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O M étodo Proposto

1 Fran Ackermann, em comunicação pessoal Ver também Eden et al (983) sobre a distinção entre esses tipos de modelos e os mapas cognitivos.

3.2.5 Tipo de Estrutura

Como regra geral, os mapas cognitivos têm uma estrutura hierárquica na forma de relações entre meios e fins (ou causas e efeitos). Cada bloco de texto (nó) é considerado como um construto/conceito/variável (sua denominação irá depender dos pressupostos do pesquisador e do tipo de modelo utilizado).

Uma flecha liga um meio (posicionado no início da flecha) a um fim (posicionado na cabeça da flecha). Tal flecha simboliza influência/causalidade/implicação (novamente dependendo dos pressupostos e do tipo de modelo utilizado). Um sinal positivo associado à flecha indica que, segundo o discurso do tomador de decisão, um aumento de um meio/causa irá influenciar/causar/implicar um aumento no fim/efeito. Um sinal negativo associado a flecha indica que, segundo o TD, um aumento de um meio/causa irá influenciar/causar/implicar uma diminuição no fim/efeito (Axelrod, 1976).

Exemplo 3.1

Suponha que um dado tomador de decisão (TD) faça a seguinte afirmação em uma entrevista:

“O investimento visando a produção de novos produtos em nossa empresa gerará, segundo minha opinião, aumento de vendas que, ao final, irá incrementar a lucratividade da organização.”

A partir deste discurso, o pesquisador poderia construir o mapa cognitivo mostrado na Figura 3.1. Assim, investimento em novos produtos é um conceito considerado pelo TD como um meio para atingir um aumento de vendas (fim). Este último, por sua vez, é um meio para a obtenção da lucratividade da organização, o conceito fim.

Todas as relações deste mapa são positivas, isto é, um aumento em geração de novos produtos provocaria, segundo o TD, acréscimo de vendas, que acarretaria em ganho de lucratividade. Daí os sinais positivos na figura.

Pode-se observar, neste exemplo, a diferença fundamental entre um mapa cognitivo e os modelos que mostram relações causais tradicionais: o mapa está

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representando o que o tomador de decisão diz pensar sobre o assunto e não o que o pesquisador acha ser a verdade ou o correto sobre o tema.

investimento em novos produtos

Figura 3 . 1 - Um fragmento de um mapa cognitivo.

A estrutura hierárquica do mapa cognitivo pode ser destruída quando uma cadeia de meios e fins retoma a si mesma, gerando laços de realimentação. Ou seja, o que é um fim também será um meio e vice-versa (ver Exemplo 3 .2). Tais laços podem fornecer uma realimentação positiva (aumento crescentes nas variáveis da cadeia) ou negativa (diminuição crescente nas variáveis da cadeia). (Ver Montibeller, 1996, e Eden et al., 1992, para uma explicação detalhada sobre a estrutura dos mapas e também uma discussão sobre laços.)

Exemplo 3.2

Suponha que o mesmo tomador de decisão (TD) do exemplo anterior, após ver o mapa cognitivo de seu discurso, reflita sobre a situação de sua empresa e adicione ao pesquisador a seguinte informação:

“Quando a lucratividade de minha empresa aumenta, a capacidade de investimentos em novos produtos também pode aumentar.”

Como mostra a Figura 3.2, tal argumento constitui um laço de realimentação positivo: um aumento no investimento de novos produtos acabará propiciando (via maior lucratividade) novo acréscimo no investimento de mais novos produtos e

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assim sucessivamente. Portanto a lucratividade é um fim, mas também um meio na geração de capital para investimento em novos produtos.

No caso mostrado neste exemplo, o modelo tem característica dinâmica, isto é altera-se por si só ao longo do tempo, ao contrário do modelo estático apresentado na Figura 3.1.

Figura 3.2 - Um fragmento de um mapa cognitivo com laço.

Como foi apresentado nesta seção, os mapas cognitivos são compostos de dois elementos básicos: nós e flechas de conexão. A seguir será detalhado cada um dos elementos, com o propósito de indicar as escolhas feitas neste trabalho:

* Variável Utilizada nos Nós: O termo “conceito” parece ser o nome mais freqüentemente utilizado para descrever os nós de um mapa. Eden et al. (1983) propuseram o termo “construto”, fruto do modelo que eles utilizam, baseado na Teoria dos Construtos Pessoais de Kelly (1955). Finalmente, Axelrod (1976) utiliza o termo “variável causal” em seus mapas.

Na modelagem de Eden e t al. (1983), cada construto é definido por dois pólos (rótulos), um positivo e, o outro, seu contraste psicológico. Por exemplo, na Figura 3.1 o conceito “aumento de vendas” poderia ter um oposto psicológico (segundo o tomador de decisão) “diminuição de vendas”. Assim, em um mapa cognitivo desenvolvido por Eden e seus associados, esse conceito seria escrito como “aumento de vendas ... diminuição de vendas” (o símbolo “...” significa “ao invés de”). Os

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outros pesquisadores da área, em sua maioria, utilizam apenas um rótulo único em cada nó do mapa, como aquele mostrado na Figura 3 .1.

No presente trabalho será utilizado o termo “conceito”, porque as pessoas parecem sentir-se mais confortáveis com ele2, sendo esta designação utilizada amplamente na psicologia cognitiva (Kunda, 1999). A despeito desta escolha, o termo “construto” define melhor tal variável: uma idéia mentalmente construída (isto é, desenvolvida) durante o processo de construção do mapa3. E a escolha aqui foi a de utilizar um rótulo único para definir cada conceito, mesmo reconhecendo que o uso de dois pólos fornece “mais” sentido à uma idéia (Eden et cã., 1983)4.

Tipo de Ligação: O relacionamento entre dois conceitos em um mapa cognitivo, denotado por uma flecha, tem sido usualmente considerado como representando uma relação percebida entre meio/fim ou causa/efeito. A maior parte dos pesquisadores na área utiliza esses dois tipos de relações como sinônimos, mas eles não o são, como será discutido a seguir. (É possível ainda considerar uma ligação como representando uma “implicação”, como proposto por Eden, 1988, mas isso traz problemas conceituais sérios em termos de inferência lógica, como discute Marchant, 1999.) De acordo com Buss (1978) e Cossette e Audet (1992) uma causa é algo que gera um efeito, portanto uma mudança em uma variável inicial poderá gerar uma mudança em uma variável final. Por outro lado, em uma relação meio-fim, é a variável final (fim a ser atingido) que determina a variável inicial (meio para atingir-se o fim). Enquanto uma relação causa-efeito mostra que causas geram uma mudança (explicação causal), uma relação meio-fim fornece razões para uma dada escolha (explicação lógica).

Portanto, é necessário estabelecer claramente que tipo de discurso está sendo mapeado: sobre causas ou sobre razões. E também parece ser mais cauteloso

2 Fran Ackermann, em comunicação pessoal.

3 Um “construto” como definido neste trabalho não tem o mesmo significado da idéia (te “construto” proposta por Eden et al. (1983).

4 O próprio grupo de Eden, mais recentemente, tem se tornado flexível quanto ao uso de constmtos monopolares, como pode ser constatado em Eden e Ackermann (1998a).

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considerar as relações entre dois conceitos meramente denotando influência, como proposto por Cossette e Audet (1992).

Como o contexto do mapa cognitivo a ser desenvolvido neste trabalho lidará com o apoio à decisão, o discurso requerido ao tomador de decisão será o de razões: quais os meios necessários para atingir os fins desejados. Sendo assim, o mapa representará conceitos meios e fins. As ligações denotarão influência entre as variáveis. Como tais conexões são aquelas julgadas pelo tomador de decisão como existentes, as relações serão consideradas como de influência percebida.

Co n c l u s õ e s d o Ca p ít u l o

Este capítulo apresentou uma breve revisão sobre os mapas cognitivos, ressaltando as escolhas feitas neste trabalho. Aqui um mapa cognitivo será encarado como uma ferramenta que visa gerar reflexão no tomador de decisão, sobre seu problema, em um processo de apoio à decisão. Ele é e um modelo que é fruto de representações múltiplas (cognitivas, discursivas e gráficas), construído via um discurso.

Diante da categorização apresentada neste capítulo, os mapas cognitivos a serem utilizados nesta investigação caracterizam-se por visarem o apoio à decisão, tanto na etapa de estruturação do problema, quanto na etapa de avaliação de alternativas. Eles serão construídos via entrevistas semi-estruturadas com o tomador de decisão. A ênfase será nos aspectos hierárquicos do mapa, sem desprezar, no entanto, a possibilidade de existência de laços. Sua estrutura será composta de conceitos meios e fins, com rótulos monopolares. Os conceitos serão conectados por ligações que denotam influência percebida. Trata-se, portanto, da representação de um discurso sobre as razões do tomador de decisão, em um dado processo decisório.

Uma vez definidas as características básicas do mapa cognitivo é possível, agora, detalhar o tipo de modelo a ser proposto. E o tipo de modelo está diretamente ligado ao propósito da modelagem e ao processo de entrevista a ser realizado. Este é o tema do próximo capítulo.

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Ve r s õ e s Or i g i n a i s d a s Ci t a ç õ e s a o Lo n o o d o Ca p í t u l o 3

a “the map is a graphic representation of mental representations that the researcher conjures up from the discursive representations formulated by the subject about an object and drawn from his reservoir o f mental

representationsT

b “The map is the graphic representation of a discourse destined to convince and not the representation o f a reality to which it corresponds whether it deals with the subject’s object or thought.”

C

a p ít u l o

4

Ma p a s Co g n it iv o s: A Es t r u t u r a Pr o p o s t a

In tr o d u ç ã o

Uma vez estabelecidas as características básicas do mapa cognitivo, cabe agora detalhar sua estrutura. Esse é o objetivo deste capítulo. Ele apresentará uma estrutura de mapa cognitivo que permita utilizá-lo tanto à construção do problema, quanto à avaliação de alternativas. Para tanto é necessário definir um procedimento de entrevista e codificação que permita obter e representar ligações de influência percebida entre conceitos meios e conceitos fins.

4 .1 A Es c o l h a p e Um a Re pr e s e n ta ç ã o

Um mapa cognitivo é considerado, neste trabalho, o resultado de um discurso pronunciado por um tomador de decisão. Assumindo uma visão construtivista, um dos fatores que influenciam um discurso é o tipo de questões feitas pelo pesquisador (Roy, 1987). Conseqüentemente, as questões feitas por ele influenciam o tomador de decisão e, portanto, o conteúdo e a estrutura do mapa cognitivo.

Portanto, a escolha de um dado procedimento de entrevista necessita ser conectada ao conteúdo e forma do mapa que o pesquisador deseja obter. E essas características são definidas pelo propósito da construção do mapa. Logo, nesta pesquisa, não se considera o modelo como o mais adequado à representação do problema (como é usual na PO tradicional) mas sim que uma dada representação é selecionada para apoiar a resolução do problema do tomador de decisão. O tipo de representação será escolhido em função dos objetivos e interesses do pesquisador, portanto, é uma escolha subjetiva dele. E o problema do tomador de decisão será construído via essa modelagem. Tal conceituação está de acordo com

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a noção de um problema construído, ao invés do problema real com que geralmente lida a PO tradicional1.

Seguindo essa linha de argumentação, é possível selecionar as propriedades do modelo de acordo com os objetivos traçados na pesquisa. Cabe lembrar que o objetivo básico dela é usar a estrutura do mapa cognitivo para construir o problema e avaliar alternativas. Para tanto, o seguinte critério foi adotado: encontrar uma estrutura de mapa cognitivo que apresentasse uma semelhança, em termos de forma, com uma árvore de valores (uma estrutura de avaliação multicritérios de alternativas popular e bem estudada - ver Belton, 1990).

4 . 2 C o n c e ito s -A lte r n a tiv a e C o n c e ito s -M e io

Mapas cognitivos de qualquer estrutura podem ser usados para avaliar o impacto dos conceitos meios em conceitos fins (mas deve ser ressaltado que se o mapa tiver laços, é mais difícil determinar quais os impactos gerados). Também é interessante notar que a ênfase em avaliar meios, usando mapas cognitivos, não é uma preocupação de todos os pesquisadores na área: os seguidores da abordagem de Axelrod (1976) parecem mais inclinados a esse tipo de análise.

Conforme foi afirmado no Capítulo 1, não se tem conhecimento de outra pesquisa que se preocupe em avaliar alternativas (e não meios) usando mapas cognitivos, como é a intenção deste trabalho. A distinção entre meios e alternativas, como assumida nesta pesquisa, será definida a seguir.