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 Compreender em que medida as actuais práticas (médicas e de enfermagem) de cuidados de saúde para as pessoas com diabetes, utilizadoras da Unidade E, se enquadram nos princípios da Gestão da Doença.

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4.4 – As técnicas e instrumentos de Colheita de Dados

Há que decidir quais os métodos que se adequam à nossa finalidade e seleccioná-lo. Tendo em conta o propósito deste estudo, isto é, a preocupação com a prática dos cuidados, julgamos pertinente o uso de um questionário já traduzido e aplicado num outro estudo a nível nacional.

Citando Bonomi et al (2000), o questionário (anexo VII), no original americano é designado como, “Assessment of Chronic Illness Care” (ACIC), o qual foi desenvolvido para ajudar as equipas das organizações de prestação de cuidados a identificar áreas de melhoria da qualidade dos cuidados para as doenças crónicas, assim como avaliar o nível e a natureza das melhorias introduzidas nos seus sistemas. Este instrumento de colheita de dados, baseia-se em 6 áreas (também designadas como categorias ou partes), de mudança nos sistemas de saúde que integram o Modelo de Cuidados Crónicos.

É um questionário que apresenta a estrutura geral ilustrada no quadro 1.

De acordo com Carmo e Ferreira (1998), trata-se de um inquérito por questionário porque é administrado à distância, isto é, sem a presença do investigador.

Assim, para a recolha de dados efectuou-se um inquérito por questionário.

Esta escolha do método de recolha de dados, teve em conta a linha de pensamento de vários autores tais como (Gil, 1999; Quivy, 2003; Bell, 2004), que referem, que este método possibilita atingir um número elevado de pessoas, isto, mesmo que se encontrem dispersas numa área geográfica muito extensa. E esta situação está presente neste estudo, uma vez que a Unidade E é constituída por um conjunto de 6 Centros de Saúde do distrito de Lisboa, cuja superfície abrange no total, 1 577,5126 Km2.

O propósito seria que as pessoas respondessem no momento que julgassem mais conveniente sem que houvesse influência do investigador, assim como garantir o anonimato das respostas.

A utilização deste questionário teve com objectivo, tal como já referido, dar a conhecer em que medida é que as práticas (médicas e de enfermagem) se enquadram no conceito da gestão da doença, usando como princípios orientadores o modelo de cuidados crónicos.

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Quadro 1 - A estrutura e dados do Questionário

ESTRUTURA DO QUESTIONÁRIO

Tipo Perguntas fechadas

Medição Score identificado numa escala ordinal com 4 níveis

Áreas de Conteúdo (categorias ou partes)

6 + 1

N.º de componentes (itens) 32 Ordem das questões Fixa

Administração Auto - administrado Tempo de resposta solicitado 4 semanas

Folha de instruções Anexa

Número de questionários 204 (um por pessoa) Total de questionários distribuídos 204

Taxa de resposta 49,5%

Segundo Guerra (2002), as 6 categorias de conteúdo, representando aspectos chave dos cuidados crónicos, no original e na tradução designadas como partes (variáveis não directamente medidas), foram identificadas por um painel de peritos, estando solidamente baseadas na evidência e nos princípios da gestão da doença. Cada uma destas categorias integra uma série de componentes (itens), que constituem as variáveis directamente mensuráveis (ver anexo VII). Segundo Bonomi et al (2000), a versão original do questionário apresenta 28 itens que cobrem as 6 áreas de conteúdo do Modelo de Cuidados Crónicos: Organização dos Cuidados de Saúde (6 itens); Ligações aos Recursos da Comunidade (3 itens); Suporte à Auto-Gestão (4 itens); Desenho do Sistema de Prestação (6 itens); Suporte à Decisão (4 itens); e Sistemas de Informação Clínica (5 itens). As respostas para cada item distribuem-se em 4 níveis descritivos de implementação variando desde o “pouco ou nada” até à “intervenção totalmente implementada”. Dentro de cada um dos 4 níveis, é pedido aos respondentes que escolham uma das três avaliações do nível ao qual a descrição se aplica. Os resultados posicionaram-se numa escala de 0 – 11, em que o “11” representa o suporte óptimo para cuidados crónicos. Assim, os Scores totais representam o nível da função

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organizacional para os cuidados crónicos relacionados com a doença seleccionada. Os Sub- Scores para cada das sete (6-1) categorias (1, 2, 3a, 3b, 3c, 3d, 3e), resultam da soma das escolhas de resposta para cada item (componente), dividindo-se pelo número de itens correspondente.

A operacionalização das variáveis baseia-se numa escala ordinal com um Score de 0 a 11, representando o 0 o nível mais baixo ou de quase ausência de cuidados (Score 0 – 2) e o 11 (Score 9 – 11) o nível mais elevado, de excelência dos cuidados crónicos. Esta escala desdobra-se em quatro níveis, de um continnum de cuidados: D (0 a 2), C (3 a 5), B (6 a 8) e A (9 a 11).

Obtivemos, junto do autor da tradução do questionário para português, a respectiva autorização formal (anexo IX), não só para a sua aplicação no estudo, como para a sua alteração, alteração esta, pontual adaptada apenas aos objectivos deste estudo. Salientamos que este questionário é um dos primeiros instrumentos abrangentes especificamente focalizado sobre a organização dos cuidados para doenças crónicas. Ele foi primeiramente desenvolvido como um instrumento prático de melhoria de qualidade para ajudar as equipas de saúde a avaliar as forças e fraquezas das suas prestações de cuidados para doença crónica nas seis áreas definidas no Modelo de Cuidados Crónicos. Wagner EH (1996, 2001) e consideradas como intervenções efectivas para assegurar a continuidade e a melhoria da qualidade dos cuidados crónicos.

A administração do questionário foi feita somente após o pedido de autorização oficial para a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo – extinta Sub – Região de Saúde de Lisboa, pela Coordenadora (anexo VIII). Contactamos pessoalmente todos os Centros de Saúde que constituíram a amostra, tendo optado pela entrega pessoal dos questionários aos directores e enfermeiros chefes, excepto numa organização, em que procedemos à entrega pessoal de todos os questionários aos profissionais incluídos na amostra sendo neste a taxa de entrega de 100%.

Quer os directores, quer os enfermeiros chefes ou eventualmente enfermeiros com a responsabilidade de chefia atribuída, procederam à entrega dos mesmos em reuniões de serviço ou de outro modo que consideraram mais pertinente.

Consideramos que esta estratégia adoptada (intermediários) não foi uma boa escolha, pois tal como nos descreve Gil (1999, p. 138), “Quando os questionários forem aplicados em grupo, tornar-se-á necessário que a atmosfera da secção seja suficientemente séria para que sejam respondidos objectivamente.”

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Julgamos que a mensagem não foi bem conseguida pelos intermediários deste processo, tendo sido necessário a nossa presença e grande insistência e persuasão, verificando-se uma grande dificuldade na obtenção dos questionários respondidos.

A informação foi transmitida verbalmente, mas constava igualmente na folha de instruções do questionário. Foram entregues 204, o número de questionários correspondentes ao número de profissionais com critérios de inclusão na amostra.

Totalizando 101 questionários, respondidos. O tempo de resposta, apesar de estar previamente definido, variou entre 4 semanas e 3 meses, mais do que inicialmente esperado, tendo-se inclusive verificado uma taxa de não resposta de 50,5%.

Assim, a taxa de resposta foi de 49,5% (quadro 1).

Procedemos a recolha directa em todos os Centros de Saúde, contudo em um deles procederam ao envio de dois questionários por correio.

O preenchimento dos questionários obedeceu a um critério de auto-administração pelos respondentes.

Vários autores, tal como Carmo e Ferreira (1998), alertam, que há que prevenir a elevada taxa das não respostas, que é um dos problemas dos inquéritos por questionário. Estávamos cientes, que esta pesquisa abordaria uma temática de interesse evidente para os inquiridos, sendo todos com formação superior na área da saúde, julgamos que haveria uma maior tendência a cumprir o desafio proposto.

Todavia, não sendo o sistema de perguntas considerado por nós o mais simples em termos de objectividade, tinha no entanto, instruções muito claras. Como estratégia de reforço, foi solicitado a elementos exteriores ao estudo, credíveis na área da saúde, para incentivar a adesão dos inquiridos.