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Capítulo II – Estudo Empírico: As Representações Face à Intervenção dos Doutores

4. Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Existem vários métodos de recolha de dados que podem ser utilizados como fontes de informação na investigação qualitativa (Bogdan & Bilken, 1994; Quivy & Campenhoudt, 2008; Tuckman, 2005). No caso do presente estudo recorremos ao uso das seguintes técnicas de recolha de dados: i) pesquisa documental dos processos das crianças, ii) entrevista semiestruturada, realizada individualmente aos profissionais do CDC, aos pais ou acompanhantes das crianças que frequentavam o Centro em consultas e tratamentos, e entrevista semiestruturada em simultâneo à dupla de Dr. Palhaços e iii) observação das crianças com idades compreendidas entre um ano e os seis anos. Estas técnicas foram utilizadas no contexto onde os Dr. Palhaços intervinham: o CDC.

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4.1 Entrevista

A entrevista é uma técnica que tem por intuito coletar informações, por meio de sujeitos entrevistados, sobre um determinado assunto, existindo uma interação entre o investigador e o entrevistado. Neste sentido, Severino (2007) refere que o pesquisador visa apreender o que os sujeitos pensam, sabem, representam, fazem e argumentam. Na opinião de Maccoby e Maccoby (1954, citado em Almeida, 2007), uma entrevista é uma troca verbal face a face na qual um indivíduo, o entrevistador, tenta obter informações, opiniões ou crenças noutro ou noutros indivíduos. O objetivo duma entrevista é perceber, através do outro, aquilo que não podemos observar diretamente, implica, portanto, aceitar a perspetiva do outro e situá-la no contexto em que os acontecimentos ocorrem.

No presente estudo optou-se pela realização de entrevistas semiestruturadas para melhor conhecer as representações dos participantes acerca da problemática do estudo. É comum indicar para cada questão, as chamadas “questões exploratórias” (probing questions) que servem de guião ao entrevistador para que não deixe “passar em branco” temas importantes. O enunciado das questões e a sua ordem, não são rígidos, podendo variar em função das caraterísticas do entrevistado, e permitindo ao entrevistador colocar outras questões para além das que constam do guião (Denzin, 1978).

A utilização deste formato de entrevista facilita a empatia entrevistador- entrevistado, permite uma maior flexibilidade e abrangência temática e proporciona uma maior riqueza de dados (Smith, 1999). Em contrapartida, reduz o controlo do investigador, é mais demorada e difícil de analisar. A entrevista semiestruturada é mais usada em estudos exploratórios, quando se pretende conhecer de forma detalhada, as crenças, perceções ou interpretações do entrevistado sobre determinadas questões, como é o caso do presente estudo.

O guião da entrevista integra a definição de objetivos gerais e específicos, estando estes relacionados com diferentes blocos/temas. No nosso caso, no primeiro bloco do guião da entrevista aos profissionais (ver anexo 7) foi apresentado a legitimação e motivação do entrevistado; no segundo bloco pretendeu-se recolher informação sobre a importância da intervenção dos Dr. Palhaços em contexto hospitalar; no terceiro bloco, procurou-se saber a opinião de cada profissional sobre a intervenção dos Dr. Palhaços; no quarto bloco pretendeu-se averiguar qual a importância atribuída à intervenção dos Dr. Palhaços e, por fim, agradecer e valorizar a colaboração do entrevistado na realização do estudo.

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motivação do entrevistado, garantindo a confidencialidade e o anonimato; no segundo bloco pretendeu-se recolher informação sobre a importância da intervenção dos Dr. Palhaços na perspetiva dos pais/acompanhantes; no terceiro bloco, procurou-se saber qual a sua opinião acerca da intervenção dos Dr. Palhaços; no quarto bloco pretendeu-se averiguar os aspetos problemáticos da intervenção dos Dr. Palhaços e, por fim, agradecer e valorizar a disponibilidade de colaboração neste estudo.

No guião da entrevista aos Dr. Palhaços (ver anexo 9), no primeiro bloco foi exposto a legitimação e motivação do entrevistado, no segundo bloco pretendeu-se averiguar a importância da intervenção dos Dr. Palhaços, em contexto hospitalar, no terceiro bloco desejou-se recolher informações sobre as linhas orientadoras da intervenção, no quarto bloco quais os aspetos problemáticos da intervenção dos Doutores Palhaços e, por fim, agradecer e valorizar a colaboração do entrevistado na realização do estudo.

No final de cada entrevista, solicitou-se aos participantes (profissionais, pais ou acompanhantes e Dr. Palhaços), o preenchimento de uma ficha de caracterização com dados pessoais, elaborada para o efeito.

As entrevistas aos participantes foram transcritas pela investigadora, seguindo- se a chamada conferência de fidedignidade, ou seja ouvir a gravação tendo o texto transcrito em mãos, acompanhando e conferindo cada frase, mudanças de entoação, interjeições, interrupções, risos etc.

O processo de análise das entrevistas a que se recorreu foi a análise de conteúdo dos discursos e que passa a ser descrito no ponto 2.5 referente aos métodos e técnicas de análise de dados.

4.2 Observação

A observação das crianças no contexto do CDC constituiu uma das técnicas de recolha de dados neste estudo, como se disse anteriormente.

Nesta investigação utilizámos a observação direta, realizada em “meio natural”, o qual possibilitou um contacto pessoal e estreito com o campo empírico e uma aproximação à amostra em estudo.

Quivy e Campenhoudt (2008) consideram que os métodos de observação são

“os únicos métodos de investigação social que captam os comportamentos no momento em que eles se produzem em si mesmos, sem a mediação de um documento ou de um testemunho” (p.196).

Neste estudo o processo de observação consistiu no registo de vídeo da interação entre as crianças e os Dr. Palhaços. No total foram realizados dez vídeos. O vídeo é uma ferramenta indispensável quando se pretende realizar estudos de

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observação em contextos naturais. O uso deste recurso associa a imagem em movimento ao som, permitindo, deste modo, ao investigador obter uma repetição da realidade (déjà vu) e, assim, detetar factos ou pormenores que, possivelmente lhe escaparam durante a “observação ao vivo”.

Tivemos em atenção no nosso estudo, que a câmara de vídeo interferisse o mínimo possível nas interações estabelecidas entre as crianças e os Dr. Palhaços.