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CAPÍTULO I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.3 O vocabulário

1.3.2 O vocabulário no processo de ensino e aprendizagem e avaliação de línguas

Considerando os aspectos sobre vocabulário tratados até este ponto da fundamentação teórica desta tese, vale pensar o lugar do vocabulário no processo de ensino e aprendizagem

de LE. Para tal reflexão, automaticamente remete-se à imagem da sala de aula. No entanto, cabe considerar que ampliaram-se os diferentes contextos em que o processo de ensino e aprendizagem pode ocorrer, por conta do avanço da tecnologia atual. O ambiente virtual de aprendizagem e os cursos de EaD (Educação a Distância) são implementados a todo momento, oferecendo oportunidades para a aprendizagem, inclusive de LE.

Independentemente do contexto educacional, e conforme dito anteriormente, para que haja a aquisição lexical produtiva, torna-se indispensável que o aluno tenha contato com a língua de forma efetiva. Faz-se necessário adotar uma abordagem centrada na produção voltada para situações reais de uso em contextos de ensino e aprendizagem, no intuito de favorecer o desenvolvimento lexical do aluno.

É importante observar que a aquisição de línguas é um processo subconsciente e a aprendizagem é um processo consciente. Ainda que sejam diferentes em suas origens e finalidades, podem ocorrer simultaneamente. De tal modo, no desenvolvimento da competência lexical, há a clara distinção, conforme afirma Leffa (2000), entre aprendizagem incidental e aprendizagem intencional.

A aprendizagem incidental corresponde à aquisição natural, não planejada, e a intencional é definida como desenvolvimento formal e planejado. É por meio da aprendizagem intencional que o desenvolvimento do vocabulário em LE ocorre primeiramente e só mais tarde o processo de aprendizagem incidental se inicia.

Read (2000) afirma que, no que diz respeito à importância do vocabulário para alunos e professores, a sua aquisição é, para os alunos, um processo tipicamente mais consciente e exigente. Ainda que possuam um nível avançado de proficiência, os alunos estão cientes das limitações de seu conhecimento de palavras em LE e vêem a aquisição de LE como uma questão de aprender vocabulário e assim, dedicam grande parte do tempo memorizando listas de palavras em LE e se apóiam em dicionários bilíngues. Atualmente, a importância da

aprendizagem de vocabulário é reconhecida por professores de LE e pesquisadores da área de Linguística Aplicada que têm se dedicado a maneiras de explorá-la melhor, uma vez que, segundo Cunningham e Moor (1998), para que se estabeleça uma comunicação de sucesso é fundamental um bom conhecimento de vocabulário.

O vocabulário pode ser considerado como uma área de prioridade em ensino de línguas e dessa maneira, há a necessidade de testes para monitorar o progresso dos alunos na sua aprendizagem bem como para avaliar a adequação do conhecimento do vocabulário desses alunos para suas necessidades de comunicação. Conforme afirma Read (op. cit.), os testes de vocabulário são elaborados e utilizados para avaliar o desenvolvimento dos alunos na aprendizagem de vocabulário e para diagnosticar áreas fracas no conhecimento de palavras da L-alvo.

No entanto, segundo David (2008, p.168),

O vocabulário produtivo é mais difícil de se avaliar (Fitzpatrick, 2007), uma vez que é mais complicado extraí-lo em sua totalidade (se não impossível). O vocabulário receptivo, por outro lado, é maior, mas mais fácil de se medir e analisar42.

Apesar da dificuldade de se avaliar a produção de vocabulário, a preocupação atual concentra-se em elaborar testes de língua especialmente voltados para a avaliação da proficiência. Para Read (op. cit.), a proficiência em LE reside em explorar o conhecimento lexical e gramatical de maneira efetiva com foco na comunicação, e assim não implica medir a capacidade de produção oral apenas, mas implica ainda uma tomada de decisão sobre os construtos a serem avaliados, de maneira que o vocabulário seja considerado como um componente importante para que se estabeleçam inferências sobre o nível de PO de um examinando. Para tanto, acredito que o processo de elaboração de um teste oral de

42

No original: Productive vocabulary is more difficult to assess (Fitzpatrick 2007) as it is more complicated to elicit in its entirely (if not impossible). Receptive vocabulary, on the other hand, is larger but easier to measure and analyse.

vocabulário poderia abranger conhecimentos teóricos sobre avaliação de vocabulário ativo e a noção de como o construto pode influenciar o desempenho do aluno examinado, além de considerar a questão da sofisticação lexical, no sentido de avaliar as palavras produzidas como mais ou menos frequentes na L-alvo.

Segundo Read (op. cit.), em um teste oral que avalia os alunos sob vários critérios, os examinadores não prestam atenção apenas em palavras ou expressões determinadas, mas, em princípio, formam um julgamento da qualidade do uso de vocabulário geral dos examinandos. De uma maneira geral, medidas de vocabulário contidas em tarefas de testes orais, por exemplo, dependem da adequação de seu uso em relação à tarefa.

Considerando a avaliação de proficiência para fins específicos, o examinando precisam estar envolvidos em tarefas que representem um contexto de forma autêntica, de acordo com Douglas (2000), para que as inferências sobre sua capacidade de usar a língua em contextos específicos possam ser feitas. Cabe ressaltar que mesmo em contextos específicos são muitas as possibilidades de tarefas, até mesmo as tarefas que se referem à vida real.

Desse modo, e de acordo com Savignon (1983), um determinado teste oral deve possuir tarefas integrativas e a compreensão prévia de um estímulo escrito ou oral. As tarefas integrativas de um teste oral, como entrevistas iniciais e descrição de fotos, se caracterizam como testes integrativos e implicam que as tarefas sejam respondidas de maneira completa, e que um determinado componente deve ser avaliado tanto de maneira geral como separadamente (discretely), isto é, deduzindo características linguísticas distintas.

É possível perceber que a produção oral dos examinandos será moldada pelos critérios de avaliação que foram pré-determinados. O caráter funcional de um teste está basicamente no próprio contexto de avaliação e na compreensão dos examinandos de como suas respostas estão sendo avaliadas. Afirmações declaradas e explícitas sobre os objetivos do teste e seus critérios de avaliação são do interesse de todos os envolvidos nesse processo. É por meio

dessa visão de avaliação que se pode tentar oferecer a melhor garantia de que os testes medirão aquilo que realmente devem medir e, às vezes, favorece a manutenção de professores e alunos trabalhando para os mesmos objetivos no processo de ensino e aprendizagem, e avaliação.

No que diz respeito a um teste para avaliar de vocabulário, Read (2000) afirma que há dimensões que representam maneiras de se expandir ideias convencionais sobre este tipo de avaliação para que seja possível incluir uma maior variedade de procedimentos de avaliação lexical, sendo que a primeira dimensão é a que enfoca o construto, subjacente ao instrumento de avaliação.

Neste capítulo foi apresentado o arcabouço teórico que forneceu subsídios para este estudo. Primeiramente, discutiu-se a respeito do papel da avaliação no processo de ensino e aprendizagem. Em seguida, apresentou-se a questão da avaliação de proficiência oral em LE. Foram abordados também, os aspectos que envolvem o vocabulário no processo de ensino, aprendizagem, e na avaliação. No capítulo seguinte, apresenta-se a metodologia utilizada nesta pesquisa.

CAPÍTULO II

Este capítulo trata da metodologia utilizada para a realização desta investigação e está dividido em três seções. Justifica-se, de maneira teórica, a natureza da pesquisa. O contexto e os participantes da pesquisa são descritos para apresentar um perfil dos alunos-formandos que se voluntariaram para este estudo. Em seguida, o procedimento de geração de dados é delineado, primeiramente com foco na coleta de dados em sala de aula, que inclui um processo de ação pedagógica e seminários apresentados pelos alunos-formandos como instrumentos utilizados para a análise de competência lexical referente ao contexto de sala de aula. Na sequência, abordam-se os outros instrumentos utilizados na pesquisa: os testes orais dos exames de proficiência FCE e IELTS, bem como o teste de proficiência oral TEPOLI, com vistas à análise de competência lexical em situação de avaliação. Por fim, são explicados os procedimentos de análise qualitativa e quantitativa.