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Ainda obediente à delimitação político-administrativa do país, a proposta do IBGE, para se adequar às necessidades da administração pública abria mão, mais uma vez, de uma divisão que

Geografia e Gestão Ambiental

47 Ainda obediente à delimitação político-administrativa do país, a proposta do IBGE, para se adequar às necessidades da administração pública abria mão, mais uma vez, de uma divisão que

• Região Sul: São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. • Região Centro-Oeste: Mato Grosso e Goiás (após 1960, o Distrito

Federal).

Cabe observar que a importância dada ao conhecimento da realidade física do país na primeira metade do século XX longe de se relacionar à necessidade de preservação e de racionalidade do uso dos recursos, associava-se à necessidade de facilitar a ocupação humana que “esbarrava em toda a série de obstáculos que precisavam ser previamente conhecidos para que melhor possam ser transpostos ou dominados” (PEREIRA, 1943). Com efeito, a necessidade de um conhecimento regionalizado do Brasil, a partir de “certos aspectos da geografia física” justificava-se naquela ocasião muito mais pela ideia de evitar “ocupações efêmeras ou passageiras”. Nesse sentido, as regionalizações realizadas tinham claramente um viés utilitarista de aproveitamento dos recursos naturais, do que propriamente um interesse de conhecer a diversidade natural para promover ou induzir uma ocupação mais racional, como as propostas atuais de macrodivisão do Brasil segundo bacias e biomas e ecossistemas.

Nesse sentido, a revalorização da natureza talvez esteja colocando em novos termos, e de forma direta na atualidade, a percepção do meio natural como elemento fundamental na diferenciação do espaço político, concorrendo com as formas tradicionais que presidem a divisão político-administrativa do território regional entre Estados e municípios, conforme observado no quadro acima.

A macrodivisão natural do Brasil na atualidade contrapõe-se, assim, a lógica da divisão política tradicional, que enquadra a base territorial e a ação administrativa, a uma outra (e nova) lógica de divisão territorial, de viés não necessariamente utilitarista, pautada numa apreciação do valor intrínseco e, portanto, não instrumental, da natureza e de formas culturais a ela associada. Tal lógica, torna difícil negar os conflitos estabelecidos entre o planejamento territorial do crescimento econômico e o da proteção ambiental, uma vez que eles irão se impor no curso da ação política tal como observarmos atualmente no Brasil e, especificamente, no que diz respeito às formas de avanço do povoamento na região amazônica.

Na atualidade, a introdução dos princípios de sustentabilidade inseridos na institucionalização da legislação ambiental no Brasil a partir da década de 70 e legitimada na própria Constituição Federal de 1988, vem colocando na

agenda política brasileira a necessidade de voltar a incluir critérios naturais na divisão regional brasileira.

Nesse sentido, a divisão do território brasileiro em Bacias hidrográficas longe de constituir uma simples delimitação natural do país adquire, na atualidade, uma importância central para a gestão do território nacional notadamente quando se considera o sentido estratégico que vem adquirindo a regulação dos recursos hídricos no Brasil e no mundo contemporâneo.

Com efeito, a disputa pela água irá representar, no século XXI, um fator agravante da instabilidade global resultando a alocação ineficiente desse recurso natural em um entrave ao desenvolvimento econômico e uma ameaça imediata à qualidade de vida da população mundial. Nesse sentido, a regulação do uso desse recurso deve constituir um elemento chave no planejamento das políticas territoriais das nações em geral e do Brasil, em particular48.

Nesse contexto, a Bacia hidrográfica passa a ser, na atualidade, um critério de importância estratégica para se planejar uma ocupação sustentável tanto do ponto de vista ambiental como do ponto de vista normativo, dado o avanço ocorrido no âmbito da legislação sobre recursos hídricos no país49.

A água constitui elemento essencial à vida, enquanto componente biológico dos seres vivos e meio de vida de várias espécies vegetais e animais, assim como fator fundamental de localização dos assentamentos humanos e, portanto, de entendimento das formas de organização socioeconômica do território nacional e de suas bacias.

As condições dos recursos hídricos revelam os impactos acumulados das formas de ocupação desse território, conforme analisado anteriormente nesse relatório, segundo os vetores estruturantes da dimensão socioeconômica. Com efeito, nenhum outro recurso natural oferece tantos usos legítimos quanto a água, aí incluída sua utilização para o abastecimento doméstico e industrial e como matéria-prima nas atividades industriais e agrícolas, para geração de energia e irrigação, entre outros.

A divisão de bacias hidrográficas de uma determinada do país representa um desafio e sua compartimentação depende dos objetivos que se pretende

48 No caso brasileiro, pode-se mesmo afirmar que uma das questões centrais que a sociedade e

o Estado deverão enfrentar no século atual será aquela atinente ao uso planejado e compartilhado das grandes bacias hidrográficas e dos imensos recursos hídricos situados na face oriental da América do Sul, onde se estende o recorte territorial brasileiro.

49 A divisão do território brasileiro em Regiões Hidrográficas foi instituída juridicamente

atendendo à vasta legislação criada sobre o uso dos recursos hídricos a partir de meados dos anos 90 do século passado.

atingir, da concepção metodológica adotada e, sobretudo, da escala de apresentação. Em estudos mais específicos, podem ser delimitadas bacias que têm relevância sócio-econômica em função da presença de represas e usinas hidrelétricas ou que abranjam municípios com alta densidade populacional ou ainda apresentem problemas de natureza ambiental.

De modo geral, os limites das bacias são definidos de acordo com critérios técnicos que incluem a separação dos divisores de água a partir da identificação das cabeceiras dos canais de primeira ordem, chegando-se à delimitação dos rios que formam a rede de drenagem principal. Assim, dependendo da escala do mapa a divisão hidrográfica pode ser cada vez mais detalhada e, portanto, comportar inúmeras subdivisões. O mapa abaixo constitui um exemplo de divisão do território brasileiro em grandes regiões hidrográficas50.