• Nenhum resultado encontrado

O Objetivo da Avaliação de A lternativas

Introdução, O bjetivos e Estrutura do Trabalho

5 A ciência da cognição é a área que pesquisa a natureza do conhecimento, suas componentes, suas fontes, seu desenvolvimento e seu uso (Gardner, 198) Ou, de forma mais simples, ela está preocupada em como o ser

1.1.3 O Objetivo da Avaliação de A lternativas

Avaliação Focada em Alternativas ou em Valores

A PO tradicional concentrou tanto seus esforços na avaliação de alternativas (e, ainda mais, em encontrar a solução “ótima”) que tal avaliação acabou sendo o grande fim a ser atingido. O processo de decisão passa a ser visto unicamente como a escolha da melhor opção, diante de um conjunto pré-definido de alternativas (Roy e Vanderpooten, 1996).

Se o foco é simplesmente avaliar alternativas, então o caminho mais rápido é simplesmente identificar quais são as características que as distinguem, obter os irade-offs entre estes aspectos e determinar qual a “melhor” alternativa. Keeney talvez tenha sido o primeiro a alterar este enfoque:

“(...) Porque alguém deve fazer o esforço para escolher uma alternativa ao invés de simplesmente deixar acontecer? A resposta é ‘valores’. Alguém (o tomador de decisão ou tomadores de decisão ou o agente interessado) sente que as implicações das alternativas são, ou podem ser, suficientemente diferentes para que mereçam [sua] atenção. Este desejo de atingir mais em termos de valores é a motivação de se ter interesse em qualquer problema de decisão. A implicação é que a noção primitiva de um problema de decisão deve ser ‘valores’ e não ‘alternativas’.” (1988, pp. 465-466, apóstrofes adicionados)f

Nesta nova concepção, uma alternativa é tanto melhor quanto mais ela influencie positivamente os valores do tomador de decisão. Os critérios de avaliação são simplesmente meios que visam mensurar o impacto de uma alternativa nos valores dele. Portanto, os valores devem ser a força motriz da tomada de decisão (Keeney, 1996).

Avaliação como um Produto ou Processo

A ambição da PO tradicional é a de representar as variáveis do problema real no modelo, tanto melhor o modelo será quanto mais se aproximar do problema real. (O “modelo é realista” é uma frase comum nesse meio.) O desenvolvimento do modelo de avaliação, a (eventual) obtenção de informações sobre as preferências dos tomadores de decisão e a avaliação das alternativas usando o modelo, são etapas necessárias somente à modelagem matemática. Não há preocupação, geralmente, com o processo de construção do modelo (a

16

não ser para garantir os axiomas do mesmo e a confiabilidade das informações de input), mas apenas com o seu resultado: a alternativa ótima.

Esta visão do processo de avaliação como gerador de um produto, a solução ótima, na opinião do autor, está intimamente ligada à escolha do paradigma objetivista, feita implicitamente pela PO tradicional. Se for possível descrever sem distorções subjetivas um dado fenômeno, então o processo que foi utilizado para descrevê-lo não é relevante6.

A conseqüência de se considerar a avaliação como um produto é que o desenvolvimento do modelo passa a não ser considerado como um processo social, onde os tomadores de decisão podem interagir entre si e com o pesquisador, negociar suas visões sobre o assunto e refletir sobre seus valores e objetivos. Outra conseqüência, é que o modelo pode passar a utilizar parâmetros que são de obtenção complexa (do ponto de vista cognitivo) e cujo significado é de difícil compreensão, unicamente porque tais parâmetros são necessários para que o modelo calcule a solução ótima7.

' Ao adotar-se o paradigma construtivista, no entanto, não apenas o resultado da análise (a definição de que alternativa melhor atende aos valores do tomador de decisão) mas também e especialmente, o processo de construção do modelo são fundamentais. Diferentes processos levarão a diferentes modelos e conseqüentemente a diferentes resultados. Sendo assim, o processo influenciará na avaliação das alternativas.

Portanto, de acordo com Roy (1993), a seleção de uma dada alternativa é também o resultado do processo de reflexão e modelagem (via a construção do problema,

6 Por exemplo, nas ciências exatas, uma leitura de uma grandeza física (e.g., massa) independerá do instrumento de medição (balança), a não ser que este tenha erros. Se houver erros é possível estimá-los, quando a medição é comparada à de um instrumento de referência (balança (te precisão). A medição é tanto melhor quanto mais se aproximar do instrumento de referência. Nesta analogia, o instrumento seria o modelo e a medição via instrumento de referência o problema real. A possibilidade de comparar o modelo ao problema real fornece o grau de validade do modelo.

7 Um exemplo deste tipo de parâmetro é o uso de pesos, nos métodos que determinam a utilidade ou valor multi- atributos. Os pesos indicam o trade-off entre os diferentes aspectos avaliados. Sob o ponto de vista cognitivo esses parâmetros são de obtenção problemática (por exemplo, ver Weber et a i, 1988 e Schoemaker e Waid, 1982) e, sob o ponto de vista matemático, eles assumem uma noção de compensação que nem sempre é observada na prática (Roy, 19%). Eles são necessários, no entanto, para se obter uma ordem completa das alternativas.

17

desenvolvimento do modelo de avaliação, construção de preferências e sedimentação de convicções). Porque o processo de construção do modelo é considerado importante, aspectos cognitivos do tomador de decisão devem ser levados em conta, na opinião do autor, no design de métodos que seguirem o paradigma construtivista.

Modelos Genéricos ou Únicos

A PO tradicional tem como um de seus objetivos a generalização de seus modelos. Assim, uma vez modelado e resolvido um problema real, este modelo toma-se disponível à resolução do mesmo problema em outras situações (Miller, 1986). Essa possibilidade de generalização de modelos abstratos é um dos grandes objetivos da ciência positivista (Hammond, 1986), portanto sendo considerada como uma das grandes virtudes científicas da PO tradicional.

^ Este objetivo, de obter modelos genéricos que resolvam todos os problemas de um determinado tipo, está ligado implicitamente ao pressuposto de que existe um problema real a ser resolvido (logo, ao paradigma objetivista). Só a existência de um problema como entidade autônoma permitirá identificar /) uma representação (modelo) o mais próxima possível da realidade que, uma vez resolvido, irá fornecer a solução “ótima” ao problema; e ii) a existência de outros problemas reais como o anteriormente resolvido, que se prestem a ser solucionados com o mesmo modelo.

, Ao adotar-se o paradigma construtivista, no entanto, os problemas são construídos a partir de uma percepção subjetiva da realidade. A inexistência de um problema real faz com que seja impossível generalizar um modelo utilizado anteriormente, em novos problemas construídos que aparecerem no futuro. Problemas têm natureza única e dependente dos indivíduos, portanto não são entidades de existência autônoma.

Cada situação decisória é única e não pode ser reproduzida (Schon, 1983), porque diferentes indivíduos terão diferentes objetivos, valores, interesses e aspirações. Além disso, a decisão é tomada em um dado local (organização e ambiente externo) e em um dado momento no tempo. Os sistemas de valores dos envolvidos na decisão se alterarão em outro momento e serão diferentes em outro local.

Esse pressuposto, de que uma a tomada de decisão é um evento único por ser um processo social, faz com que a ênfase seja alterada em direção a modelos e soluções que atendam ao contexto local, ao invés de buscar verdades generalizáveis. O modelo tem a

18

intenção de fornecer apoio à decisão para aquele(s) tomador(es) de decisão para o(s) qual(is) o modelo foi construído, em um determinado momento no tempo e para aquela decisão específica. Conclusões sobre o processo de apoio podem ser úteis para intervenções posteriores em outros ambientes, mas não o modelo em si.

Concluindo essa subseção, o foco em processo consorciado ao fo co em valores fez com que o método não apenas sega uma ferramenta visando avaliar e, eventualmente, escolher uma alternativa, mas principalmente que propicie (Keeney, 1992):

■ criar novas (e melhores) alternativas; ■ identificar oportunidades de decisão; * guiar o pensamento estratégico; ■ interconectar decisões;

■ guiar o processo de obtenção de informações;

■ facilitar o envolvimento dos múltiplos grupos de influência; * melhorar a comunicação;

■ permitir ao tomador de decisão refletir sobre seus valores e objetivos.

A intervenção é vista como um evento único e não-reproduzível, em que um modelo será construído visando apoiar a decisão. Conclusões sobre o processo poderão ser de utilidade em intervenções futuras, mas o modelo em si não se presta a generalizações, isto é, ele não tem validade em outros contextos.