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2.6. ESTAÇÕES DO ANO E A CLIMATOLOGIA

2.6.2. O uso da insolação solar

Neste trabalho, optou-se por trabalhar com dados de observações solares de estações meteorológicas de superfície, isto é, com uma série climatológica oficial proveniente do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Existem outras formas de trabalhar com informações de radiação solar, que são a partir de estimativas por de imagens de satélites, correlações numéricas ou equações empíricas, como é o caso do “Atlas de Irradiação Solar no Brasil” (COLLE E PEREIRA, 1998; MARTINS et al, 2007).

Embora os dados observados de irradiação solar sejam obtidos através de radiômetros7 que apresentam na grande maioria das vezes, níveis de confiabilidade superiores àqueles que podem ser obtidos através de modelos radiativos ou empíricos (GUARNIERI et al, 2006 e MARTINS et al, 2007), estes valores não podem ser aplicados para os resultados baseados em interpolações, devido a falta de observações com este equipamento no Brasil (poucas estações com radiômetros).

Outra alternativa é o uso de modelos baseados na equação de transferência radiativa, que não possuem restrições de aplicabilidade, mas necessitam de informações das condições atmosféricas para simular os processos radiativos que atenuam o fluxo de radiação. Já os modelos que adotam relações empíricas, apresentam restrições, pois são

7 Radiômetro: instrumento capaz de medir a quantidade de energia (W.m-2) da radiação solar direta e difusa

aplicados para uma determinada região no qual foram desenvolvidas essas relações. Portanto, a grande dificuldade em trabalhar com a radiação solar, está em conseguir dados observados em todas as regiões do País e a falta de disponibilidade para séries muito longas (vários anos de observação).

Portanto, o Heliógrafo, por ser um instrumento de fácil operação, custos iniciais e operacionais reduzidos, disponibilidade de dados climáticos para vários pontos no Brasil e com o seu instrumental bastante difundido a vários anos, este equipamento se apresenta como a melhor alternativa para obter valores que indicam as variações luminosidade de uma determinada localização e suas respectivas correlações entre insolação solar e a demanda de energia devido ao uso de iluminação.

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Neste capítulo, abordaremos uma extensa revisão dos principais artigos e trabalhos nacionais e internacionais correlacionados com o uso eficiente de energia. É dado um destaque para a visão histórica do desenvolvimento da racionalização energética no Brasil, com a criação dos programas Procel e ReLuz e os respectivos aspectos na legislação nacional correlacionados.

Apresentaremos também uma revisão de trabalhos de estabelecem relações entre as condições climáticas e o consumo de energia, com uma breve discussão de perspectivas futuras e o uso de iluminação natural e artificial.

3.1. ENERGIA E DESENVOLVIMENTO

Para assegurar o desenvolvimento econômico, é necessário para o Brasil ampliar a disponibilidade de energia e assim ter meios de melhorar as condições de vida da população. Conforme apresentado em Goldemberg e Moreira (2005), além de atender o crescimento natural da população, é preciso, pelo menos, dobrar o consumo per capita para de fato trazer uma melhor qualidade de vida aos brasileiros.

Já para garantir a segurança no abastecimento de energia, é importante diversificar a matriz energética, isto é, ter o fornecimento de energia de diversas fontes independentes (hidráulica, térmica, eólica etc). Entretanto, do ponto de vista econômico, é preciso escolher as melhores opções para o Brasil, muitas vezes determinadas pela abundância natural das fontes que são mais comuns no nosso território, como por exemplo, a disponibilidade hídrica e respectivamente o uso de Usinas Hidroelétricas (GELLER, 2003). Do ponto de vista da grande escala no setor energético, não somente para energia elétrica, mas a busca pela auto-suficiência no setor de petróleo também sempre foi uma das

metas políticas para os diferentes governos brasileiros, pois é baseada na necessidade de reduzir gastos financeiros com importação dos seus derivados, como óleo diesel e gás natural, mais recentemente. A partir dos anos 1990, o problema da importação perdeu importância devido ao aumento da produção interna de petróleo e com a auto-suficiência nominal alcançada em 2006 (GOLDEMBERG E LUCON, 2007), o País poderia liberar recursos, antes focados em petróleo, para outros fins economicamente mais interessantes e que podem gerar produtos e serviços para exportação, como o etanol e fontes alternativas de energia (GOLDEMBERG E MOREIRA, 2005).

Nas sociedades mais avançadas, o uso de novas fontes de energia e de tecnologias modernas levou a mudanças qualitativas na vida humana, proporcionando o aumento da produtividade econômica e do bem-estar da população. Para o consumidor final, o que realmente é relevante é o conforto devido aos serviços energéticos e o seu respectivo custo de fornecimento. Entretanto, a disponibilidade de energia não é a única condição para o crescimento econômico, mas neste sentido é necessário a implementação de políticas energéticas específicas que estimulem o crescimento, como também o respectivo uso eficiente (GELLER, 2003; GOLDEMBERG E VILLANUEVA, 2003).

A importância da energia para a sociedade, depende necessariamente do estágio e do modelo de desenvolvimento em que ela está inserida. Ainda segundo Goldemberg e Moreira (2005), o papel determinante da energia tende a ser mais importante em países em desenvolvimento, onde a infra-estrutura e diversos setores da economia estão em formação. Já nas etapas mais avançadas do desenvolvimento, o consumo de energia aumenta abaixo do crescimento do PIB porque as atividades econômicas que mais crescem são as industriais de alta tecnologia e os serviços, onde o consumo de energia é menor em comparação as indústrias de transformação e manufatura.

A demanda crescente de energia devido ao crescimento econômico mundial exerce uma forte pressão para ampliar a oferta de energia disponível, principalmente como já mencionado, nas economias em desenvolvimento. Com uma visão voltada para o desenvolvimento econômico, mas sem grandes efeitos que levam a prejuízos ambientais, a literatura internacional apresenta diversos casos de sucesso. Inicialmente Sachs (2005), faz um amplo debate a respeito do uso de energia, o desenvolvimento mundial e as relações com o petróleo e seus derivados. Discute abertamente, que existe uma mudança em curso para substituir as fontes principais da matriz energética mundial, basicamente devido a três fatores: a) queda na produção e o aumento do custo do petróleo e derivados; b) questões geopolíticas (sucessivas guerras no Oriente Médio); c) problemática ambiental e emissão

de GEE. No caso brasileiro, Sachs (2005) lembra que, apesar de ter alcançado a auto suficiência, o País tem um grande potencial na substituição do petróleo e derivados pelo uso dos biocombustíveis, inclusive para geração de energia elétrica.

Jean-Baptiste e Ducroux (2003) apresentam o exemplo da França de ampliar a oferta de energia sem necessariamente aumentar a emissão de CO2. Através do

planejamento energético e de políticas públicas práticas em oferecer energia através de novas tecnologias que utilizam o conceito de “carbon-free power”, isto é, produzem energia sem emissões diretas de CO2 na atmosfera. Já Stefano (2000), mostra também o

potencial de economia de energia em prédio público, além dos benefícios indiretos na redução de CO2, chegando a até 10% nas emissões da Universidade de Melbourne. Em

Nilssen (2003) também é destacado o conflito entre o desenvolvimento econômico e o aumento de demanda de energia, que após suprir as necessidades básicas, se reflete diretamente no aumento de conforto e na qualidade de vida para a população.

Neste sentido, vale a pena destacar o conceito de Usinas Virtuais (NOGUEIRA, 2007), no qual através de PEE, é possível reduzir a demanda energética equivalente a diversas usinas, que neste caso, não precisariam ser construídas, já que houve uma racionalização no consumo e redução de demanda. Portanto, além de evitar os custos financeiros elevados na construção de novas usinas elétricas para ampliar a oferta de energia, os PEE podem ser considerados como aplicação direta do conceito “carbon-free

power”, trazendo benefícios para a problemática ambiental e de mudanças climáticas.

Em complementação, um estudo solicitado pelo Governo Britânico chamado de Relatório Stern (STERN, 2006) indica que, em conjunto com a problemática de oferta de energia, as mudanças climáticas podem afetar seriamente o desenvolvimento econômico dos países. Esta relação, energia – mudanças climáticas – desenvolvimento, pode ser observada na figura 3.1, onde é apresentado que a maior parte das emissões de GEE são devido ao uso de energia (petróleo e derivados, industriais entre outros).

Figura 3.1 – Emissões mundiais de GEE por tipo de fonte para o ano 2000. (fonte: Stern, 2006).

Ainda segundo Stern (2006), o problema das mudanças climáticas poderá desenvolver a reforma de sistemas energéticos ineficientes e eliminar os subsídios energéticos causadores de distorções de mercado e que custam atualmente aos governos de todo o mundo cerca de US$ 250 bilhões por ano. Por outro lado, se nenhuma ação for tomada no sentido de reduzir as emissões de GEE, como por exemplo, através de PEE e/ou na mudança da matriz energética mundial (substituição do petróleo), é estimada uma perda média de 5 a 10% do PIB global e nos países mais pobres (África e América Latina) os custos podem ser superiores a 10% do PIB, além dos riscos para a saúde da população e impactos significantes ao meio ambiente. Somente com o prejuízo econômico direto, como a quebra de safras agrícolas, desastres naturais, perdas em serviços de turismo etc, os custos seriam da ordem de trilhões de dólares para os próximos 100 anos (STERN, 2006).