consignou o min. relator que não cabe ao juiz criminal aferir a capacidade civil do recorrente uma vez que se trata de questão prejudicial heterogênea de exame exclusivo na jurisdição civil. Ao final, reconheceu-se a competência da Justiça Federal para análise e julgamento da causa, tendo em vista a presença da autarquia federal no feito na qualidade de assistente de indígena.” (STJ, rmS 30.675-Am, relator: min. gilson Dipp, julgado em 22 nov. 2011).

16 Sobre o caráter cogente do direito à autodeterminação, ver rAmoS (2016).

17 nesse sentido, são as disposições da recomendação geral nº 21 do Comitê para a eliminação da Discriminação racial (orgAniZAÇÃo

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18 Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as

terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

19 Acerca do não reconhecimento do direito de secessão aos povos indígenas, explica robério nunes dos Anjos Filho: “entretanto, parece

não haver dúvida de que no presente momento o sistema internacional de direitos humanos, construído a partir dos esforços da orga-nização das nações Unidas, não admite como regra geral a possibilidade de secessão dos povos com base no direito à autodeterminação, priorizando a integridade dos estados nos quais estão inseridos […]” (AnJoS FiLho, 2013, p. 595).

20 Sobre o direito à diferença, ensina Boaventura de Souza Santos: “Temos o direito a sermos iguais quando a diferença nos inferioriza.

Temos o direito a sermos diferentes quando a igualdade nos descaracteriza. As pessoas querem ser iguais, mas querem respeitadas suas diferenças. ou seja, querem participar, mas querem também que suas diferenças sejam reconhecidas e respeitadas.” (SAnToS e nUneS, 2003, p. 56).

21 Para um maior aprofundamento sobre este tema, ver ALBUQUerQUe (2008).

22 Ao julgar os embargos declaratórios no célebre caso raposa Serra do Sol, o Supremo Tribunal Federal entendeu que “o direito de prévia

consulta às comunidades deve ceder diante de questões estratégicas, como a defesa nacional, soberania ou a proteção ambiental, que podem prescindir de prévia comunicação a quem quer que seja, incluídas as comunidades indígenas.” (Pet 3.388 eD, relator: min. Luís roberto Barroso, Plenário, julgado em 23 out. 2013). em posição diametralmente oposta, STJ, Agrg na rcl 17.224/PA, rel. ministro Felix Fischer, Corte especial, julgado em 06/08/2014.

23 Sobre o aspecto da boa-fé no direito de consulta, a Corte iDh assentou entendimento no sentido da incompatibilidade de pretensões

de desintegração da coesão social das comunidades afetadas, tais como a corrupção de líderes comunais, o estabelecimento de lideranças paralelas e as negociações individuais com membros das comunidades (CiDh, 2012, § 186).

24 e prossegue o autor: “enfim, o ministério Público, como defensor da ordem jurídica, do regime democrático e da sociedade, é um dos

principais instrumentos que as comunidades indígenas possuem para que ocorra o efetivo respeito do direito à consulta de que são ti-tulares. Desta forma, é indispensável que haja uma adequada interlocução entre o Parquet e os indígenas, para que, constatada qualquer situação de violação do mencionado direito, as devidas providências sejam tomadas e de forma célere, como forma de garantir a estas comunidades a possibilidade de efetivo exercício de seus direitos fundamentais.” (mATToS, 2015, p. 116).

25 nesses termos, ressaltou a Corte interamericana de Direitos humanos que “[...] quando se trate de projetos de desenvolvimento ou

de investimento de grande escala que teriam um impacto maior dentro do território Saramaka, o estado tem a obrigação não apenas de consultar os Saramaka, mas também deve obter seu consentimento livre, prévio e informado, segundo seus costumes e tradições. A Corte considera que a diferença entre ‘consulta’ e ‘consentimento’ neste contexto requer maior análise.” (CiDh, 2007, § 134).

26 nessa mesma linha, é o pensamento de Daniel Sarmento e Cláudio Pereira de Souza neto: “o enfrentamento do tema é importante,

porque tramitam no Congresso diversos projetos de emenda constitucional que têm o objetivo de criar graves embaraços ao reconheci-mento das terras indígenas, como é o caso da PeC 215, que visa transferir ao Congresso nacional a decisão sobre as demarcações, tornando, com isso, a fruição dos direitos fundamentais de uma minoria étnica submetida aos desígnios da maioria política.” (SArmenTo e SoUZA neTo, 2016, p. 309).

27 A oitiva constitucional visa proteger os territórios envolvidos em determinada controvérsia, uma vez que estes são bens da União. Por

outro lado, o direito de consulta visa proteger os interesses das comunidades indígenas e possui um iter procedimental que deve ser rigo-rosamente seguido.

28 “o conceito de racismo ambiental se refere às políticas e práticas que prejudicam predominantemente grupos étnicos vulneráveis. no modelo

atual de desenvolvimento, as ações que promovem a destruição do ambiente e o desrespeito à cidadania afetam, de maneira direta, comunida-des indígenas, pescadores, populações ribeirinhas e outros grupos tradicionais. o racismo ambiental se manifesta na tomada de decisões e na prática de ações que beneficiam grupos e camadas mais altas da sociedade, que atuam dentro da lógica econômica vigente. neste contexto, pro-jetos de desenvolvimento são implantados em regiões onde vivem comunidades tradicionais, sem que haja a preocupação com os impactos am-bientais e sociais para estes grupos. Fábricas que exploram matéria-prima, aterros sanitários, incineradoras e indústrias poluidoras colocadas próximas às regiões onde vivem grupos economicamente desfavorecidos, são alguns exemplos de ações que caracterizam o racismo ambiental. este fenômeno tem grande impacto no desenvolvimento social e na qualidade de vida da população nos países em desenvolvimento. no Brasil, o mapa do racismo ambiental revela a realidade de degradação social provocada, principalmente, por projetos e ações desenvolvimentistas. Casos como da violência contra quilombolas que vivem próximos à base de Alcântara, da luta de grupos indígenas da Amazônia contra o turismo predatório e dos resíduos de chumbo deixados por uma fábrica instalada em Santo Amaro da Purificação nos anos 60 são alguns exemplos deste problema que se estende por gerações.” (Você já ouviu falar no conceito de racismo ambiental?) VerDe. Pensamento. Disponível em: <http:// www.pensamentoverde.com.br/meio-ambiente/voce-ja-ouviu-falar-conceito-racismo-ambiental> Acesso em: 10 set 2017.

(25)

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