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Durante as décadas de 1970 e 1980, as crises no setor do petróleo, que elevaram significativamente os custos deste produto no mercado internacional, criaram a percepção de escassez no Brasil, justificando os investimentos no aumento da produção de petróleo nacional, em conservação e na maior eficiência no uso dos seus derivados e na

diversificação de fontes alternativas de energia (JANNUZZI et al, 2004; NOGUEIRA, 2007).

Deste modo, o Governo Federal criou em 1981 o programa Conserve, que tinha como objetivo estimular a conservação e substituição de óleo combustível na indústria, sendo esta a primeira ação na direção da conservação de energia no Brasil. Nesta etapa, os ganhos obtidos de economia foram significativos para o óleo combustível, mas na verdade, ocorreu uma transferência do consumo de derivados de petróleo, para o setor elétrico, devido ao intenso uso de energia elétrica para geração térmica. Logo, o crescimento da demanda por energia elétrica passou a pressionar a capacidade de oferta do setor, que já estava em crise financeira (JANNUZZI et al, 2004).

Segundo Jannuzzi et al (2004) e Nogueira (2007), diante desta perspectiva, a estratégia adotada pelo Governo Federal foi de implementar uma política de conservação de energia elétrica, que resultou na criação do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica – Procel no ano de 1985, sob a coordenação da Eletrobrás. Esta ação foi a primeira iniciativa sistematizada de promoção do uso eficiente de energia elétrica no Brasil até então. É conveniente destacar que, anteriormente ao Procel, em 1984, já existiam as ações do Programa Brasileiro de Etiquetagem – PBE, coordenado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), mas o PBE é voltado para a avaliação do desempenho de equipamentos energéticos e não para a economia de energia junto ao consumidor final, como é o caso do Procel.

Ainda do ponto de vista de estímulo para a criação do Procel, Geller et al (1998) apresentam que, o Brasil manteve um forte crescimento na demanda de energia nas décadas de 1970 e 1980, muito superior aos países pertencentes à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Entretanto, ao longo dos anos os custos de geração se tornaram cada vez mais altos, estimulando políticas públicas nacionais para o uso racional de energia.

Ao longo dos mais de 20 anos de criação, o Procel passou por várias fases, incluindo sua estagnação nos anos de 1990 e 1991. Já na primeira metade dos anos 1990, o Procel se limitava a ações em sistemas de iluminação, através da distribuição de LFC para a população, estimulando a substituição das LI. Após este período, outras ações foram realizadas, como contatos com instituições internacionais, criação de grupos de trabalho para apoio técnico e definições de diretrizes de longo prazo. Já nos ano de 1999 a 2002, o Procel ofereceu suporte técnico da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para a

análise, aprovação e cumprimento dos programas de combate ao desperdício, com a utilização de 1% da receita anual das concessionárias (JANNUZZI et al, 2004).

Outro ponto relevante é que a Eletrobrás desde o princípio do Procel sempre teve a preocupação de melhorar a compreensão das ações do programa através de uma abordagem de mercado, valendo-se de ferramentas de divulgação em massa para o desenvolvimento de estratégias de mudança de hábitos do consumidor brasileiro (POLLIS et al, 1999). O objetivo era de identificar e analisar continuamente os principais setores críticos, analisar o mercado consumidor e conhecer melhor os hábitos de uso da população entre outros.

Segundo a avaliação da Eletrobrás (ELETROBRÁS, 2006a), desde a sua implantação, o Procel proporcionou uma economia total de energia estimada de 21.753 GWh e uma redução de demanda na ponta de 5.839 MW, o que equivale à energia elétrica necessária ao atendimento de cerca de 12,7 milhões de residências durante o período de um ano ou à energia fornecida por uma usina hidrelétrica com aproximadamente 5,1 GW de capacidade. Em termos de redução de custos financeiros, os investimentos evitados para o sistema elétrico brasileiro foram da ordem de R$ 15 bilhões. Através da metodologia utilizada atualmente pela Eletrobrás (maiores detalhes no capítulo 5), em 2005 (ano-base deste estudo), as ações no âmbito do Procel contribuíram para uma economia de energia de 2.158 GWh e uma redução de demanda no período de ponta de 585 MW. Estes valores de energia economizada são equivalentes a uma usina hidrelétrica com capacidade de 518 MW, representando investimentos evitados para o setor elétrico da ordem de R$ 1,8 bilhão. Uma das principais ações do Procel é o sub-programa chamado Selo Procel de Economia de Energia, ou simplesmente Selo Procel (figura 3.2a). Este sub-programa tem por objetivo oferecer ao consumidor no ato da compra, informações de produtos que apresentam os melhores níveis de eficiência energética dentro de cada categoria (ar condicionado, LFC, aquecedores de água entre outros). Para fazer uso do Selo Procel, o fabricante do equipamento deve atender aos critérios estabelecidos no Regulamento do Selo Procel, no qual a sua adesão é voluntária (ELETROBRÁS, 2006b) e não compulsória como em programas internacionais semelhantes em outros países (GELLER, 2003; BIRNER E MARTINOT, 2005; CARDOSO, 2008).

(a) (b)

Figura 3.2 – Selo Procel (a) utilizado em equipamentos que atenderam os requisitos de eficiência A do PBE (b). (fonte: adaptado de Eletrobrás, 2006b)

Ainda segundo Eletrobrás (2006b), para utilizar a marca do Selo Procel, além das especificações técnicas mínimas exigidas do PBE, o fabricante ou importador deverá comprovar, através de ensaios nos laboratórios referenciados pela Eletrobrás, que o produto, no caso específico de LF, atende as seguintes especificações:

 as LFC ou LFCirc deverão possuir classificação “A” no processo do PBE (tabela 3.1);

Tabela 3.1 Índices de eficiência luminosa mínima exigida nas LFC e LFCirc para o uso do Selo Procel, classificação A do PBE. (fonte: Eletrobrás, 2006b).

Outros projetos internacionais semelhantes ao Procel e que contam com o apoio do Global Environment Facility (GEF), são apresentados em Birner e Martinot (2005) e Tibi e Ramahi (2005). Como destaque em iluminação, são apresentados os projetos realizados no México, através de subsídios na venda de LFC para população de baixa renda, Tailândia com a distribuição de 900 mil LFC e diversos outros países, como na Palestina, Polônia, Argentina, Peru, Hungria, África do Sul etc, onde foram criados certificados de eficiência energética para fabricantes de lâmpadas e derivados (tabela 3.2).

Tabela 3.2 – Características de alguns projetos internacionais semelhantes ao Procel (fonte: elaboração do autor, a partir de: Birner e Martinot, 2005 e Tibi e Ramahi, 2005).

País Alguns benefícios após o projeto

México - Redução no custo das LFC em 30% para o mercado Tailândia - Etiqueta para LFC e LFCirc

- Ampliação do mercado de LE de 40% para 100% imediatamente após o projeto

Polônia

- Redução no custo das LFC em 34% para o mercado - Fortalecimento de fabricantes locais de LFC e LFCirc - Ampliação do mercado de LE de 12% para 20%

Palestina - Redução no consumo de energia em torno de 60 kWh.ano -1

- redução na emissão de CO2 equivalente de 5.800 kg de carvão

Outros países - Certificado oficial do GEF na LFC e LFCirc como padrão de qualidade em eficiência.

Vale destacar que, somente nos projetos do México, Polônia e Tailândia, a economia de energia estimada foi de 3.500 GWh (BIRNER E MARTINOT, 2005).