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Objetivo: Caracterizar as reações das crianças que frequentam o CDC face à

Capítulo III – Apresentação dos Resultados

4. Objetivo: Caracterizar as reações das crianças que frequentam o CDC face à

A caracterização das reações das crianças (R, T, S, E, M) face à presença e intervenção dos Dr. Palhaços constituiu outro aspeto analisado no presente estudo. Relembramos que a maioria destas crianças apresentava dificuldades nas interações, com expressões faciais pobres, sem comunicação verbal, problemas motores graves que as limitavam nos seus comportamentos de interação lúdica e expressão emocional e na reciprocidade e sincronia na interação, necessitando do adulto como intermediário da ação.

Para alcançar este objetivo do nosso estudo procedemos então à análise dos dados de observação das interações entre os Dr. Palhaços e as crianças participantes no nosso estudo. Relembramos que essa análise considerou seis indicadores: i) procura de proximidade; ii) interação ocular; iii) expressão facial; iv) vocalização; v) reciprocidade e sincronia na interação; e vi) interação lúdica e expressão emocional.

Constatou-se em todas as crianças que a interação ocular, a expressão facial e a procura de proximidade, corresponderam aos três tipos de comportamentos em que se registaram valores de interação mais elevados. Todas as crianças revelaram comportamentos de interação que variam entre o olha e demonstra curiosidade, mas evita por vezes o contacto ocular, ou mantem o contato ocular algumas vezes durante

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a sessão ou ainda mantem o contato ocular com os Dr. Palhaços frequentemente durante a sessão. O uso da expressão facial por parte das crianças do estudo variou entre estar: atenta, preocupada (e.g. sobrancelhas franzidas) e tensa; ou atenta, curiosa, e descontraída, ou ocasionalmente alegre; até atenta, alegre, radiosa, sorridente e descontraída.

A criança M. apesar de não gostar dos Dr. Palhaços também apresentou valores mais elevados nos comportamentos de interação ocular e expressão facial. Esta criança vem acompanhada pela mãe às sessões terapêuticas, e esta refere igualmente que “…também não acha graça e que não tem sentido de humor”. Olhando para este caso específico partilhamos da opinião expressa por Weber, Prado, Salvador & Brandenburg (2008). Estes autores justificam que a educação dos filhos não ocorre apenas pelo uso de estratégias específicas como as práticas parentais. Os comportamentos dos pais também servem de exemplo para os filhos, especialmente aqueles que indicam valores e modelos morais. Isto é, os pais ensinam os filhos através dos seus próprios comportamentos, pois parte da aprendizagem faz-se mediante a modelação. Inferimos, assim, que o facto de a mãe desta criança não gostar de Palhaços pode ser uma possível justificação para o facto de manifestar comportamentos que revelam fraca interação com os Palhaços.

Das cinco crianças do nosso estudo, três não foram pontuadas no comportamento das vocalizações, por não apresentarem durante as sessões nenhum tipo comportamento que se pudesse registar neste indicador. No entanto, a sua interação com os Dr. Palhaços foi apreciada considerando outros indicadores comunicativos. Como nos explicam vários autores (Corraze, 1982; Atkinson & Allen, 1983; Rector & Trinta, 1986) existem outras formas de comunicação (não-verbal), por exemplo sinais que produzimos, gestos que fazemos, imagens que criamos ou percebemos, etc., enfim, ocorrem pela expressão de todo o corpo e relacionam-se com a emoção e a sensibilidade, carregando a identidade social e individual de cada pessoa.

Para Gonçalves (1996) muitos sinais de comunicação reforçam, substituem ou contrariam a fala, como: i) os gestos; ii) a expressão facial que incluem os movimentos de sobrancelhas, olhares e sorrisos com muitas variações; iii) a postura, como movimentos e inclinações do corpo, e ainda iv) a ocupação do espaço, como a proximidade, distância e o toque. Esses sinais, chamados de paralinguísticos, são próprios de cada cultura e através deles é realizada a comunicação humana não- verbal.

Inicialmente as crianças (R, T, S, E) aceitavam a procura de proximidade, mas não a procuravam ativamente (e.g. não se afastavam quando os Dr. Palhaços se

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aproximavam), mas nas semanas seguintes os seus comportamentos alteraram-se e passaram a manifestar comportamentos de procura ativa de proximidade com os Dr. Palhaços (e.g. deslocavam-se na sua direção, tocam-lhes no nariz, oferecem-lhes brinquedos, perseguem-nos, pedem e aceitam ir para o colo etc.). Entendemos ser este um dado importante, na medida em que revela que com a rotina as crianças começaram a manifestar-se mais interessadas e proativas na relação estabelecida com os Dr. Palhaços.

As crianças evidenciaram comportamentos que revelaram empatia e cumplicidade com os Dr. Palhaços, pareciam aguardar pelas suas visitas, que pela forma regular com que ocorriam, funcionavam para a criança como uma rotina. Pensamos que essa rotina lhes deu segurança e bem-estar.

Por outro lado, o modo como o Dr. Palhaços atuaram com as crianças no CDC revelou que estes dispunham de um vasto reportório, tanto de canções como de piadas, que adaptaram a cada criança e a cada situação. Deduz-se que esta circunstância tenha facilitado a interação com as crianças participantes no estudo. Inferimos igualmente que estes profissionais percebem a importância de o lúdico ser direcionado à faixa etária específica da criança, ou mesmo à sua condição patológica. Isto é, que os brinquedos escolhidos e as brincadeiras executadas devem ter como base a idade e o nível de atividade permitido, bem como os interesses da criança (cf. Leifer, 1999).

Constatou-se que os pais entrevistados percecionam o brincar dentro do CDC, como algo que dá prazer, alegria e bem-estar às crianças, acarretando mudanças de comportamento, interação e socialização. Os seus filhos riem, gritam, dão gargalhadas, querem tocar no nariz vermelho, querem ir atrás da dupla de Dr. Palhaços e relacionam-se melhor com as outras crianças na sala de espera ou no corredor do centro e com os próprios familiares e profissionais.

Concluída a caracterização das reações das crianças que frequentam o CDC face à intervenção dos Dr. Palhaços consideramos útil fazer um breve resumo.

Constatámos que as crianças do nosso estudo recorreram mais frequentemente a comportamentos de «Interação ocular», «Procura de proximidade» e «Expressão facial» para interagir com os Dr. Palhaços durante a sua intervenção. Todas as crianças observadas no estudo, mantiveram o contacto ocular com os Dr. Palhaços, demonstrando curiosidade e interesse na figura do palhaço, independentemente da forma como agiram ter sido positiva ou negativa. Inferimos que para as crianças do estudo, a figura do palhaço não lhes é indiferente, apresentam reportórios discrepantes de comportamento (riso, gargalhada, o grito de contentamento, e ainda o

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choro, o susto, etc.), mas como nos diz um dos pais “a intervenção dos Dr. Palhaços não tem idade, ou seja vai dos 0 aos 80 anos”.

Destacamos, que a maioria das crianças em atendimento no CDC tem idades muito precoces e patologias do neurodesenvolvimento que originam dificuldades nas interações e no processo comunicativo, apresentando expressões faciais pobres, ausência de comunicação verbal e graves limitações motoras. Estas circunstâncias obviamente que as limita nos seus comportamentos de interação e expressão emocional e na reciprocidade e sincronia na interação, necessitando do adulto como intermediário da ação. Ainda assim, os dados recolhidos permitem-nos afirmar ainda que as crianças passaram de uma expressão atenta e preocupada na primeira sessão, para uma expressão alegre, sorridente e descontraída, nas sessões seguintes, o que nos indica existir evolução gradual nos comportamentos de interação das crianças